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segunda-feira, 1 de julho de 2019

SOB A SOMBRA DE FREUD – Um Teatro de Horrores








Excerto de 50 TONS DE CONSUMO - QUAL É O SEU PREÇO
        | Carlos Sherman

SOB A SOMBRA DE FREUD – Um Teatro de Horrores
   
Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade. 
Ayn Rand
                       
A mente é seu próprio lugar e ela está em si mesma. Pode fazer Céus do inferno, e também inferno de Céus.  
John Milton


A diferença entre o antídoto e o veneno pode estar na dose... A diferença neuropsicológica entre meras variantes do comportamento humano, que merecem ser entendidas e respeitadas, e os transtornos psíquicos de comportamento, está na dificuldade com que o segundo grupo enfrenta as diversas relações sociais em suas tormentosas vidas, e como encaram suas relações afetivas, profissionais, políticas e sociais.

Mais adiante, trataremos da última edição do DSM-5, ou Manual de Diagnóstico e Estatística em Transtornos de Personalidade; por ora, gostaria apenas de pontuar que existem limites e contornos para uma vida psíquica saudável e produtiva, sendo o consumo compulsivo, a dominância extrema, a agressividade despropositada, a idolatria submissa e subserviente, impeditivos para uma vida feliz... e impeditivos para a própria vida.

Contrariando o conceito freudiano de Tânatos, ou Pulsão de morte, que atuaria “sempre”, embora antagonizado pelo contraponto da pulsão de vida, ou pulsão sexual, Eros; gostaria de dizer que tal diagnóstico nada faz senão indicar outro conceito muito vívido em nossa psique: o maniqueísmo. A ideia de oposições aplicadas a tudo em nossas vidas... certo, errado, bom, mal... preto no branco. E aqui também vale pontuar outro conceito inato: a segregação. E a homóloga obsessão pela diferenciação, muitas vezes dicotômica, entre “nós e eles”. Nós, brancos ou pardos, contra eles, negros... pena azul contra pena branca, palmeirenses contra corintianos... republicanos e democratas, conservadores e liberais.

Tais desígnios neuropsicológicos são tão reais e tangíveis, que nortearam o caminho da humanidade... E não precisamos apelar para o ôba-ôba freudiano, nem para a forjada compulsão universal e masculina de transar com a própria mãe, e por isso pretendendo matar o próprio pai... Esta frágil fundação do edifício freudiano já ruiu há muito tempo, juntamente com todos os seus conceitos vazios, pomposos e autoritários; e os destroços desta teoria gótica já não dizem nada.

O estratagema do freudismo consiste em problematizar as questões, e muito além do que os fatos permitem; com o firme e nefasto propósito de embrenhar sua vida em um labirinto pantanoso, do qual só poderemos sair com a ajuda de um psicanalista... mesmo que este dia nunca chegue. Em resumo, a psicanálise pode ser resumida à seguinte frase: “te vejo na próxima consulta”.

Mas por que estou aludindo a Freud e seus delírios megalomaníacos e ambiciosos? Porque é exatamente nesta fonte que bebem os defensores do BDSM, alegando que nada há de doentio em suas práticas...

O homem enérgico e bem-sucedido é aquele que consegue transmutar as fantasias do desejo em realidade. – Freud (‘Cinco lições sobre a Psicanálise’)

Nem todo desejo é saudável, necessário ou bom... Nem todo comportamento decorre de arquétipos, ou da interação entre “Tânatos e Eros”, nem de recalques e desejos sórdidos reprimidos, nem de um mundo de fantasias. Em geral, os transtornos de personalidade causam muito sofrimento, sendo este o caso dos personagens francamente irreais de “50 tons”.

Mas, e de acordo com “Três Ensaios de Sigmund Freud sobre a Teoria da Sexualidade”, Christian Grey não passa de um “recalcado” que não foi “amamentado suficientemente”... Sobre impingir a dor a outro ser humano, Freud postulou que:

[...] a mais comum e importante de todas as perversões.

Agregando que o masoquismo é uma forma de “sadismo contra si mesmo”. O masoquismo - segue o bidu vienense - decorre da culpa e de um “desenvolvimento incorreto da criança”, e nos remete ao “seio da mãe”. E ele sacou tudo isso em um passe de mágica, e sem jamais executar qualquer tipo de confrontação científica de suas teses com a realidade... Melaine Klein, sucessora do mestre, melhor exprime o conceito:

O sadismo atinge o seu ponto culminante ao longo da fase que se inicia com o desejo sádico-oral de devorar o seio da mãe (ou da própria mãe) e que termina com a chegada do primeiro estágio anal. Durante este período, o objetivo principal do sujeito é se apropriar do conteúdo do corpo da mãe e destruí-la com todas as armas que dispõe o sadismo. – Melaine Klein (‘Essais de psychanalyse’; 1948; p.263)

Não, você não leu errado... e a referência está logo acima; confira! Klein está dizendo que o “sadismo” do bebê “atinge o seu ponto culminante” no que chama de “desejo sádico-oral”, quando o indefeso bebê pretende “devorar o seio da mãe”; e onde o “objetivo principal do sujeito” é – pasmem vocês - destruir a mãe e se “apropriar do conteúdo”, das entranhas de seu “corpo”... com “todas as armas que dispõe o sadismo”... Estamos falando de um bebê recém-nascido, longe de estar em condições de exprimir qualquer tipo de material bélico contra a sua mãe, longe de ser capaz de engendrar qualquer estratégia assassina contra a própria mãe.

A natureza não é tão estúpida, e não destruirá o corpo que abriga, protege, e a alimenta a sua própria vida. Nem meios, nem motivos, nem razões, nem lógica, nem nada... este é o mundo mágico freudiano... E tem mais – acomode-se porque é assustador:

No interior do corpo da mãe, a criança espera encontrar: o pênis do pai, excrementos e crianças, todos esses elementos sendo assimilados a substâncias comestíveis. [...] Esses excrementos são transformados, na fantasia, em armas perigosas: urinar equivale a recortar, socar, queimar, afogar, enquanto as matérias fecais são assimiladas a armas e projéteis. – (Ibidem)

Sem palavras...

Para Freud e Klein, não existe a mais remota possibilidade da criança estar apenas faminta, e com dificuldades de coordenar a sucção no bico do seio da mãe... E já que o bebê real, no mundo real, dorme muito nessa fase, sua missão de extermínio materno não será de forma alguma bem sucedida – como de fato não é. Esse bebê frágil e indefeso precisará de alguns anos até ser capaz de perpetrar qualquer ato letal! E tenho advertido sobre a afinidade da mente humana com a máxima de Tertuliano, e principalmente quando me defronto com religiões e crendices como o freudismo e o marxismo:

Credo quia absurdum! (Creio porque é absurdo!) - Tertuliano de Cartago

Notem que este importante líder da cristandade no século II não está dizendo que “crê embora seja absurdo”; ele diz claramente que “crê porque é absurdo”, exortando o absurdo, fazendo a apologia cristã sobre os absurdos de seu credo... E assim caminha a humanidade, de absurdo em absurdo! E seguimos...

Melaine Klein, a exemplo de Freud e seu círculo eclesiástico e monástico, jamais se importou com evidências ou provas. E se você ainda não está convencido desta necessidade, devo citar Aristóteles, para quem as fêmeas eram inferiores aos machos, com “cérebros menores” (Sobre as Partes dos Animais; 350 AEC), que ele confundia erroneamente com o coração; e também evidenciado por possuírem - entre outras infâmias - menos dentes (Sobre a História dos Animais; 350 AEC).

E antes que invoquem a contextualização, devo adverti-los de que outros pensadores à mesma época, e mesmo antes, não pensaram em afirmar tais asneiras... O problema aqui é outro, e remete à natureza de Aristóteles, e sua personalidade neuropsicológica. O “filósofo”, tendo sido casado duas vezes, nunca se deu ao trabalho de contar os dentes de suas “inferiores” esposas. Notem o desprezo deste “mestre” pela prova; pelo valioso e revolucionário princípio do Onus probandi – ou ônus da prova. Mas notem também, e com ainda mais atenção, a certeza de Aristóteles em sua autoridade! A mesma sina que dirigiu Freud, Marx, Lênin, Hitler, Fidel, Moisés, Maomé, às massas  - Ipso facto...

Melaine Klein, renomada “psicóloga” e “psicanalista”, conterrânea do “mestre”, representa a linhagem ou seita de cunho freudiano com maior número de seguidores em nossos dias. Um frequente e grave erro é considerar que Klein rompe com o freudismo, e ao contrário; Klein rompe com o annafreudismo, ou a facção que segue cegamente os desmandos da filha de Freud - Anna. Em 1945, a “Sociedade Britânia de Psicanálise” promove a divisão do credo em três seitas distintas: os “annafreudianos”, ou seguidores de Anna Freud; os “kleiniano”, ou seguidores de Melaine Klein; e aqueles que continuam cultuando a mensagem do “mestre”, ipsis litteris, e sem intermediários... Mas Klein é sem sombra de dúvida a maior representante do freudismo legítimo; o que considera também, entre tantas consonâncias, o seu alinhamento em termos de personalidade com o “mestre”... Klein encarna a figura autoritária, dogmática, carismática, e soturna, de Freud... A visão de Klein e os contornos de seu universo são tão grotescos quanto de seu mestre.

Klein, que conheceu e trabalhou com Freud, é a grande baluarte do movimento, mesmo após o racha no pós-guerra... E o “mestre” já não está vivo para opinar, mas os fatos falam por si. Anna não passa de uma figura patética, do tipo “o goleiro é filho do Pelé” – e daí? Já Adler, Rank, Jung, e Reich – para citar os discípulos diretos -, são pseudo-dissidentes, já que seguem uma linha similar, afastando-se apenas da obsessão freudiana pela “repressão sexual” – quando muito. Ganharam a vida como psicanalistas e ponto final! Jung teve ainda a cara de pau de criar a “psicologia analítica” - em lugar da “psicanalítica” freudiana! E ainda saiu disparando contra o antigo mestre por praticar uma doutrina “não científica”; para então postular outros disparates igualmente não científicos. O sujo falando do mal lavado, e ambos na lama intelectual da história da psicanálise. 

Freud não passa de um psicótico, um charlatão, alguém a ser classificado também pelo DSM-V, considerando o dano causado à humanidade - e a si mesmo. Klein, portanto, e de fato, é o único elo póstumo com o mestre, até o advento de Lacan, propondo um “retorno a Freud”... Mas, e apesar do jogo de cena, Lacan sai da cena deixando o seguinte legado lapidar - em indefectível estilo mea culpa:

Nossa prática é uma trapaça, blefar, fazer as pessoas pestanejarem, impressioná-las com palavras astuciosas, é de qualquer forma o que se costuma chamar de engodo. [...] Do ponto de vista ético, nossa profissão é insustentável; é, aliás, justamente por isso que eu fico doente só de pensar nela, porque eu tenho um supereu como todo mundo. [...] Trata-se de saber se Freud é ou não um acontecimento histórico. Acredito que ele fracassou no seu golpe. É como eu; em muito pouco tempo ninguém mais se importará com a psicanálise. - Jacques-Marie Émile Lacan (Conferência proferida por Lacan em Bruxelas em 26 de Fevereiro de 1977, transcrita na íntegra pela revista Le Nouvel Observator, no. 880, de Setembro de 1981, p.88)

Duro, e mordaz...

E chegamos aos nossos dias com Françoise Dolto, e o firme comando xiita de Elisabeth Roudinesco – que nada fez pela humanidade, mas muito combateu em favor da corporação freudiana...

Considerem mais uma vez que as absurdas doutrinas de Melaine Klein versam sobre o desejo de bebês recém nascidos em assassinar suas próprias mães - fonte e manutenção primária de suas vidas. Mas por que nos deter na análise dos recém-nascidos? O buraco pode ser mais embaixo... Esta sina assassina pode começar no próprio útero... Absurdo? Não para Freud e Otto Rank - outra eminência parda psicanalítica. Sobre Rank, Freud exalta que:

[Rank é o] seu mais fiel colaborador [...] detém uma compreensão extraordinária de psicanálise. – Freud (‘Zur Geschichte der psychoanalytischen Bewegung’; 1914; p.63)

Rank tem uma visão ainda mais “profunda” do sofrimento no puerpério. Rank publica, em 1924, uma pomposa e engenhosa teoria, segundo a qual:

[...] todos os fenômenos psíquicos – inclusive o coito e o complexo de Édipo – são interpretados em função do trauma do nascimento. Ele crê, assim, ter chegado a um nível mais “profundo” do que aquele que Freud tinha chegado. Afirma que a fonte última da angústia é retornar ao seio materno. – Jacques Van Rillaer (‘Mitologia da Terapia Profunda’)

E mais uma vez nenhuma prova é apresentada, ZERO! Mas Rank trata de engendrar sua hermenêutica em qualquer parte, com especial interesse por personalidades históricas.

Sócrates é verdadeiramente o precursor direto da terapêutica psicanalítica [...] ao aceitar a morte que facilmente poderia ter evitado [...] conseguindo superar intelectualmente o trauma do nascimento.  – Rank (‘O Trauma do Nascimento’; 1924; p.184)

Isso me recorda uma visita com o meu pai à Livraria Cultura do Conjunto Nacional em São Paulo, quando me deparei com o livro que afirmava que “Jesus Cristo era Maçom”. O meu pai então me disse que havia algo ainda mais “profundo”, pois havia um fulano que defendia a ideia de que “Adão era Maçom” - Quia absurdum!

Mas seguimos o caminho de Rank para dentro do útero, e daquilo que ele considera a nossa sina em vida: “angústia”! Quando bastaria dar uma olhada no DSM-V para classificar este transtorno obsessivo de Rank; que, a julgar pelo sofrimento impingido a tantos pacientes mal atendidos, além de seus próprios tormentos, certamente mais lhe valeriam um leito na internação – não o lugar do mago.

Inspirado por Otto Rank, outro psicanalista renomado, pertencente ao círculo dileto de Freud, Ferenczi, publica Thalassa – uma alusão à mitologia grega, “o espírito primordial do mar”... Na “obra”, ele sentencia:

O desejo edipiano é a expressão psíquica de uma tendência biológica muito mais geral, que impele os seres vivos ao retorno ao estado de calma do qual gozavam antes do nascimento. – Ferenczi (‘Thalassa’)

Ou seja, o ato sexual não é mais do que a tentativa de retornar ao seio materno, e depois ao útero materno – pasmem vocês...

Ferenczi imagina que os anfíbios e répteis foram incitados a criar um pênis a fim de restaurar o modo de vida perdido [...]. - Jacques Van Rillaer (‘Mitologia da Terapia Profunda’)

Em suas próprias palavras, o pênis serviria então para:

[...] restabelecer a existência aquática no interior da mãe, úmido e rico em nutrientes. - Ferenczi (‘Thalassa’)

Existência aquática para seres pulmonados? E o “pênis” da mulher? Um cataclismo achológico quase sem precedentes! E pode piorar... na forma de delírios alegóricos:

A mãe é, na realidade, o símbolo do Oceano ou seu substituto parcial, e não o inverso. – (Ibidem)

“E não o inverso” é particularmente cretino... Que falastrão, que viagem, que verborragia sem nó nem dó! Em outras palavras, a “obra” de Ferenczi afirma, sem qualquer comprovação, que o sono e o coito existem para que retornemos simbolicamente à vida aquática!

Você [Ferenczi] é o primeiro a explicar por que o homem quer praticar o coito. Este não é um enigma fácil. – Freud (‘Carta a Ferenczi em 11 de Maio de 1924’)

Explicar? Enigma? O sexo é a base da vida, da Evolução, da Seleção Natural, da sobrevivência como espécie...

E Adler, Stekel, Jung, Ferenczi, Reich, Roudinesco, todos evocaram o conceito de “profundidade da alma”, quando não sabiam bem o que dizer... Puro imbróglio verborrágico! Puro invencionismo imperativo e categórico! Onde está a Ciência, o Conhecimento, a comprovação? Onde está a Ética, a responsabilidade, o sentido de consequência... a seriedade?

[...] a psicologia não é uma ciência, [...] é a última transformação da teologia. – Augusto Comte (‘Curso de Filosofia Positiva’; 1842)

Existem diversos e complexos transtornos de personalidade. Tomemos um fato histórico, o famoso conflito entre os Hatfield-McCoy, deflagrado entre as respectivas famílias no final do século XVII nos estados da Virgínia Ocidental e Kentuchy - nos Estados Unidos; foram 12 mortos entre as duas famílias.

Freud, se as famílias pudessem pagar pelas consultas, teria feito referências ao berço, à frieza das mães, à gestação, à violência no lar, e obviamente a um asseverado ambiente de repressões sexuais... Mas a realidade passa bem distante de todo este devaneio. Hoje sabemos que os descendentes dos McCoy portam o gene para a síndrome de von Hippel-Lindau, um gene de expressividade variável, mas que explicaria o mal temperamento do clã... Não, a solução nunca esteve no divã!

A VHL é uma condição genética e hereditária autossômica dominante, que de maneira variável quanto à sua expressão predispõe seus portadores a tumores malignos no cérebro, olhos, parte interna dos ouvidos, rins, pâncreas, além da glândula adrenal; resultando em temperamentos explosivos, violentos e inesperados... como observados na genética do clã McCoy. E nenhum desse paranoicos matadores chupava o dedinho em sua "fase oral" antecipando o  que viria a ser uma bala de 38 prestes a sair de um cano fumegante...

Freud? Um delírio!!! E o prenuncio de muitos males modernos... por ignorância!


Carlos Sherman





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