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segunda-feira, 27 de maio de 2019

DISLEXIA

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DISLEXIA
Por Carlos Leger Sherman Palmer Junior

Introdução
Sigmund Freud, responsável pelos dogmas sacralizados pela Psicanálise, escreveria em 1900 que experiências dolorosas na infância ou maus tratos por parte do pai, da mãe, ou de ambos, era a causa para a dislexia. Ele postulou que crianças incapazes de se rebelar abertamente contra seus pais abusivos, passavam a desafiá-los e recusando o aprendizado da leitura. Uma explicação simplista e infantil demais, e apoiada em ZERO experimentos, evidências, provas científicas – como tudo no freudismo. Freud recomendava ainda que o único caminho seguro para a salvação dessas crianças era a Psicanálise... Na verdade seus métodos terapêuticos nunca surtiram efeito algum, e ao contrário, agravando e muito o equilíbrio emocional e psicológico de seus infelizes pacientes – ou vítimas.
Freud não entendeu nada sobre esse ou qualquer outro transtorno notadamente psicológico. Mas, financeiramente, e considerando a devida atualização monetária aos nossos dias, a Psicanálise rendia bons frutos aos seu séquito de adeptos, cobrando a bagatela de 300 a 400 Euros por sessão; isso sem contar o famoso jargão, que garantia receita estável durante o interminável tratamento: “te vejo na próxima consulta”. E assim foi... mas não é mais. Hoje a Psicanálise está completamente desacreditada por verdadeiros especialistas no comportamento humano, real... longe das páginas ficcionais do grande escritor de contos e pai de dita doutrina. Na verdade, seria um manancial para boas piadas, se não fosse um assunto tão sério, e causa de tantos males. Não, Freud nunca explicou nada, mas complicou muito.
Sofisticadas tecnologias de imageamento cerebral ou fMRI (Functional Magnetic Resonance Imaging), e cujo desenvolvimento foi regiamente guiado pela ciência nascente e responsável por estudar e entender os fenômenos relacionados com o comportamento humano, ou Neurociência Cognitiva; nos revelariam - clara e vividamente – certa inatividade em uma grande área inatividade que conecta o Giro Angular ao Córtex visual e outras áreas de associação visual, onde os signos da escrita são interpretados, e áreas no Giro Temporal Superior, ou área de Wernicke, onde a linguagem e a fonética são interpretadas. Além disso, durante as tarefas de leitura fonológica, a área associada à linguagem falada, ou área de Broca, mostrou ativação nos leitores disléxicos, e não ocorrendo o mesmo nos leitores normais. Os pesquisadores acreditam que esta área tenta compensar as deficiências na área de Wernicke.
Investigadores estudaram pacientes com lesões cerebrais, principalmente ocasionadas por tumores na área de Wernike. Embora não tivessem dificuldades de leitura antes que a lesão fosse grande o suficiente para ser detectada, estes pacientes desenvolveram problemas de leitura idênticos aos associados com a dislexia. Aqueles com dislexia também tendem a ter movimentos oculares rápidos, bruscos, e difíceis de controlar enquanto leem - outra indicação de falha no sistema neural, relacionado ao Giro Angular.
Trata-se, inequivocamente, de um problema fisiológico, e cujas raízes podem estar nos genes, na vida gestacional, nos primeiros anos de vida – imprintings – ou em patologias com o comprometimento de tecidos e/ou da morfologia cerebral em regiões muito específicas, e vão sendo mapeadas por estudos científicos cumulativos.


Definição
Consultando o acervo de informações sobre a dislexia no NINDS (National Institute of Neurological Disorders and Stroke), o instituto americano para estudos de transtornos psicológicos, concluo que:

A dislexia é um tipo de incapacidade de aprendizagem relacionada à atividade cerebral que, especificamente, prejudica a capacidade de leitura de um indivíduo. Tais indivíduos geralmente leem em níveis significativamente mais baixos do que o esperado, apesar de possuírem índices normais de inteligência. Embora o distúrbio varie de pessoa para pessoa, as características mais comuns entre pessoas com dislexia são a dificuldade com o processamento fonológico (a produção de sons), ortografia e/ou resposta verbal-visual rápida. Em indivíduos cujo distúrbio se manifeste na idade adulta, geralmente está diretamente associado com lesões cerebrais ou dentro do contexto dos diferentes tipos de demência; isso difere de indivíduos com dislexia congênita ou desenvolvida na infância, mas que simplesmente nunca foram identificados como tal enquanto ainda eram crianças ou na adolescência. A dislexia normalmente é herdada, direta ou indiretamente, e estudos recentes identificaram vários genes que podem predispor um indivíduo a desenvolver o distúrbio.

Possíveis Causas
A dislexia é um distúrbio de fundo fisiológico – como todos os distúrbios de comportamento, diga-se de passagem. As causas raízes da dislexia estão relacionadas com a herança genética ou com problemas de má formação na vida gestacional; ou durante os primeiros anos de vida, quando o córtex assemelha-se a uma massa de “cimento fresco”, com as conexões neurais sendo consolidadas; e.g., como na região ventral medial do lobo pré-frontal para a socialização, no lobo occipital para a visão, na fala com as áreas de Wernicke y Brocca, em janelas de tempo conhecidas por “imprinting”.
Existe comorbidade entre a dislexia e o Déficit de Atenção – ou TDAH, que por sua vez também está associado com a Discalculia. Quando a dislexia se manifesta na vida adulta, sempre está associada com traumatismos cranioencefálicos, acidentes vasculares cerebrais, tumores ou transtornos relacionados com os quadros de demência.

Sintomatologia
De maneira subjacente, podemos dizer que a dislexia envolve problemas com o processamento da linguagem pelo cérebro, mas também de imagem e reconhecimento dos signos que compõe a língua escrita.
O distúrbio por sua vez se manifesta em diferentes graus. Os principais sintomas são a dificuldade para pronunciar corretamente as palavras, limitações na leitura fluente, ao subvocalizar palavras, na leitura em voz alta, na compreensão concomitante da leitura, assim como na escrita à mão livre. Estas dificuldades são percebidas normalmente com a alfabetização, ou nos primeiros anos do ensino básico.
A dislexia está é o distúrbio de aprendizagem mais comum que existe, e está distribuída por todo o globo. Não existe estudos rastreando sua prevalência geográfica ou genética; é diagnosticada com maior frequência em homens, por pressão dos mercados de trabalho, mas estima-se que afete em igual proporção a homens e mulheres. Sabemos que atinge entre 3% e 7% da população mundial; embora existam registros de sintomas parciais em ao menos 20%. E que pese: LER NÃO É INATO... O cérebro humano adaptado à savana africana não estava preparado para a escrita, a leitura, e muito mais...

Diagnóstico
O diagnóstico clínico da dislexia consiste na realização de exames para avaliar a capacidade e o grau de memorização, dicção, visão e leitura. Os exames modernos são capazes de distinguir entre dificuldades relacionadas com deficiências no ensino ou causadas por problemas fisiológicos, como no caso da Dislexia.
A tecnologia associada à Neurociência Cognitiva, nos brindou com recursos muito mais precisos para o diagnóstico da dislexia, como: Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) e a Tomografia por Emissão de Fótons (SPECT) – para o diagnóstico de distúrbios neuroauditivos, presentes na dislexia; a Ressonância Magnética Funcional (fMIR) – para o diagnóstico da “integridade funcional do circuito dorsal parietotemporal e do circuito ventral occipitotemporal”, corrompidos na dislexia; a Tractografia e o Tensor de Difusão (DIT) – que fornece informações especificas sobre a integridade estrutural e orientação direcional dos tratos de substancia branca encefálica, demonstrando “anisotropia diminuída na região temporal esquerda” (áreas de Wernicke e Broca) em indivíduos disléxicos.

Tratamento
O tratamento está orientado à adequação da metodologia de ensino em relação às necessidades especiais do indivíduo. consiste em ajustar os métodos de ensino de forma a corresponder às necessidades da pessoa. Métodos audiovisuais têm obtido grande sucesso.
É exatamente aí que nós entramos, profissionais da área Neurocientífica, da Neuropsicologia, Educação, Biologia... Precisamos, a partir do bom entendimento do homem, da Genética Comportamental, da Biologia Social e Evolucionária, que culminam em nossa Neuropsicologia, encontrar melhores e mais eficientes métodos de ensino, e talvez a dislexia simplesmente desapareça no ar... como distúrbio. A fala é inata, mas a leitura, a escrita, e um monte de funcionalidades do mundo moderno, como digitar em computadores e operar mouses, mouse-pads, track-balls, etc... não são.

Carlos Leger Sherman Palmer Junior


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