DISLEXIA
Por
Carlos Leger Sherman Palmer Junior
Introdução
Sigmund
Freud, responsável pelos dogmas sacralizados pela Psicanálise, escreveria em
1900 que experiências dolorosas na infância ou maus tratos por parte do pai, da
mãe, ou de ambos, era a causa para a dislexia. Ele postulou que crianças
incapazes de se rebelar abertamente contra seus pais abusivos, passavam a
desafiá-los e recusando o aprendizado da leitura. Uma explicação simplista e
infantil demais, e apoiada em ZERO experimentos, evidências, provas científicas
– como tudo no freudismo. Freud recomendava ainda que o único caminho seguro
para a salvação dessas crianças era a Psicanálise... Na verdade seus métodos
terapêuticos nunca surtiram efeito algum, e ao contrário, agravando e muito o equilíbrio
emocional e psicológico de seus infelizes pacientes – ou vítimas.
Freud não
entendeu nada sobre esse ou qualquer outro transtorno notadamente psicológico.
Mas, financeiramente, e considerando a devida atualização monetária aos nossos
dias, a Psicanálise rendia bons frutos aos seu séquito de adeptos, cobrando a
bagatela de 300 a 400 Euros por sessão; isso sem contar o famoso jargão, que
garantia receita estável durante o interminável tratamento: “te vejo na próxima
consulta”. E assim foi... mas não é mais. Hoje a Psicanálise está completamente
desacreditada por verdadeiros especialistas no comportamento humano, real...
longe das páginas ficcionais do grande escritor de contos e pai de dita
doutrina. Na verdade, seria um manancial para boas piadas, se não fosse um
assunto tão sério, e causa de tantos males. Não, Freud nunca explicou nada, mas
complicou muito.
Sofisticadas
tecnologias de imageamento cerebral ou fMRI (Functional Magnetic Resonance Imaging), e cujo desenvolvimento foi
regiamente guiado pela ciência nascente e responsável por estudar e entender os
fenômenos relacionados com o comportamento humano, ou Neurociência Cognitiva; nos
revelariam - clara e vividamente – certa inatividade em uma grande área inatividade
que conecta o Giro Angular ao Córtex visual e outras áreas de associação visual,
onde os signos da escrita são interpretados, e áreas no Giro Temporal Superior,
ou área de Wernicke, onde a linguagem e a fonética são interpretadas. Além
disso, durante as tarefas de leitura fonológica, a área associada à linguagem
falada, ou área de Broca, mostrou ativação nos leitores disléxicos, e não
ocorrendo o mesmo nos leitores normais. Os pesquisadores acreditam que esta
área tenta compensar as deficiências na área de Wernicke.
Investigadores
estudaram pacientes com lesões cerebrais, principalmente ocasionadas por
tumores na área de Wernike. Embora não tivessem dificuldades de leitura antes
que a lesão fosse grande o suficiente para ser detectada, estes pacientes
desenvolveram problemas de leitura idênticos aos associados com a dislexia.
Aqueles com dislexia também tendem a ter movimentos oculares rápidos, bruscos,
e difíceis de controlar enquanto leem - outra indicação de falha no sistema
neural, relacionado ao Giro Angular.
Trata-se,
inequivocamente, de um problema fisiológico, e cujas raízes podem estar nos
genes, na vida gestacional, nos primeiros anos de vida – imprintings – ou em patologias com o comprometimento de tecidos e/ou
da morfologia cerebral em regiões muito específicas, e vão sendo mapeadas por
estudos científicos cumulativos.
Definição
Consultando
o acervo de informações sobre a dislexia no NINDS (National Institute of Neurological Disorders and Stroke), o instituto
americano para estudos de transtornos psicológicos, concluo que:
A
dislexia é um tipo de incapacidade de aprendizagem relacionada à atividade
cerebral que, especificamente, prejudica a capacidade de leitura de um indivíduo.
Tais indivíduos geralmente leem em níveis significativamente mais baixos do que
o esperado, apesar de possuírem índices normais de inteligência. Embora o
distúrbio varie de pessoa para pessoa, as características mais comuns entre
pessoas com dislexia são a dificuldade com o processamento fonológico (a produção
de sons), ortografia e/ou resposta verbal-visual rápida. Em indivíduos cujo
distúrbio se manifeste na idade adulta, geralmente está diretamente associado com
lesões cerebrais ou dentro do contexto dos diferentes tipos de demência; isso difere
de indivíduos com dislexia congênita ou desenvolvida na infância, mas que simplesmente
nunca foram identificados como tal enquanto ainda eram crianças ou na adolescência.
A dislexia normalmente é herdada, direta ou indiretamente, e estudos recentes
identificaram vários genes que podem predispor um indivíduo a desenvolver o
distúrbio.
Possíveis Causas
A
dislexia é um distúrbio de fundo fisiológico – como todos os distúrbios de
comportamento, diga-se de passagem. As causas raízes da dislexia estão
relacionadas com a herança genética ou com problemas de má formação na vida
gestacional; ou durante os primeiros anos de vida, quando o córtex assemelha-se
a uma massa de “cimento fresco”, com as conexões neurais sendo consolidadas;
e.g., como na região ventral medial do lobo pré-frontal para a socialização, no
lobo occipital para a visão, na fala com as áreas de Wernicke y Brocca, em
janelas de tempo conhecidas por “imprinting”.
Existe
comorbidade entre a dislexia e o Déficit de Atenção – ou TDAH, que por sua vez
também está associado com a Discalculia. Quando a dislexia se manifesta na vida
adulta, sempre está associada com traumatismos cranioencefálicos, acidentes
vasculares cerebrais, tumores ou transtornos relacionados com os quadros de
demência.
Sintomatologia
De
maneira subjacente, podemos dizer que a dislexia envolve problemas com o
processamento da linguagem pelo cérebro, mas também de imagem e reconhecimento
dos signos que compõe a língua escrita.
O
distúrbio por sua vez se manifesta em diferentes graus. Os principais sintomas
são a dificuldade para pronunciar corretamente as palavras, limitações na leitura
fluente, ao subvocalizar palavras, na leitura em voz alta, na compreensão concomitante
da leitura, assim como na escrita à mão livre. Estas dificuldades são
percebidas normalmente com a alfabetização, ou nos primeiros anos do ensino
básico.
A
dislexia está é o distúrbio de aprendizagem mais comum que existe, e está
distribuída por todo o globo. Não existe estudos rastreando sua prevalência
geográfica ou genética; é diagnosticada com maior frequência em homens, por
pressão dos mercados de trabalho, mas estima-se que afete em igual proporção a
homens e mulheres. Sabemos que atinge entre 3% e 7% da população mundial; embora
existam registros de sintomas parciais em ao menos 20%. E que pese: LER NÃO É
INATO... O cérebro humano adaptado à savana africana não estava preparado para
a escrita, a leitura, e muito mais...
Diagnóstico
O
diagnóstico clínico da dislexia consiste na realização de exames para avaliar a
capacidade e o grau de memorização, dicção, visão e leitura. Os exames modernos
são capazes de distinguir entre dificuldades relacionadas com deficiências no
ensino ou causadas por problemas fisiológicos, como no caso da Dislexia.
A
tecnologia associada à Neurociência Cognitiva, nos brindou com recursos muito
mais precisos para o diagnóstico da dislexia, como: Tomografia por Emissão de
Pósitrons (PET) e a Tomografia por Emissão de Fótons (SPECT) – para o
diagnóstico de distúrbios neuroauditivos, presentes na dislexia; a Ressonância
Magnética Funcional (fMIR) – para o diagnóstico da “integridade funcional do
circuito dorsal parietotemporal e do circuito ventral occipitotemporal”,
corrompidos na dislexia; a Tractografia e o Tensor de Difusão (DIT) – que fornece
informações especificas sobre a integridade estrutural e orientação direcional
dos tratos de substancia branca encefálica, demonstrando “anisotropia diminuída
na região temporal esquerda” (áreas de Wernicke e Broca) em indivíduos
disléxicos.
Tratamento
O
tratamento está orientado à adequação da metodologia de ensino em relação às
necessidades especiais do indivíduo. consiste em ajustar os métodos de ensino
de forma a corresponder às necessidades da pessoa. Métodos audiovisuais têm
obtido grande sucesso.
É
exatamente aí que nós entramos, profissionais da área Neurocientífica, da
Neuropsicologia, Educação, Biologia... Precisamos, a partir do bom entendimento
do homem, da Genética Comportamental, da Biologia Social e Evolucionária, que
culminam em nossa Neuropsicologia, encontrar melhores e mais eficientes métodos
de ensino, e talvez a dislexia simplesmente desapareça no ar... como distúrbio.
A fala é inata, mas a leitura, a escrita, e um monte de funcionalidades do
mundo moderno, como digitar em computadores e operar mouses, mouse-pads,
track-balls, etc... não são.
Carlos
Leger Sherman Palmer Junior