Boas ideias, observações, e diagnósticos foram perdidos em meio à Utopias e Futurologias extravagantes e sensacionalistas...
Em 1932 Aldous Huxley profetizava, em 'Admirável Mundo Novo' (Brave New World), uma sociedade 'utópica' onde, ao contrário do que se pensa sobre o livro, 'o Gene não teria nenhuma relevância e sim a educação, o aprendizado ou a doutrinação'... Poucas vezes um livro foi tão mal interpretado ou mal utilizado... Até hoje pessoas mal informadas julgam que 'Admirável Mundo Novo' é uma 'prova' de que a ciência é 'fria' e inescrupulosa, e disposta a condenação do homem contra a sua vontade - moral e nobre - e fruto de sua supostas origem divina... Esta absurda e injustificada mácula, seguida por outras besteiras cinematográficas e literárias, terminou por lançar um mar de calúnias e difamações sobre a verdadeira Ciência...
Na verdade, 'Admirável Mundo Novo', pode ter sido 'novo' para 1932, mas não é científico nem genético para os dias atuais, só que a mácula persiste... E na verdade a Ciência contrapõe todos os dias os seus prognósticos... E se a Ciência é a leitura da Natureza, 'Admirável Mundo Novo' (AMN) é a negação da Natureza, afirmando que podemos doutrinar, como sucesso, os membros de nossa sociedade... Se analisarmos o nazismo por exemplo, podemos dizer que 'sim', que isso é verdade... Fazemos loucuras como grupo, que não faríamos individualmente, e a 'catarse do comportamento' coletivo, tem a sua ciência própria... Lembrando ainda que o nazismo não precisou de drogas, nem de dieta, e apenas coerção, discursos, propaganda e medo...
Na verdade, 'Admirável Mundo Novo', pode ter sido 'novo' para 1932, mas não é científico nem genético para os dias atuais, só que a mácula persiste... E na verdade a Ciência contrapõe todos os dias os seus prognósticos... E se a Ciência é a leitura da Natureza, 'Admirável Mundo Novo' (AMN) é a negação da Natureza, afirmando que podemos doutrinar, como sucesso, os membros de nossa sociedade... Se analisarmos o nazismo por exemplo, podemos dizer que 'sim', que isso é verdade... Fazemos loucuras como grupo, que não faríamos individualmente, e a 'catarse do comportamento' coletivo, tem a sua ciência própria... Lembrando ainda que o nazismo não precisou de drogas, nem de dieta, e apenas coerção, discursos, propaganda e medo...
Em 'AMN', e no futuro imaginado por Aldous Huxley - não confundir com o indelével Thomas Huxley, seu avô - embriões humanos são inseminados artificialmente e muitas vezes 'clonados' - ou bokanoviskificados -, para serem em seguida desenvolvidos a partir de um cuidadoso regime de nutrientes, drogas e oxigênio racionado... A isso segue-se, durante toda a infância, uma incessante hipnopedia - ou lavagem cerebral durante o sono -, e finalmente condicionamento 'neopavloviano'... Até que cada pessoa emerja para 'desfrutar' a vida para a qual foi destinada por decreto... Aqueles que vivem em climas quentes serão condicionados ao calor, os que vivem no frio serão adaptados ao frio, os que voam em foguetes serão condicionados o movimento, e os que trabalham em fábricas à monotonia a serialização... E uma dieta de drogas mantém todo este mundo aterrorizante funcionando... A morte da Liberdade está decretada...
Mas 'AMN' detalha um inferno de doutrinação, esquecendo-se ou contradizendo-se no quesito genética e volição natural... Ao contrário do que imaginam, 'ADM' é a contra-ciência, além de uma contradição em si... Por quê? Primeiramente 'ADM' propõe a seleção genética, ou clonagem dos mais aptos a cada tarefa... Primeiramente que tal seleção é impossível... Bastaria 33 genes, com apenas a informação ativo e inativo, para tornar cada ser humano único, afinal o número de combinações de tal 'genoma' seria de 10 bilhões de possibilidades... Imaginem o que poderemos fazer com 30.000 genes!!! Depois não existe um gene para isso, um gene para aquilo, um gene para ser operário, outro para ser atleta... O buraco é mais embaixo, e a Genética pode solucionar muitas coisas, mas não servirá a este propósito, e imaginá-lo não é mais do que ficção... Isso sem considerar o aspecto ético...
Além de muitos, e complexos, e interagirem, 'genes versam apenas' sobre a síntese de proteínas... Estas proteínas servem por sua vez para a constituição de nossa Fisiologia e nossa Neurologia, e isso passa pela Embriogênese, onde o meio intra-uterino ou 'placenta', começará a influir e competir com a Genética na constituição de nossa Natureza... Então emergimos para a vida... A avidez pelo aprendizado, assim como suas características e aptidões, já estarão em grande parte conformadas... O que não representa determinismo, e sim volição e tendência natural... De aí em diante o meio jogará uma papel cada vez mais forte, e muito disso de deve à linguagem, a escrita, e à codificações de nossa comunicação... Um espetacular acerco de informação estará disposição para ser aprendido, assimilado, e este processo de assimilação será fortemente regido pela na genética, sendo o meio um catalizador... O Hipocampo tem importante função na seleção involuntária do que armazenamos em nossa memória, mas o estado emocional, que sofre influência exterior, afeta o Hipocampo... Ou seja, a genética afeta o Hipocampo, o estado emocional relativo ao ambiente também, mas a suscetibilidade aos estados emocionais também é influenciada pela genética...
Sempre que uma nova descoberta Genética é publicada, surge antes da correta explanação a 'chamada' sensacionalista... 'Descoberto o gene do amor', 'descoberto o gene da inteligência'... Estas são falácias, posto que o estado comportamental que redunda em 'amor', 'inteligência', ou ser ou não um músico e ser ou não um bancário, não estão escritos em nossos genes... A natureza, e a nossa natureza genética não discorre sobre música ou sistema bancário... O besteirol de 'ADM' começa por aí... Depois, um condicionamento comportamental cumpre a mais importante função, com direito a lavagem cerebral durante o sono, de garantir a perfeita harmonia entre gene e meio... Mas não funciona assim... Ao contrario do que se pensa, em 'ADM', em diversas passagens, a aptidões e características naturais parecem não contar, apesar da clonagem... Bastando apenas a programação 'correta', para que induzamos o comportamento... Mas não é assim que estamos entendendo o homem em 2012...
Mas 'AMN' detalha um inferno de doutrinação, esquecendo-se ou contradizendo-se no quesito genética e volição natural... Ao contrário do que imaginam, 'ADM' é a contra-ciência, além de uma contradição em si... Por quê? Primeiramente 'ADM' propõe a seleção genética, ou clonagem dos mais aptos a cada tarefa... Primeiramente que tal seleção é impossível... Bastaria 33 genes, com apenas a informação ativo e inativo, para tornar cada ser humano único, afinal o número de combinações de tal 'genoma' seria de 10 bilhões de possibilidades... Imaginem o que poderemos fazer com 30.000 genes!!! Depois não existe um gene para isso, um gene para aquilo, um gene para ser operário, outro para ser atleta... O buraco é mais embaixo, e a Genética pode solucionar muitas coisas, mas não servirá a este propósito, e imaginá-lo não é mais do que ficção... Isso sem considerar o aspecto ético...
Além de muitos, e complexos, e interagirem, 'genes versam apenas' sobre a síntese de proteínas... Estas proteínas servem por sua vez para a constituição de nossa Fisiologia e nossa Neurologia, e isso passa pela Embriogênese, onde o meio intra-uterino ou 'placenta', começará a influir e competir com a Genética na constituição de nossa Natureza... Então emergimos para a vida... A avidez pelo aprendizado, assim como suas características e aptidões, já estarão em grande parte conformadas... O que não representa determinismo, e sim volição e tendência natural... De aí em diante o meio jogará uma papel cada vez mais forte, e muito disso de deve à linguagem, a escrita, e à codificações de nossa comunicação... Um espetacular acerco de informação estará disposição para ser aprendido, assimilado, e este processo de assimilação será fortemente regido pela na genética, sendo o meio um catalizador... O Hipocampo tem importante função na seleção involuntária do que armazenamos em nossa memória, mas o estado emocional, que sofre influência exterior, afeta o Hipocampo... Ou seja, a genética afeta o Hipocampo, o estado emocional relativo ao ambiente também, mas a suscetibilidade aos estados emocionais também é influenciada pela genética...
Sempre que uma nova descoberta Genética é publicada, surge antes da correta explanação a 'chamada' sensacionalista... 'Descoberto o gene do amor', 'descoberto o gene da inteligência'... Estas são falácias, posto que o estado comportamental que redunda em 'amor', 'inteligência', ou ser ou não um músico e ser ou não um bancário, não estão escritos em nossos genes... A natureza, e a nossa natureza genética não discorre sobre música ou sistema bancário... O besteirol de 'ADM' começa por aí... Depois, um condicionamento comportamental cumpre a mais importante função, com direito a lavagem cerebral durante o sono, de garantir a perfeita harmonia entre gene e meio... Mas não funciona assim... Ao contrario do que se pensa, em 'ADM', em diversas passagens, a aptidões e características naturais parecem não contar, apesar da clonagem... Bastando apenas a programação 'correta', para que induzamos o comportamento... Mas não é assim que estamos entendendo o homem em 2012...
Os genes prescrevem o comportamento de maneira muito sutil e complexa, e são afetados pela educação e pelo aprendizado... Mas a sociedade preconizada por Huxley jamais vingaria, por mais que tentássemos... Simplesmente não funcionaria... Tentar entender a vida humana e o comportamento sem entender a Genética e a Neurociência - genes e neurônios - é como pretender criar uma floresta sem plantar árvores... Sabemos hoje, não por meio de profecias, mas por constatação, que a genética é origem de tudo, e sua influência é essencial, inclusive sobre a capacidade e aptidão para o aprendizado... Ou seja, a Genética influi no aprendizado, e ambas redundam no comportamento...
No homem, mas do que em outros animais, sobretudo em mamíferos, o aprendizado tem impacto significativo no comportamento, em função e sobretudo, por causa da nossa capacidade de abstração - que por sua vez também é regida pela Genética -, mas ainda assim o papel do aprendizado é bem inferior à impulsão genética... Isso não nos diferencia tanto quanto imaginamos de outros seres e organismos, e nem nos afasta da fortíssima caracterização genética... Inclusive, e insisto, a própria capacidade de aprender depende da Genética... E tudo isso esta intermediado pela Embriogênese... Somos mais gene do que meme... E os memes, as experiências e o aprendizado serão assimilados de acordo com os nossos genes, que por sua vez definirão a bioquímica de nossa vida...
A obsessão ou o fervor, por exemplo, tem forte impulsão genética, mas a qual crença em particular será dirigido é uma questão aprendida...
E a chave sobre o entendimento humano, pode realmente estar na Genética... A partir do bom entendimento sobre 'quem somos', podermos ajustar a educação e finalmente responder adequadamente estimulando ou liberando as nossas características naturais... 'Saber quem somos para ser de propósito'... O caminho não será arbitrar o destino ou uniformar seres humanos... Devemos entender que 'somos quem somos sem intencionar sê-lo', mas podemos aprimorar, aprender e até mudar nosso destino... Mesmo assim, este conhecimento discorrerá sobre tendências e não sobre determinação... O caminho aqui, aponta muito mais na direção de entender, aceitar e tratar, do que ingerir e determinar... Importante discussões éticas estão a caminho...
Entendendo a natureza humana e tendo um vislumbre de nossa própria natureza, poderemos arrefecer as frustrações, fazendo as pazes com as nossas características, e diminuindo a distancia entre o que somos e o que gostaríamos de ser... Aceitando com prazer e alegria quem somos, e ensinando que não existem padrões de superioridade humana, e sim 'características' e 'diferenças'... Estas diferenças são o estratagema para a sobrevivência de nossa espécie e não o contrário...
A diferença nos faz mais fortes como espécie humana, e não o contrário... E a 'imperfeição' nos coloca em movimento... Não será a perfeição que nos salvará... Nada nos salvará, nada carece de ser salvo... Mas a imperfeição - e não a perfeição - foi e sempre será o nosso anônimo propulsor...
E a questão “para que serve o cérebro?” é completamente diferente da questão “o que o cérebro é capaz de fazer?” – quando procura adaptar-se ao meio. Lembrando que o ‘meio’ ao qual devemos nos adaptar é o ambiente físico-químico intracraniano. Todos os sensores de nosso corpo chegam através do tronco encefálico ao cérebro, e este sim será o “teatro” de nossas vidas. Assistimos a um filme que imaginamos dirigir.
E a Genética é a receita para a nossa fisiologia e diversidade; é sobre esta fisiologia que aprenderemos os desafios do meio, armazenaremos parâmetros, conceitos, episódios, para sobreviver e procriar... Diante de um mundo que muda em velocidade vertiginosa, as nossas arcaicas funcionalidades da savana estão sendo redirecionadas para melhor adaptação, e daí tanta confusão. Se você considera isso ‘determinista’ considere a brilhante e perspicaz reflexão do filósofo Henrik Walter: um animal ou ser vivo, cujo comportamento estivesse determinado 99% pela sorte de seu embaralhamento genético ‘único’ e apenas 1% determinado por seu aprendizado, seria muito mais livre do que um ser determinado 99% por seu aprendizado e apenas 1% por sua inescapável natureza.
Leia novamente, e deixe transcorrer alguns segundo para que a ficha caia... E assim desmontamos qualquer chance de regimes totalitários que trabalhem por meio de lavanderias cerebrais... A natureza é uma tremenda arma ‘em favor da liberdade’ - e não o contrário... Quando o eminente filósofo lituano naturalizado inglês, Sir Isaiah Berlin (1909-1997), clama por liberdade, a natureza é o caminho:
Sua vontade será feita, mas...
98% de nossos processos neurais são inconscientes, e a nossa natureza ‘única’ se manifesta de forma ‘involuntária’... Individual, excepcional, original e involuntária. A consciência, de fato, é inconsciente. O interpretador em nosso hemisfério esquerdo trabalha como uma professora no jardim de infância tentando controlar as crianças na hora do recreio. Apraz-nos pensar que não, e na verdade evoluímos para esta condição autocentrada.
Este maravilhoso órgão, e que nos caracteriza como seres humanos, na verdade encontra-se em pleno processo evolutivo, e sulcado de imperfeições... Maravilhosamente imperfeitos. Inventamos a Ciência, a nobre arte de nos tornar cientes pela confrontação com a realidade, para testar a nossa própria lucidez... A nossa adaptação ao meio trabalha por meio da seleção de funcionalidades pré-configuradas em nossa fisiologia pela receita de nosso embaralhamento Genético, que passou pelo ‘forno’ da Gestação, para receber o acabamento dos imprintings... Tais funcionalidades, uma vez selecionadas, operam pela parametrização da experiência.
Milhares de línguas e dialetos ao longo da história evolutiva, conjuraram os mesmos universais: sujeito, predicado, substantivo, ação ou verbo... Tais noções sintáticas são inatas, desde que não existam problemas genéticos, ou gestacionais, e que o imprinting conclua a sua formatação antes que a janela seja fechada... O vocabulário é aprendido.
O rei mongol Akbar, ‘o Grande’, de forma ironicamente trágica, talvez seja o primeiro neurocientista registrado pela História. No século XVI, ele isolou várias crianças ao nascer, e que foram cuidadas por mulheres que não falavam com elas, até completarem a idade de 13 anos - idade em que Akbar ascendeu ao trono. O objetivo do ‘experimento’ era verificar se tais crianças apresentariam qualquer tendência inata a se tornarem hindus, muçulmanas ou cristãs. Na verdade o que o rei conseguiu foi demonstrar que sofremos imprinting também em nosso sistema auditivo ao nascer. Todas as crianças se tornaram irreversivelmente surdas-mudas, mas nenhuma delas apresentou qualquer inclinação religiosa...
Temos os casos dos meninos selvagens - além de Mogli -, batizados por Victor, Kaspar Hauser, e o grotesco caso de Genie... Genie foi confinada, amarrada, torturada, por uma mãe cega e abusiva, e um pai paranoico que costumava latir e rosnar na porta de seu quarto escuro quando ela chorava... Ela passava a maior parte do tempo enjaulada sobre e sobre uma cama. Depois de resgatada deste suplício, ela nunca aprenderia a falar, concatenar expressões ou organizar frases. Ela só podia balbuciar duas palavras, como se repetisse ‘sons’, quando foi encontrada: “stopit” e “nomore”... Genie aprendeu outras palavras, mas nunca foi capaz de estruturar qualquer frase. Ela também se tornou obcecada por colecionar objetos plásticos, entre muitas outras tantas exóticas obsessões...
Sua recuperação foi tão terrível quanto sua vida. Houve certo progresso no início do tratamento, mas as diferentes equipes que assistiram Genie finalmente jogariam a toalha... Ela ainda está viva, internada em um lar para retardados mentais e sob severa vigilância. O seu ‘pai’ cometeu suicídio...
Outros reis se candidatariam à neurocientistas, como o rei Psamético do Egito, Frederico II - imperador do Sacro Império Romano - e o rei Jaime IV da Escócia, que fizeram ‘experimentos’ similares de isolamento com indefesas crianças... No caso de Frederico, o objetivo era determinar se havia uma tendência linguística inata: hebraico, árabe, latim ou grego? O resultado foi a morte de todas as crianças...
Sei que muitos estão chocados e até ofendidos até aqui. Sim estou reafirmando a nossa identidade, e o fato de sermos ‘únicos’, ao mesmo tempo em que afronto as noções de livre-arbítrio. O visionário neurocientista californiano Walter Freeman, vem em meu socorro:
A palavra-chave ou problema-chave é a ‘linearidade’ ou ‘intencionalidade linear’. Melhor seria dizer, o problema é nos apartarmos da ideia de que o mundo funciona de forma simplista e causal, assim a bola de canhão é disparada, descreve uma trajetória balística e nunca o contrário. Atribuir toda e qualquer ação à causalidade linear é uma decorrência evolutiva e um traço inato de nossa espécie. Pra sair desta prisão precisamos nos habituar com noções probabilísticas, sistemas de processamento multitarefa, sistemas concorrentes, sistemas preemptivos, multivariáveis, complexos, aleatórios, estocásticos, análises bayesianas, etc... E estes ‘processos’ de solução de problemas podem ser aprendidos, mesmo quando o nosso cérebro tende a ‘intencionalizar’ e conferir causação linear a tudo o que nos cerca.
Daí o animismo primitivo, a mitologia, a adesão tácita a religiões que pregam absurdos, horóscopos, médiuns, homeopatas... Isso porque ainda não exploramos o fenômeno da lateralização dos hemisférios cerebrais, que literalmente põe para brigar, dentro de nossa cabeça, um cientista e um advogado... A nossa obsessão inata por ‘causalidade’, e padrões deterministas, invertem a questão, pois se bem observado, e já foi bem ilustrado, é o livre-arbítrio, apesar da confusão semântica, que nos remete ao determinismo, e não a genética. O trovão é causado pela martelada de Thor, ou São Pedro está movendo os móveis, e sempre precisamos estabelecer ‘culpas dos e inocentes’...
O zoólogo inglês Matt Ridley, autor de obras-primas como ‘O que nos faz humanos’ (2008), de onde emerge parte das pérolas que alimentam este capítulo, assevera:
E tais ilusões cognitivas, estão elencadas nos Desvios – ou Vieses – Cognitivos de Confirmação, e infelizmente não poderei apresenta-los aqui, muito embora esteja louco de vontade de fazê-lo... Apenas uma palhinha. Considere o jargão da auto-ajuda:
E note que, nas entrelinhas, o que está realmente sendo dito é:
Evolutivamente, além da afinidade inata por fenômenos causais, a própria ilusão cognitiva funciona como um recurso ‘útil’... Como assim? Fazendo uma analogia prosaica, seria como a ilusão de ver uma cena tridimensional em uma tela bidimensional.
Sempre que tomo um taxi faço a experiência: após o cordial ‘bom dia!’ e o necessário ‘para onde vamos?’, um padrão se repete: os taxistas parecem ter uma especial e irremediável preferência por assuntos meteorológicos [sic]... “Este clima está louco”, dizem eles, ao que respondo: ‘Não! O clima não ESTÁ louco, o clima É louco!’ Somente nos últimos dois séculos, aprendemos a descrever a complexidade dos fenômenos naturais e que moldam o ‘mundo’ e o Universo que nos cerca. Isso porque a troposfera é um sistema caótico. E nem todos estamos preparados para dormir com este barulho; e continuamos recorrendo ao ‘simplismo causal’, e daí tanta confusão – e também revoluções, guerras, fogueiras, mortes e/ou religião... Daí o espaço para estelionatários e esquizofrênicos - não diagnosticados como tais -, e um exército de crentes. Daí tanto sofrimento e tanta superstição...
E daí... também podemos extrair passagens tristemente cômicas, no episódio do ganhador da loteria espanhola, também citado pelo extraordinário escritor, além de físico e estatístico americano Leornad Mlodinow (‘O Andar do Bêbado’; 2009). A estória é real, e dá conta de um homem que ganhou sozinho na loteria nacional espanhola com um bilhete que terminava com o número ‘48’. Ele foi então entrevistado e questionado sobre sua sorte. Ele negou tratar-se de uma coincidência afirmando tratar-se de mãozinha do ‘todo-poderoso’, e aludindo ao seguinte fenômeno sobrenatural:
Este é o epítome da intencionalização e da causação... William James refletiu sobre a questão, ainda no século XIX, percebendo que a decisão consciente é precedida por uma decisão cerebral autônoma. Mas você é o seu cérebro, sendo o transplante de cérebro, o único em que apenas o doador é beneficiado.
De forma mais direta, a seleção natural nos deu a capacidade de projetar a intencionalidade sobre outros seres humanos para a nossa própria proteção, mas estendemos isso ao clima, às árvores, a outras etnias e nações. O inimigo espreita! Conformar a paz, por exemplo, implica em derrubar tais tendências ilusórias, alimentadas pela mitologia religiosa; por isso enfrento a questão inocentemente colocada por Marcelo Gleiser em sua "Ilha do Conhecimento". Os mitos alimentam a nossa tendência inata a falsos positivos, e assim abrem espaço para que autocratas se perpetuem no poder, valendo-se da velha hermenêutica de: incutir o medo para vender a salvação. IN NOMIDE DEI...
A diferença nos faz mais fortes como espécie humana, e não o contrário... E a 'imperfeição' nos coloca em movimento... Não será a perfeição que nos salvará... Nada nos salvará, nada carece de ser salvo... Mas a imperfeição - e não a perfeição - foi e sempre será o nosso anônimo propulsor...
E a questão “para que serve o cérebro?” é completamente diferente da questão “o que o cérebro é capaz de fazer?” – quando procura adaptar-se ao meio. Lembrando que o ‘meio’ ao qual devemos nos adaptar é o ambiente físico-químico intracraniano. Todos os sensores de nosso corpo chegam através do tronco encefálico ao cérebro, e este sim será o “teatro” de nossas vidas. Assistimos a um filme que imaginamos dirigir.
E a Genética é a receita para a nossa fisiologia e diversidade; é sobre esta fisiologia que aprenderemos os desafios do meio, armazenaremos parâmetros, conceitos, episódios, para sobreviver e procriar... Diante de um mundo que muda em velocidade vertiginosa, as nossas arcaicas funcionalidades da savana estão sendo redirecionadas para melhor adaptação, e daí tanta confusão. Se você considera isso ‘determinista’ considere a brilhante e perspicaz reflexão do filósofo Henrik Walter: um animal ou ser vivo, cujo comportamento estivesse determinado 99% pela sorte de seu embaralhamento genético ‘único’ e apenas 1% determinado por seu aprendizado, seria muito mais livre do que um ser determinado 99% por seu aprendizado e apenas 1% por sua inescapável natureza.
Leia novamente, e deixe transcorrer alguns segundo para que a ficha caia... E assim desmontamos qualquer chance de regimes totalitários que trabalhem por meio de lavanderias cerebrais... A natureza é uma tremenda arma ‘em favor da liberdade’ - e não o contrário... Quando o eminente filósofo lituano naturalizado inglês, Sir Isaiah Berlin (1909-1997), clama por liberdade, a natureza é o caminho:
“Desejo que minha vida e minhas decisões dependam de mim, e não de forças externas de qualquer tipo. Desejo ser instrumento de minha própria vontade, e não da vontade de outros homens. Desejo ser o sujeito e não o objeto.”
Sua vontade será feita, mas...
98% de nossos processos neurais são inconscientes, e a nossa natureza ‘única’ se manifesta de forma ‘involuntária’... Individual, excepcional, original e involuntária. A consciência, de fato, é inconsciente. O interpretador em nosso hemisfério esquerdo trabalha como uma professora no jardim de infância tentando controlar as crianças na hora do recreio. Apraz-nos pensar que não, e na verdade evoluímos para esta condição autocentrada.
Este maravilhoso órgão, e que nos caracteriza como seres humanos, na verdade encontra-se em pleno processo evolutivo, e sulcado de imperfeições... Maravilhosamente imperfeitos. Inventamos a Ciência, a nobre arte de nos tornar cientes pela confrontação com a realidade, para testar a nossa própria lucidez... A nossa adaptação ao meio trabalha por meio da seleção de funcionalidades pré-configuradas em nossa fisiologia pela receita de nosso embaralhamento Genético, que passou pelo ‘forno’ da Gestação, para receber o acabamento dos imprintings... Tais funcionalidades, uma vez selecionadas, operam pela parametrização da experiência.
Milhares de línguas e dialetos ao longo da história evolutiva, conjuraram os mesmos universais: sujeito, predicado, substantivo, ação ou verbo... Tais noções sintáticas são inatas, desde que não existam problemas genéticos, ou gestacionais, e que o imprinting conclua a sua formatação antes que a janela seja fechada... O vocabulário é aprendido.
O rei mongol Akbar, ‘o Grande’, de forma ironicamente trágica, talvez seja o primeiro neurocientista registrado pela História. No século XVI, ele isolou várias crianças ao nascer, e que foram cuidadas por mulheres que não falavam com elas, até completarem a idade de 13 anos - idade em que Akbar ascendeu ao trono. O objetivo do ‘experimento’ era verificar se tais crianças apresentariam qualquer tendência inata a se tornarem hindus, muçulmanas ou cristãs. Na verdade o que o rei conseguiu foi demonstrar que sofremos imprinting também em nosso sistema auditivo ao nascer. Todas as crianças se tornaram irreversivelmente surdas-mudas, mas nenhuma delas apresentou qualquer inclinação religiosa...
Temos os casos dos meninos selvagens - além de Mogli -, batizados por Victor, Kaspar Hauser, e o grotesco caso de Genie... Genie foi confinada, amarrada, torturada, por uma mãe cega e abusiva, e um pai paranoico que costumava latir e rosnar na porta de seu quarto escuro quando ela chorava... Ela passava a maior parte do tempo enjaulada sobre e sobre uma cama. Depois de resgatada deste suplício, ela nunca aprenderia a falar, concatenar expressões ou organizar frases. Ela só podia balbuciar duas palavras, como se repetisse ‘sons’, quando foi encontrada: “stopit” e “nomore”... Genie aprendeu outras palavras, mas nunca foi capaz de estruturar qualquer frase. Ela também se tornou obcecada por colecionar objetos plásticos, entre muitas outras tantas exóticas obsessões...
Sua recuperação foi tão terrível quanto sua vida. Houve certo progresso no início do tratamento, mas as diferentes equipes que assistiram Genie finalmente jogariam a toalha... Ela ainda está viva, internada em um lar para retardados mentais e sob severa vigilância. O seu ‘pai’ cometeu suicídio...
Outros reis se candidatariam à neurocientistas, como o rei Psamético do Egito, Frederico II - imperador do Sacro Império Romano - e o rei Jaime IV da Escócia, que fizeram ‘experimentos’ similares de isolamento com indefesas crianças... No caso de Frederico, o objetivo era determinar se havia uma tendência linguística inata: hebraico, árabe, latim ou grego? O resultado foi a morte de todas as crianças...
Sei que muitos estão chocados e até ofendidos até aqui. Sim estou reafirmando a nossa identidade, e o fato de sermos ‘únicos’, ao mesmo tempo em que afronto as noções de livre-arbítrio. O visionário neurocientista californiano Walter Freeman, vem em meu socorro:
“A negação do livre-arbítrio, então, provém de se considerar o cérebro incrustrado em uma cadeia causal linear [...]. O livre-arbítrio e o determinismo universal são áreas irreconciliáveis para as quais leva a causalidade linear.”
A palavra-chave ou problema-chave é a ‘linearidade’ ou ‘intencionalidade linear’. Melhor seria dizer, o problema é nos apartarmos da ideia de que o mundo funciona de forma simplista e causal, assim a bola de canhão é disparada, descreve uma trajetória balística e nunca o contrário. Atribuir toda e qualquer ação à causalidade linear é uma decorrência evolutiva e um traço inato de nossa espécie. Pra sair desta prisão precisamos nos habituar com noções probabilísticas, sistemas de processamento multitarefa, sistemas concorrentes, sistemas preemptivos, multivariáveis, complexos, aleatórios, estocásticos, análises bayesianas, etc... E estes ‘processos’ de solução de problemas podem ser aprendidos, mesmo quando o nosso cérebro tende a ‘intencionalizar’ e conferir causação linear a tudo o que nos cerca.
Daí o animismo primitivo, a mitologia, a adesão tácita a religiões que pregam absurdos, horóscopos, médiuns, homeopatas... Isso porque ainda não exploramos o fenômeno da lateralização dos hemisférios cerebrais, que literalmente põe para brigar, dentro de nossa cabeça, um cientista e um advogado... A nossa obsessão inata por ‘causalidade’, e padrões deterministas, invertem a questão, pois se bem observado, e já foi bem ilustrado, é o livre-arbítrio, apesar da confusão semântica, que nos remete ao determinismo, e não a genética. O trovão é causado pela martelada de Thor, ou São Pedro está movendo os móveis, e sempre precisamos estabelecer ‘culpas dos e inocentes’...
O zoólogo inglês Matt Ridley, autor de obras-primas como ‘O que nos faz humanos’ (2008), de onde emerge parte das pérolas que alimentam este capítulo, assevera:
“Minha preocupação aqui é com outro tipo de erro: a crença em que o comportamento intencional deve ter uma causa linear. Isto é simplesmente uma ilusão, uma miragem mental, um instinto falho.”
E tais ilusões cognitivas, estão elencadas nos Desvios – ou Vieses – Cognitivos de Confirmação, e infelizmente não poderei apresenta-los aqui, muito embora esteja louco de vontade de fazê-lo... Apenas uma palhinha. Considere o jargão da auto-ajuda:
“Tudo tem uma causa.”
E note que, nas entrelinhas, o que está realmente sendo dito é:
“[...] uma causa MORAL!”
Evolutivamente, além da afinidade inata por fenômenos causais, a própria ilusão cognitiva funciona como um recurso ‘útil’... Como assim? Fazendo uma analogia prosaica, seria como a ilusão de ver uma cena tridimensional em uma tela bidimensional.
Sempre que tomo um taxi faço a experiência: após o cordial ‘bom dia!’ e o necessário ‘para onde vamos?’, um padrão se repete: os taxistas parecem ter uma especial e irremediável preferência por assuntos meteorológicos [sic]... “Este clima está louco”, dizem eles, ao que respondo: ‘Não! O clima não ESTÁ louco, o clima É louco!’ Somente nos últimos dois séculos, aprendemos a descrever a complexidade dos fenômenos naturais e que moldam o ‘mundo’ e o Universo que nos cerca. Isso porque a troposfera é um sistema caótico. E nem todos estamos preparados para dormir com este barulho; e continuamos recorrendo ao ‘simplismo causal’, e daí tanta confusão – e também revoluções, guerras, fogueiras, mortes e/ou religião... Daí o espaço para estelionatários e esquizofrênicos - não diagnosticados como tais -, e um exército de crentes. Daí tanto sofrimento e tanta superstição...
E daí... também podemos extrair passagens tristemente cômicas, no episódio do ganhador da loteria espanhola, também citado pelo extraordinário escritor, além de físico e estatístico americano Leornad Mlodinow (‘O Andar do Bêbado’; 2009). A estória é real, e dá conta de um homem que ganhou sozinho na loteria nacional espanhola com um bilhete que terminava com o número ‘48’. Ele foi então entrevistado e questionado sobre sua sorte. Ele negou tratar-se de uma coincidência afirmando tratar-se de mãozinha do ‘todo-poderoso’, e aludindo ao seguinte fenômeno sobrenatural:
“[...] sonhei com o número 7 por 7 noites seguidas, e como 7 vezes 7 é 48 eu comprei o cartão premiando.” (‘Los Angeles Times’; 1977)
Este é o epítome da intencionalização e da causação... William James refletiu sobre a questão, ainda no século XIX, percebendo que a decisão consciente é precedida por uma decisão cerebral autônoma. Mas você é o seu cérebro, sendo o transplante de cérebro, o único em que apenas o doador é beneficiado.
De forma mais direta, a seleção natural nos deu a capacidade de projetar a intencionalidade sobre outros seres humanos para a nossa própria proteção, mas estendemos isso ao clima, às árvores, a outras etnias e nações. O inimigo espreita! Conformar a paz, por exemplo, implica em derrubar tais tendências ilusórias, alimentadas pela mitologia religiosa; por isso enfrento a questão inocentemente colocada por Marcelo Gleiser em sua "Ilha do Conhecimento". Os mitos alimentam a nossa tendência inata a falsos positivos, e assim abrem espaço para que autocratas se perpetuem no poder, valendo-se da velha hermenêutica de: incutir o medo para vender a salvação. IN NOMIDE DEI...
Carlos Sherman
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