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terça-feira, 24 de junho de 2014

A Crença no Leviatã Transgênico



A Crença no Leviatã Transgênico
‘Um pouco mais do mesmo’ ou ‘Uma conversa para adultos’

Quando se trata de defender  o dogma da anti-transgenia a ‘Ciência’ costuma ser invocada... Apesar da generalização do argumento, e da flagrante retórica Ad Verocundiam - ou Ad Baculum, se preferirem -, com certa raridade alguns nomes obscuros, integrante da hoste ‘científica’ anti-transgênica, são apresentados... Pois este artigo também cita a ‘Ciência’, primeiramente na forma de sua categoria argumentativa e método, mas já que se faz mister, também cita nomes consagrados, com Carl Sagan, Richard Dawkins, Dráuzio Varela... Mas em se tratando de ‘autoridade’ escolho um peso pesado, o apreciador de scotchs e ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1962 - juntamente com Francis Crick e Maurice Wilkins, e sem desmerecer a participação póstuma de Rosalind Franklin  - pela autoria do "modelo de dupla hélice" para a estrutura da molécula de DNA em trabalho publicado pela revista Nature em 1953: JAMES WATSON...

Poucos homens estão mais capacitados do que Watson para desmistificar o tema do ‘terror transgênico’, e poucos homens trafegam com tanta fluidez pelo mundo efetivamente científico quanto Watson... O meu caro Watson não vê fronteiras quando o assunto é endereçar a verdade, e este é o caso... O presente argumento está fundamentado em seu livro ‘DNA – O Segredo da Vida’ (2003), e mais precisamente nos capítulos 5 (‘DNA, dólares e drogas: Biotecnologia’) e 6 (‘Tempestade numa caixa de cereais: a agricultura transgênica ’)...

Para começar, se você é um ‘crente’ no ‘perigo transgênico’, tenho más notícias, e isso se você ou algum familiar for portador da diabetes tipo I (não produz insulina) e II (não produz suficiente insulina): a insulina que salva vidas é industrializada a partir de Biotecnologia e Engenharia Genética – uma mina de ouro para laboratórios pioneiros como a Genentech... O controle da diabetes requer injeções regulares dessa proteína, que foi letal (para o tipo I) até 1921; desde então, a produção de insulina tornou-se um lucrativo negócio... Já que o nível de açúcar no sangue é regulado a partir do mesmo mecanismo em todos os mamíferos, passamos a utilizar a insulina produzida por animais domesticados como porcos e vacas – ou tubarões, no Japão... Como tais moléculas divergem um pouco da insulina humana em alguns aminoácidos, as reações adversas foram constatadas, como resposta da rejeição do organismo humano... A solução, em favor da vida, foi a clonagem e síntese da insulina humana, e assim, encerramos este pequeno capítulo, no intuito de arrefecer a ‘fé anti-transgênica’ em favor da pensabilidade e do escrutínio da razão... Mas não sem antes amargar terríveis pesadelos jurídicos, lutando contra grupos religiosos e sociológicos - defensores da velha e carcomida bandeira do ‘bom selvagem’... Mas a água bateu no queixo, e nada como um filho com diabetes para que a ‘fé’ seja substituída pelo amor pela vida... E assim foi...

"No final, a Genentech venceria a corrida, mas por pouco. Usando o método transcriptase reversa, a equipe de Gilbert conseguiu clonar o gene para a loa do rato; conseguiu também induzir uma bactéria a produzir a proteína rato. Faltava apenas repetir o processo com o gene humano. Mas foi aqui que a Biogen enfrentou seu Waterloo regulamentar. Se quisesse clonar o DNA humano equipe de Gilbert só poderia fazê-lo num edifício de contenção de nível P4 - o nível mais elevado de contenção, o mesmo exigido para trabalhar com monstrengos desagradáveis como o vírus Ebola. Eles conseguiram que o exército britânico lhes cedesse acesso a Porton Down, um laboratório de guerra biológica no sul da Inglaterra.” - Watson

Ignorância e histeria... O mesmo que vivemos hoje com o estudo com células-tronco... Evidentemente tal estado de coisas serviu de base para uma indústria cinematográfica orientada para os perigos da Ciência, no ‘cientista-louco’, catástrofes bioquímicas, e um sem número de impropérios contra a razão – afinal estávamos apenas clonando um trecho do DNA humano... Mas não podemos seguir imersos em medievalismo sociológico, enquanto negamos a importância da Biologia Molecular e da Engenharia Genética para a Humanidade... Isso é pura CRENÇA...

Mas a Biotecnologia deixaria de ser apenas um sonho, e sem dúvida a sua primazia e aventura, renderam bilhões de dólares... E daí? Qual é o problema de empreender, salvar vidas, e ganhar dinheiro... Este é o motor propulsor e sempre será... Os devaneios rançosos marxistas, na figura de Lênin, encomendariam ao atabalhoado e genial Pavlov uma terapia orientada a “moldar o novo homem”... Chama a atenção, a arrogância leninista em considerar-se em condições de arbitrar, divinal, o que viria a ser “novo” – em uma Rússia atrasada e semi-feudal -, e ainda o que garantia a Pavlov que o seu “método” doutrinário e condicionante surtiria efeito em um ser tão ‘interativo’ como o homem? Pavlov é aquele que recebeu do milionário Nobel – descobridor do TNT, e irônico fundador do famigerado Prêmio – uma fortuna para curá-lo com sua famosa “transfusão com sangue de girafa”... Pavlov era muito pouco condescendente com os animais, afinal ignorava a complexidade de seus sistemas neurais, acreditando firme e dogmaticamente na liturgia do condicionamento – ledo engano; mas nenhuma girafa chegou a ser morta...

Charles Weissmann,  um dos fundadores da Biogen, valendo-se da característica inata humana da competição e da primazia, catalisou talentos da Universidade de Zurique – pouco interessados nos milhões, mas muito interessados no próximo Nobel – para clonar o Interferon humano... Esta importante proteína se tornou o produto mais lucrativo da Biogen, sendo fundamental no tratamento da esclerose múltipla... Negar a importância de tais avanços requer uma postura híbrida, invocando a boçalidade direitista-cristã no melhor estilo Olavo de Carvalho, com as piores bestialidade esquerdistas... Somente no terreno amplamente ignorado por ambos, a Genética, olavianos e marxianos se encontram em perfeita harmonia para destilar asneiras como: “a Pepsi faz adoçante com embriões humanos”... E por aí vai...

A próxima frente de batalha dos ventríloquos ‘crentes’, cujas bandeiras serão desfraldadas mais uma pela ignorância latente e reinante, será travada contra a nanotecnologia... Mas este é outro tema... A Engenharia Genética junta esforços com o negócio farmacológico, concentrando esforços na luta contra o câncer, contra a AIDS, assim como na luta contra o envelhecimento... Humanos desejam viver mais e mais, e assim é, e assim foi, e assim será... Humanos como você e eu... Pesquisas públicas dificilmente têm o mesmo resultado em comparação com pesquisas privadas e onde existem interesses financeiros em jogo... Foi assim com o Petróleo, com o Aço, com a indústria automotiva, de telecomunicações e de computadores... Foi assim que passamos a viver três vezes mais, debelando as adversidades microbiológicas, enquanto morremos 40 vezes menos ao nascer, reduzindo o número de mortes violentas em quase 100 vezes (Pinker, 2013)... Esta é a acachapante realidade... Assim como, em termos éticos, nunca estivemos tão democráticos... Mesmo que falte muito a ser feito até que tenhamos superado a fronteira da miséria em todo o planeta, devemos olhar sem vitmologia para a realidade que nos cerca... Mas sem esquecer: a pobreza é o nosso estado natural – e não o contrário...

Poderíamos encher páginas e páginas com feitos em favor da vida, alicerçados na Engenharia Genética – a EPO, proteína que estimula a produção de glóbulos vermelhos (Amgen-Johnson&Johnson e Genetics), anticorpos monoclonais (Centocor-Johnson&Johnson), anticorpos para o câncer de mama (Genentech), artite reumatoide (Immunex), leucemia mielóide crônica (Novartis), câncer epidérmico, pulmões, inibição de tumores (Sugen) -  mas precisamos focar na questão agropecuária... A ‘demoníaca’ Monsanto desenvolveu um produto que aumenta a produção de leite do rebanho em 10% - o bGH... Não importa o FATO de que as amostras de leite ‘com e sem’ o produto não tenha apresentado nenhuma variação, assim como o fato de não apresentar efeitos colaterais tangíveis para o rebanho, nem o fato de ser ecológico, pois reduz os rebanhos, menos gás metano – 25 vezes mais eficaz em reter o calor que o CO2 -, e menos impacto sobre o efeito estufa... A crença suplanta a razão...

Fiz questão de citar grande marcas multinacionais na vanguarda da pesquisa em favor da VIDA, e que investem bilhões para coletar bilhões+plus... Encarei a questão de frente para estimular o ranço crente mais arraigado... Ambientalistas deixam de sê-lo, quando o nome Monsanto é pronunciado, e não importa o tema, mas estarão sempre, xiiticamente, CONTRA... A Monsanto, Johnson, são empresas do ‘demônio’, e não importa que milhões de pessoas de bem, e que amam seus filhos, trabalhem com o seu engenho para tais corporações... O importante não é o resultado, mas sim se eles ganham ou não ganham dinheiro... E é claro que ganham, e se esta é a área mais importante no conhecimento humano, seria natural esperar que todos os esforços e atenções estão voltados para este NEGÓCIO...

Assim falou Jeremy Rifkin, ‘opositor profissional’:

“Pois eu transformarei numa questão polêmica. Encontrarei algo. É o primeiro produto de biotecnologia a entrar no mercado e eu vou combate-lo. [...] Não é natural [embora não seja distinguível qualquer alteração...] Contém proteínas que causam câncer [não é verdade, e todas as proteínas são decompostas na digestão animal...] Levará os pequenos fazendeiros à falência [sendo precisamente o oposto...] Prejudicará as vacas [uma acachapante mentira, comprovada por uma década de uso do produto...]”

Finalmente, quando a escatologia profetizada por irresponsáveis e safados como Rifkin não dão em nada, e ‘a água bate no queixo’, então todo este proselitismo é rapidamente esquecido, até que novos coros sejam entoados... E chegamos ao “Frankenstein Food Fiasco”, como estampado na capa de um jornal sensacionalista britânico: os transgênicos na agricultura...

"Em junho de 1962, o livro ‘Silent Spring’, de Rachel Carson, causou sensação ao ser publicado em capítulos na revista ‘The New Yorker’. O livro trazia a advertência aterrorizadora de que os pesticidas estavam envenenando o meio ambiente e contaminando até mesmo os nossos alimentos. Na época, eu era um dos assessores do Comitê de Aconselhamento Cientifico do Presidente [PSCA = President's Scientific Advisory Committee], de John F. Kennedy, no qual minha principal função era estudar o programa de guerra biológica dos militares. Portanto, foi um alívio ser convidado para atuar numa subcomissão que formularia a resposta do governo às questões levantadas por Carson. A própria autora testemunhou e lembro-me de ter ficado impressionado com sua apresentação minuciosa e o modo circunspecto como abordou os tópicos. Pessoalmente, ela estava longe de ser a ecomaluca histérica retratada pela indústria de pesticidas e seus asseclas. Um executivo da American Cyanamid Company, por exemplo, insistiu que, ‘se fôssemos seguir à risca os ensinamentos da srta. Carson, voltaríamos à Idade das Trevas, e os insetos, doenças e vermes herdariam novamente a Terra’.  A Monsanto, outra grande fabricante de pesticidas, publicou uma refutação a ‘Silent Spring’ chamada ‘The Desolate Year’ e distribuiu gratuitamente 5 mil exemplares do livro para a mídia.
Minha experiência mais direta com o mundo descrito por Carson ocorreu um ano depois. Eu coordenava na época uma equipe encarregada de averiguai quanto a safra nacional de algodão estaria ameaçada por insetos herbívoros, em especial o bicudo-do-algodoeiro [Anthonomus grandis]. Quem visitasse os algodoais do delta do Mississippi, do oeste do Texas e do vale central da Califórnia não poderia deixar de perceber que os agricultores eram totalmente dependentes de pesticidas químicos. Em certa ocasião, a caminho de um laboratório de pesquisas entomológicas perto de Brownsville, Texas, nosso carro chegou a ser inadvertidamente borrifado por um avião pulverizador. Nessa região, os outdoors não alardeavam produtos conhecidos de nós, urbanos, como o lendário creme de barbear Burma-Shave, e sim os mais recentes e mais potentes compostos inseticidas. Produtos químicos venenosos pareciam ser uma importante parte da vida dessa região algodoeira.
Tenha Carson avaliado corretamente ou não a ameaça, o certo era que precisava haver uma maneira melhor de combater os inimigos hexápodes dos algodoais do que encharcar áreas imensas do país com produtos químicos. Uma possibilidade promovida por cientistas do Departamento de Agricultura em Brownsville consistia em mobilizar os próprios inimigos dos insetos — por exemplo, o vírus poliédrico, que ataca a lagarta-rosada (que logo se tornaria ameaça ainda maior ao algodão do que o bicudo) —, mas essa estratégia o provou-se impraticável. Na época, eu jamais teria concebido uma solução que envolvesse a criação de plantas com resistência a pragas incorporada; tal ideia simplesmente pareceria boa demais para ser verdade. Hoje, porém, é exatamente assim que os fazendeiros estão vencendo as pragas, ao mesmo tempo em que reduzem sua dependência de produtos químicos nocivos.
A engenharia genética produziu plantas com resistência intrínseca a pragas com a decorrente diminuição do uso de pesticidas, quem sai ganhando é o meio ambiente. Paradoxalmente, porém, as organizações dedicadas à proteção do meio ambiente têm se mostrado as mais vociferantes na oposição à introdução das chamadas plantas geneticamente modificadas, ou transgênicas.[...] A doença denominada galha-de-coroa leva à formação de um caroço disforme, um ‘tumor’, conhecido como galha, no caule das plantas. É causado por uma bactéria de solo bastante comum chamada Agrobacterium tumefaciens, um agente oportunista que infecta as plantas no local em que foram mordiscadas por um inseto herbívoro, por exemplo. O modo como o parasita bacteriano perpetra o ataque é notável. Ele constrói um túnel através do qual consegue enviar para a célula vegetal um ‘pacote’ do seu material genético, que consiste em um trecho de DNA cuidadosamente excisado de um plasmídeo especial e, em seguida, envolto numa camada protetora antes de ser remetido pelo túnel. Quando esse pacote de DNA chega ao seu destino, é integrado ao DNA da célula hospedeiro (como aconteceria com o DNA de um vírus). Ao contrário do que ocorre com os vírus, porém, esse trecho de DNA, uma vez instalado, não produz outras cópias de si mesmo; em vez disso, produz hormônios de crescimento vegetal e proteínas especializadas, que servem como nutrientes para a bactéria — que por sua vez, promovem simultaneamente a divisão celular da planta e a proliferação de bactérias ao criarem um circuito positivo de retroalimentação: os hormônios de crescimento fazem com que as células da planta se multipliquem mais depressa e, como o DNA bacteriano invasor é copiado junto com as células hospedeiras em cada divisão celular, cada vez mais nutrientes bacterianos e cada vez mais hormônios de crescimento vegetal são produzidos." - Watson

Para a planta, o resultado desse frenesi de crescimento descontrolado é uma massa celular protuberante disforme, a galha; que, para a bactéria, funciona como uma espécie de fábrica na qual a planta é coagida a produzir precisamente aquilo de que a bactéria precisa, e em quantidades sempre crescentes... 

Em termos de estratégias parasíticas, a Agrobacterium é brilhante, e suas exploração das plantas tem contornos quase artísticos... O parasitismo da Agrobacterium foi sendo deslindado aos poucos na década de 1970; primeiro por Mary-Dell Chilton, na Universidade de Washington em Seattle, e depois por Marc van Montagu e Jeff Schell, na Universidade Livre de Ghent, na Bélgica... Na época, o debate político sobre DNA recombinante estava grassando em Asilomar - e em toda parte... Mais tarde, Chilton e seus colegas de Seattle comentaram ironicamente que, por transferir DNA de uma espécie para outra sem o resguardo das instalações de contenção P4 [sic], a Agrobacterium estava ‘operando à margem das diretrizes do National Institutes of Health’ [sic]...

Em breve, Chilton, Van Montagu e Schell deixariam de ser os únicos fascinados pela Agrobacterium... No início da década de 1980, a Monsanto, a mesma empresa que recriminara o ataque de Rachel Carson aos pesticidas, percebeu que essa bactéria era mais do que uma excentricidade biológica: a Agrobacterium era um negócio... O seu bizarro estilo de vida parasítico talvez contivesse a chave do processo de inserir genes em plantas - para ganhar muito dinheiro... Quando Chilton se mudou de Seattle e foi para a Universidade Washington em St. Louis - cidade natal da empresa -, constatou que seus novos vizinhos tinham mais do que um interesse efêmero por seu trabalho...

"A Monsanto pode ter chegado tarde ao estudo e aproveitamento da Agrobacterium, mas tinha dinheiro de sobra e outros recursos para logo recuperar o atraso. Não demorou muito até que, em troca da promessa de compartilharem suas descobertas com a nova benfeitora, os laboratórios de Chilton e de Van Mongatu/Schell começassem a ser financiados pela gigantesca empresa química.” - Watson

O sucesso da Monsanto se deve à sagacidade científica de três homens, Rob Horsch, Steve Rogers e Robb Fraley, que ingressaram na empresa no início dos anos 1980... Nas duas décadas seguintes, eles arquitetariam uma revolução na agricultura... Horsch sempre disse amar “o cheiro e o calor [da terra]”. e desde garoto sonhou em “cultivar coisas melhores do que as disponíveis na mercearia”... Em contraste, Roger, um biólogo molecular purista da Universidade de Indiana, descartou a princípio o convite da empresa por achar que, se realizasse esse tipo de trabalho, estaria se “vendendo para a indústria”... Bastou uma visita ao centro de pesquisa da empresa para convencer-se de que havia não apenas um ambiente dinâmico de pesquisa, mas também abundância de brilhantes e éticos recursos humanos, espaço para a inventividade, e um elemento-chave quase sempre escasso em pesquisas públicas, a ‘organização’, além de outro elemento quase sempre ausente em pesquisas acadêmicas, o ‘dinheiro’... Fraley, por sua vez, sempre acreditou no futuro avassalador da biotecnologia agrícola... Ele ingressou na empresa depois de entrevistar-se com Ernie Jaworski, o executivo cuja intuição fora a mola propulsora do programa de biotecnologia da Monsanto... Jaworski revelou-se não apenas um visionário, mas também um líder e motivador de sua equipe...

Os três grupos envolvidos com a Agrobacterium — Chilton (mais tarde empregado pela Syngenta), Van Montagu e Schell, e a Monsanto — viam a estratégia da bactéria como um convite à manipulação genética das plantas... Já não era inconcebível imaginar o uso das ferramentas de cortar-e-colar da biologia molecular para realizar a tarefa relativamente simples de inserir no plasmídeo da Agrobacterium um gene que se desejasse transferir para a célula da planta... Com isso, quando a bactéria geneticamente modificada infectasse um hospedeiro, trataria de inserir o gene selecionado no cromossomo da célula vegetal... Pura engenharia genética ‘natural’...

E assim nascia o celeuma transgênico... A Agrobacterium era uma sensação, e não tardou para que, com uma forcinha da inventividade humana, o gene selecionado – atrelado a microscópicos grânulos de ouro ou tungstênio – fosse disparado com uma pistola diretamente nas plantas... Esta pistola gênica, inventada por John Sanford da Universidade de Cornell, permitiu ao homem aplicar a ‘engenharia do Agrobacterium’ em vegetais envolvidos em nossa cadeia alimentar como o milho, trigo, arroz, cebola, etc...

“O milho não é apenas um alimento valioso. Diferentemente dos demais dutos agrícolas americanos, seu valor como semente também vem de longa data. O negócio de sementes sempre foi uma espécie de beco sem saída financeiro: um agricultor precisa comprar sementes, mas, nos plantios subsequentes, e usar os grãos da safra que acabou de colher, de modo que nunca mais precisará adquirir sementes de uma empresa. As empresas de sementes de milho nos Estados Unidos resolveram esse problema na década de 1920 comercializando o milho híbrido, isto é, produto do cruzamento de duas linhas genéticas específicas de milho. O elevado rendimento do milho híbrido torna-o atraente e fazendeiros. E, devido aos mecanismos mendelianos de reprodução, está fadada ao fracasso a estratégia de usar como semente os grãos da própria colheita (ou seja, o produto de um cruzamento híbrido x híbrido), pois a maiorias das sementes não possuirá as características de alto rendimento do híbrido original. Desse modo, os fazendeiros são obrigados a retornar todos os anos à empresa de sementes para obter um novo lote de sementes híbridas de alto rendimento.” - Watson
Este era o negócio, você poderia se beneficiar do alto rendimento das sementes híbridas, e que no final resultavam em menos risco e mais dinheiro no bolso, recorrendo ao negócio das sementes híbridas, ou perder dinheiro, competitividade, e aumentar o risco de sua produção lendo a liturgia anti-Monsanto ou anti-Syngenta...

A maior empresa de sementes de milho híbrido dos Estados Unidos, a PIoneer Hi-Bred International (hoje pertencente à DuPont), controla cerca de 40% deste mercado de sementes híbridas de milho dos Estados Unidos, com vendas anuais e torno de US$ 1 bilhão... Antes que você pense em bramir mensagens ecológicas, devo alertá-lo de que nada pode ser tão ecológico quanto este processo... Fundada em 1926 por Henry Wallace, que se tornaria vice-presidente de Franklin D. Roosevelt, a Hi-Bred chegava a contratar até mil alunos colegiais todos os verões para selecionar manualmente a ‘hibridez’ de suas sementes híbridas... As duas linhagens parentais eram cultivadas em lotes vizinhos; a função dos 40 mil estudantes era retirar à mão, de uma das linhagens, os pendões produtores de pólen (as inflorescências macho) antes que se tornassem maduros... Dessa forma, somente a outra linhagem podia servir como fonte de pólen, assegurando que todas as sementes produzidas pela linhagem "despendoada" seriam com certeza híbridas... Isso também era uma tremenda farra de férias, mas este é outro assunto...

Mesmo hoje, o "despendoamento" cria milhares de empregos durante o verão: somente em julho de 2002, a Pioneer contratou 35 mil trabalhadores temporários para fazer esse serviço... Uma autêntica empreitada ‘socialista’... Reza a História que um dos primeiros clientes da Pioneer foi Roswell Garst, um agricultor de Iowa que, impressionado com os híbridos da empresa capitaneada de forma criativa e inventiva por Wallace... Roswell comprou uma licença para vender as sementes de milho da Pioneer, e em 23 de setembro de 1959, em um dos momentos mais gélidos da Guerra Fria, o próprio líder soviético, Nikita Khruschov, visitou a fazenda de Garst para conhecer de perto o “milagre agrícola americano”... O Império Soviético herdado por Khruschov das mãos sangrentas de Stálin, apesar de toda a propaganda sobre apoiar o campo e o agricultor, havia negligenciado toda sorte de Ciência Agrícola por décadas... O resultado foi a fome, escamoteada e escondida por trás de uma forte cortina de ferro e censura... Em 1961, curiosamente, o recém-empossado presidente Kennedy aprovou a venda de sementes de milho híbridas, implementos agrícolas e fertilizantes aos rivais soviéticos, o que contribuiu para dobrar a produção de milho daquele país em apenas dois anos...  

Em meio à tempestade e ao ôba-ôba do ignóbil e irresponsável ataque aos produtos transgênicos, se faz imperioso estruturar o debate, afirmando que o nosso hábito de ingerir alimentos geneticamente modificados data de milhares de anos... Na realidade, tanto os animais que domesticamos (nossa fonte de carne) como as plantas que fornecem os nossos grãos, frutas, legumes e verduras estão geneticamente muito distantes de seus antepassados silvestres... Este é um fato... 

A agricultura não surgiu subitamente, e pronta, há 10 mil anos... Muitos ancestrais silvestres de nossas plantas, por exemplo, tinham relativamente pouco a oferecer aos primeiros agricultores: seu rendimento era baixo e o cultivo, difícil... Foi necessário modificá-los para que a agricultura tivesse êxito, e superássemos a fome... Os antigos fazendeiros compreenderam que tais modificações - “genéticas”, e vale nota – deveriam ser incentivadas, para que as características desejáveis fossem mantidas de geração em geração... Assim teve início o grandioso programa modificação genética de nossos antepassados agrários... E, na falta de pistolas botânicas e instrumentos similares, essa atividade dependia de alguma forma de seleção artificial... As vacas mais leiteiras, por exemplo, para todos os efeitos esses fazendeiros estavam fazendo o que a natureza realiza no curso da seleção natural: selecionar e escolher dentre espécimes, e suas variantes genéticas disponíveis, aquelas capazes de assegurar que a geração seguinte será aperfeiçoada com as variantes mais bem adaptadas ao consumo... Sendo esta também uma função de sobrevivência do mais apito, desempenhada pelos próprios fazendeiros – ou não fazemos parte da natureza?

A biotecnologia nos fornece uma maneira de gerar as variantes desejadas para que não tenhamos de esperar até que elas surjam naturalmente... Assim modificamos de um jeito ou de outro as espécies animais e vegetais, com o intuito de modificar geneticamente os nossos alimentos, e sobreviver em um mundo com 7 bilhões de pessoas e um consumo desenfreado – que não poderá ser contido pelo arbítrio, e não importa o uniforme ou o ‘lado’ do discurso... Somo humanos, troppo umanos, e avançaremos eufóricos e inventivos – não funcionaremos, jamais, como formigas...

É bem complicado lidar com ervas daninhas, e muito difícil erradica-las... Mas as ervas daninhas também são espécies vegetais, que competem com as espécies vegetais que nos interessam... Como poderíamos eliminar as ervas daninhas sem eliminar os frutos desejáveis providos pela agricultura? Como colocar uma "marca protetora" para dirigir o ataque? As ervas daninhas seriam aniquiladas enquanto os vegetais que possuíssem tal marca — os produtos agrícolas — seriam poupados... Mas como? Graças à engenharia genética isso é possível, e os agricultores e jardineiros já dispõem de tal sistema, conhecido como tecnologia Roundup Ready ["pronto para receber o Roundup"] - da Monsanto... O Roundup é um herbicida de amplo espectro capaz de matar praticamente qualquer planta, a não ser que ela esteja ‘batizada’ mediante alterações genéticas...

Evidentemente, é do interesse comercial da empresa que os fazendeiros que adquirem a semente adaptada da Monsanto também comprem o seu herbicida... E daí? Este é o negócio, é pegar ou largar, e ninguém está obrigado a comprar da Monsanto... Tal medida é, pasmem, ecológica, provocando uma redução significativa no uso de herbicidas... Em condições normais, diferentes herbicidas seriam utilizados, e em maior quantidade, para lograr o mesmo feito... Infelizmente, o desenvolvimento da agricultura foi uma dádiva para os nossos antepassados, assim como para os insetos herbívoros...

A gravidade dos riscos envolvidos no uso de pesticidas só se tornou evidente depois que Rachel Carson documentou seus malefícios pela primeira vez... O impacto sobre o meio ambiente de pesticidas persistentes à base de cloro, como o DDT – já banido na Europa e na América do Norte desde 1972 -, foi devastador... Para não falar no risco residual destes pesticidas nos alimentos...  Uma alternativa ao DDT surgiu sob a forma de pesticidas organofosforados, como o parathion, porque se decompõem rapidamente depois aplicados e não permanecem no meio ambiente... Mas, por outro lado, estes produtos são ainda mais tóxicos do que o DDT: o gás Sarin, usado no ataque terrorista ao metrô de Tóquio, em 1995, faz parte deste grupo de pesticidas - doze pessoas morreram, com 50 feridos graves, e mais de 6.000 pessoas com consequências menos severas...

Tudo tem um preço... É óbvio que convivemos com decisões equivocadas, mas mesmo a compreensão da natureza em suas sutilezas ‘atômicas’ nos levou a muitos mais benefícios do que malefícios, na produção de energia e com inegável e irreversível destaque na Ciência Médica... Foi necessário aprender com acidentes e com os efeitos colaterais, para que evoluíssemos na regulamentação da utilização da Engenharia Nuclear... A própria indústria de pesticidas, que também trouxe – até aqui – mais benesses do que problemas, também encontrou o seu beco sem saída, quando em contraste com outras normas de qualidade de vida e de saúde pública; sendo pois moderados, regulamentas e até mesmo banidos...

Mas não foram os panfletos radicais e alienados que contribuíram para a regulamentação nas diversas áreas... A atitude de Carson é emblemática e histórica pela seriedade e serenidade... Mas vivemos outro momento histórico, sujeitos ao exagero normativo, e não o contrário... Quem conhece um pouco do trabalho de órgãos como o ‘FDA’, ou mesmo a ‘ANVISA’, sabe que vivemos outra era... E precisamos responder de acordo com o nosso tempo e juízo, sem imprecações vitimológicas e pueris, deflagradas por ‘protestantes’ profissionais ou crônicos - sendo este também, um sabido e conhecido jargão do comportamento humano...

Adapto as sábias palavras de Albert Camus, quando se referia ao Socialismo, para denunciar o ôba-ôba anti-transgênico: contam-se nos dedos das mãos aqueles que aderiram à esta causa tendo estudo alguma coisa... Empunham as bandeiras para só então lerem as escrituras – quando leem... Esta é a minha contribuição franca ao debate... E que venham as pedras - ‘seria bem bíblico’...


Carlos Sherman

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