Excerto de minha obra - ainda não publicada - "ECCE HOMO - A Falácia do ‘Homo Malignus’ e a Utopia do ‘Homo Amabilis’"
Justiça? Mas só depois do almoço... A Sereotonina e os nossos julgamentos morais...
Dedicado ao Juiz Ricardo Luís Valentini
A justiça é o que o juiz comeu no café da manhã.Jerome Frank (1889 –1957)
Experimento em mim mesmo um certo poder de julgar, o qual sem dúvida recebi de Deus, da mesma forma que todo o resto das coisas que possuo.René Descartes (1596 – 1650)[‘Meditações Metafísicas’, 1641]
Jerome New Frank (1889 –1957) foi um juiz estadounidense, além de consagrado Filósofo da Justiça, e líder de um movimento que ficou conhecido como ‘Realismo Legal’ - uma escola de pensamento que sustenta que as leis, por serem derivadas da experiência humana, estão sujeitas às mesmas fraquezas, vícios e imperfeições que afetam a totalidade dos afazeres humanos... Frank cunhou a famosa expressão:
"[...] a justiça é o que o juiz comeu no café da manhã."
Pode ser confortável e até mesmo intuitivo pensar que as decisões de um juiz estão baseadas unicamente em suas racionalidade e na observância rigorosa das leis escritas... Mas a ‘REALIDADE’ é bem diversa de tal percepção, e os ‘juízos’ estão de fato sujeitos à acontecimentos irrelevantes e até mesmo banais, como questões acontecimentos corriqueiras relacionadas com a vida do magistrado, e como bem sugeriu Frank, dependentes – por exemplo - das refeições ou do que o juiz comeu no café da manhã, se teve sexo ou não com sua esposa – ou secretária -, ou dependente das notas de seus filhos na escola...
Em um estudo revolucionário (Danziger, Levav & Avnaim-Pesso; 2011), Shai Danziger, da Ben Gurion University of the Negev, em Israel, materializou e corroborou o aforismo de Frank ao analisar as sentenças em de 1.112 audiências de liberdade condicional em prisões israelenses, durante um período de 10 meses... Os resultados são alarmantes... As chances de um preso obter liberdade condicional começam bem elevadas, e logo após o início do expediente – e após o café da manhã -, em torno de 75%, e rapidamente despencam para ‘nada’, para zero, em 04 horas... Então vem a pausa para o almoço, e as chances saltam subitamente para 65%, e retomam a sua tendência de queda, indicando assustadoramente que o destino de um prisioneiro pode depender do horário do dia em que o seu caso seja julgado...
O estudo analisou as sentenças de oito juízes judaico-israelense, com uma média de 22 anos de experiência e magistrado, e os seus vereditos representaram 40% de todos os pedidos de liberdade condicional no país durante os dez meses de duração do estudo... A cada dia, cada juiz, julgou de 14 e 35 casos, gastando cerca de seis minutos por decisão... Duas pausas para alimentação quebraram os dias de cada magistrado em três sessões... Tudo foi cuidadosamente registrado e analisado...
Como seria de se esperar, a liberdade condicional e a reincidência, assim como o fato do preso pertencer à algum programa de reabilitação específico, também afetaram os resultados, ‘mas sempre após as refeições’... A influência do horário do dia em relação à pausa para alimentação foi o fator decisivo... Danziger notou que os três prisioneiros a serem analizados em cada ‘vara’, e logo após a refeição, eram mais susceptíveis de receber a condicional, do que os três que últimos; independentemente da duração da sua pena, ou de sua eventual reincidência... Nenhum padrão foi observado em relação à discriminação por sexo, etnia ou o tipo e a gravidade do crime...
Os juízes não haviam notado a elevada correlação entre ‘estômago cheio’ e saciedade com suas sentenças... Também, os criminologistas e assistentes sociais participantes dos conselhos para a liberdade condicional não haviam percebido, em todo este tempo, nenhuma correlação... Jonathan Levav, que co-liderou o estudo, disse:
"Não existe nenhum tipo de verificação sobre as decisões dos juízes, porque ninguém jamais havia documentado tal tendência. E desnecessário dizer que eu espero que alguma coisa seja corrigida depois disso."
Danziger sugere que o comportamento dos juízes pode ser facilmente explicado, e aponta para a tarefa repetitiva de tomada de decisões, e que drenam os nossos recursos mentais... Sendo assim, começamos a sofrer de uma certa ‘sobrecarga de escolha’, e passamos a optar pelo caminho mais fácil... Por exemplo, clientes que já fizeram várias decisões ao longo de um período exaustivo serão mais propensos a seguir pelo caminho mais fácil, ou dito ‘padrão’, independentemente de estarem comprando uma cueca ou um carro... E em se tratando de audiências de liberdade condicional, a opção padrão é negar o pedido do prisioneiro... Quanto mais as decisões um juiz foi obrigado a tomar, mais ‘drenadas’ e exaustas estarão suas mentes, e o mais provável é que ele opte pela escolha padrão... Então vem a pausa, a alimentação, e a mente estará novamente desembaraçada...
Danziger considerou que os juízes possam ter uma ‘quota inconsciente’ de decisões favoráveis... Depois de terem distribuido alguns veredictos positivos, eles são obrigados a repartir algumas negativas para o equilíbrio... Mas esse não foi o caso, estando a probabilidade de conceder uma sentença favorável relacionada diretamente ao período do dia, e sempre após refeições...
Não é possível pressupor que alguém tenha ordenado os casos obedecendo algum critério específico, até porque existem vários funcionários encarregados deste expediente, e os juízes não sabem nada sobre o próximo caso, até que estejam diante deles... As pausas para refeições sofrem mudanças, e o padrão as acompanha, sendo que não existem caminhos para que os funcionários da prisão ou do ‘fórum’ possam - intencionalmente - agendar as audiências, afim de facilitar um caso ou outro... Danziger observou ainda que os juízes não eram mais propensos a decidir por uma sentença após casos particularmente mais difíceis ou crimes graves...
A conclusão que nos resta admitir, traz à cena mais uma vez os ‘realistas legais’, que vem denunciando há anos que ‘os juízes, mesmo os mais experientes, são vulneráveis aos mesmos fatores psicológicos, podendo assumir diferentes decisões, para casos semelhantes, sob a influência de algo tão trivial quanto uma refeição... Sua formação, a sua experiência e a natureza peso de suas decisões não os isola dos mesmos problemas que afligem nossas habilidades mentais e cognitivas básicas... E, na verdade, este não foi o primeiro estudo a apontar tal situação...
Isso não significa que os juízes tomem decisões de forma arbitrária, afinal, os números mostram que a reabilitação ea probabilidade de reincidência também afetou os resultados... Nita Farahany, professora de Direito na Universidade de Vanderbilt, disse que:
"Para mim, este estudo ressalta que a tomada de decisões é complexa e não ocorre em um vácuo teórico ou formal."
Ela disse ainda que estudos semelhantes descobriram também que médicos residentes, assim como pilotos da Força Aérea, cometem mais erros quando operam durante longos períodos sem descanso... Danziger concorda, e acredita que resultados similares poderão ser encontrados ao analisarmos decisões financeiras, negociações, entrevistas, decisões para admissão na universidade, decisões médicas, etc... Farahany ressalta que:
"Tais estudos têm ajudado a informar e corrigir as políticas destinadas a minimizar os erros humanos e que advém da falta de sono, da exaustão mental, e física" [...] Estes homens que estão sujeitos à decisões legais também podem ser afetados pela exaustão física ou mental, e de forma surpreendente. Melhorias na medicina, na área militar, e em outros contextos dependentes da tomada de decisão críticas, têm exigido que dediquemos mais atenção aos efeitos da exaustão. Da mesma forma, melhorias no sistema judicial podem também exigir que a sociedade reconheça os efeitos das contribuições biológicas para a tomada de decisões."
Isto suscita uma questão de ordem pratica: ‘Qual é o melhor momento para pedir alguma coisa - um aumento, um acordo, um favor?’ Qual é a melhor hora do dia para chamar alguém para ‘lavar a roupa suja’? A considerar pelo estudo israelense, devemos preferir a primeira hora do dia, ou logo após o almoço... Por que as pessoas se sentem mais inclinados a dizer ‘sim’ com o estômago cheio? E que lições podemos tirar de tudo isso? Quão arbitrárias, e não-racionais, podem ser as nossas decisões? Às vezes, a nossa vida ou as nossas decisões estão sob a estranha influência de ‘ovos e bacon’, ou uma xícara de café...
Outro estudo revelador, aponta para a ‘serotonina’, como importante hormônio na regulação de nossos julgamentos morais... A Dra. Molly Crockett, do Departamento de Psicologia da Universidade de Cambridge, Reino Unido, executou alguns experimentos fascinantes, demonstrando que o aumento da serotonina torna os indivíduos menos propensos a apoiar cenários morais que resultem em danos pessoais a terceiros... Foram examinados os efeitos de uma única dose alta de ‘inibidores seletivos da reabsorção de serotonina’ (ISRS), o Citalopram, sobre o julgamento moral em voluntários saudáveis... O Citalopram, similar ao Prozac, foi inventado em 1989, mostrando-se muito eficaz no tratamento da depressão...
Crockett utilizou um conjunto de cenários hipotéticos, que retratavam dilemas morais, pessoais e impessoais, com elevado apelo emocional, propondo questões ‘utilitaristas’, e objetivando resposta simples como ‘certo’ ou ‘errado’... Por exemplo, ‘empurrar uma pessoa na frente de um trem para, com a queda, impedir o trem de bater em outras cinco pessoas é certo ou errado?’... E agora temos ‘um desvio, onde o trem só poderá seguir em uma direção onde existem cinco pessoas ou em outra onde existe apenas uma pessoa’... ‘Apertar um botão para desviar um trem na direção de uma única pessoal ao invés de matar cinco pessoas, é certo ou errado?’... Basicamente, os cenários criados ofereciam alternativas baseadas na visão ‘utilitarista’ do filósofo inglês David Hume (1711 - 1776), para quem ‘a alternativa moral mais apropriada é aquela que produz maior benefício para o maior número de pessoas’, em contraposição à ideias filosóficas ‘deontológicas’ de Immanuel Kant (1724 - 1804), para quem ‘existem ações erradas e ações corretas, a priori, e pré-estabalecidas por ‘deus’, sendo o resultado é irrelevante’...
Reações emocionais, aversivas aos danos sociais, reais ou imaginários, infundem o julgamento moral e motivam o comportamento pró-social... Crockett mostrou em seu estudo que, o neurotransmissor serotonina altera diretamente tanto o julgamento moral quanto o comportamento através do incremento da aversão aos eventos de caráter pessoal, e que possam prejudicar terceiros... A serotonina foi incrementada em voluntários saudáveis, a partir do Citalopram, contrastando os seus efeitos tanto com um tratamento de controle farmacológico como com um placebo, em testes de julgamento moral e comportamental...
Nas palavras de Crockett:
"Nós medimos os efeitos do medicamento sobre o julgamento moral, contrastando comportamentos ‘utilitaristas’ (por exemplo, salvar cinco vidas) com a arvesão ao comportamento prejudicial (por exemplo, matando uma pessoa inocente). Estimular a Serotonina produz respostas mais proibitivas ao julgar ações prejudiciais, mas apenas nos casos em que os danos eram evidenciados emocionalmente."
Crockett diria ainda que:
"Pensem nas implicações, o debate filosófico entre utilitaristas e deontologista dura séculos, e demos uma pílula às pessoas, e ele mudarm significativamente a suas posição moral [e filosófica]. A diferença entre Hume e Kant pode ser reduzida à algumas substâncias em nossos cérebros? E levando a coisa mais à sério, pergunto ‘quais as implicações para outras questões éticas’?"
O efeito pró-social do Citalopram, variou também em função do traço de empatia... Indivíduos naturalmente mais ‘ricos’ em empatia, mostraram efeitos mais fortes sobre o julgamento moral, enquanto indivíduos com baixa empatia demonstraram certa imunidade ao Citalopram... Isso decorre, provavelmente, da tendência genética a possuir mais ou menos neuro-receptores para a serotonina... Juntos, esses resultados fornecem uma evidência única, de que a serotonina pode estimular o comportamento pró-social, aumentando a aversão ao mal, e alterando o julgamento e o comportamento moral...
Crockett e seu grupo, foi adiante, manipulando a dieta dos participantes de outros estudo, a partir de um aminoácido chamado triptofano, o ingrediente primário da serotonina, que foi reposto regularmente através de uma dieta rica em proteínas, contra o equivalente ‘placebo’, isento de triptofano... Mais uma vez, foi comprovado uma correlação elevada entre o triptofano – serotonina – e os julgamentos morais, quando os participantes, sob efeito da dieta, recusaram, em um jogo onde ofertas justas e injustas eram deflagradas, as ofertas injustas com muito mais frequência do que quando sob o efeito do equivalente ‘placebo’... 2,5g de triptofano afetaram o juízo moral dos participantes...
O jogo em questão, simulava o mundo dos negócios, e somos tentados a nos perguntar sobre quanto dinheiro flui, mais ou menos para a mão das pessoas, e de forma mais ou menos justa ou injusta, todos os dias, ao redor do planeta... E quanto deste comportamento tem a sua causa implicada diretamente na dieta das pessoas, ou em sua neurobiologia, no sentido de conter mais ou menos receptores para a serotonina??? Quanto o nosso senso de moralidade de fato é ‘moral’, aprendido, e quanto de fato é ‘biológico’???
No caso das ‘liberdades condicionais’, podemos notar que não existem ‘dois lados’, dua partes, o que sugere ao juiz que ele é o arbitro do destino de uma pessoa... A serotonina, desencadeada pelas refeições, poderia estar relacionada à benevolência, i.e., uma maior dificuldade em impingir um julgamento mais duro... Quando exitem duas partes, a percepção do juiz em relação à ‘quem está sendo prejudicado’, será decisiva no arbítrio... E aí entram outras questões cognitivas e subliminares, que serão abordadas respectivamente nos capítulos ‘O Afeto... Sobre Homens e Ratos – ou Sobre Cães e Lobos’ e ‘O Tecido Subliminar’, entre outros – ‘Racionalidade, Sensibilidade, Sentimentalismo e Verborragia’, ‘Porque Pensar é Diferente de Atuar’, ‘Violência se Escreve com 30 Letras’...
Os neurocientistas Andreas Meyer-Lindenberg e Heike Tost, observam:
"Em um contexto mais amplo, o trabalho de Crockett suporta uma série de conclusões interessantes. Aprofundando evidências anteriores e sugerindo que há pelo menos duas rotas farmacológicos principais que modulam o comportamento social humano: a rota direta - "bottom-up" -, envolvendo neuropeptídeos pró-sociais, como a oxitocina e vasopressina, que promovem comportamentos pró-sociais tais como o afeto, a empatia e a generosidade; e uma rota indireta - "top-down" -, envolvendo a serotonina, que delimita os comportamentos anti-sociais, reduzindo a influência negativa e aumentando a aversão de prejudicar os outros. Se isso for verdade, as interações funcionais entre esses sistemas transmissores são prováveis. Coerente com isso, Crockett relata um impacto pronunciado, no incremento da serotonina, sobre indivíduos com elevado traço de empatia, o que revela um achado sugestivo sobre os efeitos pró-sociais em ambas as rotas de decisão social."
Os circuitos reguladores do processamento de informação e do comportamento sócio-emocional nos seres humanos, esta subdividido em duas ‘vias’... A via ou rota ‘top-down’ de controle da amígdala (AMY), começa no córtex cingulado anterior (ACG) e no córtex pré-frontal ventral medial (vmPFC), com o último sendo particularmente importante para a regulação dos comportamentos morais... A via ‘bottom-up’ de modulação comportamental, começa nos neurônios no hipotálamo (HYP) liberando os neuropeptídeos oxitocina e vasopressina, que têm como alvo terminações neuronais distintas na amígdala central... Projecções da amígdala no tronco encefálico, através do hipotálamo, regulam as reações autônomas aos sinais...
Três décadas de estudos têm mostrado que a serotonina age diretamente sobre os nossos julgamentos morais e sobre o nosso comportamento social... A serotonina está ricamente relacionada com a biologia do comportamento social, desde um enxame de gafanhotos, até as complexas normas sociais do Homo sapiens... A serotonina age sobre estruturas cerebrais previamente implicadas no julgamento e comportamento moral, incluindo o córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC), a insula e amígdala (Moll-Schulkin; ‘Social attachment and aversion in human moral cognition’; 2009) (Greene-Sommerville-Nystrom-Darley-Cohen; ‘An fMRI investigation of emotional engagement in moral judgment’; 2001) (Koenigs; ‘Damage to the prefrontal cortex increases utilitarian moral judgements’; 2007)... Muitas pesquisas estão associadas para mostrar que os comportamentos pró-sociais e a ‘filiação’ – política, religiosa, conjugal – estão associadas com a função da serotonina intacta ou aumentada, enquanto que os comportamentos anti-sociais e agressivos estão associados com a função da serotonina diminuída ou reduzida (Crockett; ‘The neurochemistry of fairness: Clarifying the link between serotonin and prosocial behavior’; 2009) (Miczek, ‘Neurobiology of escalated aggression and violence’; 2007)...
Uma explicação comum para a relação entre a serotonina e o comportamento pró-social é que a serotonina promove o controle de esforço de impulsos violentos ou regulação de reações emocionais à provocação (Krakowski, ‘Violence and serotonin: Influence of impulse control, affect regulation, and social functioning’; 2003)... O suporte para esta conclusão, relacionando a serotonina com a regulação da emoção e do comportamento moral, baseia-se principalmente em observações de que fortes emoções muitas vezes acarretam comportamento violento, e que tal fenômeno está relacionado a populações com a função da serotonina diminuída (Krakowski; 2003), e que as regiões cerebrais implicadas na representação e regulação das emoções, tais como o córtex orbitofrontal (Ochsner-Gross; ‘The cognitive control of emotion’; 2005) (Bechara-Damasio-Damasio; ‘Emotion, decision making and the orbitofrontal cortex’; 2000), recebe uma elevada densidade de entrada serotonérgica (Hornung; ‘Handbook of the Behavioral Neurobiology of Serotonin’; 2010)...
No entanto, o comportamento anti-social pode também resultar de deficiências na resposta aversivas para o sofrimento dos outros (Blair; ‘The amygdala and ventromedial prefrontal cortex in morality and psychopathy’; 2007)... Tais respostas envolvem a amígdala e o vmPFC, que também recebem entradas serotoninérgicos.... Trabalhos recentes destacam o envolvimento da serotonina amplificando a aversão em prejudicar pessoalmente os outros e, ao fazê-lo, promove o comportamento pró-social, enquanto desencoraja o comportamento anti-social... Se esta hipótese estiver correta, os impactos filosóficos, políticos e sociais serão enormes...
O sexo estimula a produção da serotonina, estando relacionado além do juízo moral com o nosso humor – e vice-versa, além de outros hormônios relacionados ao prazer como as dopaminas, endorfinas - os chamados hormônios da felicidade -, associados aos estados de euforia nos seres humanos... Nada como um orgasmo!!! Isso faz do sexo um tremendo anti-depressivo e tranquilizante...
O que mais pode aumentar os nossos níveis de serotonina???
1. Uma dieta rica em pães, bananas, chocolate, figo, açúcar, leite, peixe gordo e brócolis, contêm aminoácidos triptofanos, que elevam os níveis de serotonina;
2. Música agradável... O Psicólogo inglês Tomas Chamorro-Premuzic estudou a forma como a música influencia os níveis de serotonina no sangue dos ouvintes.... Tomas concluiu que ‘O Wake Up Boo!’, dos ‘Boo Radleys’, foi considerada a melhor canção para a elevação da serotonina, rsrsrsrs;
3. Olhar para si mesmo com orgulho e dignidade... Em 1994, cientistas provaram que um status social elevado e o sentimento de orgulho elevam consideravelmente os níveis de serotonina.... Os empresários costumam ter níveis de serotonina mas elevados do que os seus funcionários... A maneira mais simples para despertar o sentimento de orgulho e elevar os níveis de serotonina é o que os ingleses chamam de ‘draw yourself up’, ou seja, ver a si mesmo ‘maior’, como quando nos encostamos na parede em busca de maior estatura... O orgulho sempre associados com uma boa postura social... É por isso que nos sentimos mais auto-confiantes quando mantemos o copor ereto e olhamos ao longe;
4. Tome uma pílula, rsrsrs... Se nada do que foi listado acima ajuda, você pode aumentar seus níveis de serotonina através da medicina... O Hidroxitriptofano ou Prozak, pode ser o caminho, mas sempre sob prescrição médica;
5. O álcool também pode aumentar os níveis de serotonina, embora por um curto período de tempo... Talvez o efeito colateral, sobretudo quando ingerido em excesso, pode fazer com que o tiro saia pela culatra;
Alinhando os estudo do grupo de Danzinger e do grupo de Crockett, além de três décadas de trabalhos sobre os inescapáveis efeitos da serotonina sobre as nossas vidas, pergunto: o que faremos com este conhecimento??? Como usaremos este conhecimento para melhorar a vida??? É muito mais simples condenar alimentos ricos em colesterol, ou indicar pílulas anti-oxidantes do que aceitar que a nossa MORAL tem fundamentação bioquímica... E se a nossa moral tem realmente fundamentação bioquímica, o que dizer da adesão religiosa, política, afetiva, conjugal??? O que dizer da vida... do homem???
No mundo REAL que a Ciência descortina dia-a-dia, século após século, os níveis de serotonina podem variar em função do stress, e da alimentação, além de nossa própria natureza... O que significa dizer que os nossos conceitos morais flutuam ao sabor de tais inflexões... E isso está acontecendo aqui e agora, o mundo, quer gostemos ou não... E podemos utilizar este conhecimento, para ajustar as nossas políticas sociais e de saúde... E mudar o mundo pra melhor...
Juízes decidem o destino de vidas em função de suas barrigas estarem cheias ou não, de sua sobrecarga ou não, de uma pausa ou não... e nós decidimos sobre punição, bônus, e sobre endurecer, afrouxar, intransigir, ou aceitar, dificultar ou facilitar, todos os dias de nossas vidas, também em função de nossas dietas e caraterísticas neurofisiológicas, e em função dos nossos estômagos estarem vazios ou cheios... Basta que olhemos os nossos bebês, e como reagem com fome... Podemos, entre tantos fatores haver arrefecido a violência em nosso planeta quando passamos a sentir menos fome... Pensem sobre as implicações destas linhas... E insisto, somos quem somos sem intencionar sê-lo, mas somos, e respondermos por nossos atos... Responsáveis sim, dentro de nossos acordos sociais; culpados não – talvez não...
O recente estudo ‘Anger, Hatred, and the Quest for Peace: Anger Can Be Constructive in the Absence of Hatred’ – ‘A Raiva, o Ódio, e a Busca da Paz: A Raiva Pode Ser Construtiva na Ausência do Ódio -, de Eran Halperin, Alexandra G. Russell, Carol S. Dweck e James J. Gross, colocou as seguintes questões:
Emoções negativas desempenham um papel importante em conflitos intergrupos, particularmente em conflitos que são considerados irreconciliáveis pelas partes envolvidas. Em particular, a raiva é central nesses conflitos, principalmente porque estes conflitos estão saturados com ações beligerantes, declarações provocativas e insultos mútuos. No entanto, não havia ficado claro qual o papel que a raiva desempenhava em tais conflitos. Estudos empíricos anteriores mostraram que a raiva pode ser um catalisador de agressão (Huddy, Feldman, e Cassese; 2007) (Lerner; 2003) (Skitka; 2006) e uma barreira psicológica para a paz (Paez; 2007) (Tam, 2007). No entanto, outros estudos mostram que a raiva pode desempenhar um papel construtivo nas relações entre grupos, por exemplo, através do aumento da heterogeneidade percebida (Ackerman; 2006), bem como em conflitos entre grupos, através do aumento do apoio à reconciliação a longo prazo (Fischer e Roseman; 2007), e suporte para a análise risco em negociações (Reifen; 2009).
Estas premissas levaram os investigadores a considerar sob que circunstâncias a raiva poderia ser benéfica para o processo de paz... Como ponto de partida, (1) a raiva deveria aumentar a motivação para corrigir a irregularidade... Contudo, para aqueles que acreditam na possibilidade de mudança do outro grupo, a raiva poderia motivar o apoio a ações conciliatórias; enquanto que para aqueles que não acreditam, poderia motivar apoio às ações militaristas e decididamente não-conciliatórias... Dado que, estudos anteriores apontavam para uma estreita associação entre o ódio de longo prazo e a raiva, foi analisado pelos investigadores (2) o que aconteceria se o ‘ódio a longo prazo’ fosse dirigido para fora do grupo, no sentido de moderar o efeito da raiva sobre as tendências negativas sobre as respostas políticas... Os resultados dos dois estudos suportaram a hipótese de que ‘a raiva pode ser construtiva na ausência do ódio’...
O conflito entre palestino e israelenses já matou milhares de pessoas... O estudo citado mostrou que a crença de um grupo em relação à outro, de que suas perspectivas podem ser alteradas, ao invés de fixas e rígidas, pode mudar o rumo das atitudes políticas e morais, instigando o comprometimento com a paz... No experimento, israelenses e palestinos foram orientados a ler um entre dois artigos, sendo que o primeiro retratava um grupo oponente agressivo como de natureza fixa, e o outro retratava o mesmo grupo como sendo capaz de mudar de ideia... Aqueles que leram o artigo mostrando o oponente como disposto a mudar de ideia, ficaram inclinados a debater a paz com o seu oponente... Os que leram o outro artigo, foram instigados a permanecer em guerra...
Será que ao menos um lanchinho ‘rico em triptofano’ por dia, arrefeceria os ânimos destes irmãos que tanto se odeiam e há tanto tempo??? Rsrsrsrs... Ferrenhas discussões filosóficas não passam de modulações bioquímicas... E retornando a Kant, recomendo que se sentem se ainda estiverem de pé, para não caírem... O doutor francês Jean-Christophe Marchand estudou pormenorizadamente a biografia clínica do filósofo Immanuel Kant, inferindo que o mesmo padeceu de um tumor no Lobo Pré-Frontal... A partir do 47 anos Kant começou a se queixar de fortes e repetidas dores de cabeça, e gradualmente foi perdendo a visão do olho esquerdo, além de prejuízos notórios à sua fala... O tipo de tumor que pode ter acometido Kant desenvolve-se lentamente, e afeta de sobremaneira o nosso Sistemas Emocional - o comandante em chefe de nossas ações...
Curiosamente, Kant se torna ininteligível e apodítico aos 47 anos... Até este ponto suas obras traziam uma escrita clara e bastante explícita... A fase iniciada com a 'Crítica à Razão Pura', traz um Kant extremamente confuso e complexo, fazendo com que "a escrita de Jean Piaget possa ser considerada lúcida (Gazzaniga; 1998) - o que parece uma tarefa quase impossível... Isso é tantalizando, e isso porque os danos causados a está área perturbaram as ações de Kant, e tal fase de plena confusão foi escolhida pelos idólatras da mensagem kantiana, e talvez por não entenderem patavinas... Seus seguidores adoraram as ideias conturbadas por um tumor, e possivelmente tal adoração estabeleça identidade com aqueles que também possuem importantes distúrbios cognitivo-emocionais...
Curiosamente, Kant se torna ininteligível e apodítico aos 47 anos... Até este ponto suas obras traziam uma escrita clara e bastante explícita... A fase iniciada com a 'Crítica à Razão Pura', traz um Kant extremamente confuso e complexo, fazendo com que "a escrita de Jean Piaget possa ser considerada lúcida (Gazzaniga; 1998) - o que parece uma tarefa quase impossível... Isso é tantalizando, e isso porque os danos causados a está área perturbaram as ações de Kant, e tal fase de plena confusão foi escolhida pelos idólatras da mensagem kantiana, e talvez por não entenderem patavinas... Seus seguidores adoraram as ideias conturbadas por um tumor, e possivelmente tal adoração estabeleça identidade com aqueles que também possuem importantes distúrbios cognitivo-emocionais...
O simples fato de entendermos que os nossos ditos ‘valores morais absolutos’ não são implacavelmente rígidos, permite que busquemos mais entendimento e caminhos solidários, entre diferenças aparentemente irreconciliáveis, como seguir os ensinamentos de Hume ou Kant, ou entre judeus e muçulmanos... Além de buscarmos o que é certo e errado, precisamos do ceticismo para criticar a nossa capacidade e lucidez, enquanto tateamos entre o que poderia estar certo ou errado... Inventamos a Ciência para testar a nossa lucidez, e cultivar a ‘árvore de Adão’, aquela do fruto proibido, que nos permite discernir entre o bem e o mal... O personagem de ‘Adão’, na mitologia judaico-cristã-islâmica, teria sido um dos primeiro céticos descritos na literatura... Que coragem!!! Desafiando o próprio deus, em nome da verdade... Meus respeitos...
Não existe discussão filosófica possível - ou necessária -, em nossos dias, sem um bom e correto entendimento sobre o comportamento humano...
Não existe discussão filosófica possível - ou necessária -, em nossos dias, sem um bom e correto entendimento sobre o comportamento humano...
Carlos Sherman
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