E tem gente que ainda fala em Erich von Daniken... Diretamente do capítulo 'Paranoia' de meu novo livro 'FIAT LUX - O HOMEM MEMÓRIA DO UNIVERSO'...
No folclore extraterrestre com implicações ‘religiosas’, o suíço e gerente de hotel conhecido como Erich von Daniken pode ser considerado uma espécie de precursor... Suas obras, a começar por ‘Eram os deuses astronautas?’ [‘Chariots of the gods?’], foram grandes best-sellers no final dos anos 1960 e início dos 1970, vendendo dezenas de milhões de exemplares em todo o mundo todo... Mas, assistir já no Terceiro Milênio à uma legião de desinformados ‘desesperados por crer em deuses que descem de naves’ consumindo as mesmas ‘drogas’ dos ‘60’, é igualmente desesperador...
A hipótese fundamental desta verdadeira enciclopédia de baboseiras comercializada por Von Daniken nos remete à arqueologia mitologógica e ao folclore religioso, alegando que os mitos e deidades registrados por civilizações ‘bem terráqueas’ – e conectadas inescapavelmente pela Genética com todos os seres deste plantes - na verdade estariam “documentando contatos estabelecidos com extraterrestres”... Não bastesse a sandice dos deuses, agora precisaremos reeditá-los como astronautas...
Isso pressupões, de entrada, uma estratosférica ignorância em termos de Biologia, Genética, Antropologia, e História – principalmente a História Egípcia... Mas sigamos o raciocínio do espertalhão hoteleiro, e farei o possível para conter o meu sarcasmo, o que considero deveras complicado quando estou lidando com picaretas de carteirinha... Para dar um exemplo, e que na verdade acerta em cheio e pulveriza a pobre - porém populista e sedutora - teoria de Daniken, tratemos das PIRÂMIDES DO EGITO...
Para Daniken, as pirâmides só poderiam ter sido construídas por ETs... Simples assim... E por quê??? Como na propagando da cerveja brasileira Schin: “Por quê Schin? Porque sim!”... “Porque sim ora bolas”, Daniken sacou da cartola mágica que:
“[...] as pirâmides do Egito foram construídas com blocos individuais, paralelepípedos retangulares, cada um deles com mais ou menos vinte toneladas.” – Erich von Daniken (hoteleiro suíço e autor)
“Vinte toneladas” [sic], afirmou o falastrão – o que não é minimamente verdade... E seguiu em frente, ‘já que vinte toneladas é muita coisa para uma pessoa carregar nas costas’, e mesmo com ‘toda a torcida do Corinthians unida para erguer a Taça Libertadores’, não seria possível carregar um bloco de vinte toneladas sem alguma “tecnologia avançada”...
“Logo”, especulou Daniken, “considerando o período de construção, esta tarefa só poderia ter sido executada por extraterrestres; portanto, extraterrestres existem”... Simples assim!!! É muito fácil perceber que esse argumento negligencia fatos e provas sobre a construção das pirâmides, e não apresenta provas dos ‘ETs construtores – nem uma roldana ou maquina cortadora de blocos, barcos, etc...’, enquanto assume uma enorme liberdade dedutiva, EXTRATERRESTRE, e ‘extra-conhecido’, onde a explicação é muito mais ‘milagrosa’ do que o ‘milagre’... Invoquemos ao impagável filósofo inglês David Hume (1711-1776) em resposta aos ‘crentes’ em Daniken:
“[...] que nenhum testemunho é suficiente para estabelecer algo como milagre, a não ser que seja de tal espécie que sua falsidade se mostre mais milagrosa do que o fato que ele se esforça por estabelecer.” – David Hume
O que seria mais ‘milagroso’ ou ‘improvável’(?): (1) Que existam técnicas e explicações naturais para a construção de monumentos piramidais em alvenaria no deserto do Egito??? (2) ou que seres extraterrestres até hoje desconhecidos tenham viajado desde de outro sistema planetário sem deixar nenhum vestígio concreto, executando uma obra primitiva, inferior às obras do falecido Niemeyer em funcionalidade, e que não podem ser comparadas em complexidade, sequer, ao Maracanã???
Mesmo que não soubéssemos nada sobre a arqueologia egípcia, o que não é – em absoluto – o caso, ainda assim conseguiríamos imaginar imúmeras maneiras para um número muito grande de pessoas, trabalhando por anos e anos, construírem edifícios de grande porte... A própria ‘Bíblia’, outro livro de fábulas, faz referência a projetos ambiciosos de construção como a enorme Torre de Babel...
Mas quando analisamos as vastas evidências documentais detalhando o local de corte das pedras, a descrição da técnica utilizada – e que podemos repetir com sucesso -, o esquema de transporte, o esquema de ascenso e posicionamento das pedras – com o peso inferior à 2,5 toneladas -, nos damos conta de que Daniken tinha algo mais em mente, afional preferiu correr para os ETs antes de sequer estudar a vastidão dos registros egípcios... Penso que, descrever técnicas engenhosas, embora rudimentares, como fez Heródoto, não estava nos planos de nosso ambicioso hoteleiro suíço...
O geógrafo e historiador grego Heródoto (485-420 AEC) descreveu em suas obras às técnicas egípcias de construção de pirâmides, com explicações e desenhos ‘naturais’, ‘terrestres’ e 100% coerentes com a vasta documentação hodierna... Heródoto documentou o tráfego de jangadas pelo Nilo, os rolamentos para o transporte dos blocos e a remoção posterior do material de apoio... Inclusive existem inscrições em alguns dos blocos mais importantes celebrando o cumprimento de tarefas como “Caramba, conseguimos!!!”, assinado por “Equipe Eufrades Onze”...
Trata-se de uma exclamação e inscrição improvável para construtores espaciais, capazes de viagens interestelares a velocidades inimagináveis, posto que a nossa estrela mais próxima, Próxima Centauri, dista aproximadamente 4,22 anos luz da Terra, ou 4,0×1013 km... Isso se déssemos uma ‘puta sorte de ter um sistema solar habitável logo ali’, o que seria equivalente a ganhar na loteria 50.000 vezes seguidas, SEM JOGAR...
Mais aqui vai o ZAP, pois sabemos que a primeira pirâmide a ser construída desmoronou, e que a segunda pirâmide, no meio da construção, teve os ângulos das laterais drasticamente aparados, porque acabaram aprendendo com o exemplo da primeira, que CAIU... E seria ‘improvável’ que uma civilização extraterrestre capaz de cruzar o espaço cometesse o erro de ultrapassar o ângulo de repouso - conhecimento básico de qualquer mestre de obra em nossos dias...
O americano Mark Lehner, eminente Doutor em Arqueologia por Yale e egiptólogo consagrado com mais de 30 anos de experiência dedicados a escavações no Egito, diretor do ‘Ancient Egypt Research Associates (AERA)’, e que dedicou várias uma obras às construções no Vale dos Reis, explicou que:
“As primeiras pirâmides egípcias conhecidas são encontradas em Saqqara, a noroeste de Memphis. A mais antiga delas é a pirâmide de Djoser (construída entre 2630 e 2611 AEC) construída durante a terceira dinastia. Esta pirâmide e seu complexo circundante foram projetados pelo arquiteto Imhotep, e são geralmente consideradas as mais antigas estruturas monumentais do mundo construídas em alvenaria. A estimativa do número de trabalhadores para construir as pirâmides variam de 20.000 a 100.000.” (Lehner; ‘The Complete Pyramids’; 1997)
Imhotep, o ARQUITETO desta pirâmide em particular tinha, como sabemos, uma família, filhos, etc... Não consta que os seus olhos tenham sido ‘esbugalhados’, com feições ‘mongoloides', ‘sem nariz’, sem cabelos, etc... Imhotep foi um egípcio HUMANO... O igualmente egípcio Zahi Hawass é doutor em arqueologia, e sem sombra para dúvidas o maior arqueólogo e egiptólogo da História, e tanto que o termo ‘egptólogo’ confunde-se com o seu nome e reputação... Participou de uma infinidade de documentários sérios promovidos pela BBC, Discovery e History Channel, sendo em 2006 nomeado pela revista ‘TIME’ como uma das 100 pessoas mais influentes do planeta... Desde 2002 desempenha o respeitável cargo de secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, responsável pela administração dos museus e patrimônios da antiguidade egípcia... Hawass encontra-se atualmente envolvido no importante trabalho de restauração das pirâmides de Gizé...
Hawass goza de inegável poder em seu país e junto à comunidade científica internacional, e encontra-se envolvido em processos polêmicos na tentativa de reaver importantes obras egípcias como o famoso ‘busto da rainha Nefertiti’, atualmente em Berlim, e a ‘Pedra de Roseta’ [‘Roseta Stone’], que pude conferir em várias oportunidades no Britsh Museum em Londres...
Hawass é um homem que dispõe de conhecimento sem igual sobre as pirâmides e não mede as palavras quando se trata de ‘endereçar a verdade’... Sobre as teorias Daniken e outros que afirmam que as pirâmides teriam sido construídas por extraterrestres, Hawass escarnece com um neologismo criado por ele mesmo para designar os adeptos de tais ‘crendices bizarras’:
“Piramidiotas!!!” - Zahi Hawass
Mas coloquemos pedra sobre pedra:
Cerca de 2,3 milhões de blocos foram necessários para colocar a pirâmide de Quéops de pé... Cada bloco pesava em média 2,5 toneladas – equivalente a três ‘fuscas’ de 800 kg... Depois de cortados nas pedreiras os blocos eram lixados e catalogados, escrevia-se o nome do faraó e o do grupo de trabalhadores responsáveis... Para erguer as pirâmides o terreno era aplainado, e o platô, rico em rochas calcárias - região de Tura - fornecia matéria-prima para dar acabamento e brilho à pirâmide... Os blocos vinham de até 800 quilômetros de distância, e não vinham de ‘taxi’... Da pedreira de Assuã, os blocos eram transportados em jangadas pelo rio Nilo, e a experiência foi reproduzida, com materiais e técnicas da época, em nossos dias, com efetivo sucesso... A análise dos mineiras presentes nos blocos permite que identifiquemos a fonte de cada material utilizado... Os egípcios literalmente ‘rolaram as pedras’, num autentico ‘rock´n roll mesopotâmico’... A proeza impressiona, mas é necessário mais do que isso para inventar estória do além... Transportar os blocos gigantes é tão complexo como em nossos dias... Cordas foram utilizadas, assim como uma espécie de ‘trenó’ feito de troncos de madeira cilíndricos, sobre os quais as pedras deslizavam... Também existia a ‘tafla’, uma espécia de barro molhado e escorregadio, que permitia o deslizamento dos blocos... Depois de assentados os blocos eram ‘acabados’, sendo cortados em ângulos de 51º e dando forma à face da pirâmide... As rampas laterais permitiam quem os ‘terráqueos’ egípcios checassem se a obra estava ‘entortando’... As rampas subiam em ‘zigue-zague’ com inclinação constante, sendo preferível à uma rampa única... Não subestimem os egípcios!!! No topo da pirâmide era utilizada uma rampa interna em espiral, recuada 15 metros da face externa... No fim de cada andar uma aresta permite que as pedras girassem 90º... A partir deste ponto, sistemas de contrapeso levantavam as pedras maiores... Várias mecanismo rudimentares, mas bem engenhosos, ajudavam no trabalho, fazendo o papel de primitivos guindastes, alavancas, sistemas com gangorras utilizando cestos de areia... A maior pirâmide tem 147 metros, e equivale ao edifício ‘Copan’, com 49 andares...
Este era o principal argumento de Von Daniken.. Daí pra frente é ladeira abaixo, mas vamos encarar todos eles...
Carlos Sherman
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