O Brasil, ou melhor, um brasileiro, ou seria mais correto
dizer ‘um ex-brasileiro’, foi agraciado com ‘um’ Prêmio Nobel... Peter Brian
Medawar nasceu brasileiro, em Petrópolis, em 28 de fevereiro de 1915; mas
morreu em Londres, em 2 de outubro de 1987, como britânico... Medawar foi
excepcional por muitos motivos, e seu talento foi reconhecido com o Nobel de
Fisiologia/Medicina em 1960, por pesquisas relacionadas ao sistema imunológico
nos animais....
Com a Segunda Grande Guerra, e o salto
tecnológico em armamentos, os horrores foram sentidos no aumento alarmante de vítimas
com queimaduras graves... A descoberta da penicilina, em 1928, por Alexander
Fleming - Nobel em 1945 - os antibióticos passaram à linha de frente no combate
às infecções, aliviando o ‘sofrimento humano’... Peter Medawar trabalhou com
assistente de Fleming, tendo um papel decisivo em seu trabalho...
A perda da
nacionalidade brasileira decorreu de uma intransigência do então ministro da
Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, em função do serviço militar
obrigatório... Medawar serviria melhor à humanidade em Oxford, onde cursou
zoologia, dedicando-se à questão dos enxertos de pele, cujos resultados
mostravam claramente que auto-enxertos eram bem tolerados pelo organismo, em
detrimento de aloenxertos... Medawar foi um grande cientista, e outro gigante
da humanidade – e ex-brasileiro...
Neste
contexto, Medawar deixa o seu recado:
[...] uma concepção imaginativa do que poderia ser verdade é o ponto de partida de todas as grandes descobertas científicas.
Isso é
verdadeiro, mesmo quando podemos ‘falsear’ ou refutar um argumento, uma
premissa, ou todo o enunciado... É disso que se tratar ‘fazer Ciência’:
torner-se ciente pela prova – ou partir pra outra...
O vigoroso
e genial físico Richard Feynman (1918-1988) - ganhador do Nobel em 165, o ano
em que nasci – explica que:
Um princípio de pensamento científico corresponde a uma espécie de honestidade incondicional [...]
É esta
honestidade incondicional ou ética, que reside no ceticismo científico, que
confronta a vacuidade de crer... Isso porque as crenças se baseiam apenas na
caprichosa, débil ou vã vontade de acreditar... Não se pode, de forma alguma,
comparar as atitudes de 'tomar ciência ou tornar-se ciente' - da verdade -, com
reconfirmar velhas ou novas convicções - crentes... Não se pode usar como
desculpa a falibilidade assumida da ciência, para validar crenças... Uma
verdade científica tem um prazo de validade e um universo de aplicação
demarcado, assumidamente, e será sempre revisada, sendo esta a sua maior
fortaleza - e não o contrário...
Ouçam
Charles Darwin:
Falsos fatos são altamente prejudiciais ao progresso da ciência, pois muitas vezes resistem durante muito tempo; mas falsas hipóteses causam pequenos danos, já que todo mundo sente um salutar prazer em provar sua falsidade; e, quando isso acontece, um caminho para o erro é fechado e, ao mesmo tempo e freqüentemente, é aberta a estrada para a verdade.
Nas
palavras de Ramachandra (‘Fantasmas no Cérebro’; 2010):
Que fantástico privilégio será para nossa geração — e a dos nossos filhos — testemunhar o que acredito que será a maior revolução na história da espécie humana: entender a nós mesmos. A perspectiva de fazê-lo é ao mesmo tempo aninadora e inquietante. Há algo distintamente singular acerca de um primata neóteno de pele lisa que evoluiu para uma espécie que pode olhar por cima do ombro e fazer perguntas sobre suas origens. E, mais singular ainda, o cérebro pode não só descobrir como outros cérebros funcionam, mas também fazer perguntas sobre sua própria existência: Quem sou eu? O que acontece depois da morte? Minha mente nasce exclusivamente dos neurônios em meu cérebro? É a peculiar qualidade recorrente destas perguntas – à medida que o cérebro luta para entender a si próprio, que torna a Neurologia Fascinante.
ENDERECEMOS A VERDADE... EXISTEM GRADAÇÕES DE ERROS, MAS NÃO PODEMOS INVOCAR A IRRESPONSÁVEL E CÍNICA 'RELATIVIZAÇÃO DO ERRO', COM O OBJETIVO DE IMPEDIR QUE A HUMANIDADE TRILHE MELHORES CAMINHOS EM DIREÇÃO AO FUTURO... CUIDEMOS DO PRESENTE, DESMASCAREMOS OS FALSOS PROFETAS... RESUMAMO-NOS À NOSSA CONDIÇÃO MARAVILHOSAMENTE IMPERFEITA, FRÁGIL, EMBORA EXCEPCIONAL... SOMOS A MEMÓRIA DO UNIVERSO...
Carlos Sherman
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