Einstein
Einstein morreu num dia assim, 18 de abril de 1955. Até hoje, muitos falam em nome dele, contam anedotas e inventam situações que nunca aconteceram. Todos querem saber o que o gênio pensava sobre a vida, sobre o mundo, mas poucos consideram (ou aceitam) a documentação.
Recentemente, foi leiloada uma carta manuscrita por Albert Einstein, datada de 1954, um ano antes de sua morte, pelo equivalente a R$ 6 milhões. (É importante lembrar que foi um ano antes de sua morte, antes que alguém alegue imaturidade e caprichos da juventude). Nessa carta, o físico diz que:
“(...) a palavra de Deus é [...] nada mais do que expressão e produto da fraqueza humana.”
E acrescenta que a Bíblia é:
“(...) uma coleção de lendas honradas, ainda que primitivas.”
Em outra carta, Einstein escreve:
“É claro que era mentira o que você leu sobre minhas convicções religiosas. Não acredito num deus pessoal e nunca neguei isso.” – arquivo de Max Jammer.
Einstein viveu num tempo em que não era fácil se declarar ateu. Principalmente no caso dele, que era uma celebridade, considerando as reações que isso poderia causar – e causou.
Ele ficava de bem com todo mundo ao dizer que acreditava no deus de Espinoza, isto é, deus nenhum. Porque Espinoza (excomungado e processado por heresia) pensava que Deus era a natureza, era o universo, enfim, tudo o que existe. E nisso se inclui Fernando Pessoa, quando escreve que “(...) se Deus é as árvores e as flores e os montes e o sol e o luar”, por que então chamar isso de Deus? Por que não chamar de árvores, de flores, de montes, de luar e de sol?
Claro que os que creem em Deus pensam num deus como uma pessoa-deus, como uma entidade-deus, uma identidade distinta, um ser pensante, agente. Pensando como Espinoza, Fernando Pessoa e Einstein, a ideia de um deus pessoal fica definitivamente aniquilada.
Aos 54 anos, Einstein exilou-se nos EUA, por causa da ascensão nazista. Um advogado católico americano, representando uma coalizão religiosa, escreveu: “Lamentamos profundamente que o senhor tenha feito a declaração [...] em que ridiculariza a ideia de um deus pessoal”.
Outros religiosos publicaram, nos jornais da época, algo sobre a América o estar recebendo braços abertos e que ele, sendo um importante cientista, uma figura pública, não tinha o direito de decepcionar a juventude cristã americana, que tanto o admirava. E pediam que se retratasse.
Einstein declarou novamente tudo o que havia declarado (como não?), e esses textos foram publicados nos jornais dos Estados Unidos, o que explica tanta antipatia por ele.
Mais velho, questionado por um jornalista se tinha medo da morte, ele sorriu:
“Como posso me incomodar com isso? Depois de minha morte, serei outra vez universo.”
Einstein deixou a religião aos 12 anos. E nunca mais voltou.
Perce Polegatto
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