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terça-feira, 9 de abril de 2013

A eterna vitimologia...




Recebi um gentil convite para o lançamento do livro acima, e respondi com a carta abaixo:

Prezados,

Espero que um dia possamos trabalhar juntos, na condição – respectivamente – de autor e  editores... Mas torço pela ‘Confraria do Vento’ desde já, e isso enquanto procuro manter a minha integridade intelectual inabalada... O simples aproach, a capa e o título deste este livro, constituem falácia argumentativa, e invoca a velha ‘vitimologia anti-americanista’, um fenômeno do círculo das crenças conspiracionistas, bem estudado pela Psicologia Neurocientífica, sendo pois uma subclasse dos Desvios Cognitivos de Confirmação, e incorre em várias e conhecidas falácias tendenciosas e maniqueístas... Trato de denunciar este estado de coisas...

As práticas de Marketing devem – inescapavelmente -ser submetidas ao escrutínio da pensabilidade e da conduta ética, e assim sendo, hoje e no futuro próximo, boas discussões sobre a ética na propaganda estão sendo e serão tratavas... Mas preparem-se, porque o tema vai longe... E sendo assim, a própria chamada para este livro mereceria uma interminável crítica ‘ética’, e somente no título... Por quê? Comecemos pela semântica, e fazendo uso do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, em sua edição de 2009, onde lê-se que: ‘terrorismo é (1) o modo de impor a vontade pelo uso sistemático do terror’, ou como sendo ‘(2) o emprego sistemático de violência para fins políticos, esp. a prática de atentados e destruições por grupos cujo objetivo é a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder’, ou ainda ‘(3) ameaça do uso da violência a fim de intimidar uma população ou governo’... Para classificar a propaganda massiva nestes critérios, precisaríamos desviar os nossos olhos de muitas e melhores respostas para o fenômeno, afim de forçar uma tremenda barra, no sentido de apropriar o conceito de ‘violência’ inerente ao ‘terror’... Vale lembrar que terror é uma ‘(1) característica do que é terrível’, ou ‘(2) estado de pavor’... E terrível é ‘(1) que infunde ou causa terror, assustador, temível’... Violência seria ‘(1) qualidade do que ´violento’, ou ‘(2) ação ou efeito de empregar a força física ou intimidação moral contra: ato violento (derrubou a porta com v.)’... Mais uma vez insisto, que muita imaginação, severos desvios de confirmação, maniqueísmo exacerbado e certo grau de desonestidade ‘crente’, serão necessários para encaixar a livre oferta de produtos, impulsionada pela propaganda massiva, e a livre procura, pelo devaneio massivo e populacional – inato -, com o TERRORISMO - claramente físico, violento, agressivo, e que causa dano ou injúria física e moral... 

Lamento que atitudes ilusórias, e até certo ponto oportunistas, e mesmo irresponsáveis, encontrem eco na mídia... Ou seja, lamento que tal falácia seja ‘propagada’, por este a outras vias... Seguro de que tais crendices contribuem para a enorme confusão conceitual vigente... Saliento no entanto, que a propaganda precisa sofrer um crivo ético, mas repudio o animismo conspiracionista, fundado em crenças, alinhados com bandeiras e discursos ‘crentes’... O tema aqui, em minha análise, desvia o foco do McDonalds, do Mickey, da Coca-Cola, e dos Estados Unidos, para a Biologia da Crença, seus derivativos, grupos e subgrupos, este é o caso mais urgente aqui...

O meu amigo e autor ‘Michael Shermer’ coloca muito bem a questão (Shermer, 2012, p. 273): ‘Uma vez que criamos uma crença e nos comprometemos com ela, nós a mantemos e reforçamos com fortes heurísticas cognitivas que garantem que ela está correta’... A heurística é um método de solução de problemas pela mera intuição, ou que está normalmente dentro do universo da crença e da crendice... Também chamamos a heurística de ‘regras ou métodos empíricos’, o que costumo divergir, já que por ‘empírico’, a heurística apropria apenas o que é ‘intuído’, sem a necessária coleta de provas e evidências... Isso permite, claro, a distorção da percepção, para a perfeita adequação às nossas ‘bandeiras’ ou ‘causa’... Sendo assim, as ‘crenças’ acabarão por configurar e influir na própria ‘percepção’... E Shermer prossegue: ‘Não importa em que sistema de crenças esteja funcionando – religiosa, política, econômicas, ou sociais -, estes desvios cognitivos moldam a maneira como interpretamos a informação que chega por intermédio de nossos sentidos, dando a forma adequada à maneira como queremos que o mundo seja, e não necessariamente como é’...

Precisamos primeiramente, e com isenção e método, tomar ‘ciência’ de ‘como as coisas realmente são’, para só então ampliar a discussão para como gostaríamos que fossem, ou ‘como deveriam ser’... Este é o caso aqui...

Um forte abraço...

Carlos Leger Sherman Palmer

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