Publiquei um vídeo sobre a saúde no planeta nos últimos 200 anos, com os dizeres:
Desde o Paleolítico Superior, passando pelos tempos bíblicos até o fim da Idade Média, amargamos uma expectativa de vida média entre 30 e 40 anos... Em pouco mais de duzentos anos, a ciência duplicou esta expectativa - que ainda é maior em países mais avançados e maior grau de instrução... Diminuímos, no mesmo período, em 40 vezes a mortalidade infantil... Pensem sobre isso...
Hans Rosling's 200 Countries, 200 Years, 4 Minutes - The Joy of Stats - ...
ethosproject.blogspot.com
Um amigo então deixou o seguinte questionamento:
"Não encare como uma provocação, é uma pergunta filosófica: Qual a vantagem em se viver mais?"
Respondi com prazer:
Rsrsrsrsrs... Não meu amigo, esta é uma pergunta sofismática e não filosófica, e explicarei este ponto mais adiante ... Somos seres vivos, e naturalmente, à menos que haja algum distúrbio neural, fazemos de tudo para nos manter vivos... O propósito da vida é viver e viver da melhor forma possível... Cada um sabe a 'dor e a delícia de ser o que é'... Viver é o propósito, e estamos fadados a isso... Você certamente fará de tudo para sair e chegar intacto à sua residência...
Adoro viver, e nem preciso de um motivo moral para isso... É possível gostar de viver, asseguro, e nunca será o bastante pra mim... Mas foi e pode ser uma tormenta para outros, poucos... Viver é o 'default' para todos os seres vivos, de bactérias à homens... A nossa capacidade de abstração complicou um pouco as coisas, e projetou ilusões de uma 'além vida', que na realidade o nosso Sistema Límbico não engole... Queremos viver...
Curiosamente, este tipo de questão só poderia partir de uma posição 'crente', afinal, viver não é o bastante, e é necessário inventar uma vida após o fim da vida... E se acreditassem de fato nisso, e entendessem o conceito de eternidade, por que desperdiçariam a epifania da 'verdadeira vida', a vida além da vida, neste átimo de sofrimento na Terra? Por que não partem já e à galope? Porque ninguém crê nisso de fato...
Mas o ponto importante aqui não é esse, e refiro-me ao vídeo... Trata-se, este e outros trabalhos, de demonstrar mais uma vez, e cabalmente, a relação direta entre PIB per capita e expectativa de vida, e demonstrando ainda que 'quanto mais descrente um país, mais próspero', ou 'quanto mais próspero menos crente', e não o contrário... Aliado a isso, outros estudo corroboram, sem espaço para contradições, que prosperidade financeira - PIB per capita -, grau de instrução, descrença, estão alinhados com solidariedade, maior expectativa de vida, maior respeito às liberdades individuais, menores taxas de mortalidade ao nascer, menos violência e desigualdades...
Pergunte ao seu pai, 'qual é o problema se eu, seu filho querido, morrer hoje ou daqui a 50 anos'? Talvez você possa responder à esta pergunta algum dia, quando passar os olhos pelo seu lar, e considerar o carinho que sente por sua família... Não consigo sequer considerar a possibilidade de perder o meu cãozinho... Mas tudo isso só faz realmente sentido em face da REALIDADE... Em um mundo real, finito, nos apegamos muito mais à vida, e não o contrário... Lutamos por ela, e não estamos dispostos a desperdiçar esta possibilidade tão remota da estatística do vir a ser - a existir... E se lutamos por nossas vidas, também estamos aparelhados - uns mais do que outros - para lutar pela vida dos demais, em um fenômeno muito humano conhecido por 'empatia'...
Não é por acaso que os maiores gestos de solidariedade do planeta estão nas mãos de descrentes, que apenas sentem emoção e empatia por outros que navegam a mesma nau, e sem podium de chegada... Humanos, como você e eu, troppo umanos... Uma dica: diante de seus próprios dilemas, busque a refutação, a contradição, e somente siga em frente com aqueles dilemas que passaram por seu próprio crivo, e só assim parecerá convincente... Submeta a sua própria 'pensabilidade' ao escrutínio da razão... Vivo alertando que, o seu poder dialético não significa absolutamente nada, se a proposição que defende não estiver fundamentada por sua própria experiência... E de fato você se preocupa - e muito - com a sua vida, com a sua imagem, competindo, ganhando, provando isso e aquilo, e isto significa até mesmo que você superestima sua própria vida, e sendo assim, sua questão não foi filosófica, e não se trata de um dilema filosófico real, e seu...
Mesmo assim, o seu questionamento, e que adorei responder, e respondi com a minha experiência e inabalável sinceridade, foi instigante... Não se preocupe comigo, rsrsrsrs, não voltarei a esbravejar e soltar a franga, rsrsrsrs... Se escutar alguma tolice, irei apenas 'entre-rir', ignorar, e deixar passar... Afinal, rsrsrsrs, você ainda é só um garoto... Se pudesse entender sobre a 'integridade intelectual', de fato, faria misérias com a sua maravilhosa e improvável possibilidade de estar vivo... Costumo chamar esta improvável possibilidade de 'hiato de minha inexistência', somente para suavizar na hora de fechar as cortinas...
Vita, vitam mirabilem...
Carlos Sherman
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