Quod erat demonstrandum
SOBRE TODAS AS COISAS...
Estou debatendo a horas com um cara, o 'debatedor', gente boa, mas que insiste na compatibilidade entre religião e ciência, ou algo parecido com isso, rsrsrs... Ele pretende que consideremos como duas disciplinas diferentes, mas não antagônicas... Na verdade ele está criticando um post do ATEA:
Debatedor:
Eu não me incomodo com esse tipo de post em si. Mas o conteúdo desse em especial, é, a meu ver, muito ruim. Ignora toda a história da filosofia, sobretudo a filoofia da ciência, ignora toda a história das religiões, todos os estudos de mitologia comparada, em suma: todo tipo de conhecimento que seria importante para se fazer uma acusação desse tipo.
Estou debatendo a horas com um cara, o 'debatedor', gente boa, mas que insiste na compatibilidade entre religião e ciência, ou algo parecido com isso, rsrsrs... Ele pretende que consideremos como duas disciplinas diferentes, mas não antagônicas... Na verdade ele está criticando um post do ATEA:
Debatedor:
Eu não me incomodo com esse tipo de post em si. Mas o conteúdo desse em especial, é, a meu ver, muito ruim. Ignora toda a história da filosofia, sobretudo a filoofia da ciência, ignora toda a história das religiões, todos os estudos de mitologia comparada, em suma: todo tipo de conhecimento que seria importante para se fazer uma acusação desse tipo.
Mas a 'história da filosofia', incorpora os severos erros e desvios de confirmação, ilusões e devaneios... Mais adiante na história, a partir de estruturação do método científico, separamos mera autoridade e o mero constructo - Platão Aristóteles, e seus seguidores - da verdadeira pensabilidade, a partir do método científico... O que separa o consctructo vazio do conhecimento são as provas... Divagar com uma ideia é diferente de postula-la uma verdade... A ciência só o faz mediante provas e fatos... Este é o divisor de águas... E mais, a neurociência expôs os riscos do pensamento subjetivo... E ainda mais, inventamos a ciência para testar a nossa lucidez... Entendo as posições equivocadas do ATEA, e concordo com o Marcelo em seu primeiro comentário... Reluto em relação à militância ateísta, mas quando uma proposição é colocada, estou à postos, livre, pensante, e preparado para refutar falácias, ou desvios de confirmação, este é o caso... PH Wolf, respeitosamente, o seu 'post' não procede, nem minimamente... A Ciência é, pois, a antítese da crença, qualquer crença...
Se algo de bom acontece a um cristão, ou ele sente uma felicidade enquanto orava, ou se vê alguma mudança positiva na sua vida, nos dizem que Deus é bom. Mas quando crianças são arrancadas dos braços de seus pais em morrem afogada - Tsunami no Japão -, ou quando 9 milhões de crianças - menores do que 5 anos - morrem de fome por ano, nos dizem que Deus é misterioso...
É ASSIM QUE SE JOGA TÊNIS SEM REDE...
O pastor manipulador e inescrupuloso diz: "venda o seu Fiat Uno 96, e aplique a grana em deus, e você receberá em dobro, ..., mas tem que ter fé"... Então o infeliz crente, que consumiu as suas últimas esperanças no 'senhor' - invisível -, representado na Terra pelo pastor, questiona: "mas pastor, já fazem 06 meses e nada?"... E o pastor responde: "eu avisei que tinha que ter fé, e você não teve fé"... Quem marca os pontos é o pastor, neste jogo da crença, sem rede...
A fé, só pode ser avaliada se submetida efetivamente ao escrutínio da VERDADE, da razão, do teste de sua funcionalidade... A fé cura? Orar e depositar uma grana nos cofres do senhor geram ganhos tangíveis??? Quando a crença ousar ser exposta à experimentação, será possível avaliar sua eficácia... A homeopatia é uma pida, mas a acupuntura já foi submetida inúmeras vezes à prova de sua eficácia, e chamais passou, ao menos, na avaliação empírica... Ou seja, sua eficácia, mesmo quando desconhecidos os meios, nunca foi provada, e ao contrário, sempre foi fragorosamente reprovada... Se houvéssemos medido tal eficácia, ou seja, o 'saber que', ainda seria necessário, pelo Método Científico, o 'saber como', explica a partir de alguma hipótese plausível, a relação entre as causas e os efeitos...
E eu quero sugerir a vocês, que isso não é só um incômodo... Na verdade, quando pessoas inteligentes defendem o valor em CRER, isso na verdade é IMORAL... Podemos esperar para saber, ao invés do desespero de crer...
CRER É UM DESVIO DE CONFIRMAÇÃO...
Neste último movimento, até porque a minha paciência estava esgotada, ele repete uma frase que eu havia escrito e acrescenta apenas um toque no final... E sigo deste ponto:
Debatedor:
"Reluto em relação à militância ateísta, mas quando uma proposição é colocada, estou à postos, livre, pensante, e preparado para refutar falácias, ou desvios de confirmação"
Eu também, meu caro, eu também...
Então publica um post que cita Karl Popper e Einstein, de forma tendenciosa, e eu desço a serra:
Não, você não está preparado para refutar falácias, e não percebe a questão bem diante de seus olhos e sentidos... Mas não disponho de tempo para sofismas... A Ciência quer a verdade por trás das aparências... Questões epistemológicas já foram devidamente equacionados por Popper, consulte 'A Lógica da Pesquisa Científica', trata-se do problema da indução, ou problema de Hume, que foi retomado por Kant... Mas está superado... A Ciência, em sua concepção atual, é o Método Dedutivo baseado em Prova... A ciência trata 'sim' de hipóteses e enunciados, e trata também, e sobretudo, de validar ou refutar tais enunciados, corroborando assim a respetiva veracidade ou falsidade de um sistema... Não estamos falando de 'verdades' subjetivas, ou morais, nem opinativas...
Você conversa por este meio, um computador logado no Facebook, através da Internet, e via satélite, porque um zilhão de hipóteses científicas foram consagradas em leis, e porque 'sim' funcionam, invariavelmente, e sem direito a sursis... Por que não podemos dizer que existem, objetivamente, verdades??? É verdade que descrevemos uma orbita em torno do Sol? Sim - e não o contrário... O eixo imaginário da Terra, referenciado por o seu campo magnético, está inclinado em 23,5o em relação ao plano desta órbita? Sim... Rotacionamos a quase 1.800 km/h, e translacionamos a quase 108.000km/h? Sim, e se não fosse VERDADE, os nossos satélites não estariam cumprindo o seu papel, e nós não estaríamos conversando aqui... Mas, acreditar que a Terra é o centro do Universo, como a vã filosofia acreditou, pela via da autoridade, É falso, é MENTIRA..
Afinal a Filosofia integrava política, crenças, e a tentativa de conhecer a natureza e a realidade, mas isso foi desintegrado, e só subsiste na história enciclopédica, mas não significa que Aristóteles ou Platão realmente praticaram um bom exercício de pensabilidade, submetendo seus postulados ao escrutínio da razão, e muito menos à provas... Não precisamos respeitar a astrologia, nem a alquimia, presentes na filosofia, e nem sequer considerar filosofia tais 'enunciados'... Para o bem da Filosofia...
Refiro-me a Aristóteles quando postula - por exemplo -que a Terra está no centro da estrutura do 'universo', ou quando postula que pensamos com o músculo do coração, enquanto o cérebro é uma espécia de radiador que resfria o sangue quente do lado esquerdo, para frio do lado esquerdo, ou quando afirma que mulheres, assim como escravos e animais não possuem alma, finalizando por dizer que ao menos escravos e animais servem para força motriz... Daria para escrever uma enciclopédia de erros com as baboseiras que Platão e Aristóteles disseram, 100% das vezes em que deixaram o plano subjetivo, para engendrar um pensamento objetivo... Mas não pude identificar refutação direta de nada do que disse, e sim um incômodo emocional... Confesso que também me irrito com a ignorância por trás da tentativa de compatibilizar crenças e ciência... Trata-se da mais aberrante afronta ao intelecto e à boas intenções... E explico o fenômeno, cientificamente, através da Biologia da Crença...
PH, o autor e você, mal entenderam Popper... Tenho a Lógica da Pesquisa Científica em minha mão, e na minha cabeceira... E mais, Popper além de reforçar o trabalho científico, de forma alguma pode ser invocado para 'relativizações' baratas... O falsificacionismo popperiano não é princípio de exclusão, mas tão somente de atribuição de graus de confiança ao objecto passível do crivo científico... Popper é enfático em refutar todo tipo de crença, mas explica que a crença precisa adentar os limites da ciência, e ousar ser submetida à prova para ser falseada...
Em 'A Lógica da Pesquisa Científica', Página 40, Karl Popper infere sobre o 'Mundo REAL': "A fim de tornar a ideia um pouco mais precisa, podemos distinguir três itens que o nosso sistema teórico deve satisfazer. Em primeiro lugar, ele deve ser sintético, de modo que possa representar o mundo não contraditório, isto é, um mundo possível. Em segundo lugar, deve ser 'não metafísico', isto é, deve representar um mundo de experiência possível. Em terceiro lugar, deve ser diferente, de alguma forma, de outros sistemas semelhantes como único representativo de nosso mundo de experiência". Invocar o preciosismo de Popper, e sua honestidade inabalável e auto-crítica, com relação ao Método Científico, é o mesmo que invocar Einstein para justificar crenças... É uma atitude que oscila entre a ignorância e a desonestidade... Popper de cara, elimina a metafísica, que por definição abrange toda crença sobrenatural...
Popper demarcou o que é 'não científico'... 'Não-Científico' 'metafísico', e portanto, 'crente', é um enunciado que pode ser falseado, sempre e quando ouse submeter-se... Ou seja, não devemos nos ocupar de enunciados absurdos, como a crença em deuses e afins, até dispormos de algo que ateste a sua REALIDADE... A sua funcionalidade... Orações curam? Isso é uma crença... Se pudermos submeter tal credo à refutação FUNCIONAL, de efetivamente curar, poderemos sim, enveredar pelos becos sombrios da crença para afirmar que tal funcionalidade, a cura pela fé, não funciona...
Não estamos aqui preocupados com 'verdades' absolutas, mas com constatações objetivas, empíricas, e também suportadas por uma hipótese... Hipótese, PH, não é um constructo vazio, aleatório, como o besteirol aristotélico, ou crente... Uma hipótese é um mecanismo, um sistema, um enunciado sério, que procura descrever um fenômeno que será submetido à prova... E que poderá ser ou não ser corroborado empiricamente... E a isso chamamos de Ciência...
O vigoroso e genial físico Richard Feynman - ganhador do Nobel - explica: "um princípio de pensamento científico corresponde a uma espécie de honestidade incondicional"... É esta honestidade incondicional ou ética, que reside no ceticismo científico, que confronta a vacuidade de crer... Isso porque as crenças se baseiam apenas na caprichosa, débil ou vã vontade de acreditar... Não se pode, de forma alguma, comparar as atitudes de 'tomar ciência ou tornar-se ciente' - da verdade -, com reconfirmar velhas ou novas convicções - crentes... Não se pode usar como desculpa a falibilidade assumida da ciência, para validar crenças... Uma verdade científica tem um prazo de validade e um universo de aplicação demarcado, assumidamente, e será sempre revisada, sendo esta a sua maior fortaleza - e não o contrário...
E insisto: "A Ciência é, pois, a antítese da crença, qualquer crença; e da própria atitude de 'crer' ao invés de 'esperar para saber'... Assim como 'inexplicado' é bem diferente de 'inexplicável'... A atitude de 'esperar para saber' é diametralmente oposta 'ao desespero da confirmação crente'... Ciência é a nobre e honesta atitude de 'tomar ciência', de 'tornar-se ciente', da verdade... Passando por cima dos interesses pessoais, individuais, e de grupo... Releia este paragrafo, reflita em liberdade, e incorpore este conhecimento e esta conceituação à sua própria vida... Esteja ciente..."
Nós dizemos PENSEM, eles ordenam SUBMETAM-SE... Triste destino...
Ser livre e pensante não é o mesmo que estar disposto a perder debatendo com dogmáticos, que não dispõe de conhecimento específico... Aí enfrentaremos o problema do 'tempo', o problema da demarcação da vida, da minha vida, afinal o meu tempo é finito, o seu 'talvez' não... Você deve dispor da vida eterna, presumo, e sendo assim pode debater qualquer abobrinha, pelo tempo necessário... Não é o meu caso... Mas agradeço o respeito e a paciência...
"Somos todo ignorantes, mas não sobre as mesmas coisas" - Albert Einstein...
Vou procurar por 'ignorâncias' mais próximas ao meu grau de ignorância... As minhas fronteiras são outras... Investigo com afinco a Biologia da Crença... Da sua crença, por exemplo, na conciliação entre ciência e crença, e sem apresentar absolutamente nenhum argumento... Está apenas 'irritado', mas não explica porque...
'Crer', apressada e desesperadamente, é exatamente o inverso de esperar para 'saber'... Ou não??? Ou não existe saber??? Ou vivemos no vazio, relativo, transcendente, na Matrix, na fantasia da Matrix??? E se for este, o seu nível de relativismo, recomendo LEXOTAN, meio comprimido ao dia...
A atitude é clássica, homens inteligentes como você, primeiro abraçam a causa, por afinidade política prévia, por interesse, por mera simpatia ou por outro motivo torpe... Você segura a bandeira, o estandarte, e depois trata defender com argumentos confusos, mas 'aparentemente' racionais a sua causa... Na mecânica de tal feito, estão características neurofisiológicas diversas, com destaque para o trabalho nos lobos temporais, parietais, córtex cingulado e pré-frontal... Onde a tendência a 'crer na crença' estará tipificada em maior ou menor grau, e potencializada ou não pelo seu entorno e aprendizado... Estas são as minhas fronteiras... As fronteiras da minha ignorância...
Ele manteve o decoro, e agradeço, e desafiou:
Debatedor:
Mas responda, Carlos Leger Sherman Palmer, a ciência tem o poder de, hoje ou no futuro, provar a existência ou não de divindades?
Por que seria importante refutar o que não existe??? O que não existe funcionalmente... Deuses, por exemplo, serve pra quê? Eles fazem chover, quando assim desejam? Podemos provar que o clima segue um padrão, e se a crença no deus da chuva puder ser 'experimentada', submetida à prova, então poderemos sim refutá-la... Se disserem que existem onicórnios cor-de-rosa, só poderemos rir... Se nos apresentarem um, poderemos saber se a sua coloração rosa é um mero tingimento, e analisaremos a estrutura anatômica e fisiológica de seu chifre...
Só poderemos tratar de divindades quando alguma evidência for apresentada, para ser ou não falseada... Até isso acontecer, tal fenômeno não pode ser aceito como científico, nem verdadeiro, nem falso... Mas apenas irrelevante... Não invertamos o ônus da prova... Não se pode provar a inexistência, trata-se de um Reducto ad absurdum...
Certa vez, um amigo publicou:
"Os extraterrestres salvaram a Terra? | Arquivo UFO
Uma publicação em um site russo, a Voz da Rússia, afirma que os extraterrestres teriam salvado a Terra que podia ter sido destruída há mais de cem anos."
Caramba, pensei: posso dizer 'obrigado ETs, você são legais mesmo', ou encarar o tema, afinal, trata-se de uma fenomenal VGM - Viagem Geral na Maionese... Mas o assunto é sério, e provavelmente um cara desses - o pseudo-cientista russo viajandão - é profundamente perturbado neurologicamente, ou fuma uma baseado siberiano sem igual...
A Biologia da crença é diferente do objetivo da crença...
Um outra pista - além de alterações nos lobos temporais e parietais, como no caso da epilepsia e das viagens astrais, e além do mal funcionamento do córtex cingulado, e na parte anterior dos lobos frontais, responsáveis pelo filtro entre ilusão e realidade - é o gene VMAT2, responsável pelo transporte de monoaminas, no caso a dopamina, norepinefrina e serotonina... Existe uma variante deste gene que associada à crença - de todos os tipos....
Acreditamos primeiro e depois tentamos construir explicações racionais para crer... Forçando enormemente a barra....
O DRD4 - no cromossomo 11 - está associado à busca por novidade... A maioria das pessoas possuem de 4 a 7 cópias desta sequência... No entanto algumas pessoas possuem apenas 2 ou 3 cópias, enquanto outras possuem de 8 a 11 cópias... Mas cópias do DRD4 significa menores níveis de dopamina... Isso estimula as pessoas a correr mais riscos para obter artificialmente uma dose extra de dopamina - saltar de base jumping, apostas em Las Vegas, Wall Street, ETs, crenças esquisitas...
Quando confrontamos 'argumentos fumadaços' como deste post, percebemos que algumas pessoas podem defender um estupidez com argumentos aparentemente 'racionais'... Primeiro acreditamos, por motivo torpe, e depois utilizamos nossa capacidade argumentativa para defender esta crença... Esse é o 'X' da questão...
Para um debate decente, sobre a REALIDADE, necessitamos de uma proposição positiva, um enunciado, argumentos, hipóteses, e finalmente PROVAS... Agora reflita, esta frase é minha:
Inventamos a ciência para testar a nossa lucidez...
Então ele anuiu, repetiu mais um de minhas frases:
Debatedor:
"Só podemos tratar de divindades quando alguma evidência for apresentada, para ser ou não falseada... Até isso acontecer, tal fenômeno não pode ser aceito como científico, nem verdadeiro, nem falso... Mas apenas irrelevante... Não invertamos o ônus da prova... Não se pode provar a inexistência, trata-se de um Reducto ad absurdum..."
Pronto! Isso é o que eu estou tentando dizer desde o início. Que bom que concordamos
Este ponto é fundamental... A esmagadora maioria, senão a totalidade dos 'místicos' eram mero portadores de psicopatologias... Ou estelionatários... Com raras exceções... É só examinar a sua mensagem...
Repetiu mais uma de minhas frase, e lançou outro bom desafio:
Debatedor:
" Agora reflita, esta frase é minha 'inventamos a ciência para testar a nossa lucidez'..."
bem, o que você chama de "lucidez" nessa frase?
Lucidez neurofisiológica...
20% das pessoas são altamente hipnotizáveis, 20% não são de forma alguma, 60% dependem do hipnotizador e das condições para a hipnose... Ou seja, seremos mais ou menos suscetíveis à hipnose dos algozes do púlpito e a eficácia de suas técnicas, em razão direta com a nossa tendência natural a sermos hipnotizados... Isso se explica no Córtex, em nossa rotina de supervisão de 'absurdos', onde uns estarão mais ou menos dotados de rigor nesta supervisão; involuntariamente... A religião trabalha aí, assim como as superstições em geral...
Muita gente deixa de ser atendida por médicos, e passa a vida imersa no obscurantismo espírita... Eu passei pela experiência... Estou curado de semelhante devaneio...
A hipnose, embora um mero truque, realmente existe, e trabalha sobre nossa fragilidade de sugestionamento e controlando os nossos centros de decisão... Em um estudo relativo ao tema, 16 pessoas foram hipnotizadas, 50% suscetíveis, 50% resistentes, segundo uma pré-seleção... Então foram submetidas à hipnose e receberam a seguinte instrução: 'esqueçam a palavra que está escrita, em uma língua estranha, e informem apenas a cor'... Foram então liberadas do transe, e o experimento passou a avaliar os efeitos 'pós-hipnose'... O grupo então foi apresentado a palavras que diziam 'VERDE', mas estavam coloridas de AZUL, ou AMARELO, estando colorida de VERMELHO... E era solicitado responder: 'qual a cor?'... Exatamente a metade hipnotizável respondeu diretamente a cor que via, ignorando a palavra... A outra metade percebeu o conflito...
Já imaginaram o que a hipnose coletiva, em um culto religioso podem causar nas pessoas?
Temos uma tendência à explicações causais, onde um efeito emerge de uma causa direta... Temos dificuldades, mesmo sem saber, com sistemas caóticos, complexos, probabilísticos, randômicos, estocásticos... Por exemplo, taxistas adoram comentar o clima: 'este clima está louco'.... Não, este clima 'é louco'... A troposfera é um sistema caótico, que pode ser modelado, mas que guarda sempre incerteza...
As pessoas, e o Sistema Límbico ajudam em acentuar este problema, preferem relações causais simplistas... Por que este casal não está bem? Porque não tem deus na vida deles, ora... Pensem em quão complexos são dois seres humanos, em quão complexas são as relações, nas circunstâncias que mudam, na variância dos parâmetros que regem a vida, a questão é bem mais complexas do que uma causa - a falta de deus - e uma consequência - a separação... E o emprego? Por que não consigo um emprego? Mal olhado... É o seu carma, são os chakras, etc e tal... Não, é a vida, complexa, mas não misteriosa... Inexplicada, mas não inexplicável... Tudo está por ser desvendado, é esperar para saber...
Lembrando ainda, e poucos sabem, que o cérebro evoluiu de dentro para fora... O núcleo, ou Reptiliano, é idêntico ao cérebro dos répteis... O nosso DNA, com cerca de 30 mil genes ativos, salta 80% do código total... Sim temos instruções de 'jump' por toda parte, e desprezamos 80% do que está escrito nele... Por quê? Porque deixamos estas instruções para trás na Evolução... A oxitocina e a vasopressina regulavam a salinidade de nosso corpo, quando vivíamos no mar, hoje regulam o nosso afeto... Hormônio são mensagens, que uma vez que encontram seu destino produzem reações que são deflagradas fisicamente...
Somos uma resultante – inequívoca – de nossa natureza genética, traduzida em nossa fisiologia e biologia - nosso complexo bioquímico -, interagindo com o aprendizado de nosso comportamento psicossocial, e a memorização da cadeia de eventos de nossa vida... Mas, somos quem somos sem intencionar sê-lo... Ou nas palavras de Schopenhauer:
"O homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer."
Arthur Schopenhauer
Considere por exemplo que, sem o Hipocampo, não armazenamos mais nada... O Hipocampo seleciona as partes mais importantes de nossa memória de curto prazo armazenadas temporariamente no Lobo Frontal - nossa memória RAM -, e armazena em caráter definitivo no Cortex, em nossa memória de longo prazo – o nosso Hard Disk... Ou seja, tudo está em nossa mente, e a própria concepção de ser, e de pertencer está em nossa mente... A criatividade, a inteligência, o sentido de existir... Tudo está em nossa mente, e estados mentais afetam de sobremaneira o nosso corpo, porque desencadeiam – desta vez a partir do Hipotálamo – mensagens hormonais que tratarão de nos aliviar ou intoxicar... E neste sentido, entupir a mente com auto-enganos tem consequências ainda mais amplas...
Considere a TPM, onde uma vez por mês, queira ou não queira, em maior ou menor intensidade e alheio à vontade, nossas queridas e diletas mulheres querem nos esganar, e por ‘quase’ nada... E este estado de ‘maridocídio’ foi desencadeado apenas porque ocorreu uma elevação ‘cíclica’, e natural - involuntária - do estrogênio na fase pré-menstrual, com a consequente queda dos níveis de progesterona... Esses não são os únicos fatores, mas são os principais... E tais hormônios afetam as ‘neurotransmissões’ (sinapses) em nosso cérebro – nosso não, delas, rsrsrsr -, o que desencadeia mudanças acentuadas no humor, e na tomada de decisões... Ou seja, não estão bravas e espumando porque querem, mas sim porque a natureza quer...
Considere a Ocitocina e a Vasopressina, são hormônios que estão relacionados diretamente com as nossas relações afetivas e laços sociais, de forma que distúrbios na produção ou na recepção de tais hormônios resultaram – inequivocamente – em mudanças que serão observadas como traços do comportamento social, e por tanto, sujeitos à escolha pessoal e individual... Mas de fato, podermos fazer muito pouco a respeito - querendo ou não querendo -, se não trabalharmos bioquimicamente...
Temos ainda a Dopamina, relacionada diretamente com as nossas sensações de prazer, motivação e saciedade... A dopamina está relacionada com a adrenalina e a noradrenalina, que atuam como estimulantes do sistema nervoso central, elevando o nosso ‘pique’, rsrsrsrs... Problemas com a dopamina resultam em severas patologias de desordem psíquica, como a Esquizofrenia e Parkinson... A dopamina está por trás de nossos vícios, jogo, sexo, álcool, drogas, e crenças...
Considere a Serotonina, fundamental para a percepção e avaliação do meio em que vivemos, assim como, de nossas respostas aos estímulos ambientais e desafios... Diferentes receptores detectam este neurotransmissor, envolvido em várias patologias... A Serotonina parece ter funções diversas, como o controle da liberação de alguns hormônios e a regulação do Ritmo Circadiano... O Ritmo Circadiano engloba os diferentes ritmos biológicos, as oscilações das variáveis biológicas e relacionadas ao tempo... Todos os animais, plantas e seres vivos, apresentam algum tipo de variação rítmica fisiológica (taxa metabólica, produção de calor, o abrir e fechar das plantas, etc.) que estão associadas a mudanças ambientais rítmicas... A Serotonina também regula o nosso sono e apetite... Patologias como a ansiedade, depressão, obesidade, enxaqueca e esquizofrenia, entre outras, são tratadas atuando sobre a Serotonina... Drogas como o ‘ecstasy’ e o LSD simulam alguns dos efeitos da Serotonina... O ecstasy promove libertação maciça de Serotonina, com posterior depressão, assim como o álcool... Em geral, indivíduos deprimidos, têm níveis muito baixos de Serotonina no sistema nervoso central, e são tratados com sucesso a partir do aumento da disponibilidade deste neurotransmissor na fenda sináptica... Certos alimentos, como a banana, o tomate, o chocolate e o vinho são ricos no hormônio precursor da Serotonina: o Triptofano... Então estou livre de depressões porque ando repleto de Triptofano, rsrsrsrs...
Finalmente, tendo sido eleito por todos como campeão do e-mail chato e enfadonho – mas sempre trabalhando pela educação e pelo bem comum -, gostaria de fechar com ‘as Endorfinas’... Esta ‘família de hormônios’, neurotransmissores, são de fundamental importância na comunicação dentro do sistema nervoso, e com efeitos extremos sobre a nossa forma de SER e agir... Sua denominação decorre de ‘endo’ (interno) e ‘morfina’ (poderoso analgésico)... Existem aproximadamente 20 tipos diferentes de Endorfinas no Sistema Nervoso, sendo a Beta-Endorfina a mais eficiente e famosa, pois está relacionada diretamente com a nossa euforia... São 31 aminoácidos para formar esta poderosa proteína, que atua em resposta às atividades físicas, visando relaxar e dar prazer, e despertando uma sensação de euforia e bem-estar...
Atualmente sabemos que as Endorfinas são produzidas na Hipófise e liberadas para o sangue juntamente com outros hormônios - como o GH (hormônio do crescimento) e o ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) que estimulam a produção de adrenalina e cortisol... Estudos recentes mostram que a endorfina pode ter efeito tanto nas áreas cerebrais responsáveis pela modulação da dor, do humor, depressão, ansiedade, como na inibição do sistema nervoso simpático (responsável pela modulação de diversos órgãos como coração, intestino etc.)... Elas podem também regular a liberação de outros hormônios... Provavelmente, certos resultados práticos verificados na acupuntura, no alivio da dor, estejam relacionados com o estímulo à liberação de endorfinas... As agulhas, quando aplicadas em terminais nervosos (pontos), originam impulsos que promovem o aumento na liberação de neurotransmissores no complexo supressor de dor, produzindo um efeito analgésico no cérebro... O consumo de chocolate e pimenta também estimula a produção das Endorfinas... As Endorfinas também são liberadas após - aproximadamente - 30 minutos de exercícios físicos aeróbicos, como por exemplo uma leve corrida...
Os Cinco Princípios que regem a Ciência da Mente, ou Neurociência:
1. A mente e o cérebro são inseparáveis - sendo o cérebro um órgão biológico e complexo, com grande capacidade de processamento, onde codificamos ou decodificamos nossa experiência cognitiva e sensorial... O cérebro não é responsável apenas por nossa motricidade, e por nossas funções fisiológicas, o cérebro é responsável pelos processos complexos caracterizados como a 'quintessência do ser humano, como pensar, falar, criar obras de arte' (Kandel, 2009); e SER...
2. Cada função mental no cérebro está associada à circuitos neurais especializados em diferente áreas do cérebro - o cérebro está portanto dividido em áreas funcionais...
3. Toda a atividade neural, em última análise, depende das mesmas unidades elementares, as células nervosas...
4. A atividade neural depende de moléculas bioquímicas para a conexão entre as células nervosas...
5. O cérebro é a prova viva da Evolução - as células nervosas estavam presentes em nossos ancestrais evolutivos mais antigos e mais humildes, e podem ser encontrada ainda hoje mesmo em nossos parentes mais distantes e primitivos como as bactérias e leveduras, vermes, moscas, lesmas - que empregam as mesmas unidades moleculares para efetuarem suas manobras e processos vitais, que nós que nós empregamos para governar nossa vida diária, e executarmos os estratagemas que nos reconciliam com o meio ambiente...
A Neurociência apoia a Evolução, a Biologia da Vida, e presta um serviço fundamental à revisão de toda a Filosofia do Comportamento Humano... Nas palavras mais do que proféticas de Darwin - posto que só se atreveu a pronunciá-las diante de evidência, depois provas e por fim fatos:
"A nossa inteligência difere dos demais animais apenas em grau, e não em tipo"...
A Ciência da Mente será tão importante para o Século XXI quando a Ciência do Gene foi para o Século XX... Parafraseando Shermer, invertendo e subvertendo Descartes:
Sum ergo cogito... Existo, logo penso...
Brother, tenho dito, qualquer debate filosófico ou epistemológico, sem o devido conhecimento sobre a neurofisiologia do comportamento humano está fadado a parece um programa de auditório, opinativo e vazio... Precisamos entender a Biologia de Crer, de abraçar posições, bandeiras, ideologias... Sem isso não há final feliz, ou ao menos objetivo... E tal assunto pode ser reduzido a um patamar de objetividade... Conhecendo as regras, e não o resultado...
Explico:
Conhece o MAOA? O gene MAOA no cromossomo 'X'??? MonoAmine Oxidase A... Pois bem, podemos - por exemplo - ficar aqui, ou em um boteco, debatendo a violência, armas, isso ou aquilo... Mas precisamos da neurociência, precisamos da genética para chegar a algum lugar... E antes de tudo... O que nos faz humanos? Contro o nosso cérebro percebe e trata a violência?
Logo abaixo da superfície de quase todo debate, existem questões essenciais, esperando para serem destapadas e enfrentadas:
Violência' se escreve com 30 'letras'!!!
Em 2002 um estudo extraordinário enterraria - para sempre - uma vasta tradição litúrgica da fenomenologia do SOCIAL... Terrie Moffitt e Avshalom Caspi estudaram jovens nascidos entre os anos de 1972 e 1973, na cidade neozelandesa de Dunedin... Dos 1.037 participantes originais, Moffitt e Caspi escolheram 442 indivíduos... Estes recém nascidos foram acompanhados por anos até a fase adulta... O grupo foi estrategicamente escolhido, e não apresentava significativa variação em termos de classe social e riqueza, viveram a mesma realidade cultural em Dunedin, no mesmo período histórico... 8% destas crianças foram severamente maltratadas no período entre 03 e 11 anos... 28%, segundo o estudo, sofreram maus tratos moderados... Como era esperado, muitas das crianças maltratadas - não todas, nem a maioria - tornaram-se violentas ou extremamente violentas, apresentando problemas precoces na escola, ou problema legais na adolescência, ou mera disposição 'anti-social'... De acordo com a perspectiva sociológica, o 'aprendizado' e a cultura determinam pela experiência, o que seria escrito em nossa 'tábula rasa'... Mas não tão rápido!!!
Moffitt e Caspi estavam interessados na verdade e dispunham da Genética... Eles também estudaram os genes destes indivíduos, e suas atenções estavam voltadas para um gene em particular, o gene MAOA... Na parte superior deste gene, existe um 'promotor' com uma frase de '30 letras' - ou bases nitrogenadas, adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T), que por sua vez ligam-se ao fosfato e resíduos de açúcar (2-desoxirribose, uma pentose, 05 carbonos), dispostos alternadamente, para formar as unidades do DNA, ou nucleotídeos - que pode estar repetida '3', '3,5', '4' ou '5' vezes... Os genes com as versões com '3' e '5' repetições, apresentam-se muito mais 'ativos' do que aqueles com mutações ou diferenciação para '3,5' ou '4' repetições... Então Moffitt e Caspi cruzaram seus dados com esta informação, mapeando dois grupos, com baixa e elevada atividade para o gene MAOA... Notável e surpreendentemente, os indivíduos com elevada atividade para o gene MAOA eram praticamente imune aos maus tratos... O que equivale dizer que, independentemente dos maus tratos recebidos, severos, moderados, nulos, tais indivíduos não apresentavam ocorrências para a violência, ou para atitudes consideradas anti-sociais ou ilegais... Já para aqueles indivíduos com baixa atividade no MAOA, a atitude anti-social aflorava, ligeiramente quando bem tratados, e intensamente quando maltratados... Para este grupo, definitivamente, os maus tratos eram medidos em seu comportamento violento, em uma taxa 04 vezes superior em relação a estupros, roubos e assaltos, em relação ao outro grupo...
Dito de outra forma, não basta ter sofrido maus tratos, você também precisa ter a predisposição genética - baixa atividade no gene MAOA - para desenvolver um comportamento violento... Ou podemos dizer ainda que não é suficiente ter a predisposição genética - baixa atividade no gene MAOA -, você precisa ter sido maltratado para desenvolver a violência... O mesmo raciocínio deve ser levado em conta para a influência das religiões na violência, posto que os livros sagrados da tradição judaico-cristã-islâmica orientam para a violência e para a intolerância religiosa - punida com a morte -, além de um infindável cartel de proibições, igualmente punidas com a morte: adultério, homoafetividade, crianças rebeldes... Não basta estar vinculado à uma religião com um rito violento, temos que ter o gene MAOA em baixa atividade - além de outras predisposições genéticas concorrentes...
Desativar este gene em camundongos causa um comportamento sempre agressivo... Restaurá-lo reduz drasticamente a agressividade... Em uma família holandesa com um longo histórico de criminalidade, foi diagnosticado que - em várias gerações - somente os portadores do MAOA mutante, com baixa atividade, apresentaram comportamentos criminosos... Evidentemente este é um caso raro... Mas estima-se que portadores de baixa intensidade para o gene MAOA, e que venham a sofrer maus tratos, representam cerca de 37% da população masculina...
O MAOA está no cromossomo X, e sendo assim os homens só possuem uma cópia... As mulheres tem sempre duas cópias, sendo que pelo menos uma apresenta boa atividade... Mas pelo menos 12% duas moças do grupo da Nova Zelândia possuíam seus dois genes com baixa intensidade, e foram diagnosticadas com distúrbios violentos - sempre que maltratadas... E as mulheres ainda possuem o agravante da TPM, rsrsrsrsrs...
Sendo assim, um genótipo problemático não é uma sentença, pois ainda restará a necessidade de um ambiente problemático... De forma análogo, um ambiente ruim e problemático - que sempre deve ser evitado - não será uma sentença irrevogável...
Agora, por meio destas e de outras evidências, que a Ciência está comprovando a interação entre genes e ambiente, a ignorância já não pode ser declarada moralmente neutra...
Somos quem somos sem intencionar sê-lo... Mais somos, legalmente falando...
A sociologia, Durkhein, postulou que 'Omnia cultura ex cultura', Marx copiou e parafraseou a outros alegando que o homem é um produto inequívoco do meio... E isso está ERRADO... Eu digo:
'Omnia cultura ex ominem'...
Projetamos a natureza humana sobre a cultura, involuntária e dinamicamente, e somos realimentados por ela...
Imagine que você tem um equipamento, um capacete especial que pode estimular qualquer região do seu cérebro, sem riscos de danos... Isso não é ficção científica, e tal dispositivo realmente existe... Este capacete especial, quando aplicado ao couro cabeludo, nos permite aplicar campos magnéticos de rápida flutuação, com resultados poderosos e surpreendentes sobre a nossa percepção... Você pode estimular áreas do Córtex neuromotor, contraindo músculos no seu corpo como se você se transformasse em um boneco movido a controle remoto... Se pudesse brincar com um equipamento deste o que faria? Pacientes com distúrbios no septo, um aglomerado de células localizado na parte anterior do tálamo relatam experiências de intenso prazer com 'milhares de orgasmos em um só'... E sem sexo, rsrsrsrs... Para um cego de nascença seria maravilhoso estimular o próprio Córtex Visual para tentar descobrir o que significa afinal a 'cor'... Sempre lembrando que distúrbios em tais regiões, significam respectivamente distúrbios sobre o prazer e a visão...
Mas o psicólogo canadense Michael Persinger decidiu testar o equipamento, estimulando os seus próprios lobos temporais... E o resultado foi como esperado, Persiger sentiu 'deus'... Isso porque a muito tempo a neurociência investiga o papel dos lobos temporais sobre as crenças e experiências místicas... Os distúrbios nesta região do cérebro trazem como consequência, uma mudança brusca de comportamento com respeito ao fervo místico... Mas será que se submetermos Francis Crick, Michael Shermer, Richard Dawkins a este aparelho obteríamos a mesma impressão: deus? Seguramente não, mas vale tentar... Já fizemos experimentos similares com alucinógenos aplicados a pessoas 'crentes' e 'descrentes'... Os crentes relataram a intensificação de suas crenças, enquanto os descrentes sentiram profundo prazer, êxtase, e conexão com a natureza...
A esquizofrenia levou o cético e científico John Nash - 'Um Mente Brilhante' - ao Nobel de Ciências Econômicas, e levou Wellington Menezes e Anders, crentes fundamentalistas, ao assassinato de inocentes... Wellington Menezes falava com deus, e recebia mensagens de purificação e morte aos hereges... Nash era perseguido por agentes russos da KGB, enquanto trabalhava para a CIA em plena guerra fria...
Quando falamos em epilepsia pensamos logo em um ataque epilético, com o paciente tendo contrações, enrolando a língua e depois desmaiando... Normalmente, experiências místicas são relatadas após tais ataques... Mas nem sempre o paciente epilético reage desta forma... Muitos epiléticos relatam apenas experiências místicas comoventes, iluminação, viagens astrais, etc... Isso porque o lobo temporal está mais uma vez sob fogo cruzado... E estranho imaginar que um deus, Tupã por exemplo, escolha esta bizarra maneira de se comunicar conosco... A Neurociência fica em uma situação delicada para medicar ou tratar um paciente 'iluminado', além do risco de contrariar os planos - por exemplo - de Odin...
Já imaginaram o impacto que a epilepsia e a esquizofrenia teve em tempo imemoriais, e até mesmo em nossos dias, em realidades culturais que distam muitas centenas ou milhares de quilômetros de um equipamento de ressonância magnética?
Uma enfermeira desenvolveu um enorme ponto cego em seu campo de visão... E para seu assombro, frequentemente vários personagens de estórias em quadrinhos vem brincar em seu campo de visão... Ela pode estar olhando para você, e o vê o Pernalonga sentado em seu colo, enquanto conversa com o Hortelino e o Papa-Léguas... E tudo isso parece desconcertantemente REAL... Não é possível para ela discernir entre o real e o imaginário, embora - claro - ela saiba que o ditos personagens só existem em sua imaginação... O que o mesmo fenômeno terá causado em culturas passadas?
Uma bibliotecária da Filadélfia teve um derrame, e começou a rir descontroladamente até que literalmente morreu de rir... Arthur sofreu um terrível acidente de carro com danos cerebrais... Logo que recuperou a consciência passou a afirmar que por meio de uma elaborada conspiração, seu pai e sua mãe haviam sido substituídos por impostores, duplicatas... Por isso sou contra filmes de ficções pseudo-científica fantasiosa, e teorias da conspiração... Pela 'piração' que podem promover, em quem passa a apresentar distúrbios cerebrais... Estamos aqui citando casos extremos, mas e os casos sutis, imperceptíveis? Serão obviamente confundidos com experiências místicas...
Pseudo-filósofos, pseudo-cientistas, e místicos de plantão adoram polemizar e profetizar sobre experiências sobrenaturais, mas agora estamos podendo 'provar' que tais assuntos residem em outra alçada, nada mística, como prognosticou Hipócrates: na Ciência Médica...
"Os homens pensam que a epilepsia é divina meramente porque não a compreendem. Se eles denominassem divina qualquer coisa que não compreendem, não haveria fim para as coisas divinas."
Hipócrates (Pai da Medicina; 460–377 AEC)
O termo epilepsia vem do grego e significa 'mal sagrado', dando a idéia de que o indivíduo é acometido por algo que vem de fora, como a ira dos deuses... A epilepsia é conhecida desde a antiguidade, e a bíblia já se referia à doenças como "possessão demoníaca"... Isso não é nenhuma novidade, afinal a bíblia descrevia todas as patologias como possessões demoníacas... Em Lucas [9:41-42] Jesus exorciza um menino epilético expulsando os seus demônios... Hipócrates foi o primeiro estudioso a referir-se a esta doença de maneira racional, dizendo que ela não era "nem mais nem menos sagrada que outras enfermidades e que certamente não provém de irritação dos deuses com os mortais, mas sim de uma disfunção do cérebro"...
Durante os séculos seguintes, e durante toda a cristandade a epilepsia voltou ao obscurantismo de antes de Hipócrates... Os romanos a chamavam de "mal comicial", pois entendiam que os deuses, insatisfeitos com as decisões tomadas nos "comícios", descarregavam sua ira em alguns mortais que frequentavam tais reuniões... Muitos devem ter simulado o ataque convulsivo somente por sacanagem, mas esta é outra estória... O importante é que o medo infundado sobre a epilepsia, além da profunda ignorância reinante, tem submetidos os portadores da doença à um verdadeiro suplício, que somente a educação 'científica' pode aplacar...
O que dizer de uma paciente que tenta enforcar a si mesma com a mão direita, enquanto a mão esquerda procura livrá-la da mão agressora? Quando esta senhora foi finalmente diagnosticada, o tumor no corpo caloso que conecta os dois hemisférios de seu cérebro estava em estado avançado... Ela morreu poucas semanas depois do diagnóstico, mas pode ficar tranquilo que não foi enforcada por si mesma... O tumor havia interrompido a conexão entre os dois hemisférios, criando dois comando independentes sobre o mesmo corpo....
Se você surpreender uma pessoa querida, provavelmente receberá um lindo sorriso... Mas se pedir uma pose para a foto, o sorriso fatalmente será diferente... Por quê? Vergonha? Talvez, mas a explicação é bem mais interessante... Embora os dois sorrisos dependam dos mesmos músculos faciais, os comandos virão de regiões diferentes do cérebro... O sorriso espontâneo, e as ações espontâneas vem dos Gânglios Basais, enquanto o sorriso e as ações intencionais vem do Córtex Neuromotor... Esta é a razão... O sorriso e as ações espontâneas, e tão preciosas, dependem dos Gânglios Basais... Viva os Gânglios Basais!!! Um dica para fotos é fotografar as pessoas sem que percebam... Virão muitas caretas até que 'tchan tchan tchan tchan', lá estará, o sorriso perfeito...
Pessoas acometidas de uma derrame na região do Córtex Neuromotor, podem paralisar o 'outro lado' do corpo... Ou seja, derrames do lado direito paralisam o lado esquerdo do corpo e vice-versa... Então lá está aquele querido parente que sofreu um derrame... Na pose para a foto, por mais que se empenhe, o sorriso será dificultoso, uma careta... Mas, se este senhor for surpreendido por você, os Gânglios Basais - lembra deles - que nada sofreram, tratarão de conjurar aquele sorriso simétrico, completo e real... Nunca vivi a experiência, mas deve ser linda...
E o contrário também será verdadeiro, ou seja, pessoas com tumores nos Gânglios Basais, apresentaram a careta apenas nos sorrisos espontâneos... Mas na hora da pose para a foto, o sorriso sairá forçado mas simétrico e amplo...
O neurocientista Amir Raz hipnotizou pessoas e as submeteu ao teste Stroop... Este testa clássico mostra palavras grafadas em letra de forma, com os nomes das cores, só que cada palavra era pintada com uma cor diferente da grafia... A pessoa é apresentada à palavra e deve apertar um botão para indicar a 'cor' certa... Durante a hipinose Raz disse aos participante que apareceriam palavras 'em uma língua desconhecida e você não devem atribuir nenhum significado, informando apenas a cor'... 16 pessoas, metade altamente hipnotizáveis, segundo a seleção, e metade altamente resistentes à hipnose, pelas características ligadas à personalidade, entraram no laboratório... Então Raz encerrou a sessão de hipnose e deixou que cada um trabalhasse, em estado de sugestão pós-hipnótica... Repare que todos foram hipnotizados, mas realizaram os testes sem a hipnose... Os indivíduos esperados como resistentes à hipnose não puderam ignorar o conflito da palavra 'vermelho', pintada na cor 'verde', enquanto era arguidos sobre 'qual era a cor'...
Assim como os efeitos placebo, a auto-sugestão e também as crenças, são mais facilmente absorvidas por nós, dependendo de nossa suscetibilidade para 'acreditar' ou 'não questionar'... Tudo está rigorosamente em nosso cérebro... Emoções, sentimentos, sentimentalismo, crenças, racionalismo, poesia, música, ciência, filosofia, e mesma a famosa VGM (Viagem Geral na Maionese)...
Finalmente chegamos a H.M., uma dádiva para a Neurociência... H.M. sofreu uma acidente de bicicleta quando tinha 9 anos, e passou a ter ataques epiléticos com frequência crescente... Aos 27 anos não havia condições de prosseguir vivendo com crises constantes... H.M. foi então submetido a uma cirurgia, na década de 50, que deveria retirar partes de seus lobos temporais... Uma decisão de última hora levou a equipe a retirar também o Hipocampo de H.M.... H.M. - retratado em um filme com Drew Barrimore e Adam Sandler - passou a não reter nenhuma nova memória a partir da cirurgia... Ele podia lembra-se de tudo o que viveu até antes da cirurgia, mais nunca mais registrou novas memórias... Ele podia conversar por 30 minutos, uma hora, utilizando a memória de trabalho, de curto prazo, do Lobo Frontal... O Hipocampo é responsável por registrar - involuntariamente - de tempos em tempos, a nossa memória temporária em nossa memória de longo prazo, no Córtex... Sem o Hipocampo, nada mais foi registrado... As nossas habilidade ficam guardadas no Cerebelo, mas também dependem do Hipocampo para serem armazenadas... Portanto andar, falar, dirigir, já haviam sido aprendidas por H.M., mas ele não poderia aprender nenhuma nova habilidade... H.M. seria capaz de dirigir, isso não se não esquecesse a cada momento para onde estava se dirigindo... Também continuou falando sem problemas, mas não era capaz de aprender novos vocábulos... Lembrava-se das pessoas que conheceu até a cirurgia, mas nunca mais foi capaz de reconhecer ninguém...
Considero a realidade, a droga mais potente e maravilhosa que existe, e ainda não entendo em detalhes porque as pessoas buscam drogas menores como a cocaína, a psicanálise e a religião... E pergunto, diante de todo o exposto, e já que estamos terminando a nossa viagem: Como é possível encarar tudo o que foi dito e pensar em espíritos, misticismo e mediunidade sem desconfiar veementemente que tudo isso possa estar 'também' e somente em nossas mentes... Como um distúrbio, falha, patologia, mal entendido...
Aqui está você, são e salvo, de aqui em diante depende de você - e do que o seu hipocampo tenha selecionado para armazenar, sempre lembrando que o hipocampo atua estimulado pela emoção, o que significa que também dependerá da minha capacidade de emocioná-lo, e da sua capacidade de se emocionar com a REALIDADE...
Humano, demasiado humano... Ético, logo cético...
Na síndrome de Charles Bonnet, conforme a fotossensibilidade diminui, a codificação da visão pelo córtex visual começa a apresentar problemas, e o cérebro literalmente 'inventa visões', como se preenche-se o campo de visão com o que sente afinidade, medo, ou desejo... São alucinações visuais... Algumas pessoas veem personagens de desenho animado, como o Pernalonga e o Hortelino - ver Sacks, Oliver -, entes queridos, coisas, etc... É diferente da esquizofrenia, pois decorre da diminuição do sensoriamento visual, embora em termos de codificação visual de alucinações e ilusões seja similar - mas sem a respectiva alucinação auditiva... Fico me perguntando - embora a genealogia de crer esteja bem mapeada, envolvendo os lobos temporais, parietais, córtex cingulado e parte anterior dos lobos frontais, além do desequilíbrio na produção de dopamina - se outras áreas do processamento cerebral não sofreriam de ilusões similares às detectadas pela ausência de estimulo visual, como no caso da Síndrome de Charles Bonnet... Ou seja, na ausência de estímulos para a conformação da análise crítica, passaríamos a inventá-la ou distorcê-la, assim como a lógica, etc; i.e., os ditos desvios de confirmação... Estou aqui propondo uma abordagem para os desvios de confirmação, muito característico de advogado inescrupulosos, que além de agarrar-se a aspectos secundários, para desviar a atenção do 'pólo passivo' ou do 'objeto', tratam de distorcê-los de acordo com a sua mera conveniência - tecnicamente... A patologia neural registra em seus anais problemas ainda mais profundos, como no caso dos psicopatas, que desempenham tal função desprovidos inteiramente do sentido da empatia... De forma que não importa o que o outro sinta, a questão está em obter os fins desejados, custe o que custar... Triste destino, não acha???
Na síndrome de Charles Bonnet, conforme a fotossensibilidade diminui, a codificação da visão pelo córtex visual começa a apresentar problemas, e o cérebro literalmente 'inventa visões', como se preenche-se o campo de visão com o que sente afinidade, medo, ou desejo... São alucinações visuais... Algumas pessoas veem personagens de desenho animado, como o Pernalonga e o Hortelino - ver Sacks, Oliver -, entes queridos, coisas, etc... É diferente da esquizofrenia, pois decorre da diminuição do sensoriamento visual, embora em termos de codificação visual de alucinações e ilusões seja similar - mas sem a respectiva alucinação auditiva... Fico me perguntando - embora a genealogia de crer esteja bem mapeada, envolvendo os lobos temporais, parietais, córtex cingulado e parte anterior dos lobos frontais, além do desequilíbrio na produção de dopamina - se outras áreas do processamento cerebral não sofreriam de ilusões similares às detectadas pela ausência de estimulo visual, como no caso da Síndrome de Charles Bonnet... Ou seja, na ausência de estímulos para a conformação da análise crítica, passaríamos a inventá-la ou distorcê-la, assim como a lógica, etc; i.e., os ditos desvios de confirmação... Estou aqui propondo uma abordagem para os desvios de confirmação, muito característico de advogado inescrupulosos, que além de agarrar-se a aspectos secundários, para desviar a atenção do 'pólo passivo' ou do 'objeto', tratam de distorcê-los de acordo com a sua mera conveniência - tecnicamente... A patologia neural registra em seus anais problemas ainda mais profundos, como no caso dos psicopatas, que desempenham tal função desprovidos inteiramente do sentido da empatia... De forma que não importa o que o outro sinta, a questão está em obter os fins desejados, custe o que custar... Triste destino, não acha???
Possuímos uma tendência evolutiva para aderir facilmente à explicações simplistas e causais ordinárias, onde um efeito emerge diretamente de uma causa... Adoramos citar a 'lei do retorno', 'ação e reação', etc... É natural... Para viver em florestas, também pecamos pelo 'falso positivo'... A Aposta de Pascal... Pelo bem e pelo mal, melhor acreditar no pior... Pode ser verdade, 'positivo', um teste positivo, e não uma falsidade... O 'falso positivo' trabalhou no passado, no sentido de diminuir o risco... Como funcionava??? A inteligência pode ser resumida como a capacidade de reconhecer padrões no universo, e na vida... Sendo assim, podemos nos sair muito bem, ou não... Podemos por exemplo deixar de reconhecer um padrão, em função da falta de conhecimentos prévios... Ou podemos reconhecer como um padrão algo que não é, e este é o falso positivo...
E esquizofrênicos, paranoicos, historicamente, quando também conjugaram a extroversão e a liderança em suas personalidades doentias, contribuíram para acentuar e tornar as crendices ainda mais grotescas... Estas crendices encontraram adeptos... Afinal adoramos o 'alarde', a 'anunciação', o 'animismo', e para completar o quadro, o efeito Prometeu: "o homem como medida de todas as coisas"...
Este complexo foi percebido por aqueles que buscavam doentia e neurologicamente o poder... E a máquina começou a girar... O combustível das questões existenciais alimentava a fome desta engrenagem... A religião estava irmanada com o poder e o governo... O circo estava armado... Paralelamente, mentes mais lúcidas, trataram de lutar contra isso... Devemos a estas mentes, nossos ancestrais diretos, rsrsrsrsrs, estou falando de você e eu, rsrsrsrs, a invenção do método científico...
Homens notáveis, em uma linhagem notável, ou nem tanto, embora imperfeita - sem direito a 'divindades' da razão, nem utopias -, claro, preferiram ESPERAR PARA SABER...
INVENTARAM O MÉTODO CIENTÍFICO PARA TESTAR A NOSSA LUCIDEZ... ESTAVAM INTERESSADOS NA VERDADE - sem essa de sublimar o conceito utra vez... E ADOTARAM A ATITUDE CÉTICA... Buscaram olhar de perto, olhar os detalhes, baseado seus julgamentos em evidência, provas, fatos... Unindo causa e efeito através de hipóteses que foram corroboradas... Estes homens entenderam ainda que, majoritariamente estávamos cercados de fenômenos multivariáveis, complexos e caóticos...
80% das pessoas com epilepsia não tem convulsões... A maior parte não sabe que possui problemas nos lobos temporais... Após passarem por um surto, indivíduos portadores de epilepsia costumas relatar experiência místicas... Quando sensibilizamos os lobos temporais com capacetes magnéticos em experimentos neurocientíficos, produzimos em laboratório experiências místicas...
Aqueles 80% que desconhecem o problema, costumam diagnosticá-lo precisamente porque passam a apresentar recursivas experiências místicas... Acreditando serem enviados de deuses, ou canais de comunicação extra-terrestre, ou mesmo médiuns... Quando a família tem recursos e instrução, um neurologista é consultado e o problema encontrado... Mas como no caso de um conhecido médium de Uberaba, rrsrsrsrs, a coisa foi longe....
Alterações nos lobos parietais causam a sensação de sair do corpo, como atestado em milhares de experimentos, pela força aérea americana, usando centrífugas de testes para pilotos... Chegamos até a regular a 'altura' do voo... Problemas no córtex cingulado e na parte anterior dos lobos frontais, afetam o discernimento entre ilusão e realidade... E assim caminha a humanidade...
"Quase morte" é um conceito adequado mas ao mesmo tempo 'capcioso'... Adequado porque efetivamente 'ainda' não houve morte... Capcioso porque para aqueles que sugerem que a "experiência de quase morte" é um vislumbre da "pós vida" ou da "vida depois da morte"; então vale reeditar que 'ainda' não houve morte... Aliás, não precisamos nem sequer correr perigo de vida para experimentar os ditos sintomas da "quase morte"...
O aproach fantasioso e esotérico do fenômeno eclodiu em 1975, com a publicação sensacionalista de "A Vida Depois da Vida", de Raymond Moody - um 'pseudo-filósofo' esotérico, que também se dizia "parapsicólogo", e que logrou 'a posteriori' dois discutíveis títulos de "doutor", sendo um em Psicologia e outro em Medicina, mesmo sem nunca ter frequentado uma faculdade de Medicina... Moody reside, por 'mera' coincidência, no fantasioso mundo de Las Vegas...
No livro de Moody, que se tornou best seller entre os "esoteristas de plantão" e os ditos "espiritualistas" - e para aqueles que, como todos nós, temem a morte -, a "vida após a vida" se incia com: (1) a sensação de flutuar "e ver lá embaixo o próprio corpo", ou "experiência extra corpórea", ou ainda "experiência fora do corpo"; (2) a sensação de atravessar um túnel, um corredor, ou uma câmara em espiral, no fim dos quais frequentemente existe uma luz; (3) ou a sensação de visão ou presença de entes queridos - que já morreram - ou de figuras divinas...
Um 'verdadeiro médico', o Dr. James Whinnery, chegou às mesmas evidências mas por outro caminho... Whinnery foi contrato pela Força Aérea Norte Americana para dirigir os treinamentos para os pilotos de caça... Desde o advento dos jatos e caças, os pilotos apresentaram problemas de perda súbita da consciência quando submetidos à força 'g', fenômeno conhecido como G-LOC; além de relatos de experiências místicas - quando sobreviviam para contar... Na centrífuga do Naval Air Walfare Center, na Pensilvânia, as experiências de "quase morte" foram simuladas por Whinnery e finalmente esclarecidas...
Whinnery descobriu um fenômeno notável, a quase totalidade dos pilotos submetidos aos testes experimentaram o 'efeito túnel', acompanhado da 'visão de uma luz', e a sensação de 'flutuar acima do próprio corpo', além de experiências místicas - dependendo do grau de religiosidade -, e quase sempre experimentando uma indescritível sensação de euforia, paz e serenidade, no retorno à consciência... Parece familiar???
Whinnery foi capaz de induzir tais sensações mais de mil vezes, em 16 anos de pesquisa e estudos controlados em uma centrífuga, e registrou tais experimentos em filmes... Observou o momento exato em que os pilotos perdiam a consciência, não deixando dúvidas sobre as causas de tal fenômeno: a HIPOXIA...
Sob a pressão exercida pela força 'g' o 'sangue escoa da cabeça em direção ao centro do torso', explica Whinnery... Tudo isso em uma questão de segundos... Quando o experimento era procedido de maneira gradual, pela aceleração constante da centrífuga, o sujeito experimentava primeiro a sensação de túnel, depois a luz, a cegueira, e o desmaio; fenômeno este causado pela perda de oxigênio na retina, seguindo o trajeto em efeito cascata até o córtex visual, produzindo o 'efeito túnel', à medida que os neurônios vão se fechando de fora pra dentro...
Outro médico e neurocientista - este também de verdade -, o Dr. Comings, observa que: 'a sensação de paz e serenidade provavelmente é gerada pela liberação de vários neurotransmissores, como a endorfina, serotonina e dopaminas (..) as experiências de quase morte provam apenas que, quando o cérebro é privado de oxigênio por períodos prolongados, imediatamente antes do dano cerebral ocorrer, desencadeia uma série de eventos neurofisiológicos que caracterizam a experiência descrita como de "quase morte"'... Só isso... Experiências “sobrenaturais” de quase morte são na verdade truques da mente...
Em 2001, o jornal britânico Lancelot publicou o estudo do neurocientista holandês Pim Van Lommel, que analisou 344 casos de pacientes cardíacos que passaram por procedimentos de 'reanimação cardiopulmonar' - lembrando que morte precisa ser cerebral - , sendo que 12% deste grupo relatou experiências de "quase morte", e em alguns casos relatos de encontros com "parentes mortos"... O doutor Mark Crispin, médico da emergência em um hospital em Portland, Oregon, analisou o eletrocardiograma de pacientes com parada cardíaca, e dados como "mortos", concluindo que na verdade "o que eles mostraram foi uma diminuição, uma atenuação" na atividade cardíaca, e que "somente uma minoria experimentou uma parada cardíaca por mais de 10 segundos"... Na verdade, de acordo com a ciência médica - e forense - "ninguém teve morte clínica", ressalta Crispin, pontuando que "nenhum médico deve declarar morto um paciente num código 99. Ter uma parada cardíaca no intervalo de 2 a 10 minutos e ser prontamente reanimado não torna uma pessoa 'clinicamente morta'. Significa que o seu coração - neste intervalo [grifo meu] - não está batendo e que a pessoa pode não estar consciente"... Como o cérebro opera confiando nos estímulos externos relativos à nossa cognição, quando uma parte deste complexo gera um quadro ilusório, outra parte do cérebro - provavelmente o hemisfério esquerdo - pode interpretar tais ilusões como um acontecimento REAL, externo, e captado regularmente por nossa cognição...
Com diferentes nuances e por diferentes motivos, e até mesmo em função de neuropatologias, todo processo supranormal ou paranormal, pode ser resumido por este fenômeno... As nossas vias cognitivas estão embotadas, uma ou muitas partes do nosso cérebro codificam ilusões, enquanto outra parte ainda consciente trata de considerá-las parte inexorável da realidade...
Drogas alucinógenas como a atropina e outros alcaloides - provenientes da beladona, mandrágora, e na Datura stramonium (ou estramônio) - também desencadeiam estas experiências ditas "sobrenaturais", como a sensação de flutuar fora do corpo... Feiticeiras eurasianas e xamãs americanos também utilizavam estes 'recursos' para suas viagens 'extra-corpóreas'... Não verdade os seus pés ficavam bem plantados na terra, enquanto suas mentes entorpecidas vivenciavam um estado ilusório...
Anestésicos dissociativos, que promovem a depressão da função neuronal no sistemaneurocorticotalâmico (dissociação) e dos neurônios nociceptivos (analgesia), também induzem as ditas viagens "corpo-astral"... Os anestésicos dissociativos promovem um estado de catalepsia, onde estará presente o aumento do tônus muscular, manutenção dos reflexos protetores e permanência dos olhos abertos... As cetaminas são o maior grupo representante dessa categoria... A ingestão da metilenodioxianfetamina (MSA) pode ativar lembranças antigas e produzir a sensação ilusória de 'regressão'... A dimetiltriptamina (DMT) - também conhecida como "molécula do espírito" -, muito utilizada pelos xamãs sul-americanos com o nome de ayahusca, causa a sensação ilusória de dissociação entre "a mente e o corpo", tipificando relatos como "eu estou fora do meu corpo", "eu já não tenho um corpo", "estou flutuando", "estou voando", "estou subindo"...
Tais viagens, ditas "espirituais" ou de "consciência intensificada", quando comparadas com a operação normal ou racional do cérebro, não deixam dúvidas de que drogas psicodélicas como o DMT são capazes de produzir a sensação de "contato" como o sobrenatural ou com seres inumanos... Pessoas inteligentes e sofisticadas submetidas a testes, e mesmo sabendo que estas sensações são induzidas por drogas, não foram capazes de discernir entre fantasia e realidade... O gravador emocional do sistema límbico, localizado nos lobos temporais, pode ser engando por estas drogas ou em caso de neuropatologias, não conseguindo distinguir acontecimentos reais, gerados por experiência reais, produzidas externamente, de experiências irreais, ilusórias, geradas internamente...
Um grupo de psicólogos formados por membros da Universidade de Edimburgo e de Cambridge, publicaram um recentemente estudo no jornal Trends in Cognitive Sciences, onde o 'fenômeno' também foi explicado... O título do texto foi 'There is nothing paranormal about near-death experiences: how neuroscience can explain seeing bright lights, meeting the dead, or being convinced you are one of them', i.e., 'Não há nada de paranormal em experiências de quase morte: como a neurociência explica luzes brilhantes, encontro com mortos e o fato de você se convencer de que é um deles'...
Os pesquisadores analisaram os mesmos fenômenos - efeito túnel, luz, e encontros com parentes mortos - e concluíram que tais sintomas 'estão bem longe de um vislumbre da vida após a morte. Na verdade, são truques da mente e têm uma base biológica.'...
As experiências de "quase morte" são relatadas em todas as culturas, desde a Grécia Antiga... 'De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Gallup, cerca de 3% dos americanos já passou por algo similar'... Para os pesquisadores, isso pode ser provocado pela tentativa do cérebro de dar sentido às sensações e percepções incomuns que ocorrem durante um evento traumático...
Além da HIPOXIA, e do caos bioquímico causado pela liberação de neurotransmissores, outro responsável por tais delírios é a noradrenalina, liberado no mesencéfalo, e que, quando acionada, pode evocar emoções positivas, excitação, alucinações e outras características da experiência de "quase morte", como o encontro com entes queridos...
Mais uma vez fica claro que fenômenos "esotéricos" são na verdade bem 'terrenos'... No caso da experiência de "quase morte", a HIPOXIA e suas decorrências bioquímicas são 'o caminho, a verdade, e a luz', sem direito a subterfúgios... No caso do senhor Raymond Moody, o problema pode estar nos lobos temporais ou nos lobos parietais, como veremos em outro post... No caso de seus ávidos leitores, a explicação pode estar na cultura da 'crença na crença'... Parafraseando Shermer: 'primeiro acreditamos por motivo torpe - ou neurofisiológico [grifo meu] -, e depois procuramos razões para sustentar tal crença'... Temo que a grande maioria dos leitores de absurdos esotéricos também mereçam uma revisão de seus lobos temporais e parietais, córtex cingulado, e parte anterior dos lobos frontais...
Vida longa à Ressonância Magnética!!!
Então, 'sim', nós 'Inventamos a Ciência para testar a nossa lucidez'...
Aquilo em que quero acreditar pelas emoções, e aquilo em que devo acreditar pelas evidências, nem sempre coincidem. Sou cético, não porque não queira acreditar, mas porque quero saber. – Michael Shermer
A mente do homem está longe de ser da natureza clara e uniforme de um vidro, no qual os raios das coisas se refletem de acordo com a sua precisa incidência. Ao contrário, ela é como um espelho encantado, cheia de superstição e impostura, se não for liberada ou diminuída. – Francis Bacon, Novum Organum, 1620
A Inteligência é a medida de nossa capacidade em reconhecer padrões...
Vejam a força da ilusão – neste caso, de ótica: Galileu, o pai da Ciência Moderna – se é que houve uma Ciência Antiga – descreveu Saturno em seu rudimentar telescópio como ‘três estrelas juntas’... Faltavam-lhe melhores instrumentos de observação e uma teoria para especular sobre os anéis... O que via eram três borrões de luz, sendo um maior ao centro, e dois menores, um de cada lado, que pareciam-se com esferas... Hoje, podemos atestar sobre os anéis de Saturno, sem imprecisões óticas, de forma límpida e clara, e sabemos que seus anéis estão conformados por detritos que gravitam em torno do planeta, e sem direito à relativismos de ocasião... Chegamos ao fundo desta questão...
Nos anos 90, a série de televisão “Arquivo X” estava com tudo; confrontando o ceticismo de Scully com as crendices de Fox Mulder – o personagem principal... Mulder protagonizava o zeitgeist da época, em slogans como ‘quero acreditar’, ‘a verdade está lá fora’... Pegando carona no famoso clássico dos céticos do Pink Floyd: ‘is there anybody out there?’... Parece que não... Ainda não... Mas chegaremos lá... Isso porque, estatisticamente, é bem provável que exista vida no Universo, e bem aqui na Via Lactea... Estimamos que existam entre 700 e 900 planetas com chance de reunir as condições contingentes para a vida... Somente na nossa vizinhança... Embora ‘vizinhança’ aqui seja um conceito pra lá de exagerado... Os possíveis planetas em condições de abrigar a vida estão na realidade – irremediavelmente, apesar de toda a ficção ou mesmo do exercício sério e consequente da futurologia – bem longe de nós... Bem longe mesmo... Encontrar vida em nossa existência será bem mais complicado do que encontrar agulhas em um palheiro... Será mais parecido com encontrar grãos de açúcar no Saara... Mas estamos correndo atrás...
O cabo de guerra psicológico, desenrolado por Scully e Mulder na série, entre ceticismo e crendice, confrontando fantasia e realidade, fato e ficção, quase sempre pendia para em favor do mistério e do sobrenatural... “Arquivo X” era tão popular que foi parodiada pelos “Simpsons” no impagável “Os Arquivos Springfield”, onde, entre outras anedotas de primeira, Homer tem um contato imediato com alienígenas na floresta - mas não sem antes emborcar uma dúzia de garrafas de sua cerveja preferida... Ao menos nos “Simpsons”, o cabo de guerra pende para o ceticismo, e de forma muito bem humorada e inteligente... Tão inteligente que Leonard Nimoy, o inesquecível – e cético - “Dr. Spoke”de “Jornada nas Estrelas”, foi convidado para narrar a introdução... Nimoy já fizera isso em um seriado científico, portanto não ficcional “In Search Of”, nos anos 70... Nimoy acerta no tom e dispara: ‘A história de encontros com alienígenas que vocês vão ver agora são verdadeiras. E por verdadeiras quero dizer falsas. É tudo mentira. Mas são mentiras que divertem e, no fim, não é essa a genuína verdade? A resposta é NÃO’... Sim Nimoy, a superstição não diverte... A verdade insiste, resiste, persiste, e penetra... Mesmo que custe algum tempo... Mesmo eu custem algumas vidas, cabeças, corpos queimados...
O relativismo da verdade e a cultura pop, a velocidade da mídia de massa, faz com que os intervalos de atenção sejam medidos em minutos... Citando Shermer, tudo isso acaba por deflagra um ‘atordoante conjunto de alegações’ sobre o que seja a verdade... Tal fenômeno, a crença na crença, pode ser medido em unidades de ‘infonimento’ – ou seja, informação e entretenimento, inteligente conceito proposto por Shermer... Experimente parar diante de uma banca de jornais, e verá que as publicações ditas ‘esotéricas’ estarão estampadas em flagrante destaque, contra o pano de fundo do besteirol das revistas de fofoca... Espiritismo, Parapsicologia, Cristais, Homeopatia, Florais de Bach, Astrologia, Quiromancia, Tarô, Acupuntura, Quiropraxia, Psicologia Multifocal, Multidimensional, Gurus, Misticismo Indiano, etc e tal... Não haverão, sem exceção, revistas científicas em primeiro plano, jamais... Os tabloides se sobreporão, também, ao jornais mais sérios... Em uma livraria, faço o intento, proliferarão livros inconsequentes sobre auto-ajuda, espiritismo, misticismo, ‘freudianismo’, ‘paulo-coelhismo’, anjos, demônios, bruxas, vampiros, lobisomens, fantasmas e afins, sobre qualquer outro tema... Na televisão, navegamos entre os canais pentecostais e evangélicos, e o ôba-ôba do sobrenatural, “Supernatural”, “Lost”, “Além da Imaginação”, “Poltergeist”, “Espíritos”, “Zeitgeist”, “Quinta Dimensão”, “Isto é Incrível”, “O Sexto Sentido”, magia, mitos, monstros, super-heróis, fantasia, fantasia, fantasia, e fantasia... Trilha sonora melodramática, apagam-se as luzes, a fonte de luz provém de baixo, o rosto do apresentador é iluminado, luz e sombras, e a voz sai gutural e amedrontadora: “Não confie em ninguém. A verdade está lá fora. Quero crer. Quero ver.”... Não, a resposta reside em nossa tendência ao auto-engano, vívida em nossos cérebros... A ilusão proveniente de nossos mecanismos neurais para o reconhecimento dos padrões que regem a vida... Não induza a sua mente, auto-induzida, a crer... Queira saber... Se for capaz...
Inventamos a ciência para testar a nossa lucidez, assim como os nosso delírios...
Em 2009, uma pesquisa realizada pelo Instituto Harris, entrevistou 2.303 americanos sadios e adultos e pediu que indicassem ‘sim ou não’ para tudo aquilo em que acreditassem... Pois bem, 82% acreditam em deus, 76% em milagres, 75% na existência do ‘céu’ ou ‘paraíso’, 73% acreditam que o tal ‘Jesus’ é mesmo ‘o filho de deus’ – o deus judaico-cristão-islâmico -, 72% acreditam em anjos, 71% em alma, 70% na ressurreição do tal filho de deus, ‘Jesus’, 69% no demônio, mas 61% em inferno, também 61% na virgindade da ‘mãe’ de ‘Jesus’, filho de ‘deus’ – muito embora jamais engolíssemos uma estória dessas, seja para entender a gravidez de uma filha, ou de sua namorada ‘virgem’... A Teoria da Evolução tem apenas 45% de aceitação, isso em 2012, enquanto 42% acreditam em fantasmas... Apenas 40% acreditam piamente no ‘criacionismo’ - ou seja, o tal deus dos 82% criou tudo com um passe de mágica... Estranho se considerarmos que a única fonte da existência de deus – embora anedótica – é a bíblia, ou seja, o mesmo livro que afirma ser este deus, responsável por haver criado tudo o que existe – menos ele mesmo, que continua sendo um mistério para crentes e não crentes... 32% acreditam em OVNIs, 26% em astrologia, 23% em bruxas, e 20% em reencarnação... Shermer notou que mais pessoas acreditam em anjos e demônios do que na Evolução... Esta é a realidade americana... Presumo, e temo, que este atraso em relação a outros países ‘economicamente’ desenvolvidos, esteja relacionado com o famoso Julgamento do Macaco, em 1925, onde um professor do Tennessee foi condenado por ensinar a Evolução, sendo sentenciado a pagar um vultosa quantia, para a época, de USD 100,00... Mas o dano maior viria a seguir, quando a Evolução de Darwin foi banida dos livros escolares por quase 30 anos... Quando a Evolução retornou ao ensino americano na década de 60, foi obrigada a conviver por mais 20 anos ao lado do ‘criacionismo’, até que a inteligência prevaleceu... Mas não sem antes lutar e lutar contra o fanatismo evangélico, pentecostal e neo-pentecostal do Cinturão Bíblico americano...
Mesmo sem a mácula do Julgamento do Macaco, os britânicos – 1.066 deles –, compatriotas de Darwin, também inspiram muita preocupação, como mostra uma pesquisa do Reader´s Digest de 2006... 43% dos entrevistados declararam serem capazes de ler a mente de outras pessoas, mais de 50% disseram haver tido sonhos ou premonições sobre acontecimentos ou fatos que acabaram ‘realmente’ acontecendo... Mais de 2/3 alegaram possuir o poder de saber que alguma pessoa estava olhando para eles, fora de seu campo de visão – consultar ‘visão periférica’ -, 26% pressentiram que uma pessoa próxima estava doente, em perigo ou morrendo naquele instante – e passaram um ‘tchau’... Mas 62% disseram que podem ‘adivinhar’ que está ligando antes de atender o telefone – basta um identificador de chamadas, rsrsrsrsrs... 20% afirmou haver visto fantasmas, e 1/3 afirmaram que experiência ditas de ‘quase morte’, são uma prova irrefutável de que existe vida depois da morte...
A Fundação Nacional da Ciência (NSF) dos Estados Unidos, alarmada com estes dados, também empreendeu pesquisas e trouxe à tona mais informações... A crenças – por exemplo – em percepção extra-sensorial cai de 65% em egressos do ensino médio para 60% em egressos do ensino superior... A crença em terapias magnéticas cai de 71% para 55%, mas a crenças nas dita ‘medicina alternativa’ sobre de 89% para 92%... Parte desta situação dramática decorre do fato e do dado, de que 70% dos americanos nada sabem sobre o Método Científico – análise de probabilidades, métodos experimentais, teste de hipóteses... Portanto, parafraseando Shermer, a soluçaõ pode estar em ensinar primeiro ‘como’ a ciência funciona, além de apontar apenas ‘o que’ a ciência conhece... Ensinamos ‘o que’ pensar, ao invés de ‘como’ pensar...
Costumo elucidar, ou tentar elucidar, esta questão explicando que a ‘Ciência’ nada mais é do que ‘o ato de tornar-se ciente‘... Uma lacuna profunda é o ensino da Lógica e da Retórica, e suas subsequentes ‘falácias retóricas’... Se faz ‘mister’ e urgente ensinar a PENSABILIDADE... Antecipar o ensino da Filosofia – não enciclopédia, nem meramente histórica, mas o exercício do escrutínio da razão sobre a ‘pensabilidade’ – pode ajudar, e muito... Mas não é só isso... 53% dos americanos com alguma iniciação científica demonstram compreender o Método Científico, contra 38% no nível médio, e apenas 17% no nível básico... Portanto, ensinar ‘como’ a ciência funciona e não apenas ‘o que’ a ciência descobriu, ode ajudar muito...
Recorrentemente, percebo que certas pessoas – muitas, na realidade – se apresentam como sendo ‘ilibadamente’ científicas, mas na realidade são presas fáceis do próprio sensacionalismo científico, que fatalmente descambará para o sensacionalismo ‘pseudo-científico’... Notadamente desconhecem a argumentação lógica e retórica, desconhecem os rudimentos do Método Científico, e seus derivativos em cada área do conhecimento humano, mas estão interessados em pesquisas de ponta, ‘universos paralelos’, ‘teoria das cordas’, ‘buraco de minhoca’, etc... Este é um clássico em páginas ateístas ou ditas ‘científicas’...
Primeiros surgem as crenças, depois as explicações – Michael Shermer...
As pessoas creem porque estão aparelhadas para tal, em virtude da própria evolução... Evoluímos lentamente, em termos fisiológicos, e rapidamente em termos ‘culturais’... O nosso cérebro tem variado pouco ao longo de milhões de anos, enquanto a nossa habilidade em usá-lo caminha a passos largos... Estima-se que estejamos avançando 3 pontos de QI a cada década... Assumimos uma progressão avassaladora de desenvolvimento, e o aprendizado humano parece ir ao encontro de uma curva exponencial... E quem sabe do que seremos capazes... Quem viver verá... O grande divisor de águas no entanto, esteve na capacidade de acumular conhecimento ‘extra-corporal’, fora de nosso cérebro – mortal, temporal -, e isso foi conseguido com a evolução da escrita – em substituição ao registro iconográfico... Depois veio a revolução em termos de materiais, de pedras, placas de argila, papiros, a disquetes, CDs, DVDs, Blu-Ray, e ‘ao infinito e além’ – BuzzLightyear... o processo de reconhecer padrões, nos levou da selva aos arranha-céus, em milhares de gerações, ao longo de pouco mais de 200.000 anos... A escrita e os registros do conhecimento são bem mais recentes... A ciência, o divisor de águas entre o delírio e a lucidez, não dura mais do que alguns séculos... De forma que, em nossa saga de avidez por padrões, desenvolvemos as superstições... Registramos padrões equivocados na tentativas de descortinar os verdadeiros padrões que regem a vida...
Nesta caminho, o reconhecimento de padrões, ou ‘padronicidade’ – termos cunhado por Shermer - dois erros clássicos podem assomar... Primeiro, o Falso Positivo... ‘Acreditar’ que estamos desvendando um padrão, quando na realidade estamos criando uma nova superstição... Ou seja, ao acreditar que um fenômeno ou consequência (A) decorre diretamente ou é causado um evento (B)... Nossos antepassados viviam de relações causais simples, ordinárias, de onde uma consequência (A) provém de uma única causa (B)... Mas a vida não se comporta sempre assim, e na realidade a maioria dos fenômenos envolve múltiplas variáveis, sistemas complexos, etc.. Mas se estamos na mata, escutamos um barulho, podemos relacionar diretamente a um predador, e pernas pra que te quero... Ou pensar que foi apenas o vento... Neste tipo de situação, e dispondo de uma fração de segundos para decidir, o falso positivo, ou seja, apostar no tigre dente-de-sabres, pode ter sido uma vantagem evolutiva...
Mas se considerarmos os mochicas do Perú, que acreditavam que um de seus deuses, Ai Apaec, fazia chover após algumas cabeças terem sido decapitadas, e o sangue vertido na terra para saciá-lo, podemos encontrar certas desvantagens no falso positivo... Isso porque, em parte, a extinção dos mochicas se deve à elevada mortandade de seus homens adultos e guerreiros, quando diante de uma severa estiagem ocasionada pelo fenômeno do ‘El Niño’, o número de decapitados atingiu o seu apogeu... Mas a ‘crença’ em qualquer coisa, sempre que o custo desta crença supera o custo do Falso Negativo, poderia ser vantajosa...
O Falso Negativo é estar diante de um padrão, e não reconhecê-lo... Por exemplo, não perceber o tigre, e ‘acreditar’ tratar-se meramente do vento... Somente muito recentemente, aprendemos a lidar com fenômenos complexos, multi-variáveis, probabilísticos, caóticos... Sempre que tomo um táxi faço a experiência, e o gentil taxista após uma breve apresentação, e definido o itinerário, dispara: ‘o clima está louco’... Ao que trato de responder, com um sorriso nos lábios, ‘não, o clima É louco’... A troposfera é um sistema caótico... O gui de minha visita a ‘la Huaca de la Luna’, bem que tentou alegar que os Mochicas conheciam a corrente de Humboldt, o fenômeno do El Niño, mas objetei demonstrando que pelo número de cabeças cortadas e por seu desafortunado destino, fica patente que nossos amigos peruanos não poderiam sequer conhecer o ciclo das chuvas – dominado amplamente por qualquer criança matriculada na quarta série...
Pois viajamos como exploradores, vítimas e inquilinos, de nossos próprios cérebros... O Falso Positivo pode ter representado vantagem em nosso passado evolutivo, mas pagamos um preço muito elevado por nossos superstições, umas mais do que outras... E dispomos da Ciência, de forma que podemos racionalizar nossas vidas, podemos evitar este dispêndio de energia... Mas a questão pode ser bem mas dramática, porque podemos evitar a mortalidade infantil, viver mais, sermos mais justos, evitarmos o assassinato de pessoas, por causas meramente supersticiosas....
Estamos fadados às superstições, uns cérebros mais do que outros, assim como ao animismo e o antropomorfismo... Por isso vemos animais em constelações, e deuses que pensam e agem como homens – caprichosos, cruéis e rabugentos...
De forma que existe uma tendência a acreditar primeiro – Falso Positivo – para depois nos esmeramos nas explicações... E tais crenças, e suas respectivas explicações, normalmente estarão calcadas em causalidades de primeira ordem, onde uma causa é suficiente e necessária para provocar um efeito, dependente desta causa... ‘Aquele casal se separou... Faltava deus em suas vidas...’... Mas existem melhores explicações para isso, complexas, multi-variáveis... Onde um cérebro pouco iniciado no conhecimento científico vê ‘mistério’ existe apenas complexidade... Para uns, solucionar um sistema com duas equações e duas variáveis, poderá ser uma tarefa hercúlea, enquanto para outros será um passatempo...
Quem nada sabe, em tudo crê – Jan Neruda
Um vez deflagrada a crença, começa um ciclo de reforço e confirmação de tal crença... A personalidade e suas dimensões, desempenhará um papel muito forte em estabelecer a força deste ciclo... Existem pessoas mais ou menos suscetíveis à novas experiências, a obsessões, medos, etc...
Outro ângulo para enfrentar a questão, nos mostra que para ‘criar’ superstições basta um protagonista, uma anedota, e um interessado ‘crente’... O simples relato de casos, ‘fulano (A) curou sicrano (B)’, em geral, só precisa de certa notoriedade e alguns testemunhos casuais, para viajar nas ondas do esoterismo’... Entender, saber, exige formação, estudo abnegado, e muita vontade de acertar... ‘Ético, logo cético’... Não é por acaso que convivemos com mais crentes do que pensadores...
A entrega em uma máquina de caça niqueis, em busca de recompensas, é regida randomicamente... Mas 'acreditamos em superstições de sorte', usando a mesma camisa, repetindo uma determinada sequência de ações, ficando em uma perna só na hora de apertar o botão, e procurando repetir um padrão, que afete o resultado em nosso favor... E esperando por uma ‘causa correlata’...
Procurar padrões é uma característica humana evolutiva... Foi desta forma que sobrevivemos até aqui... Somos animais inteligentes - naturalmente - na busca por alimento ou tentando escapar de predadores, até chegar à nossa selva de pedra... A inteligência, pode ser descrita como o grau de sofisticação na capacidade de reconhecimento de padrões... O grande Charles Darwin, um dos homens mais importantes para a saga humana, disse que 'a nossa inteligência difere dos demais animais apenas em grau, e não em tipo'...
No entanto, existem dois 'padrões' de erros que podem ser cometidos na tentativa de encontrar 'padrões para a vida':
1. Falhar em não reconhecer um padrão existente;
2. Reconhecer como um padrão, um padrão que na verdade não existe;
O segundo caso, é descrito popularmente - pela ciência - como superstição... Mas não é aceito como tal pelos seus devotos praticantes... É negado, ou simplesmente não é percebido por inúmeros fatores... Mas trata-se invariavelmente de erro ou ilusão...
Todos os animais com um sistema neurológico - minimamente - desenvolvido, podem desenvolver 'superstição'... Há sessenta anos, Skinner estudou pombos, submetendo as aves ao reconhecimento de padrões, e obtendo sucesso em sus observações... Primeiramente as aves eram estimuladas a repetir padrões e uma máquina tratava então de recompensá-la, alimentando-as... Skinner programou então a máquina randomicamente, e os pombos ao invés de sentar e esperar, posto que os padrões já não funcionavam, começaram a desenvolver 'superstições'; como 'olhar para trás duas vezes' antes de 'bicar' um botão, 'ficar em uma perna só' na hora de tentar a sorte, et coetera...
O problema para os pombos de Skinner e para nós, é que estaremos procurando padrões onde não existem padrões... E muitos fenômenos naturais são aleatórios, e não seguem padrões definidos... Precisamos então conhecer o ‘padrão estatístico’, as probabilidades... E o exercício e conhecimento probabilístico é muito recente, e menos difundido ainda... Temos um hemisfério do cérebro regido pela emoção e pela intuição, e outro regido pela lógica e pelo reconhecimento de padrões... E temos uma genética, acentuando uma ou outra característica predominante, e temos o ‘corpo caloso’, unindo os dois hemisférios, e um complexo – e não misterioso – sistema de tomada de decisões... É assim que funcionamos... Se não alimentarmos o lado lógico, aprendendo padrões, e aprendendo também sobre as ‘probabilidades’, viveremos à mercê da emoção, dos enganos, da eloquência dos pregadores, dos equívocos...
"A Teologia nasce da falta de fé" - Karl Popper
Brother, estudar neurociência para debater é preciso, crer não é... Invocar a Filosofia ou mesmo a Sociologia para defender alguma importância em CRER, é invocar precisamente os erros destas respetivas disciplinas... Sim, inventamos a ciência para testar a nossa lucides... E parafraseando, testando a falseabilidade de um sistema... Sempre que um crença ousar ser corroborada, teremos a possibilidade de refutá-la... Enquanto estiverem escondidas por trás da inversão do ônus da prova, e a na insana subjetividade, e teima em encarar os fatos, nada poderemos fazer para ajudar... Crer, em coisa absurdas, em maior ou menor grau, atenta contra a lucidez...
Existe uma diferença brutal entre Hipótese, Teoria, Lei e Constructo...
A Hipótese se baseia em evidências, e significa que uma proposição merece ser investigada... A Teoria, ao contrário do que se pensa, é uma Hipótese repleta de provas mas ainda inconclusa... O que difere - e muito - de uma mera especulação... A Lei é uma Teoria repleta de provas e validada por uma sequência de fatos que podem ser seguidamente repetidos... É quando o quebra-cabeças finalmente está terminado, e culminando em uma conclusão... Entretanto, tudo terá, na ciência, validade temporal, com margem de erro pré-calculada, e universo de aplicação demarcado... E isso é muito bom!!!
Já o Constructo é um mero exercício mental, sem a necessidade de provas, nem hipóteses, nem teorias; mas que reivindica, por autoridade, o reconhecimento como Lei... Platão e Aristóteles foram mestres na arte do Constructo, e poderíamos montar uma extensa enciclopédia com os seus erros... Apenas exercício mental, mas causando muita confusão... Como Hitchens bem disse:
"Tudo o que pode ser aceito sem provas, pode - e deve - ser descartado sem provas..."
É uma pena que os verdadeiros filósofos e pensadores não tenham sido agraciados pela adoração de Santo Agostinho, Tomás de Aquino - Doutor Angélico - e de toda a cristandade... Não fosse por está inexplicável preferência, teríamos descoberto com 2.000 anos de antecedência que o Sol estava no centro do Sistema Solar - como Aristarco havia observado, teorizado e previsto... E poderíamos ter avançado em todas as frentes do conhecimento natural e do pensamento científico com Leucipo, Epicuro, Demócrito... O cético Hipócrates foi mais feliz, e teve o seu legado respeitado a partir do Humanismo, e finalmente consagrado, dando origem à Medicina Moderna... Mas durante o período em que as crenças dominaram o mundo, a Idade da Trevas, Hipócrates foi igualmente negligenciado, afinal a bíblia 'esclarecia' que todas as doenças eram "possessão demoníaca"; tal e qual os xamãs do Neolítico...
Não podemos explicar um fenômeno sobrenatural, é bem verdade, afinal nada existe a ser explicado... Nem refutá-lo, posto que não se pode provar a inexistência do que não existente... Mas podemos investigar o 'porquê' do apelo ao argumento sobrenatural... Quais os interesses envolvidos, quais as razões, ou quais as origens deste tipo de devaneio - ou delírio -, seja ele individual ou coletivo... No Neolítico representou status e poder, e hoje?
Ético, logo Cético...
Prezado PH, você sugere que defendo a 'causa do cientificismo'... O 'cientificismo', seja lá o que for, soa crente... Cuidado com os 'ismos'... Estudo para colaborar, investigo a lucidez, investigo os desvios de confirmação, trato de separar ilusão de realidade... Tenho uma vida finita, não tenho tempo a perder, dedico profundamente a minha vida ao estudo abnegado, estou ansioso por novos e preciosos argumentos... Fui surfista, sou músico de Jazz, Blues e Rock, poeta, escrito, tenho uma linda família, e se surpreenderia em me conhecer: 'não me encaixo no seu padrão cientificista, nem ateísta'... Talvez, e somente como sugestão, você tenha topado com um homem livre, sem medos e preparado... Estou neste momentos estudando a adesão a padrões, liberal, conservador, direita, esquerda, etc... Sem dúvida, tenho a ciência em alta contra, embora seja algo intuitivo pra mim... Sinto-me afortunado por isso... Não sou um chato, sou extremamente sensível, antes que aplique os rótulos... E este papo é um bom brain storm....
"Um único nucleotídeo caprichoso em um gene chamado FOXP2 causa um distúrbio hereditário na fala e na linguagem" (Pinker, 2002)... Tal distúrbio certamente representará 'distúrbios' sobre a vida dos indivíduos portadores desta característica, afetando o seu aprendizado, relacionamentos interpessoais, e até mesmo a auto-estima, situação financeira, etc...
"Um gene no mesmo cromossomo, LIM-kinase1, produz uma proteína encontrada em neurônios em crescimento que ajuda a instalar a faculdade da cognição espacial: em caso de deleção desse gene, a pessoa tem inteligência normal mas não é capaz de agrupar objetos, arranjar blocos ou copiar formas" (Pinker, 2002)... Evidentemente tais características terão profundo impacto no aprendizado, e com consequências imprevistas sobre o nosso comportamento...
As proteínas, hormônios, oxitocina e vasopressina, reguladas por genes, afetam de sobremaneira a nossa tendência a estabelecer laços afetivos... Você pode estar reclamando com o seu marido sobre o descaso dele com a relação, e pode estar na realidade conversando também como um ou mais genes, responsáveis pelo comportamento em relação ao afeto, ou aos laços e relações humanas...
"Uma versão do gene IGF2R está associada a elevada inteligência geral, sendo responsável por nada menos do que quatro pontos no QI e 2% da variação em inteligência entre indivíduos normais" (Pinker, 2002)... As nossa chance de aprendizado e desenvolvimento serão afetadas por tais genes... Imaginem um processo cumulativo de aprendizado, onde conhecimento gera conhecimento... Finalmente, dois, três, quatro pontos representarão uma enorme diferença em 10, 20, 30, 40 anos...
"Quem tem uma versão mais longa do que a média do gene receptor de dopamina D4DR tem maior probabilidade de ansiar por emoções fortes, de ser o tipo de pessoa que salta de aviões, escala cachoeiras congeladas ou faz sexo com estranhos" (Pinker, 2002)... Não se trata de uma sentença determinista, não!!! Trata-se de um impulsão, uma forte impulsão, que poderá ser estimulada ou bloqueada... Trata-se de uma impulsão que pode chocar-se com outros genes e outros filtros, ou características... Por exemplo, sempre fui dedicado a esportes radicais, mas sempre evitando a altura, a partir de algum trauma, ou quem sabe, de outro gene... O fato é que a minha mãe e o meu avô apresentavam a mesmo repulsa pela altura... Pouco a pouco, fui superando isso, e já não tenho problemas com alturas... Surfei em mares bravios, desci de skate em rampas improvisadas, como cobaia, esquiei na água, na neve, patinei no gelo, joguei hockey, lutei artes marciais, sempre me arrisquei muito... E quanto ao sexo, rsrsrsrsrs, bem, não tem nada melhor, e sempre fui um pouco exagerado quanto à sua prática, rsrsrsrs, mas outras características, talvez uma certa overdose de oxitocina e vasopressina, tenham extrapolado o afeto em mim, de forma que apesar da forte impulsão sexual, sempre quis saber muito mais do que os nomes de minhas amantes, na verdade, sempre fui muito dedicado a ela...
"Quem tem uma versão mais curta de um trecho de DNA que inibe o gene transportador de serotonina no cromossomo 17 tem maior probabilidade de ser neurótico ou ansioso, o tipo de pessoa que se sente paralisada em reuniões sociais por medo de ofender alguém ou agir como uma tola" (Pinker, 2002)... Este impulsão, evidentemente sendo moderada, estimulada, ou filtrada por outras características comportamentais, terminará por influir decisivamente em nosso comportamento e em nossas relações...
Mas a maioria de nossas características psicológicas e comportamentais decorrem da interação entre vários genes, com efeitos diminutos isoladamente, e cujos efeitos modulados pela influência de outros genes... Essas sutilezas, e a respectiva complexidade dificulta ainda mais na análise cobre o comportamento... Genes individuais, como os citados, servem ao propósito de contribuir para o entendimento da inter-relação entre genética e experiência...
O estudo de gêmeos monozigótico e dizigóticos, criados juntos, e submetidos ao mesmo meio ou ambiente, ou criados separadamente, por diferentes famílias, culturas, em diferentes países ou continentes, com experiências completamente isoladas, tem aportado muito ao estudo da Genética e do Comportamento Humano... Uma série de distúrbios cognitivos e emocionais, como a esquizofrenia, autismo, dislexia, atraso e deficiência na linguagem, dificuldade ou incapacidade no aprendizado, canhotismo, depressões graves, distúrbios bipolares graves, distúrbios obsessivo-compulsivos, e até mesmo a orientação sexual, são bem mais concordantes entre gêmeos idênticos do que em gêmeos fraternos, mesmo quando os primeiros são criados separadamente e sendo comprados aos segundos tendo sido criados juntos...
Mas os genes são só explicam condições excepcionais ou extremas, mas também estão por trás da diversidade considerada 'normal', impulsionando as diferenças em nosso comportamento, capacidades e temperamentos... Gêmeos idênticos, criados juntos ou separados são excepcionalmente parecidos, mas não são iguais... Estas diferenças estão relacionadas do desenvolvimento e o aprendizado... São semelhantes em inteligência verbal, lógica, matemática, satisfação com a vida, características relacionadas à personalidade como ser introvertido, extrovertido, aquiescente, serviu, neurótico, consciencioso, intenso, receptivo à experiência, reativo, polêmicos... Assumem posições políticas similares, assim como posições em relação a questões como a aplicação da pena de morte, religião, arte moderna, homofobia, racismo et cetera... São realmente muito parecidos, mas não somente preenchendo enquetes e perguntas, mas também em ação - ou comportamento 'consequencial', como no caso do comportamento frente aos esportes, jogos, relações amorosas, divórcios, cometendo crimes ou infrações, no gosto pela televisão, e o tipo de canais que assiste, na frequência com que se envolvem em acidente... Riem sem parar, juntos, são prolixos, molham o pão com manteiga no café - mesmo que nunca tenham convivido, ou até nem se conheçam... Os penhascos e vales de seus eletroencefalogramas são tão parecidos como diferentes eletros de uma mesma pessoa... As pregas nos cérebros de gêmeos idênticos, assim como a distribuição de matéria cinzenta através das área corticais também são similares...
Em 2001 publicamos pela primeira vez a sequência completa do Genoma Humano... Poderíamos substituir - por exemplo - a celebração de São Cosme e São Damião por este feito... 'Sexta é feriado, dia do Genoma Humano'... Ou 'Dia do DNA'... Um dia de descanso, onde celebramos mais uma indelével proeza da saga humana - demasiado humana... Mas estudamos também os genes dos Chimpanzés, comuns e Bonobos, que diferem apenas em 1% de seus genes... Isso é suficiente para que os Chimpanzés, majoritariamente, estejam entre os animais mais agressivos da natureza, enquanto os Bonobos estão entre os mais pacíficos... Os Chimpanzés comuns dominam a fêmea, e Bonobos são dominados por elas... Chimpanzés comuns fazem sexo pela procriação, enquanto os Bonobos fazem sexo por prazer, como nós... Mas a objeção lógica seria: 'tão similares geneticamente, mas tão diferentes no comportamento? Ôpaaaaa... Só que pequenas diferenças nos genes, na posição destes genes, no sequenciamento, podem afetar de sobremaneira o tamanho e a forma de diferentes partes do cérebro, suas conexões, assim como todo o complexo bioquímico e hormonal dos neurotransmissores...
Um estudo mostrou substanciais diferenças no cérebro de Albert Einstein, por exemplo em relação aos lobos parietais inferiores, responsáveis pela inteligência espacial, intuitiva, e matemática... Problemas nos lobos temporais induzem as experiências místicas - e epiléticas -, comprometendo a sensação de individualidade, e induzindo a uma estado de 'expansão', que para religiosos são correlacionados com um 'encontro com o divino', enquanto os céticos sentem-se em contato com a natureza... A obsessão ou fervor religioso tem forte impulsão genética, enquanto a religião escolhida dependerá do meio... Em um meio cético, tal tendência obsessiva poderá ser recanalizada, para a ciência por exemplo... A esquizofrenia de John Nash, doutrinada pela ciência conduziu à 'Uma Mente Brilhante' e ao 'Nobel de Ciências Econômicas'... Wellington Menezes, também esquizofrênico, doutrinado pela bíblia, matou crianças em Realengo, antes de tirar a própria vida... A tendência ao suicídio também é fortemente impulsionada pela genética...
"Os homens homossexuais tendem a possuir um núcleo intersticial 3 do hipotálamo anterior menor, e sabemos que este núcleo tem um papel na diferença entre os sexos" (Pinker, 2002)... Mas está não é a única razão pelas quais um homem sentirá afeto por outro homem, e mais, mesmo que a decorrência deste 'impulso' seja genética, toda a experiência humana servirá para bloquear ou estimular tal tendência... Existem modismos correntes, onde outras características comportamentais, igualmente genéticas, poderão encontrar um campo de ação para certas tendências comportamentais... Tendências à adesão a causas polemicas, ou à promiscuidade, poderão encontrar estímulo em um comportamento ainda discriminado, que está na moda... Não podemos pensar em Genética, quando reprisamos a situação ateniense, onde o homossexualismo era considerado socialmente aceitável, e mais do que isso, foi estimulado, e considerado 'superior'... Havia uma apologia ao 'amor entre homens', considerado 'mais puro'... Este fenômeno desapareceu tão rapidamente quanto os seus conceitos...
Quero deixar claro que respeito toda forma de amor e afeto, e os direitos individuais, o que inclui o direito e o respeito à homoafetividade... Aliás, trata-se de uma condição íntima, de fora pessoal, tão natural quanto o relacionamento heteroafetivo, isso posto, na perspectiva de que o sexo e as nossas relações afetivas, há muito atendem sobretudo ao nosso prazer e à nossa alegria de viver, sendo a procriação - em um mundo superpovoado - um decorrência secundária...
Mas existem outras investigações interessantes... Existem vários genes que se expressam somente em meninos - machos -, e podem produzir reação imunológica na mãe... "Uma nova e intrigante possibilidade é um gene chamado PCDH22, que está no cromossomo Y, e é portanto específico em homens, e provavelmente envolvido na construção do cérebro. (...) Uma reação imunológica materna pode ser suficiente para enviar a ativação da parte do cérebro que mais tarde estimularia um fascínio pelo corpo feminino. (Ridley, 2008)... Este seria um exemplo da importância da Ontogenia, ou vida gestacional, e da interação entre a genética materna e do feto em desenvolvimento, afetando a preferência heterossexual, ou não permitindo que seja bem demarcada... Este poderá ser um caminho para imprintngs da experiência sobre o cimento fresco da genética...
Experimentos com aves em cativeiro, tem mostrado que em muitas espécies, o filhote macho criado por uma mãe adotiva de uma espécie diferente, sofre imprinting sexual por aquela outra espécie, e ficando claro também, através destes experimentos, que existe uma período crítico durante o qual o filhote adquire sua preferência sexual... Está cada vez mais claro, e não estamos falando dos modismos, que evidentemente existem, que as preferências sexuais humanas não somente são difíceis de mudar, mas como também são fixadas no início da vida... A adolescência - meramente - revela o negativo da película, ou expõe e exacerba outras características, que também podem redundar no comportamento 'desafiador', 'polêmico', 'radical', que porventura pode encontrar o seu caminho também através da homoafetividade...
"E os assassinos e outras pessoas anti-sociais violentas tendem a possuir um córtex pré-frontal menor e menos ativo, sendo essa a parte do cérebro que governa tomada de decisões e inibe os impulsos" (Pinker, 2002)... Isso evidentemente não significa que estas características 'formam' um assassino, mas a dificuldade de inibir impulsos, aliada à outras características genéticas relacionadas à violência, neuroses, entre outros comportamentos, podem produzir com mais frequência um assassino... E o meio desempenha o seu papel, induzindo tal tendência à morte de hereges, ou ao Octógono do MMA... A fúria pode ter sido importante em confrontos militares homem-a-homem, ou no Coliseu Romano... Mas pode ser uma característica comportamental em baixa em nossos dias...
Mas existe outra peça fundamental neste tabuleiro... Um criança vem ao mundo herdando a genética que conduziu o seu desenvolvimento neurofisiológico, e abrirá espaço para seu aprendizado... Mas apenas 5% do nosso DNA difere do Gorila... É quando algo mais entra em cena: o conhecimento cumulativo e organizado, extra-corpóreo, que pela capacidade de aprendizado potencializada por este 5% de diferenças, será assimilado rapidamente... Isso nos permitirá produzir o que chamamos de cultura, definir contratos sociais, associações comerciais, através dos mares e continentes, por gerações... O papel da fala e da escrita será essencial neste processo...
Convivemos com mais ou menos 6.000 línguas e dialetos, e todas estas codificações coincidem na identificação de um sujeito, uma ação, objetos ou coisas, e adjetivos... Em inglês dizemos 'red car', em português será 'carro vermelho', mas apesar de outro esquema combinatório, as 'partes' - intuitivamente falando - são as mesmas... Isso decorre de uma prévia 'programação', genética, de nossos cérebros para a linguagem... E consequentemente para a escrita, ou seja, para o registro do conhecimento... Este passo foi fantástico na evolução cultural humana... A vida de um humano primitivo guarda mais semelhanças com outros primatas do que o homem dito civilizado...
As asas do João-de-Barro tem origem genética, isso parece claro... Mas a construção de abrigo 'também'... E isso pode gerar acaloradas discussões... Não existem instruções ou classes para a engenharia do ninho, ou da casinho do pássaro... "Em meu jardim, e em toda a Grã-Bretanha, os tordos canoros demarcam seus ninhos com lodo, os melros com grama, o papo-roxo com pêlos e os tentilhões com penas, geração após geração, porque a construção do ninho é uma expressão dos genes. Richard Dawkins cunhou a expressão 'o fenótipo estendido', para esta ideia. (...) As caderinas e sua família estão atualmente entre as mais glamourosas moléculas da biologia. Sua reputação se deve ao papel que provavelmente desempenham ao permitirem que os neurônios se encontrem durante a formação da rede do cérebro" (Ridley, 2008)...
O homem é resultante inequívoca da interação entre a genética, da ontogenia, dos imprintings dos primeiros dias, semanas, meses e anos - escrevendo sobre o cimento fresco do desenvolvimento - e a experiência, o aprendizado, a força do zeitgeist, da cultura, e da cadeia de eventos de sua vida, e do conhecimento - ou desconhecimento, rsrsrs - cumulativo... Nem Galton nem Watson, muito menos Freud... Nem Platão nem Rousseau, muito menos Marx... Nem deuses, nem demônios... A teoria da mente está emergindo da Neurociência Cognitiva, da Genética Comportamental, e da Psicologia Cognitiva... Estas são as fronteiras, aí estará o homem novo, um velho conhecido, mas desta vez REAL - nem tábula rasa, nem bom selvagem, nem fantasma na máquina... Real, Humano, Demasiado Humano...
Onde muitos veem mistério, poucos mais valorosos humanos veem 'apenas' complexidade e desafio... Eu vejo a vida como uma miríade de possibilidades, graças aos meus genes, graças ao meu aprendizado, graças ao encontro com homens notáveis... Então, venho estudando a adesão esquerda, direita, liberal, conservador, crente, descrente, e suas variantes e falácias correlatas... E estudando a segmentação dos padrões da personalidade... Estou jogando com isso, analisando, e deverá figurar em meu livro...
Finalmente boa noite, vou para perto da lareira com minha esposa, e o meu maior amigo, um cachorrinho sentado bem aqui ao lado, sobre a mesa... Minhas filhas viajando, golf interrompido por uma bursite e pela chuva... Então é curtir a chuva... Agradeço pelo elevado nível da conversa, peço reiteradas desculpas por meus 'achaques', srrsrsrs, minha irritação, e agradeço por ter mantido o decoro até o fim... Respeito sua conduta... Leia Pinker (Tábula Rasa), Riddley (O que faz humanos), tudo o que puder de Oliver Sacks, Os Dragões do Éden de Sagan, e o meu amigo Michael Shermer (Cérebro e Crença)...
Acreditar 'crer' seja importante, e que mereça uma disciplina à parte da Ciência, é um resíduo de nossa 'crença na crença', realimentado em nossos últimos 50.000 anos... Mas estamos entendendo e quebrando também este paradigma... Mudamos o mundo quando decidimos esperar para saber, e mudaremos ainda mais...
Finalmente boa noite, vou para perto da lareira com minha esposa, e o meu maior amigo, um cachorrinho sentado bem aqui ao lado, sobre a mesa... Minhas filhas viajando, golf interrompido por uma bursite e pela chuva... Então é curtir a chuva... Agradeço pelo elevado nível da conversa, peço reiteradas desculpas por meus 'achaques', srrsrsrs, minha irritação, e agradeço por ter mantido o decoro até o fim... Respeito sua conduta... Leia Pinker (Tábula Rasa), Riddley (O que faz humanos), tudo o que puder de Oliver Sacks, Os Dragões do Éden de Sagan, e o meu amigo Michael Shermer (Cérebro e Crença)...
Acreditar 'crer' seja importante, e que mereça uma disciplina à parte da Ciência, é um resíduo de nossa 'crença na crença', realimentado em nossos últimos 50.000 anos... Mas estamos entendendo e quebrando também este paradigma... Mudamos o mundo quando decidimos esperar para saber, e mudaremos ainda mais...
Obrigado.... Sou o campeão do debate longo e enfadonho...
Eu é que agradeço. O papo foi ótimo. Acalorado sem desrespeitos, um verdadeiro embate, como todo debate deveria ser na minha opinião. Um abraço pra ti. E Leia Homero, Shakespeare, Fernando Pessoa...
Boa Literatura... Dispenso Homero... Fico com Shakespeare, Pessoa, além de Neruda, Drummond, Quintana, Garcia Marques, Coralina, etc... Brother, aí enveredamos por outra questão, a falácia da mútua exclusividade entre 'sensibilidade e pensamento'... Não procede... Pessoa e Neruda, foram incríveis pensadores, assim como Darwin e Einstein foram tremendos 'poetas'... Não sei se teve o prazer de lê-los no original...
Brother, releia tudo o que for dito, se tiver saco, rsrsrsrsrs... Não existe a dualidade corpo e mente (alma)... Termos vivido acreditando nisso, é análogo à acreditarmos que a Terra era o centro do universo, e que somos a medida de todas as coisas... Crenças, meras crenças... Precisamos testar a nossa lucidez... Este é o ponto... Crer pra quê, se podemos esperar e saber? Para não gerar ainda mais confusão, para não efetuar juízos equivocados... É 'sim', somente uma questão de avançar um pouco mais sobre o conhecimento... Avalie quanto de seu dia é dependente de crenças??? Vivemos dentro do estado da análise crítica... A crença é um resquício evolutivo, neurofisiologicamente e culturalmente falando...
A Sociologia pode estar fundada sobre equívocos - severos equívocos -, transformados em dogmas donde se pode, metaforicamente, falar em uma ‘Teologia do Social’... Lamento dizê-lo... A sociologia vê no comportamento humano, o mesmo complexo de equívocos que levou crentes a afirmarem que as doenças – todas - eram causadas por possessão demoníaca... Desconhecimento, moralismo, crenças infundadas... Não, doenças não são, e nunca foram, causadas por possessão demoníaca; e aliás, não existem demônios, a não ser aqueles que fantasiamos... Pois os ditos sociólogos de ontem e de hoje, hão querido demonstrar que todos os males advém de um único Leviatã: o Capitalismo... O Capitalismo adquiriu na Teologia do Social contornos demoníacos, intencionais, malignos...
Longe do idealismo positivista de Augusto Comte, que cunhou em 1838 o termo Sociologie, os sociólogos trataram de entrincheirar-se de forma politeísta, mas severamente dogmática, em torno de Karl Marx (1818-1883) e o seu panteão - Lenin, Fidel, Guevara, Platão, Aristóteles, Rousseau, Engels, Paulo Freire, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro et cetera -; sujeitos a uma espécie de ‘Santíssima Trindade’ do comportamento social: 1. A Doutrina da Tábula Rasa; 2. A Doutrina do Bom Selvagem; 3. A Doutrina do Fantasma na Máquina [Dualidade Corpo-Mente (Razão e Sensibilidade)]...
1. A Doutrina da Tábula Rasa:
“O homem é, em sua essência, produto do meio”- que Karl Marx tomou emprestado a Rousseau, que por sua vez tomou emprestado a Locke, que por sua vez revisitou a Platão... O termo Tábula Rasa, de origem medieval, é comumente atribuído a John Locke (1632-1704), no sentido de que o homem é uma folha em branco, onde a experiência tratará de escrever a sua história e nortear o seu comportamento:
“Suponhamos, pois, que a mente seja, como dizemos, um papel em branco, totalmente desprovido de caracteres, sem ideias quaisquer que sejam. Como ela vem a ser preenchida? De onde provém a vasta provisão que a diligente e ilimitada imaginação do homem nela pintou com uma variedade quase infinita? De onde lhe vêm todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, em uma única palavra: EXPERIÊNCIA.”
Esta célebre passagem do “Ensaio acerca do entendimento humano”, embora sedutora, está retumbantemente equivocada... Lamento informar... Mas Locke mirou em outras questões essenciais, obtendo importantes avanços, como o questionamento da autoridade da Igreja e o direito divino dos reis, assim como da realeza hereditária, e da escravidão; e isso a partir da ideia de que como o comportamento vem diretamente da experiência, sendo que experiências e histórias de vida diferentes, produzirão pensamentos e comportamentos diferentes... Durante os séculos XIX e XX, a doutrina da Tábula Rasa deu o tom de boa parte das Ciências Humanas e – sobretudo – Sociais...
Enquanto as Ciências Humanas já revisaram seus postulados e paradigmas, as ditas Ciências Sociais, em seus vieses sociais, políticos, econômicos e psicológicos, teimam em limitar o homem à doutrina da Tábula Rasa, como uma Sagrada Escritura... O ser humano, seu comportamento - e seus desdobramentos emocionais, sexuais, relacionamentos, associações, ambições econômicas e políticas - é entendido como ‘socialmente construído’... A Sociologia foi erigida sobre fundamentos equivocados...
2. A Doutrina do Bom Selvagem:
“Sou tão livre quanto o primeiro homem da Natureza, antes de começarem as ignóbeis leis da servidão, quando o nobre selvagem corria solto nas florestas.” - John Dryden (1670, peça “A Conquista de Granada”)... Esta citação é comumente - e equivocadamente - atribuída a Rousseau...
O conceito do “bom selvagem” foi originado no período colonial, e emergiu do contato entre europeus e povos indígenas e primitivos - na África, América e Oceania -, e da crença de que os seres humanos - em seu estado ‘natural’ - são altruístas, pacíficos, serenos... A ganância e a violência nascem com a sociedade... Jean-Jacques Rousseau foi o grande defensor desta tese – teológica... Rousseau só não pôde explicar porque o nosso passado selvagem nos levou à sociedade... Por que não nos mantivemos selvagens? Mas seria esperar muito de um homem que postulava tais “leis” sentado em sua escrivaninha, e sem a menor ideia da natureza humana, muito embora, tenha ousado descrevê-la... E muitos, até hoje, teimam em idolatrá-lo... Karl Marx foi um destes homens, e que literalmente copiou as ideias – equivocadas – de Rousseau, alterando alguns aspectos, para cunhar o seu próprio nome na história... Muitos mais viriam para seguir a Rousseau, antes de depois de Marx, e assim caminha a humanidade, de equívoco em equívoco, de idolatria em idolatria...
Em 1755 Rousseau escreveria:
“Muitos autores precipitaram-se a concluir que o homem é naturalmente cruel e requer um sistema de polícia regular para regenerar-se, porém nada pode ser mais manso do que ele em seu estado primitivo, quando posto pela natureza a igual distância da estupidez dos brutos e pernicioso bom senso do homem civilizado (...) Quanto mais refletimos sobre este estado, mais convencidos ficaremos de que era o menos sujeito de todos a revoluções, o melhor para homem, e que nada poderia ter arrancado disso o homem a não ser algum fatal acidente, o qual, pelo bem público, nunca deveria ter acontecido. O exemplo dos selvagens, que em sua maioria foram encontrados nessa condição, parece confirmar que a humanidade foi formada para manter-se sempre nela, que essa condição é a verdadeira juventude do mundo, e que todos os progressos ulteriores foram muitos passos aparentemente em direção à perfeição dos indivíduos, mas de fato no caminho da decrepitude da espécie.” –amém...
Não Rousseau, a história, a saga humana é um processo contínuo... Tal visão é infantil, limitada, sob todos os aspectos - antropológicos, genéticos, evolutivos, neurofisiológicos... Rousseau não estava em condições de considerar todas estas questões relativas ao conjunto cumulativo de conhecimento científico, antes de ousar postular sobre a vida... Então por que se aventurou a postular sobre aquilo que soberbamente desconhecia? A troco de quê? Rousseau, o próprio, nos dá as respostas... Em suas Confissões, na linha das Confissões de Santo Agostinho – que buscava laboriosamente encontrar o mal em cada minúcia da sua vida cotidiana para confessá-lo -, Rousseau nos choca com a sinceridade de seu egoísmo – por exemplo, abandonando 5 filhos em orfanatos - e desonestidade – por exemplo, acusando injustamente uma criada de roubo, quando ele havia sido o larápio -, e nos dá algumas pista sobre a motivação de seus escritos: um prêmio oferecido pela Academia de Dijon... Daí um mar de péssimas ideias: Ciências, Literatura, Artes, eram ácidos que corroem os costumes... Cada fibra do conhecimento deriva de um pecado: a Geometria provém da avareza, a Física da vaidade e da curiosidade vazia, e a Astronomia vem da superstição... A Ética, segundo Rousseau, provém do orgulho... Os cientistas estão arruinando o mundo, e todo o tipo de progresso é ilusão...
E por aí vai... Suas origens puritanas e calvinistas, nunca se calaram...
Então Rousseau tomou estas péssimas ideias e as misturou com um resgate da República platônica, preconizando outra sociedade utópica, fascista, e de “vida simples” como na “antiga Esparta”, publicando o seu “Discurso sobre as Ciências”... Tal ensaio, em meio ao vazio insípido de ideias da época foi um sucesso... Bombástico... E ele realmente ganhou o concurso... Rousseau, aos 38 anos, foi catapultado da obscuridade para a celebridade... Depois escreveria “Discurso sobre a Desigualdade”, onde não ganhou nada, mas aproveitou mais uma vez para fazer barulho e polemizar: “o homem é naturalmente bom, e somente por causa das instituições se torna mal”... Neste ensaio, ao invés de Platão, a inspiração vem de Thomas Hobbes (1588-1679), só que às avessas...
O termo ‘contrato social’ foi cunhado por Hobbes, mas Rousseau aplicou o termo em sentido diametralmente oposto ao sentido dado por Hobbes... Para Hobbes homens em “estado natural” precisariam de um “contrato social”, ou um conjunto de leis, para torna-los sociáveis e civilizados... Para Rousseau os “contratos sociais” vigentes eram elaborados pelos ricos para subjugar os pobres... Simples assim... Ao contrário de Locke e Hobbes, Rousseau considera em seu “Contrato Social” que o homem em seu “estado natural” – termo emprestado a Hobbes – não é ganancioso nem agressivo, mas sim pacífico, e em pleno estado de contentamento, e verdadeiramente livre... Baseado em que estudos antropológicos Rousseau afirma isso? Não sabemos, mas sabemos ser falso... Muitos estudos antropológicos mostram exatamente o contrário...
Rousseau salienta que a passagem do “estado natural” para o estado vil, o estado "civilizado", se dá por meio do 'advento' da "propriedade"... Meio forçado? Muito, mas vai piorar... Rousseau segue afirmando que a desigualdade brota da instituição da propriedade privada... Em uma passagem famosa, embora lamentável, sentencia os termos de seu 'pecado original social': “o primeiro homem que, tendo cercado um pedaço de terra, pensou em dizer ‘isto é meu’, e encontrou pessoas simplórias o bastante para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade”... Na verdade havíamos deixado de ser catadores coletores, para nos organizarmos como grupo, e apenas porque era melhor, e isso aos olhos das mesmas “pessoas simplórias” – termo vago... Rousseau é mais literário do que acadêmico, abusa de imprecisões e adota claramente um tom messiânico... E joga pra galera... Mas Rousseau não explica o que acomete este ser primitivo, puro, do sentido de propriedade... Também não olha ao redor para perceber que todos os grandes mamíferos são territoriais... Mas Rousseau, nem antropólogo, nem zoólogo, nem geneticista, nem neurocientista, parecia muito à vontade para achar coisas... E haviam fiéis para segui-lo...
Outra citação falaciosa famosa, tomada de empréstimo por Karl Marx do Contrato Social, para ser o frontispício de seu Manifesto Comunista, é: “O homem nasce livre e por toda parte encontra-se acorrentado”... A velha vitimologia, tão viva no marxismo de hoje, em estilo messiânico... As pessoas, sentencia Rousseau, não devem ser “medidas pela posição social, nem pelas posses, mas pela parcela da centelha divina que vê em todas elas; a alma imortal do homem natural”... Alma? Imortalidade, centelha divina?
Rousseau empresta de Hobbes o conceito de “a guerra de todos contra todos”, só que de forma diametralmente oposta mais uma vez... Para Rousseau esta guerra provém da selva da civilização, enquanto Hobbes acredita que provém da selva primitiva... Os dois estavam errados... Rousseau também copia de Hobbes uma passagem de Leviatã, desta vez sem deformidades, o conceito magno do “direito fundamental” da autopreservação... E envereda pelo beco escuro e tortuoso da utopia, também trilhado por Marx, profetizando que quando a sociedade for degradada pela tirania e todos forem escravizados o “círculo se completará”, pois todos os indivíduos serão iguais quando nada forem... E só existe uma forma de redenção: "o povo deve ser soberano"... E lá está Marx, fiel seguidor, em seu Manifesto Comunista, propondo a ditadura do proletariado: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”
Marx não foi proletário, e muito menos empresário, aliás nunca trabalhou, e comete gafes incríveis em sua crítica ao capitalismo, como por exemplo desprezar a depreciação, manutenção, capital de giro, remuneração do capital, capital investido, capital de risco, et cetera...
O pensador Samuel Johnson (1709-1784), sepultado na Abadia de Westminster, dirige-se a Rousseau e seus fervorosos adeptos: “a verdade é uma vaca que não mais lhes fornece leite, de forma que tiveram que ordenar o touro”... Voltaire (1694-1778) – sepultado na Igreja de Santa Genoveva, ironicamente à frente do túmulo de seu maior inimigo: Rousseau - foi mais contundente e mordaz:
“Recebi o seu último livro contra a raça humana e agradeço-lhe. Jamais tamanha inteligência foi usada com o propósito de fazer-nos parecer todos estúpidos. É de se desejar, após ler seu livro, caminhar de quatro. Mas como perdi este hábito há mais de sessenta anos, sinto-me infelizmente impossibilitado de retomá-lo.”
Em 1954 como celebridade, Rousseau foi convidado a retornar a Genebra, sua cidade natal, e estava muito feliz, e reconvertido ao calvinismo... Só que Voltaire também residia por lá... Rousseau, o puritano influente, tratava de apoiar a proibição da encenação de peças teatrais – lembram da corrosão dos costumes -, enquanto Voltaire de insurgia contra tal censura... Mas o destino reservaria uma surpresa a Rousseau, enquanto Voltaire riria por último do ‘falso’ puritano... O mesmo pensamento reacionário e caduca calvinista, terminou por julgar o Contrato Social um atentado a moral pública, e seus exemplares foram queimados na Praça Municipal de Genebra em 1762, assim como sua obra sobre educação - Emílio...
Rousseau acreditava que o comportamento ruim era fruto do aprendizado e da socialização: “Os homens são maus; uma triste e constante experiência dispensa provas”... Rousseau não foi um exemplo de caráter - segundo ele mesmo... Mas essa maldade provém da sociedade, sentenciou: “Não existe perversidade original no coração humano. Não se encontra nele um único vício que não seja possível identificar como e quando entrou”... Esta é a autoindulgência de Rousseau, no melhor estilo agostiniano, e de São Tomás de Aquino... No melhor estilo da doutrina religiosa, e fundada no maniqueísmo religioso...
Rousseau, na falácia do bom selvagem, remete à brancura da folha em branco - da Tábula Rasa - às conotações morais adjacentes, limpo, claro, imaculado, cândido, puro, sem jaça, ilibado, virgem, assim como das respectivas perversões, marca, mancha, jaça, mácula, nódoa, e estigma... Rousseau não era antropólogo, e pouco conhecia sobre os 'bons selvagens'... Toda é qualquer cultura primitiva, por mais isolada que tenha se mantido de 'nós', e por mais aferrada aos seus costumes, vivem de crendices, acreditam perdidamente no sobrenatural, escravizam outros grupos, desenvolvem hierarquias e sentido de posse, sem contar os incontáveis casos de canibalismo, sacrifícios humanos, e atrocidades cometidas em tempos de guerra, com rituais deploráveis - sob a nossa perspectiva - para com os guerreiros perdedores... cabeças decepadas que são utilizadas em alegres jogos, crânios transformados em tigelas et cetera... O potencial criativo em empreendedor humano, in natura, nos impulsiona naturalmente para a composição social... Basta um pouco de conhecimento antropológico, para entender que a organização do trabalho mostrou-se mais efetiva do que a sina dos catadores coletores... Só Rousseau não viu...
Marx também copiou Rousseau na canalhice, enviando um filho ‘bastardo’ para adoção, enquanto quatro outros filhos morreram de inanição... Marx, não diminuiu o número de charutos nem as noitadas na taverna, muito menos a insistência em aparentar um estilo aristocrático, para poder alimentar sua família... Era sustentado pelo “excedente” que o ‘empresário’ Engels obtinha pela 'exploração dos trabalhadores' de sua fábrica têxtil em Manchester... Mas esta é uma outra estória dentro da História...
3. A Doutrina do Fantasma na Máquina
“Existe uma grande diferença entre mente e corpo, porquanto o corpo é por natureza sempre divisível, e a mente é inteiramente indivisível (...) Quando considero a mente, vale dizer, eu mesmo, na medida em que sou apenas um ser pensante, não posso distinguir partes de mim, mas aprender-me como claramente uno e inteiro; e embora toda a mente pareça unida a todo o corpo, se um pé, ou um braço, ou alguma outra parte do corpo for separada do corpo, percebo que nada foi tirado de minha mente. E as faculdades de querer, sentir, conceber etc. não podem, com acerto, ser consideradas suas partes, pois é a mesma mente que se ocupa de querer, sentir e entender. No entanto é muito diferente no caso de objetos corpóreos ou dimensionáveis, pois não existe algum imaginável por mim que minha mente não possa facilmente dividir em partes. (...) Isto bastaria para ensinar-me que a mente ou alma do homem é inteiramente diferente do corpo, caso eu já não tivesse avaliado isso a partir de outras premissas.” – René Descartes (1596-1650)
Um corolário repleto de asneiras, a Doutrina da Dualidade Corpo e Mente... Mas antes que levantem as bandeiras da contextualização eu pergunto: se não sabia por que não se calou? Por que outros em sua época não se expuseram ao ridículo desta maneira? Esta é uma questão de caráter, de temperamento... Descartes buscava notoriedade, e queria contestar a Hobbes... E neste conceito, está enganado do início ao fim... Descartes, por exemplo, experimentaria uma tremenda divisão em sua mente, com um braço tentando enforca-lo enquanto o outro tenta protege-lo, e poderia ter vivenciado tal fenômeno em um plantão médico neurológico... Problemas, tumores nos corpos calosos, responsáveis pela conexão entre os dois hemisférios cerebrais, acarretam a ‘divisão da mente’, pela divisão do cérebro... Sobre almas, rsrsrs, sem comentários... Mas o pior em tudo isso, é que aqueles que leem apenas o resumo sobre filósofos e pensadores, sacam a absurda conclusão de que Descartes é um marco na história da Ciência, quando na realidade é exatamente o oposto disso... Descartes mantém e joga um holofote sobre a velha besteira platônico-aristotélica da dualidade corpo e mente...
O filósofo Gilbert Ryle (1900-1976), foi um detrator desta falácia, cunhando o termo ‘Ghost in the machine’- nome de um dos memoráveis álbuns da banda inglesa The Police:
“Há uma doutrina sobre a natureza e o lugar da mente de tal modo prevalecente entre os teóricos e até entre os leigos que merece ser designada como a teoria oficial (...) A doutrina oficial, que procede sobretudo de Descartes, é mais ou menos como descrita a seguir. Com a duvidosa exceção dos idiotas e das crianças de colo, todo ser humano possui um corpo e uma mente. Alguns prefeririam afirmar que tanto um corpo como uma mente. Seu corpo e a sua mente normalmente estão atrelados um ao outro, mas depois da morte do corpo a mente pode continuar a existir e funcionar. Os corpos humanos existem no espaço e estão sujeitos às leis mecânicas que governam todos os outros corpos no espaço. (...) Mas as mentes não existe no espaço, nem suas operações estão sujeitas a leis mecânicas. (...) Eis o esboço da teoria oficial. Com frequência me referirei a ela, com o intuito pejorativo, como ‘o dogma do fantasma na máquina’”...
O ‘fantasma na máquina’, assim como ‘o bom selvagem’, emergiram como oposição filosófica a Hobbes, que argumentava que a vida poderia ser explicada em bases mecânicas – quase... A luz excita nossos nervos e é mapeada no cérebro, e a isso chamamos enxergar... Descartes rejeitou a ideia de que a mente poderia operar segundo princípios físicos... Para ele, por exemplo, o comportamento, e em especial a fala, não era causado por nada, e sim “livremente escolhida”... Ele diz que não podemos duvidar da existência de nossa mente - ok - porque o ato de pensar pressupõe que nossa mente existe: penso logo existo (Cogito ergo sum)... Mas por outro lado, afirma que podemos duvidar da existência de nosso corpo, pois podemos nos imaginar como “espíritos imateriais, que apenas sonham ou têm alucinação de que estão encarnados”... Não Descartes, não podemo... Podemos imaginar que estamos voando, ou imaginar que somos azuis, mas não seremos azuis, nem voaremos, de fato... Puro sofisma...
Mas além do ‘truque’, Descartes encontrou um bônus moral para a dualidade corpo e mente: apartar-nos da natureza... “Nada há de mais eficaz para desviar espíritos fracos do caminho reto da virtude do que imaginar que a mente do animal é da mesma natureza que a nossa e que, em consequência, depois desta vida não temos nada a temer nem a esperar, assim como as moscas e formigas.”... Sim Descartes, assim mesmo... Como formigas e moscas... Mas com um nível mais elevado de atividade cerebral, não pelo tipo, mas pelo grau... Sim, somos animais, somos parte da natureza, compartilhamos o mesmo 'tipo' de células neurais que os demais seres vivos dotados de sistemas neurais...
Ryle explica o dilema de Descartes:
“Quando Galileu mostrou que seus métodos de descoberta científica eram adequados para fornecer uma teoria mecânica que deveria abranger tudo o que ocupa espaço, Descartes descobriu em si mesmo dois motivos conflitantes. Como homem de gênio científico, não podia deixar de concordar com as proposições da mecânica, e contudo, como homem religioso e moral, não podia aceitar, como Hobbes aceitava, o desalentador corolário dessas proposições, isto é, que a natureza humana difere apenas em grau de complexidade do mecanismo de um relógio.”
E Descartes, temia a morte... Preferindo fantasiar a imortalidade...
Charles Robert Darwin (1809-1882) e Alfred Russel Wallace (1823-1913), viriam para sacudir o mundo, provando que a nossa mente não difere de um relógio apenas pela complexidade – isto estava errado -, mas a alegação é válida para uma lesma, ou uma raposa, um macaco... Darwin sentenciaria em “A Origem das Espécies” de 1859: “A diferença do cérebro humano e de os outros animais é de grau, e não de tipo.”... Pensamos com os mesmos neurônios que um camarão... A mesma unidade fundamental, em termos de Biologia Molecular... Só que desta vez não estamos especulando... Estamos vendo, medindo, provando...
Mas entendo que deva parecer consternador, aceitar que o amor, a dignidade, as escolhas, a responsabilidade, são meras funções moleculares... De forma que os críticos atacam a ciência da mente – a real – com os adjetivos 'reducionista' ou 'deterministas'... Eles não sabem bem o que estão dizendo, mas sabem que isso deve ser ruim, e pode funcionar com oposição... Muitos especulam sobre os ‘transplantes de cérebro’, quando na realidade deveriam especular sobre os ‘transplantes de corpo’- como observou Daniel Dennett -, posto ser a única operação de transplante que beneficia totalmente o doador, rsrsrsrs...
Descartes, o homem que ainda crê em fantasmas, é presunçoso a ponto de imaginar ter descoberto uma "nova ciência", tratando de edificá-la em seu pomposo compêndio "Projeto para uma Ciência Universal, Destinado a Elevar Nossa Natureza Até o Mais Alto Nível de Perfeição"... Não verdade o título pressupões um fim - dogmático e moral - e não uma Ciência ou Caminho... Descartes de fato imitava os textos mais populares de Montaigne, como os Ensaios - repleto de divagações auto-irônicas -, abrindo o seu Discurso com uma astucioso referência ao seu predecessor: "o bom senso é a coisa mais equanimemente distribuída no mundo"... É? Não parece... Montaigne não é a única fonte de Descartes, que também copia e repete muitas das crenças de Santo Agostinho...
As famosas palavras Gogito ergo sum, elegantemente traduzidas para o português como 'penso, logo existo', nas estavam na versão original das Meditações... As palavras realmente escritas por Descartes são bem menos admiráveis, algo como:
"(...) deixe que o demônio me engane o quanto puder, ele nunca fará nada com que seu seja nada enquanto eu pensar que sou algo. Portanto, depois de considerar tudo de maneira muito completa, devo concluir que esta proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira, cada vez que eu digo ou a formulo em minha mente"...
Sobre o 'fantasma', e o conceito de alma, devemos muito à Platão (427-347 AEC) e Aristóteles (384-322 AEC)... Sócrates (469-399 AEC), ao que tudo indica - pelo simples fato de que nada escreveu, e dependemos de Platão, Diógenes Laércio, Xenofonte, para entender o a sua linha de pensamento -, tem um papel fundamental na separação do pensamento grego, antes direcionado para a interpretação do mundo natural de do homem como parte integrante da natureza ou physis - pelos ditos pré-socráticos -, para o mundo da ideias ou do mundo que conhecemos hoje como filosófico... Sócrates, no entanto, somente deslocou a atenção do mundo natural para o mundo das ideias, mas seria Platão quem trataria de denegrir o conceito de homem natural por completo, para destacar o conceito metafísico de alma, e dotado-a de toda a responsabilidade pela moralidade, enquanto o corpo se desvanece secundário, inútil, em sua 'vã filosofia'... Platão considerava, em sua 'teoria evolutiva', que deus havia criado o homem perfeito, e a sua degeneração produziu a mulher, que finalmente degenerou para originar os animais... No 'Timeu' sentencia:
"Apenas os homens são criados diretamente pelos deuses e recebem almas. Aqueles que vivem de maneira justa retornam às estrelas, mas os que são covardes ou seguem vidas iníquas, podem com razão esperar ser convertidos para a natureza das mulheres no segundo nascimento."
É mole ou quer mais?
Aristóteles mantém o equívoco em riste e piora, mas mete-se com o corpo humano para postular toda a sorte de asneiras, como por exemplo que "um lado do corpo é mais frio do que o outro", o cérebro é uma especie de radiador "esfriando o sangue", enquanto o coração é a parte "pensante" d corpo, e localizando a alma na região da nuca... Também postula que a mulher não tem alma - enquanto Platão sugeria que talvez ela tivesse, embora fosse inferior à alma do homem -, e diz ainda que escravos e animais são igualmente destinados à serem dominados, com o fim de executar trabalhos motrizes, e possuidores de "almas inferiores"...
"É melhor para todos os animais domesticados serem governados pelos seres humanos. Pois assim é que se mantêm vivos. Do mesmo modo, o relacionamento entre macho e fêmea é por natureza tal que o macho ocupa a posição mais elevada e a fêmea a mais baixa, de modo que o macho domina e a fêmeas é dominada."
E os absurdos seguem nesta linha, Aristóteles - o taxonomista -, apesar de meter-se com o corpo e com tudo o mais que lhe passasse pela vista, desprezou assim como Platão, a importância do corpo em prol do enaltecimento do intelecto, das ideias, que fatalmente decorriam da ALMA, ou de nosso fantasminha na máquina cerebral - que segundo ele, estava no lugar do coração, enquanto o fantasminhas residia na nuca...
Hipócrates (460-370 AEC) mesmo não sendo propriamente um pré-socrático, na acepção do conceito, já duvidava do sobrenatural, enquanto Platão e Aristóteles o enalteciam:
"Os homens pensam que a epilepsia é divina meramente porque não a compreendem. Se eles denominassem divina qualquer coisa que não compreendem, não haveria fim para as coisas divinas." - Hipócrates (Pai da Medicina)
Outros como Leucipo de Mileto (primeira metade do século V AEC) - foi o mestre de Demócrito e é considerado o verdadeiro criador do atomismo -, Demócrito de Abdera (460-370 AEC) - estudou a physis - a natureza -, teorizando sobre o átomo, o vazio, e o Universo infinito, e influenciando pensadores como Epicuro e Giordano Bruno, entre outros; enquanto Platão, que odiava Demócrito, deseja ver as suas obras queimadas, enquanto Demócrito ria disso às gargalhadas -, Epicuro de Samos (341-271 AEC) - o primeiro grande naturalista:
"Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode.
Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus.
Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus.
Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto nem sequer é Deus.
Se pode e quer, que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então existência dos males?
Por que razão é que não os impede?" - Epicuro
Aristarco de Samos (310-230 AEC) foi o primeiro a propor que a Terra girava em torno do Sol (sistema heliocêntrico) e que a Terra possuía movimento de rotação... Por tal afirmação, foi acusado de impiedade por Cleanto, o Estóico - estóico pero no mucho... Isso enquanto Aristóteles escrevia e escrevia asneiras sobre o Cosmos, postulando à vontade, sem medo de ser feliz... Se Aristarco e Aristóteles compartilhavam o mesmo contexto, o que os diferia? A atitude científica de Aristarco, contra o puro 'constructo' - ou divagação mental - de Aristóteles... Aristarco calculou também as dimensões e distâncias do Sol e da Lua... Aristarco concluiu que o Sol estaria 20 vezes mais distante da Terra do que da Lua, mas embora tenha errado no cálculo, o seu procedimento estava correto... Aristarco também procurou calcular o diâmetro da Lua em relação ao da Terra, baseando-se na sombra projetada pelo nosso planeta durante um eclipse lunar e concluiu que a Lua tinha um diâmetro três vezes menor que o da Terra, sendo que o valor correto é 3,7 vezes... Também calculou, com mais precisão do que a dos antigos sábios, a duração de um ano solar... Embora obtivesse muitos erros em seus resultados, o problema estava mais nos instrumentos utilizados por ele do que nos seus métodos, que eram corretos... Aristarco tinha bom senso... Para ele, seria mais natural supor que um astro menor girasse em torno de um maior, que era uma opinião diferente da dos seus antecessores, contemporâneos e predecessores por quase 2.000 anos...
Infelizmente os escritos que sobreviverem e foram proliferados como praga, foram os escritos platônicos e aristotélicos, reavivados pelas mentes doentias de Al-Ghazali, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, entre tantos outros, sendo parte central e recorrente do pensamento ocidental até os nossos dias...
Concluindo...
Pela enciclopédia de asneiras que poderíamos elaborar a partir das obras de Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, e parte importante dos escritos de Rousseau e Descartes, e uma parte - embora menos significativa - dos escritos de Locke e Hobbes, a profissão de filósofo ganhou severo desprestígio, significando vacuidade, especulação vazia... Mas incrivelmente, tais ideias continuam vivas em nossas vidas... E estes mesmos protagonistas ainda são endeusados por aqueles que não sabem sequer quem eles realmente foram, o que disseram, propuseram, ou quais os seus exemplos em vida...
Mas comecei falando do Leviatã da Teologia do Social – ou Sociologia – e gostaria de retomar o conceito, mas sem antes fazer a seguinte observação: as teorias sociais - posto que não atingiram de fato o status de ciência, e não produziram paradigmas - sofrem da mesma convergência que as doutrinas religiosas, aproveitando ideias anteriores, e expurgando alguns pontos, mantendo outros, acrescentando algo mais em função da época... Foi assim que Rousseau bebeu das fontes platônicas, agostinianas, assim como de Locke e Hobbes, e depois dele, Marx faria o mesmo trabalho, rescrevendo com os termos de época, a 'achologia rousseauliana'... A Psicologia vive o mesmo desafio... Ainda não encontrou o seu caminho científico - senão pela neurociência, que nada tem a ver com a Psicologia... As verdadeiras ciências encontraram paradigma - consenso teórico e experimental - de forma que caminham de maneira cumulativa - mesmo dispondo de severos métodos de correção...
Mas voltemos ao Leviatã - não o de Hobbes -, o Leviatã Bíblico; que é derrotado por deus, e que não economiza palavras para se gabar a Jó:
“Poderás tirar com anzol o leviatã, ou ligarás a sua língua com uma corda? Podes pôr um anzol no seu nariz, ou com um gancho furar a sua queixada? Porventura multiplicará as súplicas para contigo, ou brandamente falará? Fará ele aliança contigo, ou o tomarás tu por servo para sempre? Brincarás com ele, como se fora um passarinho, ou o prenderás para tuas meninas? Os teus companheiros farão dele um banquete, ou o repartirão entre os negociantes? Encherás a sua pele de ganchos, ou a sua cabeça com arpões de pescadores? Põe a tua mão sobre ele, lembra-te da peleja, e nunca mais tal intentarás.“ - Jó 41:1-8
É ridículo imaginar um deus dando uma de gostosão e zombando de um monstro teoricamente assustador... Mas deixemos isso de lado, porque muito mais interessante é a convergência de crenças... O exemplo correspondente para os gregos foi a vitória de Zeus sobre Tifão, o filho mais novo de Gaia, a deusa Terra... O corpo de Tifão, diz a lenda, era metade homem metade cobra, e era enorme, e tão alto que “sua cabeça batia nas estrelas”, e “seus braços se estendiam do nascer ao por do sol”... De seus ombros, segundo os relatos de Hesíodo, saiam centenas de cabeças de serpentes... Todos com línguas de fogo, enquanto “labaredas dardejavam de seus muitos olhos”... E este monstro terrível teria de tornado o senhor da criação se Zeus não o tivesse derrotado pessoalmente em combate... A semelhança com outra façanha mítica, a vitória de Indra – rei do panteão védico – sobre a serpente cósmica Vritra, é inevitável... Muitas outras histórias de deuses enfrentando Leviatãs, poderiam ser contadas...
Todas essas lendas são, nas palavras da mitologista e arqueologista Jane Harrison (1850-1928), “acima de tudo, um protesto contra a adoração da Terra, e os daimones – demônios - da fertilidade da Terra”... “O culto dos poderes da fertilidade, incluindo toda a vida vegetal e animal, é suficientemente amplo para ser forte e saudável (...) mas como a atenção do homem centra-se cada vez mais em sua própria humanidade, uma tal adoração é obviamente fonte de perigo e doença.”...
Em nossa busca frenética - e sociológica - por dar destaque à nossa 'humanidade', em detrimento da natureza e de nossa natureza, terminamos por reinventar o Universo e a Vida forçando uma tremenda barra, para manter imortal a nossa arrogante existência, e exacerbá-la de aspectos morais; e a posteriori, enquanto a ciência tratava de desconstruir toda esta farsa, nos embrenhamos mais e mais na falácia social, último reduto da resistência covarde que teima em não aceitar a nossa beleza humana naturalmente mortal... Somos humanos, troppo umanos... Nem bons, nem maus, por natureza... Seres vivos, com algum grau de complexidade, mas parte integrante e indissolúvel da natureza... Vagando pelo espaço neste planetinha perdido, em torno de um Sol modesto, na periferia de uma galáxia entre bilhões de outras... Não vamos a lugar nenhum, mas mesmo assim, é fabuloso viver...
Somos seres vivos, complexos, e nosso comportamento decorre da resultante entre a nossa forte impulsão genética, nossa experiência intrauterina, os imprimtings das primeiras horas, dias, meses e anos, sobre o ‘cimento fresco de nossa genética’, nossa constituição neurofisiológica, nosso complexo bioquímico, nossa experiência, educação, doutrinação, o ambiente histórico e cultural, a cadeia de eventos de nossa vida et cetera... Lembrando sempre que a nossa capacidade de aprender depende de nossa genética... Somos individuais, não somos máquinas, mas o livre-arbítrio é só mais uma falácia... Convivemos com ‘bugs’ em nosso cérebro, posto que a nossa criatividade abre espaço para ilusões, e tateamos entre deuses, superstições, e as maravilhas do conhecimento cumulativo e científico, e as artes... Somos incrivelmente versáteis, e particulares, diferentes... Mas sem almas, nem livre-arbítrio, nem folha em branco...
É a partir desta perspectiva, e abandonando as Doutrinas da Teologia Social, que superaremos nossas desigualdades, racismos, opressões, pelo pleno entendimento da natureza humana... Sem culpados e sem inocentes... Almejamos um Estado que assegure liberdade e igualdade – de tratamento-, para que as nossas diferenças se manifestem e sejam acomodadas... Isso decorre do pleno entendimento da natureza humana... E não mais de postulados sociológicos... Como a encomenda de Lenin a Pavlov, "a construção do novo homem", ou a eugenia de Hitler...
Esta é a verdade... Descubra quem somos, quem você é, e seja de propósito... Não viva de ilusões sociológicas, religiosas, psicológicas e febris... Não somos nem bons nem maus selvagens... E o homem civilizado não é nem bom nem mal... Daí advém o preconceito anti-capitalista, anti-ocidental, anti-globalização.... Falácias que vem sendo construídas por um antiga e equivocada noção do comportamento humano... Buscamos a associação, e a vida em sociedade, voluntariamente... Sem demônios... E devemos assegurar o direito de viver nossas diferenças, permitindo a assegurando a troca voluntária e pacífica, e o fluxo contínuo de nossos sistemas políticos e econômicos, a partir do melhoramento contínuo... Somos diferentes, e queremos empreender... Estamos melhorando a vida humana, ou pelo menos ajustando dia a dia, geração a geração, e a partir de parâmetros objetivos: diminuição da mortalidade infantil, aumento da expectativa de vida, maior acesso à saúde, e às fontes de alimento e água... E isso tudo enfrentando a realidade de sermos 7 Bilhões de pessoas... O prazer sem igual de gozar a experiência de viver, seja enfrentando dificuldades, seja celebrando as nossas conquistas, serão plenamente e inequivocamente vividos em nosso cérebro... Os nossos cálculos, a nossa poesia, os anos vividos, os beijos dados, os carinhos recebidos, a emoção sentida...
As ideias de filósofos e pensadores, se capturadas pelo 'zeitgeist' - ambiente - de época, pode perdurar por anos, séculos, milênios... Seus reflexos podem se infiltrar em lugares e questões inimagináveis... William Godwin (1756-1835), um dos fundadores da política liberal, escreveu que "as crianças são uma espécie de matéria-prima posta em nossas mãos", e suas mentes são como "uma folha de papel em branco"... Em tom mais sinistro e cínico, Mao Tsé-Tung justificou sua radical "engenharia social" dizendo que "é numa página em branco que se escrevem os mais belos poemas"... Foram 30 milhões de mortos, corrupção em massa, e tremenda injustiça social em plena fábula socialista... A Doutrina da Tábula Rasa também inspirou a Walt Disney, "imagino a mente da criança como um livro em branco. Durante os primeiros anos de vida, muito será escrito nestas páginas. A qualidade destes escritos afetará profundamente sua vida"... Walt Disney estava equivocado sobre a folha em branco, mas pode ter antecipado os imprintings que a mente recebe em seus primeiros anos, muitas vezes, como desfecho do processo fisiológico...
Locke não podia imaginar que sua ideias inspirariam o Bambi, nem Rousseau poderia imaginar-se co-diretor de Pocahontas, a exemplo mais vivo da Doutrina do Bom selvagem... Rousseau não poderia ter imaginado que estaria representando nas páginas do Boston Globe, de pesamento igualmente puritano, no editorial do Dia de Ação de Graças: "Eu diria que o mundo que os nativos americanos conheciam era bem mais estável, mais feliz e menos bárbaro que a nossa sociedade atual. (...) não havia problemas de emprego, a harmonia era grande, não existia abuso de substâncias tóxicas, o crime quase inexistia. A guerra que havia era grande medida ritualística e raramente resultava em matança em massas e indiscriminada. Embora ocorressem tempos difíceis, a vida, o mais das vezes, era estável e previsível. (...) Pois os nativos respeitavam o que os circundava, não havia perda de água ou recursos alimentícios decorrentes de poluição ou extinção, nem escassez de matéria-prima para os artigos básicos da vida, como cestas, canoas, abrigo ou fogo"...
A Doutrina do Fantasma na Máquina também tem os seus adeptos, como George W. Bush, que em 2001 anunciou que o governo americano não financiaria pesquisas com células-tronco... Esta ignóbil decisão, além da co-produção de Platão, Aristóteles e Descartes, teve a participação de 'filósofos e pensadores religiosos', que 'sabiamente' alicerçaram suas ideias na existência - inequívoca - da alma... Uma questão vital para nós, seres humanos no século XXI, foi decidida com bases nas crenças infantis dos dois últimos dois milênios, do pensamento dominante, que embora tenha se auto-intitulado 'revolucionário' e 'moderno', não passou de um dogma tradicionalista e conservador... O que há de novo no marxismo? O que aportou efetivamente à humanidade além do incremento do repúdio às ditaduras em pele de regime comunitário?
Homens éticos - logo céticos - livres, solidários, pensantes, UNI-VOS!!! Não para tomar o poder, como apregoava o Manifesto Comunista, mas para dar clareza à humanidade, e libertar mais homens, transformando pacificamente a sociedade...
Mas assim caminha a humanidade... So, keep walking...
Sobre a dualidade falaciosa, e cartesiana, entre 'pensar e sentir', vide Charles Chaplin, Betinho, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Jorge Amado, Humberto Eco, José Saramago, David Gilmour, Robin Williams, Dráuzio Varella, Patch Adams, Chico Buarque, Caetano Veloso, Paulo Autran, Pablo Picasso, Pablo Neruda, Oscar Niemayer, Monteiro Lobato, Mark Twain, Rosa de Luxemburgo, Machado de Assis, Lima Duarte, Leonardo Da Vinci, John Lennon, Jodie Foster, Brad Pitt, Angelina Jolie, Antonio Banderas, Federico Fellini, Emma Thompson, Eddie Vedder, Diane Keaton, Dercy Gonçalves, David Bowie, etc...
As pessoas acima citadas tem problemas em pensar ou sentir??? Tais humanos enfrentaram problemas com sua criatividade ou racionalidade???
“Por simples bom senso, não acredito em Deus. Em nenhum” – Charles Chaplin
Costumo citar Borges, Neruda e Pessoa, e pergunto: - Lhes falta racionalismo como pensadores, criatividade, ou emoção e sensibilidade? Não existe confronto, e sim, coexistência harmônica... Assim como Darwin, Eisntein e Galileu, foram incríveis pensadores, dominaram a arte da escrita, e donos de uma poesia refinada, e criatividade sem igual...
O que importa na culinária, a criatividade, a sensibilidade, ou o respeito 'racional' do equilíbrio entre os alimentos ácidos, básicos, proporção, temperatura, reações químicas como o corte do leite pelo limão? Ambos... Cozinhar bem é um ato de inteligência, assim como pintar e compor... A arte decorre da inteligência, e não da falta dela...
O cérebro não está compartimentado desta forma... Mas alguns são mais ou menos sensíveis e emocionalmente intensos do que outros, e isso nada tem a ver com as suas possibilidades lógicas e racionais... Normalmente, a genialidade incorpora estes e outros elementos...
Gostaria de pontuar apenas e - 'ufa', finalmente que:
Já acreditamos em deuses, localizados pela autoridade de Aristóteles bem acima das 'esferas de cristal' - que atualmente conhecemos como estrelas... Eles foram destronados quando a Terra foi colocada em seu devido lugar, e ajoelhada em sua insignificância, diante da magnitude do Universo, por Copérnico - baseando-se no conhecimento de Aristarco... Depois foi a vez da dualidade cartesiana encher o mundo de 'almas', cuja epítome foi o charlatanismo kardecista, exorcizado da Europa, e revivido em Uberaba... Então, destronadas as almas, e desta vez pela Neurociência e pela Genética, foi a vez dos ETs, deuses de carne e osso, igualmente 'superiores, criadores, iluminados e poderosos', desta vez descendo de espaçonaves... Os tempos mudam, a história é continua e convergente...Triste destino - neural -, ledo engano...
O transplante de cérebro é o único onde o doador, e somente ele, é beneficiado...
Mas se este debate, ou monólogo, rsrsrs, manteve o decoro, devo isso a você 'debatedor'... E agradeço... Um forte abraço, conte sempre comigo....
Carlos Sherman
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