Encontro com Homens Notáveis: Oliver Sacks
Nós vemos com os olhos... Mas na realidade nós vemos, ouvimos, sentimos, saboreamos, degustamos com o cérebro... Ver com o cérebro é comumente conhecido como ‘imaginação’... E estamos familiarizados com este cenário, a nossa imaginação... Mas as alucinações podem irromper, a qualquer momento, com ou sem aviso prévio, e perturbar este cenário...
As alucinações parecem vir do exterior... Parecem reais... Não parecem ser produzidas por falhas em nosso processamento cerebral... Não parecem ser, de certa forma, criadas por nós... E elas, as alucinações, imitam a nossa percepção...
Oliver Sacks vive esta realidade diariamente, ou seja, convive com alucinações, e com muitos de seus pacientes que imaginam que suas alucinações não passam da mera extensão de sua percepção... Uma paciente de Sacks, próxima dos 95 anos, estava ‘vendo coisas’, e ele foi avisado... Haviam suspeitado de sua senilidade, ou por estar muito idosa, também suspeitaram de um derrame, ou mesmo Alzheimer... E Sacks foi visitar Rosalie, a senhora idosa que estava ‘vendo coisas’...
Sacks percebeu de entrada que se tratava de uma senhora perfeitamente lúcida, sã, e inteligente, e estava muito assustada e desconcertada por estar ‘vendo coisas’... Mas o detalhe mais importante em toda esta estória, ainda não esclarecido, é de que esta senhora era completamente cega, pelos últimos 5 anos, resultado de uma degeneração macular... Mas agora estava vendo coisas...
Sacks interrogou a senhora, "mas que tipo de coisas você vê?" Ela respondeu: "Pessoas com vestes orientais, subindo e descendo escadas. Um homem que olha pra mim e sorri, mas com dentes enormes, apenas de um lado da boca. Animais também. Eu vejo um prédio branco, e está nevando. Uma neve suave. Eu vejo um cavalo, com arreio, dragando a neve. Então em uma noite a imagem muda. Vejo gatos e cachorros andando na minha direção. Eles chegam até um ponto e param. Então a cena é interrompida e muda subitamente outra vez. Eu vejo várias crianças, com vestes coloridas, ela sobre e descem escadas. Elas vestem cores brilhantes, rosa e azul, em estilo oriental. Algumas vezes, antes das pessoas entrarem, vejo quadros rosas e azuis pintados no chão, que parecem subir até o teto."
Sacks indagou: "É como um sonho?" E ela respondeu: "Não, não é como um sonho, é como um filme. Tem cor, tem movimento, mas é completamente sem som, como um filme mudo, um filme muito chato, como um filme mudo, com pessoas subindo e descendo escadas, com estas roupas orientais, tudo muito repetitivo e limitado" E sorriu... Rosalie tinha muito senso de humor, segundo Sacks, e sabia ser uma alucinação, mas estava assustada... Ela estava havia vivido 95, cega há 5 anos, e jamais havia tido este ou qualquer tipo de alucinação... Estas alucinações iam e vinham sem aviso, e ela não sabia o que fazer, ou o que estava acontecendo... Ela não conseguia identificar as pessoas, nem os lugares, nem os animais, as roupas, a imagens... Era tudo espúrio para ela... As alucinações também não estavam relacionadas com nada que ela havia pensado, sentido ou feito...
Rosalie pensou que estava enlouquecendo... Sacks examinou aquela senhora brilhante, cuidadosamente, e constatou que ela não tinha outros problemas médicos, percebeu que, além das alucinações, ela estava perfeitamente lúcida, além de não tomar nenhum tipo de medicação que pudesse explicar esta sintomatologia... Mas ela estava cega... Então Sacks, com um brilho nos olhos, trouxe alenta à senhora dizendo: "Eu acho que sei o que a senhora tem. Existe um tipo especial de alucinação visual, associado com a deterioração da visão ou a cegueira, que foi descrito originalmente no século XVIII, por um homem chamado Charles Bonnet. E você tem uma Síndrome de Charles Bonnet. Não existe nada errado em sua mente, nada errado com o seu cérebro, você tem uma Síndrome de Charles Bonnet." Isso provocou grande alívio, e ela percebeu que não estava louca, e continuava lúcida aos 95 anos de idade...
Rosalie, diz a estória, ficou muito curiosa sobre este tal ‘Charles Bonnet’, quem era este homem? Ele havia desenvolvido a mesma ‘síndrome'??? Apressou-se em avisar às enfermeiras, "eu tenho Síndrome de Charles Bonnet", orgulhosa, rsrsrsrs, muito orgulhosa, rsrsrs...
Alucinações visuais e auditivas, são mais frequentes do que imaginamos... Aproximadamente 10% das pessoas com alguma perda auditiva, tem alucinações musicais... O que dizer de Bethoven??? Será??? E aproximadamente 10% das pessoas com perdas visuais, tem alucinações visuais... E não é necessário que a pessoa esteja totalmente cega para ter alucinações, basta a perda parcial da visão...
Charles Bonnet não teve alucinações... Mas o seu avô, um magistrado, um homem idoso, que havia feito uma cirurgia para catarata, passou a ter essas alucinações... Sua visão estava bem comprometida... Em 1759, preocupado, ele passou a descrever para o seu neto o que via: "A primeira coisa que me lembro de haver visto, foi um grande lenço azul pairando no ar, com quatro círculos laranjas. Uma grande roda pairando no ar." Ele naturalmente sabia que se tratava de alucinações, não existem rodas pairando no ar, e mesmo lenços finalmente acabam caindo... Mas tudo era tão perfeito que esta certeza fraquejava, e por vezes estas alucinações se encaixavam perfeitamente à cena...
Uma vez, quando as netas foram visita-lo, ele perguntou: "Quem são estes jovens bonitos com vocês?" E suas netas, assustadas, responderam: "Mas vovô não existe nenhum jovem conosco." Isso foi o suficiente para que os jovens desaparecessem... E este comportamento é típicos em tais alucinações... Elas podem vir, e subitamente desaparecer... Normalmente tais alucinações não chegam gradualmente, elas chegam de súbito, e partem da mesma forma... Tais alucinações caracterizam-se por serem repentinas...
Charles Lullin, o avô, via centenas de imagens diferentes, descortinando-se em sua ‘mente’; paisagens e situações de todos os tipos... Certa vez ele descreveu que viu "um homem de roupão fumando cachimbo, e percebi que era eu", e esta foi a única pessoa que ele reconheceu... Certa vez, caminhando pelas ruas de Paris, ele viu – e isso foi real – um andaime... Quando chegou em casa, havia uma miniatura do andaime, de aproximadamente 15 cm sobre sua escrivaninha, desta vez uma alucinação... Tal repetição de percepção é conhecida como ‘palinopsia’...
Ambos perguntaram a si mesmos, ‘o que está acontecendo?’... Sacks explica que, quando perdemos a visão, as partes responsáveis pela visão, o Córtex Visual, não recebem mais inputs ou sinais, tornando-se hiperativas e excitadas; e começam a disparar, produzindo imagens, e alucinações...
E estas alucinações podem ser bem complexas, como no caso de outra paciente de Sacks, que possuía ainda certo grau de visão... Certa vez, ela descreveu, em um restaurante, a visão de um homem com a camisa rasgada, quando subitamente o homem se virou, dividindo-se em figuras idênticas com camisas rasgadas, e que começaram a andar na direção dela... Subitamente, as seis figuram voltaram a se unir, como em uma sanfona... Em outra oportunidade, ela ia no carro, e com o seu marido ao volante, quando a estrada se dividiu em quatro, e ela amargou a estranha sensação de seguir nas quatro direções, simultaneamente...
Esta paciente tinha, frequentemente, alucinações com carros, ou qualquer tipo de movimento... Era também muito comum que ela visse um adolescente sentado no capô do carro, em movimento... Ele fazia gracejos, mantinha o controle mesmo quando o carro fazia curvas, e ela presenciava sua persistência... Quando o carro parava no semáforo, o garoto era lançado em um voo vertical, subindo a cerca de 30 metros de altura, no melhor estilo ‘Cirque du Soleil’, para subitamente desaparecer...
Outra paciente não tinha problemas particularmente com os olhos, ou com a sensibilidade visual, mas um pequeno tumor no Lobo Occipital... Isso era o suficiente para que ela literalmente assistisse a desenhos animados em seu campo de visão... Estes desenhos eram parcialmente transparentes, e cobriam apenas metade do campo visual, como em uma tela... Ela convivia especialmente com ‘Caco’, o sapo... Ela não se interessava por Vila Sésamo, e muito menos por ‘Caco’, o sapo, rsrsrsrs... Então, por que o ‘Caco’? Por que não o ‘Garibaldo’, rsrsrsrs, ou outros personagens de outros quadrinhos, e por que quadrinhos??? E antes que alguns freudianos exercitem suas alucinações próprias, devemos assegurar que o pai dela não se parecia minimamente com um sapo, e em especial com o ‘Caco’, rsrsrsrsrs... Ela interrogava Sacks: "Por que ‘Caco’, o sapo, ele não significa absolutamente nada para mim?"
Assim como Rosalie, esta paciente também via em suas alucinações, muitas faces, e estas faces eram geralmente deformadas, com dentes desproporcionais ou olhos enormes... E isso, evidentemente, a assustava de sobremaneira... Não era tão simples quanto alucinar ainda mais sobre pessoas mortas, ou emular ‘chapeuzinho vermelho’ e o ‘lobo mau’: "Por que estes dentes tão grandes? Por que estes olhos tão grandes?”... Trata-se de um drama legítimo... E pode ser aterrorizante, frustrante, depauperante...
Então o que está acontecendo com estas pessoas? 10% das pessoas, que apresentam significativa perda visual, apresentam tais alucinações, mas apenas 1% destas pessoas percebem as alucinações como tal... Além do diagnóstico de epilepsia, o que seria suficiente, e necessário, para justificar alucinações sobre experiências místicas, no caso de Chico Xavier, também havia o componente das alucinações visuais... E todo este complexo alucinatório não foi percebido como tal...
Portadores de tais alucinações, podem ainda, temer um diagnóstico mais severo, ou o generalizado diagnóstico de insanidade, e preferem não mencionar tais delírios aos seus médicos... Mas, em grande parte dos casos, tais alucinações são mal interpretadas como fenômenos sobrenaturais, paranormais, e mediúnicos, além de visões milagrosas...
Sob o meu ponto de vista, alegar ‘mediunidade’ é ainda mais insano do que declarar ‘apenas’ possuir alucinações... Estar lúcido com respeito às alucinações é mais saudável do que acreditar piamente serem reais, e pior ainda, acreditarem que tratam-se de poderes sobrenaturais...
Ao longo de quase 50.000 anos de história, desde o homem de Cro-Magnon no Paleolítico Superior, passando por dezenas de milhares de divindades míticas e místicas, pela Antiguidade Clássica Grega, pelos tempos bíblicos, pela Idade das Trevas – Idade Média -, até os dias de hoje, podemos tecer uma vaga ideia de quantas alucinações foram convertidas em entidades míticas, sagradas e sobrenaturais... Se considerarmos ainda, a enormidade dos problemas e deficiências visuais, que não puderam ser diagnosticadas e tratadas adequadamente, em função da inexistência dos rudimentos das Ciências Médicas, da Oftalmologia, e da Neurologia; poderemos dispor de claro panorama sobre a nossa sina crente, alucinatória, explicando ao menos a origem dos fenômenos, através de figuras messiânicas, visionárias, místicas... Seguir ditos ‘alucinados’, requer outras disposições neurofisiológicas, que apontam para os Lobos Temporais, Parietais, Córtex Cingulado e Pré-Frontal...
Em geral, escutar coisas ou ver coisas que não estão lá, levam alguns a acreditarem que estão loucos... Mas devo insistir que a lucidez com respeito à alucinação tem um grande valor... No entanto, considerar alucinações como evidências do sobrenatural são, significativamente, mais graves... Temos outro problema a tratar nestes casos, e além das alucinações: a dificuldade em separar fantasia e realidade... Na esquizofrenia, tais devaneios estão ajustados à cena de forma perigosamente real...
Alucinações psicóticas são diferentes, sejam auditivas ou visuais... Alucinações psicóticas são pessoais, referem-se a você... Elas acusam você, acossam você, enganam, seduzem você... As alucinações psicóticas podem humilhar você, e podem mata-lo... Nas alucinações psicóticas, já não existe um ‘filme’, você interage com elas... E tais alucinações não decorrem de perdas auditivas ou visuais... Tais alucinações desafiam sua sanidade e lucidez...
Existem também as alucinações decorrentes da Epilepsia nos Lobos Temporais... Cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de epilepsia, e quase 90% delas ocorrem em países em desenvolvimento... Além disso, em 80% dos casos, não existem convulsões - a chamada epilepsia "idiopática" -; sendo assim, e muitas vezes, os pacientes não são facilmente diagnosticados... Normalmente o diagnóstico se dá, nestes caso, por conta de incursões ‘místicas’... O paciente, ainda não diagnosticado epilético, passa a apresentar um comportamento alterado, aludindo a fenômenos sobrenaturais, e falando sobre visões, missões messiânicas, mágicas e mediúnicas... Nos 20% dos casos, onde as convulsões são conhecidas, também existem relatos de experiências místicas após as crises...
Nos casos de Epilepsia nos Lobos Temporais, a pessoa pode acreditar que está voltando a algum momento ou lugar no passado... Você está em um cruzamento qualquer, sente um cheiro familiar de castanhas tostando ou pão-de-queijo, você escuta o som do tráfego, e todos os sentidos estão envolvidos, e você espera pela sua namorada, naquela tarde de uma terça-feira em 1982... Trata-se de um complexo de alucinações multissensoriais, repleto de sentimentos de familiaridade, e localizado em algum lugar do espaço e do tempo, como uma torrente dramática...
No caso da Síndrome de Charles Bonnet, temos alucinações dispostas com um filme, e todo o tipo de imagens, desde figuras geométricas, até alucinações bem elaboradas e complexas, contendo figuras e principalmente rostos, e amiúde rostos deformados... E os desenhos animados, são também muito frequentes... Então, retomando a questão, o que está sucedendo com o nosso cérebro???
É fascinante, e ao mesmo tempo assombroso, que nos últimos anos, tenhamos alcançado a condição de produzir o imageamento do cérebro... De forma que, hoje, podemos produzir uma neuroimagem funcional de nossos cérebros (fMRI - Functional Magnetic Resonance Imaging), enquanto o paciente está vivendo uma alucinação; para descobrir que, de fato, diferentes partes do cérebro, envolvidas na codificação visual, estão sendo ativadas...
Durante as alucinação geométricas, o Córtex Visual Primário é ativado, sendo esta a parte do cérebro que percebe bordas e padrões... Não formamos imagens com o nosso Córtex Visual Primário... Quando codificamos imagens, uma parte do Córtex Superior é envolvida no Lobo Temporal... Em particular, uma área chamada Giro Fusiforme... E hoje sabemos que quando uma pessoa tem um dano nesta parte, elas podem perder a capacidade de reconhecer rostos... Mas se existe uma atividade regular no Giro Fusiforme, elas podem alucinar rostos... E este quadro, é exatamente o que encontramos nestas pessoas...
Existe ainda uma área, na parte anterior deste Giro, onde particularmente ‘dentes e olhos’ são representados... E esta parte em particular é ativada, quando as pessoas tem alucinações deformadas ou acentuadas... Evolutivamente, a associação entre ‘dentes e boca’, em uma mesma área, pode estar relacionada com a necessidade de ler as expressões faciais, e elaborar os nossos estratagemas sociais...
Mas, curiosamente, existe outra região do cérebro, que também pode ser ativada, quando a pessoas alucina desenhos animados... É particularmente curioso que haja uma parte do cérebro especializada em desenhar e reconhecer estorinhas em quadrinhos, ou desenhos animados... Existe ainda uma parte do cérebro relacionada com prédios e casas... Ainda na década de 70, descobrimos que não só haviam partes especializadas no cérebro, mas também ‘células neurais especializadas’, por exemplo, para rostos... Hoje sabemos que existem inúmeras células neurais específicas... Você pode, não apenas ter ‘células de carros’, mas também ‘células de Aston Martin’, rsrsrsrsrs... Tenho um copo vazio de Jack Daniel´s ao meu lado, o copo trás um logo, e estava realmente cheio de Jack Daniel´s, uma edição especial, a Fire Brigade, três pontos em grau alcoólico, superior ao original... Devem haver células de Jack Daniel´s, para o copo com logo, e para a garrafa, e também para o liquido, rsrsrsrs...
Estamos tratando do nível conhecido como Córtex Inferotemporal... Neste nível trata apenas de imagens visuais, ou fragmentos de imagens, ou um figmentum – imagem ficcional... Apenas nos níveis superiores, é que os outros sentidos serão incorporados, além do relacionamento com a memória e as respectivas emoções associadas... E finalmente, na Síndrome de Charles Bonnet, você não ascende a estes níveis... Você permanece no nível inferior do Córtex Visual, onde existe um acervo de milhares, milhões, bilhões de imagens, ou fragmentos, ou fragmentos de ficções, ou imagens ficcionais; todos codificados visualmente, em células particulares, ou em pequenos grupos de células particulares...
Normalmente, neste nível, e estas células neurais envolvidas neste complexo, fazem parte do fluxo integrado de percepção - ou imaginação... E não temos consciência disso... Apenas quando a visão é comprometida, ou estamos totalmente cegos, é que o processo é interrompido... Então ao invés de uma percepção fluida, você passa a detectar um comportamento falho, anárquico, convulsivo, ou a liberação individualizada e desordenada, de todas estas células, no Córtex Inferotemporal... Então de repente você vê um rosto, agora um carro, então isso, depois aquilo... De forma súbita, interrupta, caótica...
No entanto, a mente faz de tudo para resistir ao caos, reorganizando-se para dar algum tipo de coerência a isso, mas obviamente não pode ser bem sucedida... O fluxo está interrompido... Quando o fenômeno foi descrito pela primeira vez, foi proposto que interpretá-lo como um sonho... Mas as refutações imediatas recaiam sobre o fato de ‘eu não conheço o Caco, eu não conheço aquele rosto, eu não poderia ter feito esta ou aquela associação’... Embora isso também suceda nos sonhos... De qualquer forma, o processo é efetivamente divergente de um sonho...
Distúrbios neurais como a Síndrome de Bonnet, são achados preciosos, no caminho de entender como o cérebro realmente funciona... Charle Bonnet refletiu, há 250 anos, sobre ‘como o teatro da mente pode ser articulado pela maquinaria do cérebro’... Agora, 250 anos mais tarde, estamos começando a entender ‘como o teatro da mente, da consciência, pode ser encenado à partir da fisiologia do cérebro’...
O próprio Oliver Sacks, o gigante Oliver Sacks, experimentou algumas das síndromes que ele ajudou a descrever, em suas próprias palavras: “Na verdade eu mesmo padeço da perda de visão, e eu sou cego de um olho, e o outo não está muito bom. E eu vejo alucinações geométricas, mas elas param por aí. Elas não me incomodam mais do que um zumbido que me acompanha, rsrsrs, e que trato de ignorar. Mas as alucinações me interessam ocasionalmente, e costumo desenha-las nos meus cadernos. Eu fiz uma fMRI em mim mesmo, rsrsrsrs. Para ver como o meu Córtex Visual está conduzindo tudo isso. E quando eu vejo todos estes hexágonos, e essas coisas complexas, eu também tenho uma enxaqueca visual. E costumo me perguntar se todo mundo vê coisas assim, ou se coisas como arte rupestre, ou arte ornamental, podem ter sido derivadas de experiências ou alucinações como estas.”
Lamento não haver estudado, ou passado mais tempo com este ser humano tão espetacular, singular, único, inefável e indelével... Tratei de comprar em ler todas as suas obras, e assistir a todos os seus vídeos, e preocupa-me o vazio que sua ausência produzirá... Longa vida a este gênio da lucidez, da sensibilidade, da generosidade... Poucos homens viveram como Oliver Sacks, Carl Sagan, Charles Darwin, Santiago de Cajal, Mendel, Steven Pinker, Bertrand Russel, Nietzsche, entre tantos outros... Sinto-me como agora, na companhia de Homens Notáveis, cujo legado transcende e muito, as suas vidas...
Carlos Sherman
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