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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

'Violência' se escreve com 30 'letras'!!!



'Violência' se escreve com 30 'letras'!!!

Em 2002 um estudo extraordinário enterraria - para sempre - uma vasta tradição litúrgica da fenomenologia do SOCIAL... Terrie Moffitt e Avshalom Caspi estudaram jovens nascidos entre os anos de 1972 e 1973, na cidade neozelandesa de Dunedin... Dos 1.037 participantes originais, Moffitt e Caspi escolheram 442 indivíduos... Estes recém nascidos foram acompanhados por anos até a fase adulta... O grupo foi estrategicamente escolhido, e não apresentava significativa variação em termos de classe social e riqueza, viveram a mesma realidade cultural em Dunedin, no mesmo período histórico... 8% destas crianças foram severamente maltratadas no período entre 03 e 11 anos... 28%, segundo o estudo, sofreram maus tratos moderados... Como era esperado, muitas das crianças maltratadas - não todas, nem a maioria - tornaram-se violentas ou extremamente violentas, apresentando problemas precoces na escola, ou problema legais na adolescência, ou mera disposição 'anti-social'... De acordo com a perspectiva sociológica, o 'aprendizado' e a cultura determinam pela experiência, o que seria escrito em nossa 'tábula rasa'... Mas não tão rápido!!!

Moffitt e Caspi estavam interessados na verdade e dispunham da Genética... Eles também estudaram os genes destes indivíduos, e suas atenções estavam voltadas para um gene em particular, o gene MAOA... Na parte superior deste gene, existe um 'promotor' com uma frase de '30 letras' - ou bases nitrogenadas,  adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T), que por sua vez ligam-se ao fosfato e resíduos de açúcar (2-desoxirribose, uma pentose, 05 carbonos), dispostos alternadamente, para formar as unidades do DNA, ou nucleotídeos - que pode estar repetida '3', '3,5', '4' ou '5' vezes... Os genes com as versões com '3' e '5' repetições, apresentam-se muito mais 'ativos' do que aqueles com mutações ou diferenciação para '3,5' ou '4' repetições... Então Moffitt e Caspi cruzaram seus dados com esta informação, mapeando dois grupos, com baixa e elevada atividade para o gene MAOA... Notável e surpreendentemente, os indivíduos com elevada atividade para o gene MAOA eram praticamente imune aos maus tratos... O que equivale dizer que, independentemente dos maus tratos recebidos, severos, moderados, nulos, tais indivíduos não apresentavam ocorrências para a violência, ou para atitudes consideradas anti-sociais ou ilegais... Já para aqueles indivíduos com baixa atividade no MAOA, a atitude anti-social aflorava, ligeiramente quando bem tratados, e intensamente quando maltratados... Para este grupo, definitivamente, os maus tratos eram medidos em seu comportamento violento, em uma taxa 04 vezes superior em relação a estupros, roubos e assaltos, em relação ao outro grupo...

Dito de outra forma, não basta ter sofrido maus tratos, você também precisa ter a predisposição genética - baixa atividade no gene MAOA - para desenvolver um comportamento violento... Ou podemos dizer ainda que não é suficiente ter a predisposição genética - baixa atividade no gene MAOA -, você precisa ter sido maltratado para desenvolver a violência... O mesmo raciocínio deve ser levado em conta para a influência das religiões na violência,  posto que os livros sagrados da tradição judaico-cristã-islâmica orientam para a violência e para a intolerância religiosa - punida com a morte -, além de um infindável cartel de proibições, igualmente punidas com a morte: adultério, homoafetividade, crianças rebeldes... Não basta estar vinculado à uma religião com um rito violento, temos que ter o gene MAOA em baixa atividade - além de outras predisposições genéticas concorrentes...

Desativar este gene em camundongos causa um comportamento sempre agressivo... Restaurá-lo reduz drasticamente a agressividade... Em uma família holandesa com um longo histórico de criminalidade, foi diagnosticado que - em várias gerações - somente os portadores do MAOA mutante, com baixa atividade, apresentaram comportamentos criminosos... Evidentemente este é um caso raro... Mas estima-se que portadores de baixa intensidade para o gene MAOA, e que venham a sofrer maus tratos, representam cerca de 37% da população masculina... 

O MAOA está no cromossomo X, e sendo assim os homens só possuem uma cópia... As mulheres tem sempre duas cópias, sendo que pelo menos uma apresenta boa atividade... Mas pelo menos 12% duas moças do grupo da Nova Zelândia possuíam seus dois genes com baixa intensidade, e foram diagnosticadas com distúrbios violentos - sempre que maltratadas... E as mulheres ainda possuem o agravante da TPM, rsrsrsrsrs...

Sendo assim, um genótipo problemático não é uma sentença, pois ainda restará a necessidade de um ambiente problemático... De forma análogo, um ambiente ruim e problemático - que sempre deve ser evitado - não será uma sentença irrevogável... 

Agora, por meio destas e de outras evidências, que a Ciência está comprovando a interação entre genes e ambiente, a ignorância já não pode ser declarada moralmente neutra... 

Somos quem somos sem intencionar sê-lo... Mais somos, legalmente falando...

Carlos Sherman


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