Uma grande amiga publicou:
"Tudo na vida é projeto e motivação, seja no lado pessoal ou profissional" " "SABER VIVER NESTA PEQUENA VIAGEM DA VIDA É NOSSO DESAFIO"
Agregando a imagem acima, com uma cara cadeira de rodas, feliz e sorridente, observei:
Adorei a segunda parte... Na primeira temo pela frustração de muitos pois na verdade a genética joga um papel fundamental, que pode ser potencializado pela 'motivação', mas não reinventamos pessoas... HM, um caso importante na neurociência, que a partir dos 27 anos, e pela retirado do hipocampo - equivocadamente - já não podia armazenar novas experiência, contando então com não mais que uma ou duas horas de concentração em novos temas, manteve o seu senso de humor ativo por mais 50 anos... Outros viveram de forma infernal, quando submetidos ao mesmo colossal desafio... Depende da genética, que pode ser estimulada pelo meio....
Publiquei ou post correlato sobre a relação entre violência e genética: http://ethosproject.blogspot.com.br/2012/12/violencia-se-escreve-com-30-letras.html - 'Violência' se escreve com 30 letras'!!!
(ethosproject.blogspot.com)...
Então minha amiga questionou:
"Então a motivação ou falta dela nos leva a ser quem somos? Não entendi!"
Respondi:
Não querida... Na verdade a genética contém 'quem somos', ou seja, como a semente de um 'tipo de flor'... O meio representa a água, o sol, os nutrientes, a terra... Não poderemos ser rosa se somos cactus, mas poderemos ser uma rosa frondosa, ou murchinha, ou seca... E podermos ser um cactus vistoso com suas setas pontiagudas, ou podemos ser um cactus com suas setas atrofiadas, pelo meio... Mas dificilmente conseguiremos disfarçar um cactus de rosa, e vice-versa... O que importa é reconhecer o valor intrínseco de cada 'tipo' de pessoa, encarar a diferença com naturalidade... A genética não é uma sentença, mas uma base sobre a qual seremos plenos ou não... O meio contribui nessa realização de nossa plenitude, ou apaga, bloqueia... Não basta estímulo, precisamos da genética... Mas sempre, receber estímulo será bom... Sempre... Quer frutifique ou não... Trazendo a metáfora das plantas para a realidade humana, estamos falando de uma DIVERSIDADE espetacular, de 'tipos de pessoas', e absolutamente individuais e únicas... Então veremos um JARDIM 100% variado, onde as afinidades serão mais tênues que as diferenças... Mas todos humanos, enfrentando os mesmos desafios 'pessoais e intransferíveis'... Troppo umanos...
A cultura de massa, convergente, e não animista ou conspiratória, trata de projetar os estereótipos do 'sucesso', ou do momento, e entender a genética, pode ser libertário, no sentido de aceitar as DIFERENÇAS... Promovendo o tratamento igualitário... Devemos estimular sempre, tratar de forma justa sempre, mas entendendo que as pessoas serão SEMPRE diferentes... Dois indivíduos partindo das mesmas condições serão totalmente diferentes ao longo dos anos... A menos que sejam gêmeos univitelinos... Neste caso, serão muito similares, mesmo se separados ao nascer... Não iguais, mas muito parecidos... Muito mais parecidos do que gêmeos fraternos criados juntos...
E ela ainda acrescentou: "Somos fruto do meio" é válida?"
Respondi:
Não querida, é uma falácia... Sociológica... Velha... Durkheim, um dos fundadores da Sociologia disse 'omnia cultura ex cultura', i.e., 'o fenômeno cultural ou social decorre do fato cultural ou social' - apenas... Não procede... Digo 'omnia cultura ex hominem'.... É o que descobrimos todos os dias...
Ela continuou:
"É uma falácia? Uma pessoa nascida e criada num meio de violência não tem maiores possiblidades de ser mais violenta que outra nascida em meio diferente?"
Expliquei:
Na verdade a genética é a base para o trabalho do meio... E ainda é mais forte... Mas o meio será importantíssimo em realizar ou bloquear a genética....
Ela complentou:
"Mas influencia?"
Sim, claro... Influencia, e muito... Mas não é uma sentença, e nem é a principal explicação para a existência da violência... Mas é parte importante do problema... Sim, se possuímos uma tendência inata, natural, para refletir a violência, seremos mais violentos se apresentados a ela... Se não tivermos esta tendências, podemos ser imunes à violência... Pelo sim e pelo não, e por muitos fatores, devemos impedir a violência familiar, e social... Sempre... Mas só a violência constada não explica a violência refletida - e que vem diminuindo...
Portanto um meio violento não é suficiente, precisaremos ainda que o gene MAOA contenha de '3,5' a '4' repetições de uma sequência de 30 letras, o que implica em uma baixa atividade para este gene, e uma inegável tendência a reproduzir a violência ou ampliá-la... Está provado que, se não houver tendência genética para refletir a violência, você sofrerá violência e não refletirá, i.e., não será violento, nem apresentará traços anti-sociais...
Ou seja, dito de outra forma, um meio violento não é uma sentença determinista para a violência... Esta foi e é uma falácia... Sabemos, com segurança, que tal conceito está equivocado, e isso deveria promover mudanças em nossos códigos de leis e critérios... Leu o estudo que publiquei??? Existem centenas de estudos similares... Muitos são conclusivos...
Ela observou:
"Que coisa estranha! A gente passa uma existência acreditando que o "somos frutos do meio" e vem uma avalanche dessas desmentindo nossa crença!"
Querida, passamos a existência 'curta' de nossas vidas, acreditando em um monte de coisas que simplesmente não procedem... O problema está em 'acreditar', ao invés de esperar para saber... Não deveríamos ser encorajados a acreditar em coisas sem evidências... Principalmente questões essenciais... Mas esta tendência em aderir a crendices, sejam maiores ou menores, é evolutiva e humana...
Mas que bom que podemos desmentir velhas ilusões... A vida vai se tornando mais REAL, e excepcional, na minha visão... Estamos rompendo o paradigma de 'crer' em favor de esperar para 'saber'... Enquanto não sabemos adotamos uma postura humilde e de observação, ou estudo....
Por exemplo 'pais criminosos produzem mais filhos criminosos do que pais honestos, e com elevada correlação, MAS somente não se forem adotados... Um grande estudo na Dinamarca mostrou que filhos de famílias honestas, adotados por famílias honestas, apresentaram 13.5% de incidência de problemas com a lei... Esta incidência aumenta para 14,7% - apenas 1,2% - se a família adotada tem severos problemas com a lei... Por outro lado, recém nascidos de pais criminosos, adotados por pais honestos, tem 20% de incidência de problemas com a lei, enquanto filhos de pais criminosos adotados por famílias criminosas eleva a incidência para 24,5%...
Ela 'perguntou'? - de forma sutilmente 'afirmativa negativa', rsrsrs:
"Pesquisa não falha, não é?"
Eliana, não é uma 'mera' pesquisa, como uma pesquisa de marketing, ou de boca de urna, com interesses conflitantes... Trate-se e tratam-se de trabalhos profundamente planejados, elaborados e executados, sem par na Sociologia... E como todo verdadeiro trabalho científico, imparcial e a devida e necessária margem de erro calculada... O acompanhamento de milhares de pessoas por anos, de forma isenta...
Então a pergunta não está bem colocada e soa como uma 'afirmativa negativa'... Pesquisas tem margens de erro calculas, e já estão expressas nos resultados... Podem haver pesquisas mal feitas e conduzidas, mas definitivamente não é este - nem de perto - o caso... Mas quando todas as pesquisas - realizadas por diferentes pesquisadores em diferentes países, e apontam na mesma direção, e com números muito próximos, temos resultados CONCLUSIVOS...
E existe um sério trabalho em curso, que não pode ser comparado com 'dogmas' do final do século XIX... Temos pesquisas, sérias, confrontada contra NADA, contra dogmas e postulados... As aparências enganam... A Terra parece estar parada, o crime parece ser facilmente e unicamente justificado pelo meio... Mas hoje realmente sabemos que não é... Parecemos dispor de um fantasminha interno que diz 'eu sou eu', mas não possuímos tal fantasminha... O que possuímos sim, e inequivocamente, é uma tendência irresistível a acreditar em coisas e conceitos confortáveis e convenientes... Primeiro CREMOS, depois buscamos motivos racionais para crer...
Quero dizer que quem não estuda o tema está na mera posição de crer nisso ou naquilo... Na falácia da 'tábula rasa' - por exemplo -, onde seríamos uma folha em branco na qual o meio escreve - pela experiência - quem seremos... Se violentos ou não... Sabemos hoje que isso é uma tremenda crença, assim como a Psicanálise, Marxismo, e seres de outro planeta... E sabemos onde as crenças se formam, e porque... Sabemos que são incentivadas por genes concorrentes e pela fisiologia correlata, - como o DRD4, entre outros -, que desenham a 'neurofisiologia de crer'...
Experimentos como este, um dos mais importantes já realizados assim como o experimento da Nova Zelândia -, estão baseados em evidências, e não na vontade pueril dos pesquisadores... Existe uma diferencia colossal entre arbitrar coisas e estudá-las, e sem dúvida existem margens de imprecisão, que já estão considerada aqui... Mas nada disso torna o estudo débil, ao contrário, aponta a sua seriedade... E tudo isso não pode ser comparado com postulados milenares entoados liturgicamente até o fim do século XIX, porque aqueles que não puderam conhecer a tríade Darwin, Mendel, Cajal, e as subsequentes ciências derivadas... A Neurofisiologia e a Genética, assim como a Biologia Molecular, tem um legado de poucas décadas...
Qualquer discussão filosófica está fadada à achologia, sem o necessário pre-requisito de saber como o homem 'é', em detrimento de como achávamos que fosse... Os Yanomamis do sexo masculino matam uns aos outros, literalmente, na passagem para a vida adulta... Matam-se muito mais do que os respectivos jovens de uma favela do Rio, em plena luta por território... A taxa de mortalidade entre os jovens é de 50% entre os guerreiros Yanomamis, i.e., metade dos jovens do sexo masculino se mata em brigas e disputas viris... A crença do 'bom selvagem', ou seja, de que devemos retornar à natureza 'pacífica e idílica', e isso e aquilo, também está na berlinda, e precisa ser melhor analisada, afinal - pasmem - a violência relativa está diminuindo - e muito -, e não aumentando como propagam os adoradores do Armagedon e conspiracionistas de plantão...
Sete grandes falácias atravancam o progresso humano: 1. A busca por utopias - de Platão a Marx, passando por More - em detrimento do melhoramento contínuo livre, contingente e convergente; 2. A falácia do livre-arbítrio, em detrimento do conhecimento da natureza humana - somos quem somos sem intencionar sê-lo, mas somos; 3. O homem é produto do meio, ou a tábula rasa, em detrimento do conhecimento sobre a Neurofisiologia, Genética e Etologia - o que evidentemente não quer dizer que o meio não tenha influência, e inclusive o meio tem ainda mais influência quando analisamos agrupamentos humanos, devido à geografia, latitudes, e a climatologia; 4. A dualidade corpo e mente, porque não somos um corpo habitado por uma mente ou alma, somos um corpo e nada mais, conforme demonstra todos os dias a Neurofisiologia; 5. E a falácia do 'bom selvagem', ou a 'boa minoria', ou 'antes era melhor', em detrimento de todos os conhecimentos citados anteriormente agregando a Antropologia... Não, não era melhor antes, e a alegação é uma contradição em si, afinal evoluímos para o hoje, na busca de saídas para antigos problemas, e inclusive temos sido bem sucedidos, vivendo mais - e muito mais - e morrendo menos ao nascer... Citando um experimento que você gentilmente me deu a conhecer, sabemos que o acesso à saúde no mundo aumento em qualidade e quantidade... Não, antes não era melhor, vivíamos muito menos, amargávamos o sofrimento de ver os nossos filhos morrerem ao nascer com muito mais frequência - e nada supera esta dor...
A trajetória da humanidade é um processo contínuo, convergente, inconsciente, ou seja, dispensando as falácias anímicas de ocasião anti-americanas, anti-capitalista, anti-globalização... Humanos, troppo umanos... Contrariando outra falácia, da violência humana, que pode ser um sexto item da lista: 6. Não somos violentos e malvados por natureza, e na verdade somos a espécie animal mais solidária em vida neste planeta, e uma das raras espécies que pratica amplamente a empatia, e somos os únicos que possuímos a inegável capacidade de entender e partilhar a nossa existência, as nossas experiência, emoções e sentimentos, como nenhuma outra... Podemos inventar a arte, foguetes, e mitos, podemos acertar e nos equivocar, nas mesma medida, e podemos entender como isso acontece, e eventualmente, rir de nossa condição - ou não... E isso dependerá muito mais da genética do que da auto-ajuda...
A sétima e última falácia versa sobre a existências de deuses, onipotentes, onipresentes, oniscientes, e ao mesmo tempo 'morosos e letalmente vingativos': 7. Deuses - todos eles... Um Delírio...
Finalmente - rsrsrsrsrsrs - se o cara da imagem acima não possui função erétil, sendo jovem, e com uma gostosa fogosa sentada em seu 'colo', e enquanto ele faz malabarismos com sua cadeira de rodas, e rindo, acho muito difícil que tal comportamento possa ser encontrado no mundo real... Não significa que perder a ereção seja o fim da vida, e todos seguiremos para este destino... Mas significa sim, que se já não posso ter uma ereção, preferiria fazer outras coisas, bem diferentes da proposta acima... Este é o problema da auto-ajuda, e da 'lei do retorno', do 'querer é poder'... Querer, desejar é muito importante... Planejar, executar e lutar, ainda mais... Persistir é imperioso... Mas os resultados decorrem de muitos fatores...
Tudo o que não se fundamenta na realidade, por mais paliativo que possa parecer, fatalmente - em algum momento - causará frustração... Não existe droga mais poderosa do que a realidade, e por isso não entendo por que tantos buscam conforto em drogas menores, como a cocaína, o álcool, religiões, esoterismos e viagens na maionese sobrenaturais em geral, 'paulocoelhismos', ETs, freudismo, 'marxianismo', auto-ajuda, homeopatia, et coetera...
De forma que sabemos sim, pela genética, reforçada pela cultura que dizer que: Omnia cultura, ex hominem...
Beijos natalinos...
Carlos Sherman
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