“[Epistemologia] É essencialmente o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinado a determinar sua origem lógica (não psicológica), seu valor e seu alcance objetivo." - Lalande
Toda discussão Filosófica pode e deve ser reduzida ao 'saber como' - ou então 'esperar para saber como'... Crer, postular, ou o mero constructo metafísico e 'sobrenaturalóide', são recursos ora da autoridade, ora da ignorância que teme... Quando existe uma neurofisiologia delicada e sutil envolvida, 'saber que' não é suficiente - nunca foi... Deliramos, codificamos ilusões, sendo que o divisor de águas da própria sanidade e lucidez é o 'saber como'... Para comparar, e distinguir fantasia e realidade... Mesmo que tal fantasia esteja trajada de epistemologia...
Mas é ainda mais importante dizer, para começar, que toda discussão filosófica requer uma proposição como ponte de partida...
A Epistemologia, ou a própria Filosofia, deveriam versar 'apenas' sobre a 'pensabilidade' lúcida, submetendo proposições, hipóteses, e argumentos ao escrutínio da razão, sem o preenchimento vão das lacunas... Valendo-se, para tal empreitada, do pré-requisito indispensável do conhecimento da neurofisiologia humana... Toda discussão filosófica, sem o pleno conhecimento da neurofisiologia humana, e de principalmente sobre suas armadilhas, é vã... E tal ferramenta - a Neurofisiologia - só está disponível a um par de décadas...
Ziguezagueamos entre conhecimento e crença, enquanto tateamos sobre a natureza humana... Já não precisamos recorrer a verbosidades e outra falácias retóricas... Agora podemos 'realmente' filosofar, e não precisamos de uma corporação paea tal fim... Onde muitos viram e vêem mistério, existe apenas complexidade a ser desvendada... Sempre... Os 'bugs' de nossa cognição estão no caminho, e precisamos conhecê-los, para então tratá-los...
Sim existem verdades... Verdades factuais, que podem ser constatadas por todos, em qualquer lugar, independente de interpretações, ideologias e vontades... Podemos assim comparar fatos, e avaliar a LUCIDEZ... E repito, qualquer questão pode, em última análise, ser reduzida a uma questão factual... Não existe um domínio para 'o mundo da ideias' e outro para o 'mundo real' - físico... Não existe uma alma - ou mente - habitando um corpo... Somos um corpo... Se não podemos defender uma proposição com provas, estamos não no domínio da ideias, estamos no domínio do 'consenso'...
Infelizmente, a Filosofia institucionalizada, acadêmica ou enciclopédica, teima em viver de uma liturgia inteiramente superada... E não aplica a si alguns de seus mais importantes achados conceituais... E não permite - mais do que tudo - que o sol penetre pelas frestas de suas espessas paredes... Não permite que a Genética, a Etologia, a Neurociência Cognitiva, a Antropologia invada o seu domínio, repleto de 'ideias vazias', e permeado por feitos genuinamente heroicos da intuição e da percepção...
Submetam ao escrutínio da 'pensabilidade' ideias anteriores a Darwin, Mendel e Cajal... Não podem ter ido tão longe... Mesmo os que vieram depois não caminharam muito mais... Não idolatrem homens que tateavam como tateamos nós, só que num breu ainda mais espesso... Aproveitemos seus 'insights', mas recusemos o seu mero culto...
Algumas teses e seminários, sendo discutidos hoje em cursos de Filosofia com a USP, Unifesp, UFSCar:
"Desnaturalização da política n'A cidade de Deus, de Agostinho", "El método de división en el Fedro de Platón", "II Colóquio Wittgenstein: Investigações em Andamento - o Tractatus e suas Releituras", "Filosofia da Psicanálise", "Darstellungen nos Princípios da Mecânica e no Tractatus:a representação dos objetos e a figuração do mundo em Hertz e em Wittggenstein", "Os princípios de psicologia de William James: compromissos e consequências de uma filosofia da ação", "Metapsicologia e clínica psicanalítica: um estudo sobre as relações entre os princípios clínicos e as construções metapsicológicas", "O problema antropológico em Michel Foucault", "Honra, prudência e justiça na obra política de Thomas Hobbes", "A psicanálise freudiana e o atual contexto científico da biologia da mente: uma discussão a partir das concepções sobre o ego", "Leibniz contra o vazio : a relação entre a teoria das substâncias e o conceito de espaço", "Por uma filosofia transvalorativa : a crítica da consciência moderna em Nietzsche", "A existência ética e religiosa em Kierkegaard: continuidade ou ruptura?", "Mundo interior e expressão: a filosofia da psicologia de Ludwig Wittgenstein", "Regra e criatividade no comportamentalismo radical de B.F. Skinner", "Nietzsche: pathos artístico versus consciência moral", "O problema da agência moral e política na filosofia de David Hume", "Gestalt, expressão e temporalidade – considerações sobre a fenomenologia da percepção, de Maurice Merleau-Ponty", "Sublimação, pulsão de morte, superego : o papel das teses freudianas sobre a cultura na elaboração das concepções metapsicológicas", "Subjetividade, o si-mesmo e o narcisismo : uma leitura freudiana", "Niilismo, transvaloração e redenção na Filosofia de Nietzsche", "O estatuto da reflexão em Sartre", "Determinismo, Indeterminismo e Behaviorismo Radical", "Para uma ética da amizade em Friedrich Nietzsche", "A concepção de homem no Behaviorismo radical e suas implicações para a tecnologia do comportamento", "Linguagem e significado nas investigações filosóficas de Wittgenstein : uma análise do argumento da linguagem privada", "A geratividade do comportamento verbal : divergências entre as propostas de B. F. Skinner e N. Chomsky", "Elementos para a formulação de uma psicossomática psicanalítica", "A lucidez imperfeita : ensaio sobre Freud como escritor", "Determinação versus subjetividade : apropriação e ultrapassagem do estruturalismo pela psicanálise lacaniana", "Realidade psíquica e inconsciente em Freud e em Bérgson : considerações a partir de uma filosofia da ação", "A dialética na crítica à ilustração conforme a fenomenologia do espírito", "A noção de perspectivismo na filosofia de Blaise Pascal", "A natureza do psíquico e o sentido da metapsicologia na psicanálise freudiana", "Existencialismo e marxismo - a filosofia de Sartre entre a liberdade e a história", "O estatuto do real em Lacan: dos primeiros escritos ao seminário 7 - A ética da psicanálise", "Behaviorismo radical e subjetividade"...
Apesar de admirar profundamente a reflexão de Nietzsche, Wittgenstein, William James, entre outros, devo objetar quando nos mantemos imersos e cativos, círculos, ruminando indefinidamente sobre - por exemplo - o Tractatus??? Freud? Um charlatão desmascarado... O que queremos nós com Santo Agostinho, Lacan, Platão, Hume, Hobbes, em 2012??? Já aprendemos com eles, e os superamos... Muito... Nem uma nota sobre um pensador contemporâneo, por quê? Por que não há? Ou porque boa parte do objeto da filosofia está sendo tratado por meio das ciências correlatas? Ou porque os pensadores de hoje não emergem dos círculos filosóficos??? Já que estes repousam, inertes, em berço esplêndido...
Este eterno viver no passado significa saudosismo, fundamentalismo ou incompetência???
Humano, troppo umano... Realista e desperto, porque o tempo, o tempo não pára...
Carlos Sherman
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