Publicaram a mensagem acima... Comentei:
Muito bom... Mas depende do que se lê... Se um livro professa a ignorância, lê-lo será um caminho mais rápido para ignorar ainda mais a REALIDADE... Se um drama é fantasioso, nos afastaremos ainda mais do contato com a realidade, e consequentemente com a vida - como ela é... Não podemos confundir também 'fantasia banal' com aventura... Um livro de ficção e aventura, drama ou romance, ainda pode ser valioso sem a necessidade de subverter as possibilidades REAIS da vida... Não precisamos voar em tapetes mágicos para assegurar um 'grand finale', nem de cisnes que se transformem em príncipes para ilustrar o amor e romantismo... Aliás, este tem sido o problema...
Escritores se debruçam sobre o filão rentável das 'estórias de amor', seriando dramas que não são apenas ficcionais, são ilusórios... Se um escritor pretende desenrolar uma drama emocional, de algum valor literário, ele precisaria ao menos entender como o emocional se processa em nós - humanos... Por exemplo, se alguém está baseado nas falácias sociológicas do 'homem é produto do meio', ou ainda acreditam em 'fantasminhas' que habitam a máquina do corpo, não será possível construir um romance de boa qualidade, pois a REALIDADE será subvertida... Os leitores deste romance baseado em falácias levarão consigo tais falácias... É por isso que Drummond, Neruda, Garcia Marques, Eco, Saramago, escrevem bem, porque mesmo as suas ficções levam por dentro o pleno entendimento da natureza humana...
Isso suscita outro velho debate, o confronto 'inexistente', e igualmente falacioso, entre 'sensibilidade e conhecimento'... Não existe tal confronto, e ao contrário, o que presenciamos é uma relação biunívoca e siamesa... Sensibilidade e conhecimento andam de mãos dadas... Quando alguém se pretende sensível sem conhecimento, e dedica-se a escrever, uma nova verborragia estará em curso... Mais uma obra que gasta papel, consome dinheiro e tempo, e não merece ser lida... A verborragia, tão frequente em nossos dias, vai do nada ao lugar algum, 'equacionando' belas palavras e chavões, que serve de alimento para mentes poucos treinadas...
Ler uma besteira, mal escrita, também é perda de tempo e dinheiro, além de contribuir para o desmatamento, rsrsrsrsrs... Uma boa obra precisa conter no mínimo: 'conteúdo', 'entretenimento', e 'escrita' de bom nível... Caso contrário estaramos relativizando o 'irrelativizável', a qualidade do que é dito, e como é dito... Inventar um novo nome, um novo estilo para proteger uma linguagem chula, como se encarássemos uma nova possibilidade artística, constitui falácia nomotética... É como chamar um lixo de arte... Lixo é lixo mesmo, e pronto... Isso é frequente no vanguardismo de ocasião... Pretender que o 'conhecimento' seja algo relativizável como 'o seu conhecimento e o meu', é desconhecer os caminhos - científicos - e protocolos da pensabilidade, que realmente conduzem à certezas... Ciência é o ato, ou atitude, de tomar ciência... De tornar-se ciente... E não existe outra forma de obter conhecimento sobre a realidade, e de conduzir-se pela ética... Ético, logo cético... Lamento desfazer vãs ilusões...
Segundo Drummond, pouco mais de 100 obras mereceram ser escritas... Acho que ele exagerou, mas acho que não devem passar de 500 - em meio a milhões... No espectro de dezenas ou centenas de milhares de livros em uma livraria como a Cultura do Conjunto Nacional em São Paulo, imagino que apenas 1% dos livros mereçam ter sido escritos...
Os títulos em maior exposição se referem à crendices, sem nenhum conhecimento ou instrução sobre a REALIDADE... E fiz a análise, na condição individual de maior cliente da Livraria Cultura do Conjunto Nacional em títulos mês... Os campeões são Freud, Auto-ajuda em geral, Sobrenatural em geral, e baboseiras como o 'paulocoelhismo' e derivativos... Um triste destino... Estou lendo 17 livros simultaneamente, e grande parte disso se refere às minhas pesquisas sobre a natureza humana, Filosofia, Neurociência e Genética, e alguma literatura... Quero entender porque a 'crença na crença', mesmo a crença por meio literário... Ler é preciso, mas saber 'o que merece ser lido' é imperativo - e bem mais complexo...
Mas sinto-me alinhado com a mensagem, embora persista a observação: ler por ler não basta... Páginas por dia não são uma medida de evolução intelectual ou cultural... Páginas por dia não combatem - necessariamente - a ignorância, e ao contrário, segundo o exposto, pode até acentuá-la...
Carlos Sherman
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