CARTA A JEAN – UM GRANDE HOMEM
Jean,
Tenho muito orgulho de ser representado por você...
Particularmente - embora a vida íntima e pessoal não seja problema de ninguém
-, sinto desejo sexual por mulheres, rsrsrsrs, e afeto por humanos nobres -
como você... Você é um grande HOMEM, bem sucedido sim - e muitos o são -, mas a
sua nobreza ecoa em outra esfera, a esfera rarefeita da ÉTICA... Por isso
sempre digo:
Ético, logo cético...
Posso ser um valoroso aliado, gostaria de ser um bom amigo, e
um humilde colaborador... Conte comigo, e siga em frente, a sua luta é a nossa
luta... Gosto de pensar, como mero mortal, que o legado de meus atos seja maior
do que a minha estória finita... Gosto de pensar que homens como nós serão
paridos por outras gerações, até que estejam todos mais focados em aliviar o
sofrimento humano, e viver de forma mais solidária, justa e REAL... Costumo
dizer que a realidade é a droga mais poderosa - e maravilhosa - que existe, e
não entendo porque as pessoas buscam drogas menores, como a cocaína, a
religião, a crença no sobrenatural, o freudismo, o 'marxianismo', etc...
Buscamos testemunhas para a nossa existência, e por isso
estamos cercados de amores, amigos, que vem e vão... Na realidade o que fazemos
é reconhecer testemunhas, reconhecer amigos, companheiros de viagem... Pois eu
testemunho a sua existência - ou como digo: o hiato de minha inexistência -,
como 'humano, troppo umano'...
No debate com Malafaia – nome de vilão – lembrei-me de outra
cena memorável da história, envolvendo um homem da sua estirpe, Thomas Huxley,
contra o temido Bispo de Oxford Samuel Wilbeforce... Nas inigualáveis palavras
de Carl Sagan:
"(...) o Bispo de
Oxford, Samuel Wilbeforce, de dedos enfiados na lapela volta-se ostensivamente
para Huxley e, com maliciosa cortesia, insiste em saber se 'é por parte do avô
ou da avó que o senhor afirma descender de um macaco?' Ao detectar a entonação
bajuladora dada à palavra 'avô', a assistência solta alguns 'oohhs' em voz
baixa e concentra a atenção em Huxley. Ainda sentado, Huxley vira-se para o
indivíduo que está ao lado dele e, quase sonolentamente, murmura 'o senhor
entregou-o em minhas mãos.' Pondo-se de pé e fitando Wilbeforce nos olhos
responde: 'Prefiro ser descendente de dois símios a ser um homem que tem medo
de enfrentar a verdade.' (...)" (Sagan, 2009 - Sombras de Antepassados
Esquecidos, editado apenas em Portugal)... Você está ao sentado ao lado destes
homens... Homens que não temem a verdade jamais...
Ou podemos remeter ao julgamento de Galileu... E na verdade
existem conhecimentos exatos, e que podem ser comprovados todos os dias, seja
em Londres, em Quixeramobim, ou em Xangai, e por qualquer um... Trata-se do
conhecimento científico... da atitude de ‘tomar ciência, de tornar-se ciente’,
simplesmente para promover justiça... E existem 'propostas' subjetivas ou
literárias... E neste espectro não se pode afirmar nada... E o que dizer da
baboseira sobrenatural? Mas o problema aqui, é que a posição da Terra, como
centro de um conciso sistema universal, foi tratada com a mesma liturgia que a
virgindade da suposta mãe do suposto ‘salvador dos cristãos’... O Cardeal
Belarmino, no julgamento de Galileu, bradou:
"Dizer que a Terra
não estão no centro do universo, é o mesmo que dizer que Cristo não veio de uma
virgem" - Cardeal Belarmino, Julgamento de Galileu
Um homem, a vida de um bom homem, estava na mão de tais
sandices... Bom, Belarmino tinha razão, tratavam não só de uma, mais duas
fábulas... E há um porém, antes que uns se aviltem em 'contextualizar' o
assunto: Cerca de 2.000 anos antes deste triste capítulo a história da
humanidade ter sido encenado, Aristarco de Samos havia concluído 'corretamente'
que a Terra girava em torno do Sol... Tal 'conhecimento' não pôde inspirar as
seguintes gerações porque os dogmas ou 'outros conhecimentos', foram mais
rápidos, fortes e sorrateiros... Este é o perigo da relativização do
conhecimento... Não obstante, a ciência, o ato de tomar ciência, trata o seu
acervo de conhecimento com muito cuidado... Com honestidade empertigada, como a
sua... Sendo você, pois, um homem de atitude científica... E esta atitude admite
que suas 'verdades' estão sujeitas a um universo de aplicação, ao erro, e à revisão...
E esta não uma fraqueza, e sim a sua maior fortaleza... O dogma não se renova,
quebra, carcomido, débil, patético...
Perdoai-vos, Jean, eles não sabem o que dizem, estão todos
'acéfalos em cristo'... Crentes são vítimas, os estelionatários do púlpito,
seus algozes... A fé nada explica, mas afasta importantes reflexões, e teima em
impedir que as ilusões sejam convertidas em verdade e realidade... Fé é quando
as respostas precedem as perguntas... O ato de fé é – em princípio –
patológico...
Mas vamos nessa, não deixa barato, estamos todos com você...
Carlos Sherman
Parabéns Carlos! vc como sempre enaltecendo aqueles que lutam pela racionalidade, um defensor da razão, como o Jean que se empenha heroicamente e resiste bravamente naquele covil.
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