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domingo, 21 de outubro de 2012

Ser solidário - também - é INTELIGENTE...



Publicaram:

Não acredito em boa ação totalmente desinteressada... Por isso não acho muita superioridade a pessoa fazer caridade sendo atéia... Se não faz por recompensa divina, faz pra massagear o ego, ou pra apaziguar a própria consciência... Então, pra mim, os resultados que contam, seja crente, espirita, ateu, o importante é fazer algo... Sem achar que sua motivação é mais pura que a de outro...

Objetei:

Fazer o bem pelo bem de fazer... Apenas para sentir-se bem... Não é pra qualquer um, depende de sua configuração bioquímica e neurofisiológica... O altruísmo consiste em investir uma parte ou a totalidade de suas provisões para viver, na vida de outrem... Não pelo 'payback', mas pelo 'feedback' - bioquímico... Para sentir-se bem... 

Daria a vida por minhas filhas, sem pensar maie vez, e este seria um exemplo de altruísmo real - irrelativizavel... Mas se pensou no 'interesse' de garantir a propagação de meus genes, muito bem... Parabéns!!! Só que daria a minha vida também por minha filha adotada e por minha esposa, quem não carregam os meus genes... Fazer o bem faz bem...Não moralmente, mas fisicamente... É anti-oxidante, rejuvenesce, alegra... E se quiser encarar assim, trata-se de um 'saudável interesse'... 

Mas no caso de dar vida por uma filha por um ente querido, e muitas vezes - como a história registra - por um estranho, não garante nem mesmo mesmo o 'interesse' por uma vida mais saudável, já que o 'prêmio' será a extinção de sua vida - o bem mais precioso... Ontem, em um debate com um crente imbecil, ele assegurou que não daria a vida por um filho para que o filho 'não sofresse'... Sim, é isso mesmo, ele considera que o filho ficará muito triste, e de fato ficará... Quando perdemos um avô, pai, mãe, um parente próximo, sofremos, mas a vida continua... Superamos, ficamos com as lições aprendidas e seguimos em frente... Mas aqueles que conhecem o 'terror' em face da morte certa, sabem o que é pior... Empenhei 16 meses de minha vida ajudando um abrigo para crianças em tratamento de câncer no Centro Boldrini em Campinas, e sei como é vê-las morrer... Mas neste caso, nossas crianças morriam em geral, sem uma clara consciência da morte - mas com muito sofrimento e dor... Mas acompanhei o sofrimento e o terror daqueles que se despedem - para sempre - conscientes da finitude... O desespero luta contra a falência do corpo... No fim o desejo de descansar normalmente vem... Mas não é o caso de pessoas jovens, conscientes da perda da vida, e dependentes do transplante de órgãos... O desespero e o sofrimento é flagrante... Não bastasse isso, não poderia suportar viver sabendo que poderia ter dado à minha filha a oportunidade de viver muito do que já vivi... De forma que assegurei ao meu confuso debatedor crente, que no caso hipotético, de salvar uma filha, além da tristeza pela perda do pai, a filha dele levaria um tremendo exemplo, que poderia ser - memeticamente - propagado... Encaro a realidade com tesão, rsrsrs, e tenho um convívio sereno com a morte certa, o que me impulsiona a sorver cada minuto de minha vida, e dignificá-lo... Uma das formas de fazê-lo em insistir: Ético, logo Cético....

Trata-se de um ledo e profundo engano associar o 'ateísmo' a uma ortodoxia em termos de ações e até mesmo de personalidade... Dois ateus só convergem pelo fato de não acreditarem em deuses, e nada mais... As personalidades, temperamentos, o caráter de diferentes ateus será naturalmente diferente... O 'status' de ateísmo não garante nem mesmo uniformidade nem mesmo em relação à adesão ao sobrenatural ou ao fenômeno da crença na crença - extra-terrestres, marxismo, psicanálise, etc... Existem 'ateus' que viajam na maionese extra-terrestre, ou cultuam o 'freudismo', 'marxismo', como mais uma crenças... 

'Ateus', se é que podemos falar em um grupo, deveriam ser mais solidários... Teoricamente, ateus, pela finitude da vida, deveriam convergir com mais facilidade para a ética, e logo uma atitude mais humana - troppo umana -, e não o contrário... Para aqueles que - não tendo entendido os argumento - pensem em acusar-me de moralismo, releiam... Ser útil à humanidade, como modelado pelo ganhador do Prêmio Nobel, John Nash, é mais inteligente... Corrigindo os princípios de Adam Smith - e ignorando o dogma marxista - Nash descobriu que em um sistema com recursos finitos a melhor performance esperada para uma economia não é - como definiu Smith - fazer apenas o que é melhor para si mesmo... Smith pensou em uma somatória simples de esforços, cada um batalhando por si mesmo, e então obteríamos a melhor das performances possíveis para o grupo... Nash modelou o fenômeno e descobriu que não, que na realidade esta sociedade hipotética viveria um incremento produtivo, para estabilizar e em seguida decair, quando os recursos escasseassem, e a matança irrompesse... Quando o egoísmo - empenhar recursos 'apenas' em si mesmo - mostrasse a sua face mais nefasta: - a burrice... Nash reformulou, devemos fazer o melhor para nós - e garantir a nossa sobrevivência - mas também fazendo o melhor para o grupo... Esta correção é conhecida como Equilíbrio Nash... Se preferir assim, o interesse derradeiro seria a prosperidade humana, da humanidade; e se preferir assim, a solidariedade é INTELIGENTE... E bela... 

Tenho ressalvas à caridade, que corresponde ao altruísmo de tipo religioso ou devoto... Sou francamente favorável e pratico a solidariedade... A diferença? Simples, a caridade vem de cima para baixo, a solidariedade acontece quando estamos lado a lado... A caridade almeja salvação e/ou absolvição dos céus... A solidariedade almeja uma vida melhor na terra... Fazer o bem pelo bem de fazer... Faça a experiência... 

Experimente dar uma oportunidade a quem precisa e quer lutar, trabalhar... Experimente praticar a justiça, reconhecendo o valor de seus comandados ou companheiros, premiando justamento o esforço... Experimente escutar a quem precisa, empenhar seu tempo em ajudar a mudar a vida de alguém... Experimente, de alguma forma, diminuir o sofrimento humano, dele, dela, deles... Experimente a solidariedade... Bate qualquer anti-depressivo, ajuda a encontrar sentido na vida, diverte, dignifica... 

Diante da morte certa viva por algo que seja maior que a sua própria vida... 

Participei no AC Carmargo de atividades com os meus companheiros maiormente céticos dos Doutores da Alegria... O nosso trabalho rolava no fim de semana... Qual é o interesse aí???

Carlos Sherman

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