"FOI BOM PRA VOCÊ?"
Thales Vianna Coutinho
Hoje (06/09) é o “Dia do Sexo”. É perfeitamente normal que você não soubesse disso. Eu também não sabia, até ser bombardeado por dezenas de “tirinhas” no facebook, comentando sobre o “grande dia”. Pelo que pude perceber através de uma rápida pesquisa no Google, essa não é uma data oficial, porém, ainda assim, ela tem o poder de despertar ainda mais o interesse das pessoas pelo sexo, estimulando a publicação de conteúdos dos mais variados, desde a sexóloga que explica como achar o “ponto G”, até as sugestões dos adereços mais recentes para um ato sexual diferente.
Diante disso, quis escrever este texto com o objetivo de fugir um pouco da moda e discutir sobre um tema muito importante, mas que – devido ao fato de só recentemente ter ganhado notoriedade científica – é muito pouco difundido para o público em geral. Pode-se dizer que o tema desse texto é “o comportamento pós-coito”. O que um espera que o outro faça depois do sexo? Por quê? O que este comportamento significa? Essas são as três questões que pretendo responder, com base nas investigações conduzidas por Daniel Kruger (University of Michigan) e Susan Hughes (Albright College).
O que muitos desconhecem é que o fator mais importante para manter o relacionamento saudável não é o sexo propriamente dito. Aliás, o ato sexual em si é a parte menos importante para promover o vínculo entre o casal (apesar de ser relevante). O que a ciência está revelando como sendo realmente importante é aquilo que acontece antes (os rituais preliminares), e depois da transa (o período pós-coito).
Período Pós-Coito, como o próprio nome diz, é aquele momento em que os casais se desgrudam e ficam olhando para o teto, pensando naqueles últimos 10 segundos de êxtase. É esse período que Hollywood retratou tantas vezes como aquele em que o homem acende um cigarro, olha para a moça e pergunta “Foi bom pra você?”.
O que se descobriu é que o comportamento apresentado neste período pós-coito informa o grau de comprometimento da pessoa com a relação em si, e é nesse ponto que a história complica...
Para compreender o porquê da complicação é preciso considerar que, diante das evidências atuais, sabemos da existência de duas estratégias, adotadas por ambos os sexos, com o objetivo de selecionar os melhores parceiros. Uma delas é chamada de “Estratégia Restrita”, pois aqueles que a adotam restringem seu interesse sexual a um único indivíduo por vez. Essas são pessoas que valorizam muito o vínculo afetivo e o romance nas relações. Como alternativa tem-se a “Estratégia Irrestrita” na qual o indivíduo manifesta interesse pela pluralidade de relações, trocando de parceiros com muita frequência e às vezes se relacionando com mais de um paralelamente ou mesmo simultaneamente. Estas pessoas não valorizam muito o vínculo afetivo, e focam no aspecto mais luxuriante do amor. Nenhuma dessas estratégias é melhor, nem pior que a outra. Ambas tem características positivas, e negativas, e tanto homens quanto mulheres podem adotar uma ou outra estratégia. Porém, a ciência já descobriu duas coisas interessantes sobre isso: 1) Algumas pessoas tem a tendência natural a escolher uma dessas estratégias e adotá-la ao longo de toda sua vida; 2) Em média, as mulheres tem a tendência a preferir a “estratégia restrita”, enquanto que os homens tendem a adotar a “estratégia irrestrita”. Para maiores informações sobre esse ponto, você pode assistir a minha palestra intitulada “A Princesa & O Cafajeste: a Psicologia do Amor” (link disponível nas referências).
Diante disso, pode-se esperar que as mulheres apresentassem uma maior tendência a desejar que seus parceiros manifestem comportamentos que indiquem compromisso e desejo de formar vínculo. E é justamente isso o que acontece quando, por exemplo, os pesquisadores solicitam que tanto homens e mulheres avaliem numa escala de 1 a 5, qual a importância que eles dão para os seguintes comportamentos apresentados pelos(as) seus/suas parceiros(as) após o sexo: 1) Iniciar Conversa Íntima; 2) Beijar; 3) Dizer que te ama; 4) Fazer Carinho; 5) Falar sobre a Relação. A média da avaliação de todas essas características é superior nas mulheres, em comparação aos homens. Ou seja, de fato, elas valorizam significativamente mais esses comportamentos pós-coito que sinalizam o comprometimento.
Também já foi verificado que esse padrão não está apenas relacionado ao gênero, mas à estratégia adotada. Ou seja, homens que optam pela “estratégia restrita” (que preza pelo vínculo afetivo) irão valorizar mais esses comportamentos pós-coito, que mulheres que adotam a “estratégia irrestrita” (na qual o vínculo não é prioridade).
Isso significa que neste “Dia do Sexo” você não deve apenas se preocupar em refletir com o objetivo de melhorar a performance sexual per se, mas sim compreender a importância que sua conduta pós-coito tem sobre o resultado final, que é aquilo que a outra pessoa pensará sobre você na manhã seguinte.
Referências:
1. COUTINHO, T. A Princesa & O Cafajeste: a Psicologia do Amor. Palestra, 2012. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=YPqiBl3G8Kg&feature=plcp
2. HUGHES, S. KRUGER, D. Sex differences in post-coital behaviors in long and short-term mating: an evolutionary perspective. Journal of Sex Research, vol. 48, n° 5, 2011.
3. KRUGER, D. HUGHES, S. Variation in reproductive strategies influences post-coital experiences with partners. Journal of Social, Evolutionary, and Cultural Psychology. vol. 4, n° 4, 2010.
4. KRUGER, D. HUGHES, S. Tendencies to fall asleep first after sex are associated with greater partner desire for bonding and affection. Journal of Social, Evolutionary, and Cultural Psychology, vol. 5, n° 4, 2011.
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