SIGMUND
FREUD, A FARSA
[Autor
célebre, mas até o momento desconhecido]
Nenhuma teoria psicológica
recebeu tantas críticas como a psicanálise. De todos os lados e por todos os
meios ela tem sido considerada não só ineficiente como também nociva ao ser
humano. Dezenas de autores, a maioria psicólogos, como Eisenck, Sulloway, Thornton,
Ellenberger, Whyte,
Kline e Andrade, denunciam,
sob vários aspectos, a farsa dessa teoria, expondo um Freud que só chegou à
fama graças a uma fértil imaginação estimulada pelo uso da cocaína, que manteve
até o final de seus dias e que teve uma influência inegável na obsessão que ele
demonstra pelo sexo em suas teorias do comportamento humano.
Comprovadamente um
cocainômano e um obsessivo sexual, Freud pode, ele próprio, ser caracterizado
como um caso patológico… E sua teoria (ou doutrina?) não serviu para curar nem
o seu autor nem os que a ela se submeteram.
Apesar das evidências do
insucesso terapêutico da psicanálise, há uma grande resistência a essa verdade
por parte dos psicoterapeutas, para os quais ela é um meio de vida altamente
rentável.
O prestígio da psicanálise,
teoria psicológica criada por Sigmund Freud (1856–1939), vem sofrendo
inevitável declínio, fato que é conhecido pelos que têm familiaridade com as
várias correntes de pensamento que vigoram nas áreas de psiquiatria e
psicologia.
O psicólogo Hans Eisenck,
autor de Decadência e Queda do Império Freudiano, que examinou exaustivamente
as teorias freudianas e cuja conclusão reitera a opinião de grande parte dos
estudiosos do assunto, declara, após rigorosa experimentação, que as teorias de
Freud não têm fundamento científico e não oferecem a menor garantia de cura dos
problemas neuróticos, não passando, afinal, de bem elaboradas construções
ficcionais: “Freud foi, sem dúvida, um gênio; mas não da ciência, e sim da
propaganda; não da prova indiscutível, mas da persuasão; não da comprovação
experimental, mas da arte literária”. Segundo o autor, a proposta de cura da
teoria psicanalítica não passa de um grande equívoco, não podendo ser usada
como chave para a compreensão do comportamento humano.
E segundo Sulloway, as
versões tradicionais sobre as realizações de Freud adquiriram contornos
mitológicos em detrimento do contexto histórico: “Nenhuma personalidade do
mundo científico”, afirma ele, “encontra-se tão encoberta pelo véu da lenda
quanto Freud. Praticamente todos os grandes equívocos e lendas da erudição
freudiana tradicional surgiram dessa tendência a criar o mito do herói”.
Os
imaginários sucessos de Freud
Freud ancorava sua
argumentação em relatos de casos individuais, dando a entender que uma melhora
ou cura depois da submissão do paciente à psicanálise bastaria para comprovar
suas teses, citando frequentemente casos de neurose.
Sabe-se atualmente, porém,
que a neurose é uma doença que se extingue por si mesma, já que, após um
período de aproximadamente dois anos, a maioria dos neuróticos tende a melhorar
sem tratamento algum. Tal processo de melhora sem terapia tem sido denominado
“remissão espontânea”, assemelhando-se na forma ao do resfriado comum, que se
extingue naturalmente em três ou quatro dias, mesmo que nenhuma medida tenha
sido tomada. Eisenck, após uma extensiva pesquisa tomando por base centenas de
casos de neurose registrados por outros psicólogos, constatou que os
psicanalistas e psicoterapeutas não haviam provado, conforme alegavam, que seus
métodos de tratamento davam melhores resultados que os obtidos sem tratamento
algum. E concluiu, afinal, que só testes clínicos apropriados, que comparassem
os progressos verificados num grupo de controle não submetido a tratamento algum
aos de um grupo experimental tratado com psicanálise, é que poderiam levar a
uma resposta definitiva no que diz respeito à eficácia ou não desse tipo de
teoria.
Além dos estudos de Eisenck
e Sulloway, também são dignos de nota os cuidadosos levantamentos históricos
empreendidos por autores como Thornton, Ellenberger e outros a respeito dos
pacientes do autor da psicanálise. Tais levantamentos desmascaram a
“eficiência” desta, uma vez que provam que todas as pessoas que deixaram
relatos afirmando que os sintomas haviam sido erradicados ainda sofriam das
patologias após o tratamento. Por conseguinte, os poucos casos detalhadamente
expostos por Freud não devem ser considerados êxitos notáveis, mas antes
fracassos, tanto em relação à cura como também à diagnose.
Citam esses autores como
ilustração o caso de Anna O., que Freud e seus seguidores proclamaram e
elegeram como sendo um de seus maiores sucessos, mas que foi denunciado por E.
M. Thornton na obra ‘Freud and Cocaine’ como uma farsa, uma vez que essa paciente
não sofria, na realidade, de neurose alguma, mas de meningite tuberculosa. A
interpretação de uma doença física como exclusivamente psicológica e a alegação
de havê-la curado são absurdos que bem ilustram a irresponsabilidade dos
seguidores da psicoterapia.
Outro exemplo é o caso de
neurose de Schreber, interpretado por Freud como paranoia, mas que na verdade
era esquizofrenia, como ficou comprovado mais tarde. Sabe-se que os dois nunca
se conheceram pessoalmente e que este caso foi diagnosticado unicamente através
dos relatos escritos do paciente.
Assim, o pai da psicanálise
erigiu grandiosos esquemas e teorias com base em fundamentação factual falsa e,
por isso mesmo, indigna de crédito.
Segundo Eysenck, Freud, numa
fase mais tardia de sua vida, passou a mostrar-se claramente pessimista quanto
à possibilidade de usar a psicanálise como método de tratamento. Chegou,
inclusive, a declarar que seria lembrado mais como o pioneiro de um novo método
de investigação da atividade mental do que como terapeuta, devido às dúvidas
que ele mesmo tinha quanto à eficácia da psicanálise como método de tratamento.
Mas o fato é que a maioria de seus seguidores, precisando ganhar a vida como
psicoterapeutas, recusou-se a acompanhá-lo nessa conclusão e, por causa disso,
ainda hoje se defende com fervor a tese da eficiência da psicanálise, embora
seu êxito nunca tenha sido comprovado.
Sustentam os psicanalistas
até hoje que é possível que o método por eles usado não erradique os sintomas,
mas que ele permite ao paciente viver melhor com os mesmos. Além disso, alegam
que a psicanálise faz de quem se submete a ela “uma pessoa melhor”, embora
nunca especifiquem em que consiste essa “melhora”. Na verdade, não existem
sequer indicações de que tais profissionais tenham tentado obter sustentação
experimental para suas teses.
A
falsa originalidade de Freud
Freud sempre se mostrou
avaro no reconhecimento das contribuições de seus antecessores, embora eles
houvessem antecipado suas investigações. O método da livre associação de ideias,
por exemplo, cuja criação ele atribui a si mesmo, havia sido elaborado pelo
polígrafo francês Francis Galton, um dos fundadores da Escola Londrina de
Psicologia. Este estudioso publicava suas observações a respeito do referido
método numa revista científica denominada Brain, que Freud assinava e lia
regularmente. Da mesma forma, o pai da psicanálise usou o importante trabalho
do psiquiatra francês Pierre Janet sobre a ansiedade. Mas o exemplo mais claro
e flagrante é o da doutrina do inconsciente, cuja autoria é a ele atribuída.
Como frisou Whyte em seu livro The Unconscious Before Freud, centenas de
antecessores de Freud já haviam postulado, há séculos, a existência de uma
mente inconsciente, escrevendo detalhadamente a respeito do assunto.
Ao psicólogo P. Kline também
não passou despercebida a falsa originalidade de Freud: “O que é verdadeiro em
Freud não é novo, e o que é novo não é verdadeiro. É verdade, por exemplo, que
os sonhos guardam relação com as preocupações da vida cotidiana daquele que
sonha e que se expressam de forma simbólica; mas essas não são noções
freudianas, pois vêm sendo sustentadas de maneira mais ampla há cerca de dois
mil anos.” (em Fact and Fantasy in Freudian Theory).
O fato é que Freud tinha um
grande domínio da linguagem. As palavras e expressões que utilizou fizeram com
que sua versão de histórias e noções já bastante antigas e conhecidas ficasse
parecendo nova e interessante para os leigos. Além disso, a permanente
hostilidade de Freud e dos freudianos a toda e qualquer forma de crítica e a
teorias alternativas depõe contra o espírito pretensamente científico de suas
teorias.
A
influência da vida de Freud em sua obra
A maioria dos estudiosos que
examinou o fenômeno Freud associa a obra do autor da psicanálise à sua vida,
uma vez que o uso que fez da cocaína, dos 36 anos até o final de seus dias,
deixou marcas indeléveis em sua produção. Assim, segundo esses estudiosos,
grande parte de sua teoria provém de sua personalidade neurótica e da tentativa
de cura de suas próprias obsessões e neuroses, provocadas pela dependência da
droga. A mudança que o uso da cocaína ocasionou em sua vida ficou evidente em
sua produção: até então extremamente rígido em suas atitudes sexuais, passou,
após ter começado a consumi-la, a pregar o total abandono da moralidade sexual
convencional. Seu estilo de escrita, que até então era conciso e claro,
tornou-se especulativo, tenso e artificial.
Ernest Jones, o biógrafo
oficial de Freud, afirma também que durante o período em que o criador da psicanálise
usou a cocaína, sobretudo nos oito anos iniciais, ele passou por uma acentuada
mudança de personalidade e começou a sofrer de “uma considerável psiconeurose,
caracterizada por mudanças abruptas de humor da extrema euforia à profunda
depressão e a estados penumbrosos de consciência.” Tudo evidencia que sua
obsessão pelo sexo tenha explicação na influência nociva da droga em sua mente.
Verificou-se, finalmente, que quanto mais o impulso sexual se tornava a pedra
fundamental de sua teoria, menos ele tinha condições de dar-lhe vazão na
prática, de forma que na virada do século já se encontrava em estado de
absoluta impotência sexual.
Freud fez inclusive, durante
vários anos, experiências com a cocaína em seus pacientes com finalidade
terapêutica. Mas quando descobriu que esse tipo de “tratamento” não o levaria a
ficar rico nem à celebridade, buscou um meio mais rápido para alcançar a
fortuna. Pareceu tê-lo encontrado quando começou a aplicar a hipnose. Durante
mais de um século a hipnose havia sido a prática favorita dos mais notórios
charlatães da Europa, dos quais Freud tornou-se herdeiro. Mas como escapar à
acusação de “falsário”, herdada também de seus precursores? Bem rápido se deu
conta de que não precisava submeter seus pacientes ao uso de drogas ou ao
método hipnótico para que eles lhe revelassem seus mais íntimos segredos. Tudo
o que deveria fazer era estabelecer uma atmosfera adequada para provocar
confidências e conquistar-lhes a confiança, de modo que se motivassem a falar
sobre si.
Portanto, a reputação de
Freud como o grande inventor de toda uma nova ciência não repousa senão na sua
descoberta de que poderia conseguir que seus pacientes falassem sobre si mesmos
sem o método hipnótico. No entanto, nem mesmo nesse ponto ele foi original,
pois inspirou-se no Catolicismo, de cuja doutrina usurpou a técnica do
confessionário; fê-lo, porém, de uma maneira mais seletiva, uma vez que visava
honorários elevados, atendendo, para esse fim, a clientela de maior prestígio
econômico e social de seu meio.
Freud teve que construir um
elaborado aparato de justificativas intelectuais para sua nova “ciência”. Na
verdade, não deve ser nada fácil erguer uma vasta superestrutura de teorias e
procedimentos supostamente científicos a partir da situação básica do paciente
com manias e problemas psicológicos, cansado e nervoso, inclinado num divã,
falando de si mesmo a um especialista. Mas o pai da psicanálise venceu pela
persistência, construindo todo um sistema que se baseia em premissas incorretas
e teorias quase sempre obscenas, dando início, a partir daí, a elucubrações
mentais inconcebíveis, às quais utilizou para atacar a base da vida familiar,
tais como o famoso “complexo de Édipo”.
E o fato é que tal complexo
nunca existiu: Freud é que compreendeu mal a lenda, apresentando, por
conseguinte, toda a base da mesma de forma deturpada. Partindo de um antigo
mito grego, a história de Édipo, imortalizada por Sófocles, acabou criando uma
teoria que postula uma projeção de uma suposta sexualidade infantil. Ele afirma,
como se sabe, que o complexo de Édipo seria o núcleo de todas as neuroses
porque, ao aparecer no começo da vida, criaria a base para as demais neuroses
futuras. Acontece, porém, que não existe a menor prova, a mais débil evidência
da existência dessa pretensa sexualidade infantil, situada por ele no primeiro
ano de vida. Mas isso de forma alguma o preocupou. Se esta sexualidade não
existia, dever-se-ia inventá-la. Construiu então sua teoria ao transferir suas
próprias obsessões sexuais favoritas para o mito de Édipo, filho do rei grego,
Laio, de Tebas.
Conta Sófocles que ao
consultar Laio o oráculo de Delfos, este lhe profetiza que teria um filho que
se casaria com sua mãe, Jocasta, e o mataria. Quando nasce o filho, de nome
Édipo, Laio arrebata-o de Jocasta e manda que o abandonem para que morra de
fome e frio. Um pastor encontra-o e adota-o, educando-o. Um dia, muitos anos
depois, Laio encontra-se com Édipo, com quem tem uma absurda discussão sobre
quem deveria passar primeiro por um estreito desfiladeiro, e este o mata.
Dirige-se então para Tebas, onde conhece a viúva de Laio e se casa com ela.
Então aparece um pastor que lhe revela a sua verdadeira origem. Édipo,
desesperado, fura os próprios olhos, enquanto Jocasta se enforca numa árvore.
Esta lenda, convertida num
clássico da tragédia grega, tem profundas implicações sublinhadas por Sófocles
no sentido de que devemos ser conscientes de nossa própria identidade se
quisermos desvendar nossa vida satisfatoriamente. Releva, então, a importância
do autoconhecimento como o fator mais importante para se evitar o erro e o
sofrimento humano. Em outras palavras, soubessem Édipo e Jocasta quem eram, e a
tragédia teria sido evitada. Mas Freud pareceu não ter compreendido isso. Ao
contrário, o que fez foi distorcer completamente o mito ao pretender que todo
menino de sexo masculino, em seu primeiro ano de vida, ao debater-se nos
tormentos da suposta sexualidade infantil, enlouqueceria de ciúmes contra seu
pai, a quem desejaria matar para poder fazer sexo com sua mãe.
Porém, qualquer pessoa de
bom senso pode concluir que Édipo, que nunca conheceu seu pai, dificilmente
poderia ter ciúmes do mesmo, como tampouco podia ter desejos de fazer sexo com
sua mãe, da qual se separa instantes após o parto. Inclusive, o próprio desespero
de Édipo e Jocasta ao descobrirem seu parentesco evidencia que ambos encaram
como uma aberração a relação incestuosa; caso contrário, a aceitariam
naturalmente e nela permaneceriam. Freud, no entanto, insensível às
incoerências, pretendia descobrir nesse mito indícios de que grande parte das
neuroses se devesse à frustração do menino de não poder deitar-se com sua mãe
nem matar seu pai. Assim, segundo ele, toda criança do sexo masculino sofreria
de uma repressão que a afetaria mentalmente sob diversas formas até o final de
sua vida.
Outra evidência da
influência da vida de Freud em sua obra, apontada pelos diversos autores
mencionados, é a experiência extraconjugal que teve com a irmã de sua mulher,
Minna Bernays, relatada por Carl Jung, que também pode ter sido motivada pelo
uso contumaz da cocaína. Oliver Gillie e Peter Swales (apud Eisenck), sustentam
que certos elementos essenciais das teorias sexuais freudianas só se justificam
por essa relação adúltera. Gillie afirma que “é evidente que a tese de Freud
sobre o incesto foi influenciada, senão inspirada, pela relação sexual com a
irmã de sua mulher, Minna Bernays”. Swales, por sua vez, procura explicar toda
a teoria edipiana por esse relacionamento “incestuoso” de Freud.
Na verdade, todas as teorias
de Freud nunca passaram de indemonstráveis ficções. Assim também o falso dogma
da homossexualidade reprimida, segundo o qual em quase todo homem existe,
latente, um desejo homossexual. Sobre o assunto, chegou até a fazer um “estudo”
sobre Leonardo da Vinci e Michelangelo, “demonstrando” que eram homossexuais,
como, aliás, o eram para ele todos os gênios da cultura ocidental.
Suas ideias sobre o
comportamento humano evidenciam uma verdadeira obsessão pelo sexo, a começar
pela afirmação de que todos os instintos humanos teriam o desejo sexual como um
fundo comum. Porém, conforme elucida Almir de Andrade, autor de ‘A Verdade Contra
Freud’, o instinto sexual é apenas uma entre as diversas espécies que compõem o
instinto do homem, sendo este algo bem mais amplo que qualquer de suas
espécies, identificando-se com a necessidade de conservação da vida. E essa
necessidade de conservação da vida é que constitui o fundo comum de todas as
espécies que compõem o instinto, e não o sexo, que é apenas uma das suas
diversas manifestações. O referido autor explica a posição de Freud:
“Freud
tinha lá as suas razões, e bem fortes, para cometer esse erro, sem se incomodar
que estivesse designando o gênero com o nome de uma de suas espécies. Queria
chamar a atenção do mundo para a vida sexual. Queria causar um escândalo
universal. Queria ser o profeta revelador de mistérios insondáveis, mesmo às
custas de perverter a imagem inocente da criança, que, por séculos, permanecia
pura e casta aos olhos dos homens”.
Jung, farto das obsessões sexuais
de Freud, tomou a decisão de separar-se dele, explicando o porquê, em sua obra ‘Memórias,
Sonhos e Reflexões’: “Para Freud tudo é
símbolo sexual: um velho que se apoia num bastão? Em seu subconsciente está
empunhando um falo. Um contador empunha uma pluma para anotar uma cifra em sua
conta? É o pretexto para empunhar o falo em seu subconsciente. Uma obra de
arte, uma expressão de espiritualidade? São expressões sexuais!”
Em outras palavras, o mundo
ocidental, até antes de Freud, estava persuadido de que o homem era, em
conjunto, um ser normal e moral. Mas o criador da psicanálise procurou mostrar
que no mais virtuoso e distinto cavalheiro se oculta um pervertido, um
incestuoso, um assassino em estado potencial. Assim, a obra de Freud prima por
uma verdadeira apoteose mental, fruto do uso da cocaína, da qual ele se viu
dependente até o final de seus dias. Freud assemelha-se em fertilidade de
imaginação ao escritor Conan Doyle, autor do famoso personagem Sherlock Holmes
e consumidor da mesma droga, com a diferença de que o último não apresenta a
nocividade do primeiro.
Aliás, Freud é reconhecido
pelos estudiosos como um autêntico literato, que ideou transformar a
psiquiatria em literatura. E, nesse sentido, a psicanálise não é senão a
atualização de uma vocação literária em termos psicológicos e clínicos, um
resultado da influência das escolas literárias de sua estima. O Romantismo, que
proclamava a primazia da paixão sobre o amor, sugeriu-lhe o sensualismo como
centro da vida humana; o Naturalismo, por sua vez, inspirou-o a salientar os
lados mais repugnantes da vida humana, evidenciando, em síntese, o animal no
homem; e o Simbolismo ensinou-lhe a curiosidade, o poder do sonho, do irreal e
do ilusório, motivando-o a escrever seu livro sobre a interpretação dos sonhos.
Vale lembrar que a bagagem
cultural de Freud é essencialmente literária, haja vista às suas contínuas
citações de Goethe, Grilparzer, Heine e outros poetas. Seu espírito está
inclinado para o ensaio, para o paradoxo, para o dramatismo, e nada tem da
rigidez técnica do verdadeiro homem de ciência. Seus livros se assemelham,
portanto, muito mais a obras de fértil imaginação do que a tratados de
patologia.
A
influência de Freud no século XX
Freud foi extremamente
ambíguo nos pronunciamentos que fez a seu próprio respeito: por um lado, sempre
manifestou o desejo de ser um cientista segundo o perfil comumente aceito nas
ciências naturais e, por outro, tinha a percepção de que o que fazia era algo
bem diferente da atividade científica. Tal conflito, explicam os psicólogos,
não é exclusivo dele nem da psicanálise: trata-se de uma questão vivida pela
psicologia, cujas características oscilam entre as ciências naturais e as da
hermenêutica, disciplina que se ocupa da interpretação e dos significados. Dentro
da área da psicologia, há uma linha que dá ênfase ao significado e outra, mais
afim com as ciências naturais, que enfatiza o comportamento, de modo que as
duas se contradizem. Freud ambicionou integrar-se à investigação
comportamental, mas, na verdade, desenvolveu trabalhos no campo da
hermenêutica.
Porém, segundo a maioria dos
estudiosos aqui mencionados, mesmo do ponto de vista hermenêutico, tanto ele
como a psicanálise devem ser considerados um fracasso. Afinal, o que ele nos
legou foram interpretações imaginárias de pseudofatos, insucessos terapêuticos,
teorias ilógicas e incoerentes, empréstimos tomados de precursores sem o devido
crédito, insights equivocados e sem qualquer valor comprovado, além de um grupo
ditatorial e intolerante de seguidores preocupados não com a verdade, mas com a
divulgação…
Tal legado teve consequências
extremamente negativas, não só para a psicologia, por ter causado um atraso de
pelo menos cinquenta anos em seus estudos, mas principalmente para a sociedade
em geral. Em Freudian Ethic, Richard La Piere defende que “os ensinamentos de
Freud solaparam os valores sobre os quais se assenta a civilização ocidental”.
Os postulados freudianos chegaram ao homem comum através da enorme influência
que o seu autor exerceu sobre o establishment literário e os meios de
comunicação, ou seja, sobre jornalistas, produtores de cinema e de televisão e
outros que atuam como intermediários entre o ensino acadêmico e o público em
geral.
Eysenck afirma que cabe
perguntar se é nesse clima – um clima de permissividade, promiscuidade sexual e
declínio dos valores tradicionais – que desejamos viver. Segundo ele, é hora de
reconsiderarmos a teoria da psicanálise não só em vista de sua inutilidade
científica, mas levando em conta seu niilismo ético.
Segundo o biógrafo Emil
Ludwig, Freud foi um homem triste, solitário, descomedidamente ávido de poder,
que nunca pediu, nunca amou e nunca sorriu. Sua visão de mundo é materialista e
amarga, como se pode notar pelos seus próprios depoimentos:
“Infelizmente
devo reconhecer que pertenço ao grupo daqueles indivíduos indignos, em cujas
atividades não transparece o espírito. Assim, não estou em condições de me
emocionar com a arte, com o maravilhoso.(…) Quanto à música, quase sou incapaz
de senti-la. Uma predisposição analítica e racionalista se levanta contra ela
dentro de mim e me domina; não consigo saber porque sou assim, nem o que é que
de mim se apodera”.
Segundo Ludwig, foi com esse
temperamento, encerrado numa casa sem música, sem poesia, sem amor, sem
alegria, que Freud tentou interpretar, durante cinquenta anos, as almas dos
homens. Seu caso, segundo o biógrafo, ilustra aquilo que expressam as seguintes
palavras de Nietzsche: “Se me sinto mal,
todos devem ter culpa. Esse modo de concluir é próprio dos espíritos mórbidos”.
E assim, o século XX pagou
caro pelo mal-estar de Freud, que encontrou uma forma de se vingar de suas
frustrações através da criação de uma seita perigosa para os valores do
espírito. Esta, apesar de todo aparato de marketing e de todo o apoio
tendencioso e interesseiro da mídia, está destinada a desaparecer.
Bibliografia:
Andrade, A. – A verdade contra Freud. Schmidt Editor. Rio
de Janeiro. 1933
Ellenberger, H. F. –
The Discovery of the Unconscious: The History and Evolution of Dynamic
Psychiatry. Londres, Allen Lane, 1970.
Eisenck, H. H. – Decadência e Queda do Império Freudiano.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1993.
Freud, S. – Estudo de caso de Schreber. Londres,Hogarth,
1958.
___- A Interpretação dos Sonhos. Londres, Allen and Unwin, 1937.
___- Três Ensaios
sobre a sexualidade. Londres, Hogarth, 1958.
___- Leonardo da
Vinci. Standard Edition of the Complete Psychological Works, (Vol. II)
Jones, E. – The Life
and Work of Sigmund Freud. Londres, Hogarth Press, Vol. I (1953), Vol. II
(1955), Vol. III (1957).
Kline, P. – Fact and
Fantasy in Freudian Theory. Londres, Methuen, 1972.
La Piere, R. – The
Freudian Ethic. Nova York, Duell, Sloan and Perce, 1961.
Ludwig, Emil – Freud Desmascarado (tradução do alemão por
Almir de Andrade). Livraria José
Olympio Editora. Rio de Janeiro. 1948
Sulloway, F. J. –
Freud: Biologist of the Mind. Londres, Burnett, 1979.
Thornton, E. N. –
Freud and Cocaine: The Freudian Fallacy. Londres, Blond & Briggs,
1983.
Whyte, L.L. – The
Unconscious Before Freud. Londres, Tavistock Publications, 1962.
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