Entrevista concedida ao site Artefato:
Artefato: Quem é, então, Mario Quintana?
MQ: Um desenho de criança… Corrigido por um louco!
Artefato: Poderia pedir para o senhor escrever um poema agora?
MQ: Impossível fazer um poema neste momento... Não, minha filha, eu não
sou a música – sou o instrumento...
Entrevista concedida à Edla van Steen e publicada no livro: Viver &
escrever. V. 1. Porto Alegre: L&PM, 2008.
EVS: Você se lembra de como ou quando descobriu que podia ou queria
fazer versos?
MQ: Ser poeta não é uma maneira de escrever. É uma maneira de ser. O
leitor de poesia é também um poeta. Para mim o poeta não é essa espécie
saltitante que chamam de Relações Públicas. O poeta é Relações íntimas. Dele
com o leitor. E não é o leitor que descobre o poeta, mas o poeta é que descobre
o leitor, que o revela a si mesmo.
EVS: Você gosta da literatura norte-americana?
MQ: Gosto de Scott Fitzgerald, o que não é de admirar porque ele
pertence à minha geração: o mesmo caldo de cultura, a mesma sensibilidade. Gosto
de Edgar Poe, e eu não compreendo como é que ele foi aparecer por lá. Deve ter
havido um engano de país ou de planeta. Gosto de Gertrude Stein (Três Vidas eu
já li outras tantas vezes).
o poema,
essa estranha máscara,
mais verdadeira do que a própria face...
Os antigos retratos de parede
Não conseguem ficar longo tempo abstratos.
Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
Porque eles nunca se desumanizaram de todo.
Jamais te voltas para trás de repente.
Não, não olhes agora!
O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim...
Sem fim e sem sentido.
Dessas que a gente inventava para enganar a
Solidão dos caminhos sem lua.
(do livro "Esconderijos do Tempo - composto após os 70 anos de
idade)
Entrevista concedida a Lau Siqueira
A entrevista foi publicada pelo Jornal O Norte, no dia 25 de janeiro de
1987
LS: Tu gostas do que as pessoas escrevem a teu respeito, ou sobre a tua
obra?
MQ: Dizem muitas inverdades, erram, divagam, mas é melhor deixar, não é?
Porque estar me preocupando comigo mesmo. Eu conheço as minhas possibilidades e
as minhas limitações, o que dizem sobre mim não tem importância. Não influi.
Mário Quintana não se casou nem teve filhos. Solitário, viveu grande
parte da vida em hotéis: de 1968 a 1980, residiu no Hotel Majestic, no centro
histórico de Porto Alegre, de onde foi despejado quando o jornal Correio do
Povo encerrou temporariamente suas atividades, por problemas financeiros; e
Quintana, sem salário, deixou de pagar o aluguel do quarto. Na ocasião, o
comentarista esportivo e ex-jogador da seleção Paulo Roberto Falcão cedeu a ele
um dos quartos do Hotel Royal, de sua propriedade. A uma amiga, que achou pequeno
o quarto, Quintana disse:
‘Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom,
assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas’.
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