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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mais Quintana...




Entrevista concedida ao site Artefato:
Artefato: Quem é, então, Mario Quintana?
MQ: Um desenho de criança… Corrigido por um louco!
Artefato: Poderia pedir para o senhor escrever um poema agora?
MQ: Impossível fazer um poema neste momento... Não, minha filha, eu não sou a música – sou o instrumento...

Entrevista concedida à Edla van Steen e publicada no livro: Viver & escrever. V. 1. Porto Alegre: L&PM, 2008.
EVS: Você se lembra de como ou quando descobriu que podia ou queria fazer versos?
MQ: Ser poeta não é uma maneira de escrever. É uma maneira de ser. O leitor de poesia é também um poeta. Para mim o poeta não é essa espécie saltitante que chamam de Relações Públicas. O poeta é Relações íntimas. Dele com o leitor. E não é o leitor que descobre o poeta, mas o poeta é que descobre o leitor, que o revela a si mesmo.
EVS: Você gosta da literatura norte-americana?
MQ: Gosto de Scott Fitzgerald, o que não é de admirar porque ele pertence à minha geração: o mesmo caldo de cultura, a mesma sensibilidade. Gosto de Edgar Poe, e eu não compreendo como é que ele foi aparecer por lá. Deve ter havido um engano de país ou de planeta. Gosto de Gertrude Stein (Três Vidas eu já li outras tantas vezes).

o poema,
essa estranha máscara,
mais verdadeira do que a própria face...

Os antigos retratos de parede
Não conseguem ficar longo tempo abstratos.
Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
Porque eles nunca se desumanizaram de todo.
Jamais te voltas para trás de repente.
Não, não olhes agora!
O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim...
Sem fim e sem sentido.
Dessas que a gente inventava para enganar a
Solidão dos caminhos sem lua.
(do livro "Esconderijos do Tempo - composto após os 70 anos de idade)

Entrevista concedida a Lau Siqueira
A entrevista foi publicada pelo Jornal O Norte, no dia 25 de janeiro de 1987
LS: Tu gostas do que as pessoas escrevem a teu respeito, ou sobre a tua obra?
MQ: Dizem muitas inverdades, erram, divagam, mas é melhor deixar, não é? Porque estar me preocupando comigo mesmo. Eu conheço as minhas possibilidades e as minhas limitações, o que dizem sobre mim não tem importância. Não influi.

Mário Quintana não se casou nem teve filhos. Solitário, viveu grande parte da vida em hotéis: de 1968 a 1980, residiu no Hotel Majestic, no centro histórico de Porto Alegre, de onde foi despejado quando o jornal Correio do Povo encerrou temporariamente suas atividades, por problemas financeiros; e Quintana, sem salário, deixou de pagar o aluguel do quarto. Na ocasião, o comentarista esportivo e ex-jogador da seleção Paulo Roberto Falcão cedeu a ele um dos quartos do Hotel Royal, de sua propriedade. A uma amiga, que achou pequeno o quarto, Quintana disse:

‘Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas’.

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