Excerto de 50 TONS DE CONSUMO – QUAL É O SEU
PREÇO
| Carlos Sherman
ELOGIO À LOUCURA - E o Transtorno de Personalidade Narcisista e a Idolatria
A eloquência, em seu ponto mais alto, deixa pouco espaço para a razão ou a reflexão, mas se dirige inteiramente aos desejos e afetos, cativando os ouvintes dispostos e subjugando seu entendimento.
David Hume
Entrevistadora: “Você soa consumista.”
Erika James: “Eu sou.”(autora de ‘50 tons de cinza’)
O desafio hodierno,
na literatura e cinematografia, reside exatamente na criação de personagens
mais realistas, que mantenham um mínimo de coerência psicológica; que mantenham
algo de humanidade... Algo como a Poesia da Realidade... Humanos, troppo
umanos, e maravilhosamente imperfeitos...
Então, você, um
esposo dedicado, amoroso, e afetuoso, vai pegar um cineminha com a mulher
amada, aquela para quem você fez votos de igualdade e companheirismo. E o
enredo inclui uma menina tola e superficial sendo amarrada e espancada pelo seu
algoz e... “amor”! Amor? Isso, enquanto você arregala os olhos, enche a boca de
pipoca, e pensa: será que não estou reprimindo as minhas fantasias? Todos têm
fantasias como essa? Não, não mesmo... Mas devemos esta dúvida a um charlatão e
fanfarrão conhecido pela História por seu emblemático sobrenome: Freud.
As teses freudianas
chocaram o mundo, mas não da forma como foram vendidas: uma espécie de estatuto
e salvo conduto libertário contra as “repressões e recalques”... contra o
conservadorismo e a hipocrisia, e toda
sorte de “negação”... Não! Freud cria uma seita, estabelece os seus marcos como
crença, e senta-se no trono. Ele destrona Deus, e assume o seu lugar. E tem uma
tremenda bronca de Nietzsche, já que este assumiu a tarefa de Meslier, que por
sua vez assumiu a tarefa de Lucrécio: destronar todos os deuses!
O freudismo e os
seus males está tão arraigado em nossa cultura que merece algum aprofundamento
filosófico e muito de contraponto científico, para que desembaracemos de uma
vez por todas esta terrível teia de mal entendidos, desconhecimento, e submissão
crente e devota... O Teatro de Horrores Freudiano!
Comecemos pelo fim,
comecemos por Deleuze, para quem o sadomasoquismo não passa da reles combinação
do desejo de imputar dor através de “atos sexuais” por parte de uns, com o
desejo de sentir dor por parte de outros (Frieza
e Crueldade). E tudo parece muito “justo”, já que existe “consentimento” e
um “acordo”... Deleuze argumenta - pomposa e freudianamente – que “o sádico
realmente tenta destruir o ‘ego’ para unificar o ‘id’ e o ‘super-ego’”.
Enquanto, para o masoquista, o desejo será intensificado por conta do “atraso na
gratificação sexual”; portanto, sua frustração sexual é “recompensada” como a
“frieza inabalável” do dominador... E esta baboseira é conhecida como “O
Contrato”, o processo de controlar o outro, e transformando-se em alguém frio,
cruel e insensível.
Tudo muito clichê,
com amplo descompromisso com a realidade nua e crua... Em outras palavras, só porque
um homem é sexualmente inseguro ou insatisfeito, ele estará mais propenso a
amarrar as menininhas e chicoteá-las, a fim de se sentir melhor? Pois é exatamente
isso que qualquer serial killer
sexual compartilha com Christian Grey; afinal todos eles precisam afirmar o
domínio sobre suas vítimas.
Como Gary Ridgeway,
o green river killer, que matou pelo
menos 80 mulheres, sendo o recordista norte-americano em crimes oficialmente creditados
em seu prontuário. Gary tinha um apetite sexual insaciável; seduzia e encantava
mulheres frágeis, prostitutas, ou alpinistas sociais como Ana... e as estrangulava...
para depois jogar os seus cadáveres no rio Verde.
Que tal David
Berkowitz, o “Filho de Sam”? Um assassino em série de Nova York, no final dos
anos setenta, que matou vários casais. David não curtia cenas românticas, e quando
topava com casais trocando beijinhos no carro, ou fazendo piquenique, o gatilho
de sua “fantasia reprimida” disparava... A “explicação” dos “psicólogos” é
simples, David não gostava de ver casais em cenas amorosas, já que não dispunha
de ninguém para compartilhar uma companhia romântica. Mas esta é uma explicação
estúpida e superficial... e sem nenhuma evidência científica; de forma que não
difere em nada de uma “desculpa” - nos moldes freudianos.
Para mim, este mundo não é nada além de mal, e meu próprio mal aconteceu por causa das circunstâncias do que eu estava fazendo. - Aileen Wuornos
O “charmoso”
Wuornos matou sete homens. Matar, em série, não decorre de experiências na
infância. O charme do Sr. Grey, na verdade, é comum e necessário nos casos
envolvendo assassinos sexuais em série, já que precisam atrair suas vítimas...
Na verdade, eles usam o “charme” para construir uma base fatal de confiança... Como Charles Shobhraj, “A Serpente”, ou ainda
o “Bikini Killer”, acusado de drogar e matar mais de uma dúzia de turistas
ocidentais na Ásia.
Charles – dizem os
inquéritos e depoimentos - conquistava suas vítimas com o “charme” e carisma...
e mesmo na prisão ele tinha uma seguidora e amante. Charles – pasmem vocês - se
casou com a filha de seu advogado no Nepal.
O “assassino
encantador” seduziu também os cineastas; e.g., no filme “Main Aur Charles”, o “assasino
gostosão”, um personagem “enigmático”, e interpretado pelo ator Randeep Hooda.
Um psicopata narcisista, sentenciado por sua neuropsicologia, por sua
fisiologia e natureza, seduzindo um batalhão de vítimas e seguidores - também
sentenciados por sua natureza frágil e idólatra.
Incapaz de sentir
remorsos, exibicionista, malandro, sedutor, astuto, excessivamente confiante em
seu intelecto, e relativamente culto, transformou-se em uma celebridade
cinematográfica até o encarceramento definitivo e a sentença de prisão
perpétua. Midiático, alimentou a imaginação da indústria do “entretenimento”,
recebendo polpudos cachês por entrevistas, além de direitos em filmes, livros e
documentários.
Em 30 de julho de
2010, a Suprema Corte nepalesa confirmou o veredicto emitido pelo tribunal
distrital de Katmandu: a sentença de prisão perpétua pelo assassinato da cidadã
americana Connie Jo Bronzich. O tribunal também ordenou o arresto de todas as
suas propriedades.
Sua sogra,
Shakuntala Thapa, e sua “esposa”, Nihita, filha de seu advogado, expressaram
“revolta” com o veredicto, alegando que o direito de defesa havia sido “negado”
a Sobhraj, e acusando o judiciário de “corrupto”. Ano após ano, crimes do
passado continuam sendo creditados à ficha de Charles.
Richard Ramirez era
um “stalker” como Christian Grey. Mais precisamente o “Night Stalker”,
responsável pelo assassinato de 13 pessoas, além de 5 tentativas frustradas, 11
agressões sexuais, e 14 assaltos... Mas tudo isso não impediu que uma legião de
fãs e admiradoras o adorassem como “príncipe encantado”... Apenas uma de suas
devotas dedicaria 75 cartas de amor ao assassino, no período de 3 anos, até...
casar-se com ele.
Os brutos também
amam, certo? Não na vida real... Mas Ted Bundy não tinha nada de bruto, sendo
considerado o serial killer “mais
encantador da História”... Não existe uma contradição em termos neste título
honorífico? Sim, e principalmente para quem violentou e mutilou ao menos 30
mulheres – em confissão.
O modus operandi
de Bundy era no mínimo criativo; ele engessava o seu antebraço e se aproximava
das vítimas pedindo ajuda; normalmente em áreas ermas e estacionamentos vazios.
Sedutor, “encantador”, Bundy logo se via na companhia de suas vítimas
indefesas... e o encanto cedia lugar ao terror. Estupro e tortura em vida, além
do estupro dos cadáveres, para posterior mutilação. Um belo psicopata
necrófilo! Um excelente personagem para um eventual “50 tons de vermelho”...
Paul John Knowles ficou
famoso como “O Assassino Casanova”... Este homem, classificado como “maravilhosamente
deslumbrante”, realmente seria um rosto apropriado para a próxima campanha da
Hugo Boss, ou dirigindo um Audi R8... Talvez uma continuação do clichê “50
tons”, interpretando o filho atormentado do casal, e que passa a atormentar a
vida de outras famílias...
O também narcisista
John foi preso pela primeira vez aos 19 anos, por roubo. Gostou tanto da
experiência que passou a frequentar a cadeia durante seis meses por ano. É
acusado de haver matado 19 pessoas, mas alardeou o crime de pelo menos 35. Três
delas teriam sido assassinadas a esmo na noite em que uma mulher, atendendo a
pressões da família e de amigos, desistiu de casar-se com John.
O seu método de
assassinato era o estrangulamento. E fico aqui pensando que a vida da jovem personagem
de Ana só está começando... o Sr. Grey ainda pode lhe trazer muitas
surpresas... Incesto, estupro, violência, e morte, sempre estão no cardápio de
homens como Christian – na vida real...
Jeffrey Dahmer, o
“Canibal de Milwaukee”, realmente “comia” suas vítimas... O “rapaz” matou,
mutilou, cozinhou, temperou e comeu suas vítimas... E o sexo? Sim, ele manteve
relações sexuais com os cadáveres de cerca de 17 homens e meninos. Sua última
vítima em potencial descobriu o seu jogo e alertou a polícia, que o prendeu em
flagrante delito. Na cadeia, Jeffrey não cativou tanto assim os “meninos”,
sendo espancado até a morte, dois anos após sua detenção, por um companheiro de
prisão.
Mas também existem belas
mulheres, “charmosas” e assassinas; como romena de origem búlgara Vera Renczi...
Vera afirmava que gostava de homens mais velhos, mesmo quando ainda era uma
menina de 15 anos... Ela foi acusada de pelo menos 38 assassinatos; começando
com o “marido”, que ela envenenou com arsênico, alegando que ele a havia traído
e abandonado, e tendo forjado correspondências para justificar o fato.
Quando se casou,
Vera tinha 20 anos, e o alvo seria o banqueiro austríaco Karl Schick, muito
mais velho que ela. Uma tarde, durante um ataque de ciúmes, Renczi envenenou o
vinho do marido com arsênio e começou a dizer à família, amigos e vizinhos que
ele a havia abandonado, a ela e ao seu filho Lorenzo. Depois de um ano de luto,
informou a todos que o marido fugitivo havia falecido em um acidente de carro.
E a estória colou...
Ela, rica, não se
casaria mais; e passaria os anos seguintes em uma série de casos amorosos com
homens casados, solteiros, e de todos os extratos sociais. Todos os
relacionamentos terminavam em poucos meses, semanas, ou alguns dias após a
torrente romântica. E, sempre, os “infiéis a haviam deixado”.
Finalmente, em uma
tarde qualquer, uma das esposas de um de seus amantes o seguiu até a mansão de Renczi;
mas este homem jamais voltaria para casa... A polícia foi chamada, descobrindo na
adega de Renczi 32 caixões prontos para o enterro, e contendo cadáveres masculinos
em diversos estados de decomposição.
O filho Lorenzo
morreu por azar... Inadvertidamente, durante uma visita à mãe, ele desceu para
pegar um “vinho”, e então passou a chantageá-la. Encontrou o seu destino em um
cálice “batizado” pela “mãe”... Em sua versão melodramática e manipuladora,
alegou que “abraçou-o enquanto morria, para que ela fosse a última pessoa que o
abraçasse” – “por ciúme”.
Foi condenada por
35 assassinatos e sentenciada à prisão perpétua... Mas na visão
“psicanalítica”, Vera só estava “à procura do amor”; apontando para a “perda”,
a “traição”, e blá, blá, blá... Mas vamos aos fatos: Vera se casa com um ricaço
bem mais velho e o mata. Infidelidade era o menor de seus problemas, casando-se
com um homem bem mais velho... e riquíssimo. Depois sai com homens casados, e
que ela bem sabe serem casados, e fala em “traição”? Finalmente mata o filho
que a chantageava. Mas, psicopata de carteirinha e manipuladora de primeira
grandeza, trata de conduzir a trama para o mesmo amargo fim: o ciúme doentio e
passional. Só que existem 32 caixões para provar que tal monstruosidade requer
vetores bem mais poderosos... Estamos falando em severos transtornos mentais; e
que não podem ser tomados como mera consequência comportamental, fruto da
experiência, frustrações etc... Não, tal comportamento é tão malévolo,
precedido por tanta frieza, sem remorsos, arrependimentos, sem humanidade...
Estratagemas que só podem ser engendrados por uma mente fisiologicamente
doente.
Não podemos
permitir que salas decoradas em estilo vienense abriguem conversações inócuas,
e quase sempre prejudiciais, enquanto transtornos severos deixam de ser
medicados. Essa é uma questão de saúde pública. Estou denunciando a prática da
Psicologia no Brasil, e mais diretamente a prática da Psicanálise. Para lidar
com a mente humana é necessário conhecer a mente humana segundo o corpus
de conhecimento consagrado no Terceiro Milênio. A visão hidráulica e mágica da
prática psicológica no Brasil não leva qualquer vantagem sobre o papo no bar, a
visita à cartomante, ou a leitura do horóscopo... Mas deixa você mais pobre, e
com mais problemas – desta vez, de ordem financeira...
Vera tem um sem
número de seguidoras e admiradoras na Internet...
O líder de seita, e
chefe da “família Manson” - uma espécie de comuna-hippie californiana -, matou
9 pessoas durante um período de cinco semanas; entre elas a atriz Sharon Tate -
que estava grávida. Quando o líder “carismático” foi para a prisão, seus
seguidores e fãs entraram em desespero... No ôba-ôba da contracultura, Manson
posa ao lado de psicóticos “charmosos” e assassinos como Che Guevara, em
camisetas conclamando “paz e amor”.
Hiroshi Maeue, “O
Assassino do Website Suicida”, encarna uma tendência perigosa no Japão: o
“suicídio assistido”. Já que tal cultura, no passado, fomentou o suicídio como
maneira “honrada” de morrer, muitos ainda recorrem ao ofício na tentativa de
solucionar distúrbios de depressão. Um exemplo claro de um comportamento
cultural, um costume, que pode encontrar a mente certa – ou errada -,
resultando em tragédia.
Este cenário
macabro abriu espaço para sites onde suicidas em potencial, em uma cultura que
enaltece o suicídio, encontrem outros suicidas dispostos a um terror em
grupo... Uma cultura repressiva, machista, e que oferece o suicídio como saída
honrosa em caso de “vergonha”, é um cenário perigoso para as Disforias de
Gênero, e Transtornos Sexuais. Ao mesmo tempo oferece o igualmente perigoso caminho
da fantasia, como no estranhíssimo “Cosplay”, onde variâncias de gênero e
transtornos psíquicos são maquiados e escondidos por trás de uma doentia fuga
da realidade... em grupo...
Estou afirmando
que, no caso japonês, e um caso único no planeta, a variedade de gênero em
relação ao comportamento não é encarada publicamente, ficando travestida de
muitas formas, por trás da aparência singela de uma cultura pop alienada. Quero
dizer aqui que a diversidade de gênero deve ser tratada de forma natural, humana...
o direito inalienável às liberdades individuais, o direito ao afeto... Mas assumir-se implica exatamente em despir-se
de medos... fantasias e alegorias, para olhar-se frente a frente... e sem
auto-caricaturas.
Hiroshi sofre de
Transtorno Sexual Parafílico, do tipo Fetichismo Transvéstico (DSM-V); que
resulta, no seu caso, em um desejo compulsivo de vestir-se como mulher. É o
desejo de vestir-se de acordo com o gênero oposto, dentro de uma ótica bi-gênero,
ou seja, masculino e feminino. Hoje sabemos que existe o gênero anatômico, o
gênero social, e o gênero neuropsicológico - muito mais amplo, complexo,
diverso, variado...
Na realidade o
Fetichismo Transvéstico pode denotar uma dificuldade em flexibilizar o comportamento
diante de uma armadura social de gênero. Um homem que gostaria de ser mulher,
mas não pode enfrentar o seu mundo desta forma. E mais, um homem que não
percebe a variedade de alternativas entre ser homem ou mulher, ou não pode
aderir às variantes de gênero por conta das mesmas muralhas que restringem e
demarcam os papéis sociais.
Não existe, no
cérebro, ser homem ou mulher, apenas... Existe uma variância entre os extremos
aceitados como masculino e feminino. Poderíamos considerar o extremo masculino
como caracterizado pelo territorialismo, dominância, violência; enquanto o pólo
feminino tende a apagar estes traços... Mas são apenas vetores da
personalidade, embora poderosos.
No caso de Hiroshi,
usar peças de roupas do sexo oposto como “fetiche” servia ao propósito de alcançar
a excitação sexual. Isso não significa que Hiroshi queira ser penetrado – não
necessariamente. Caracterizamos como um transtorno quando esta prática gera
desconforto para quem pratica, afetando suas relações sociais, trabalho,
relacionamentos.
Mas Hiroshi tinha ainda
outros fetiches, e macabros... como “assistir a um rosto em agonia”. Assim, ele
atraiu suas vítimas com a promessa de morrerem juntos; mas ele as matou, e as
viu morrer em agonia... Um asseverado sadismo, a partir do desespero de suas
vítimas; deprimidas sim, mas não dispostas ao masoquismo. Não havia acordo
algum, mas o cheiro inefável da morte!
Robert Ben Rhoades
não era bonitão... Ele apenas oferecia carona para as suas vítimas, e depois as
levava para a sua câmara de tortura; sim, ele tinha uma câmara de tortura,
igualzinha a de Christian Grey... igualzinha ao “Red Room Of Pain” - ou “Quarto
Vermelho da Dor”; onde Robert estupraria, torturaria, e mataria as suas
vítimas.
Dennis Nilsen, ou
“O Assassino Gentil”, não era lá essas coisas; mais um assassino necrófilo, com
transtornos diversos, e Disforia de Gênero... Um Transtorno Parafílico é uma
perversão ou tara que causa sofrimento ou prejuízo ao indivíduo que a pratica;
e cuja satisfação implica em dano ou risco de dano pessoal a outros. No caso da
Parafilia de tipo Necrofilia, o dano é irreversível!
Mas, em matéria de sadismo,
Elliot Roger é um “clássico”; e uma inspiração direta para Christian. Com
apenas 22 anos, Elliot encontrava dificuldade em dormir, e então pensou: “acho
que vou matar algumas pessoas por aí”... Elliot era o molde perfeito para
Christian Grey: rico, filho de um diretor de cinema, bonito, e frustrado
sexualmente. Em um vídeo gravado antes da matança, Elliot expõe essa
frustração:
Eu tenho 22 anos e ainda sou virgem. Eu nunca beijei uma garota. Eu estive na faculdade por dois anos e meio, e talvez mais do que isso, na verdade, e ainda sou virgem. Tem sido muito torturante. A faculdade é a época em que todos experimentam aquelas coisas tais como sexo e divertimento e prazer. Dentro desses anos, eu tive que apodrecer na solidão. Não é justo. Vocês nunca se sentiram atraídas por mim. Eu não sei por que vocês, meninas, não são atraídas por mim, mas vou puni-las por isso. É uma injustiça, um crime, [...] Eu não sei o que você não vê em mim. Eu sou o cara perfeito e ainda assim vocês se jogam pra esses homens desagradáveis em vez de mim, o cavalheiro supremo.
Esqueçam as
imbecilidades freudianas sobre repressão, recalques, a vontade de transar com a
mãe, matar o pai etc... Elliot tem severos transtornos mentais de ordem
fisiológica, e precisa sim de fármacos...
Mas ele se
considerava um “cavalheiro masoquista”, como Christian Grey. O único problema era que ele não havia encontrado uma vítima
capaz de tamanha submissão, frieza e insensibilidade... Ele não havia
encontrado a sua Anastasia... Então ele simplesmente matava as descontentes. E
era tão impávido em seu masoquismo, que ele esperou por horas até que uma
menina saísse de um Domino’s pizza, para então entabular um papo que seria
culminado por uma “foda gloriosa” – no melhor estilo Sr. Grey:
Eu não faço amor, eu fodo ... duro.
E de quem seria
esta fala? De Elliot ou de Christian?
Só podemos deduzir,
pelas tortuosas e superficiais linhas da Sra. James, que o tal Christian é um
camarada desprovido de qualquer sentido de empatia; o que dirá de AMOR? Ele não
sente absolutamente nada exceto por seu pênis latejante e dolorido, e uma suposta
carnalidade “alfa dominante”; ao que adicionaria megalomania, psicose, tirania,
egocentrismo, egoísmo, machismo misógino, narcisismo, e infantilidade... Ele é
basicamente um “fodedor” completamente vazio, e que chupa o dedinho abraçado ao
ursinho.
Não sei se adoro os seus pés ou espanco a merda de vida que existe em você.
Grey ou Roger? E
esse cara, esse mesmo cara, será o par perfeito no final...
Eu me deito na nossa toalha de piquenique tartan e olho para o céu azul claro de verão, vejo o campo emoldurado por flores do campo e grandes ervas verdes. O calor do sol de tarde de verão aquece a minha pele, meus ossos e minha barriga, e eu relaxo, meu corpo dançando a Jell-O. É tão confortável. Claro que não... isso é maravilhoso. Eu saboreio o momento, um momento de paz, um momento de contentamento puro e absoluto. Eu deveria me sentir culpada por sentir esta alegria, estar completa, mas eu não me sinto. A vida aqui e agora é boa, e eu aprendi a apreciar e viver o momento como o meu marido. Eu sorrio e me contorço e minha mente voa para a memória deliciosa de ontem à noite em nossa casa no Escala...
E esta novela
mexicana de baixo orçamento retorna aos porões BDSM:
Os fios do chicote ardendo em toda a minha barriga inchada e dolorida, num ritmo lânguido.
Nada disso
corresponde à realidade em termos de personalidade humana... Nenhum homem capaz
de atrocidades que o assemelham a um serial
killer seria capaz de converter-se em “um amor de pessoa”... Não existem
Christians Greys por aí... mas muitas mulheres que acreditam nesta farsa podem
encontrar o seu Elliot Roger... ou... Alexander Boettcher...
O cara, Alexander
Boettcher, investia pesado na aparência, adepto contumaz da malhação, muita
grana fácil no bolso, e um ego de dar inveja a qualquer dos narcisistas
supracitados... E, como eles, um adepto da dominação sexual, e total... Mais um
paciente com Transtorno Parafílico, sem direito a sursis... Qualquer
semelhança com o personagem Christian Grey, e com o casal Grey, não é mera
coincidência. Reflitam comigo...
O italiano exibido
de 30 anos se casou com a bela modelo croata Gorana Bulog. Como todo bom
narcisista, exibicionista, “dominador”, Alexander era um canastrão mentiroso, e
obcecado pela conquista de mais e mais atenção, fãs, e amantes... Foi quando
Alexander conheceu a submissa Martina Levato em um bar; uma frágil estudante de
20 anos. A atração foi devastadora – para ela. A partir daí, Martina se
tornaria escrava de Alexander – exatamente como Anastasia Steele.
Mas, na realidade,
os Alexanders e Christians, não são convertidos por suas vítimas... e jamais! O
controle de Alexander sobre Martina era tal que ele chegou a marcar no rosto
dela as iniciais de seu nome com um bisturi; e como prova da “eterna devoção” –
dela, a ele.
Na cama, ele a obrigava
– assim como às suas demais amantes - a tratá-lo por “rei” – quase G-rey. Mas,
assim como o próprio, assim como o Sr. Grey, Alexander também possuía em sua mansão
um quarto “Vermelho”, com os seus “inofensivos” apetrechos sadomasoquistas -
que a cultura pop tristemente batizou de BDSM.
A relação entre
Alexander e Martina também envolvia ménages sexuais, sempre definidas
pelo playboy - que ganhava dinheiro no mercado financeiro. As parceiras do
casal também se submetiam a todos os caprichos de Alexander. Uma dessas
mulheres disse, segundo o Daily Mail, que precisava pedir “autorização”
do “mestre” para tocá-lo... Mas todas essas frágeis e oportunistas vagabundas
eram regiamente remuneradas.
Finalmente, Alexander
ordenou que Martina se encontrasse com os seus ex-amantes, para então jogar ácido em seus rostos. O
objetivo, segundo o “mestre”, era “purificá-la”. Uma das vítimas foi Pietro
Barbini, ex-namorado de Martina quando os dois ainda eram adolescentes. O rosto
de Pietro foi deformado por ácido clorídrico, e ele precisou reconstruir as pálpebras
e o nariz em várias cirurgias. Pietro ainda tentou convencer Martina a
abandonar Alexander, mas acabou subindo para o topo da lista de “purificação”,
conforme o desejo de seu “amo e senhor”. Outros homens foram vítimas da
“escrava” de Alexander, apenas por um descompromissado beijo na boca.
A dupla foi presa e
condenada a 14 anos de prisão. Ainda segundo o Daily Mail, o “casal” não
apresentava qualquer sinal de remorso; o que claramente caracteriza aos dois
como psicóticos, dominante e dominada. O juiz encarregado do caso alegou que o “casal”
pode ser considerado “mais perigoso do que qualquer mafioso ou terrorista”. Alexander
disse em juízo que sua “escrava” agia por conta própria, tentando livrar a
própria pele; e ainda teve a cretinice de dizer que só estava sendo alvo da
Justiça por ser rico.
O cinema, além das
páginas policiais, também já retratou o “erotismo” e a parafilia em outras
oportunidades; e.g., no filme “Shame” (“Vergonha”), onde o protagonista
“Brandon” arrisca a própria vida, assim como a vida de seus convivas, em uma
entrega baseada no sofrimento; realizando livre e doentiamente suas “fantasias”
– id est, transtornos -, enquanto
obedece irrefreavelmente a seus impulsos sexuais.
Aspectos como: (1)
o tempo excessivo gasto em tais práticas, a exemplo do Sr. Grey -, o que é
inteiramente contraproducente com a vida de alguém que trabalha e mantém
relações sociais; (2) além do modo como reage à ansiedade, depressão, tédio,
irritabilidade, e situações mais ou menos estressantes em sua vida; (3) assim
como a insistência na vã tentativa de livra-se de tais impulsos, a sensação de
culpa, e a dificuldade em contê-los; (4) e o fato de não estar sob efeito de
psicotrópicos, medicamentos, drogas diversas, álcool etc.; servem para
classificá-lo, sem demora, e segundo o DSM-V, como portador de um Transtorno
Parafílico. Um transtorno sim, e não um “estilo”, como um mero praticante de golfe,
filatelia, ou do modismo comercial cunhado por BDSM! Os Grey, Sr. e Sra.,
precisam de tratamento... urgente! Mas isso, só se o casal existisse na
“realidade”...
Carlos Sherman