Sobre Joaquim Barbosa, Pretos e Negros
Por Carlos Sherman
[Na foto, publicada em matéria da Folha de São Paulo, uma belíssima mulher que se declara "preta", onde podemos denotar de forma insuspeita a pigmentação rica em melanina que a Evolução selecionou para a proteção contra os perigosos raios UV... além da marcante miscigenação em seus traços africanos, europeus e asiáticos...]
Um amigo publicou um panfleto em apoio à candidatura de Joaquim Barbosa, um verdadeiro "herói nacional"... O meu apoio a dita candidatura é total e irrestrito, já que o tom desta eleição será a "honestidade" - e muito me preocupa, já que este deveria ser apenas um pré-requisito. Não obstante, e sem maiores delongas, voto em Joaquim, não havendo outro candidato à altura em termos de atitude ética, coerência, integridade intelectual etc... Pero, o primeiro desafio será o partido, já que o PSB foi aliado de Lula, Dilma, Garotinho, entre outros picaretas... e segue na contravenção com Alckmin, Márcio França, Temer etc... E o Joca precisará subir no palanque com muitos investigados da Lava-Jato, assim como muitos participantes diretos e indiretos do vergonhoso escândalo do Mensalão - onde "nosso herói" serviria à nação como um feroz algoz, e guardião da Justiça. E aí, Joquinha Barbosa, vai ficar e enfrentar, ou correr muito - como o Zequinha?
Mas, uma apologia fora de lugar me chamou a atenção no panfleto, a falsa alegação de que "isso é importante, já que 54% da população do Brasil é preta". Não é verdade, e mesmo que fosse trataria-se de um claro non sequitur, já que estamos falando em presidência do Brasil e não sobre racismo. E se o tema for o racismo, então muito mais precisará ser dito sobre a candidatura de Joaquim e a falsa afirmação do panfleto; afinal, e segundo o IBGE/Pnad (2017):
A população que se declara preta no pais cresceu 14,9% de 2012 a 2016, mostrou a Pnad em pesquisa domiciliar de abrangência nacional do IBGE, divulgada nesta sexta-feira. O levantamento é feito por meio de autodeclaração, e o IBGE utiliza o termo preta para se referir a raça negra.
Desta forma, a população negra no Brasil está assim distribuída em termos de melanina e preferência pessoal:
Do total da população, 46,7% se declararam pardos, alta de o,6 ponto percentual em relação ao ano anterior. Os autodeclarados pretos corresponderam a 8,2% da população, alta de 0,5 ponto percentual. Na outra ponta, brancos somaram 44,2% em 2016, queda de 1,3 ponto percentual em relação a 2015. (IBGE/Pnad; 2017)
Se observarmos que pardos englobam diferentes etnias, características, e variantes fenotípicas, podemos afirmar que a declaração de "54% de negros" - somando especiosamente pardos e pretos - é falsa e viciada, não correspondendo minimamente à realidade. Sem considerar que toda a apologia à dita "Consciência Negra" tem produzido adesões ideológicas, mas sem qualquer correspondência biológica, genética, antropológica ou étnica. Somos, na verdade, 8,2% de pretos!
Segundo a gerente da Pnad, Maria Lucia Vieira, a queda dos pardos no Nordeste e Norte pode estar ligada aos movimento de reafirmação racial no pais. Mais negros estariam se declarando como tal, reduzindo, então, a quantidade de pardos.
Mas, a quem interessa toda essa ladainha racial, e toda esta estória muito mal contada? A concentração de melanina em nossa pele serve tão e somente à proteção contra raios UV... Donde presumo que todo o debate em torno deste particular deveria focar em problemas como a carência de vitamina D, lúpus, câncer de pele etc... Em um recente e curioso estou o de DNA dos cantores Seu Jorge e Neguinho da Beija Flor foram rastreados até a Europa, enquanto Alcione é inexoravelmente africana. E daí? O que isso nos diz sobre a INDIVIDUALIDADE, sobre o caráter, personalidade? Sobre a Escravidão? E respondo à pergunta retórica com um retumbante NADA!
Centenas de ONGs estabelecidas na África tratam de conter o comércio de membros amputados de crianças albinas, e vendidos como amuleto da sorte por um punhado de dólares. Isso, enquanto celebramos o Dia da Consciência Negra no Brasil na data de morte do maior proprietário de escravos em seu tempo - cerca de 400. Longe de fundar um movimento libertário, Zumbi dos Palmares tratava de estabelecer um reino em formato africano de época, e com direito a escravos... muitos!!!
A primeira medida de um negro alforriado no Brasil, no tempo de Zumbi, era possuir escravos, ou possuir "gente". Nos censos à época, mulheres negras eram muito mais numerosas do que as brancas em termos de declaração de propriedade de escravos para o serviço doméstico, embora possuíssem normalmente menos escravos. Em um caso muito bem documentado, Zé Alfaiate, capturado por seus conterrâneos africanos no reino de Angola, seria negociado com traficantes iberos, levado como mercadoria ao Brasil, vendido e alforriado prematuramente... Então, ainda jovem, Zé decide voltar à "Mãe África" para tentar a sorte, e casando-se com a filha de Chachá, o maior negociante de escravos da África Atlântica.
Em um documento particularmente odioso, Zé assina uma "fatura" dando fé de que os escravos de um determinado cliente, e que deveriam ser marcados com o número 5 - conforme o pedido de compra -, em função da quebra do ferro em brasa, foram marcados com a letra V; e demonstrando com certo orgulho o seu conhecimento sobre os Algarismos Romanos, além do seu franco desprezo por seus conterrâneos, humanos como ele, e que começavam uma jornada aterrorizante, e onde ele também havia sido um passageiro da agonia...
Lembro-me agora, com orgulho, de quando fui ovacionado em um debate por declarar que TODOS NÓS VIEMOS DE UMA MESMA MÃE NASCIDA NA ÁFRICA SUL-ORIENTAL HÁ CERCA DE 200.000 ANOS... E lembro-me, de forma ainda mais vívida e enaltecida, do silêncio incômodo que se seguiu quando continuei: E NESTA ÉPOCA, A NOSSA PELE ERA BRANCA, CLARA, ROSADA, ABAIXO DA PELAGEM AINDA ESPESSA, COMO EM NOSSOS PARENTES CHIMPANZÉS.
Em uma única sentença o dilema racial é reduzido a pó, e a cor volta ao seu lugar bioquímico - de origem. Entendo o dilema racial, mas qual é a cor do poder? Negros submeteram brancos, assim como brancos submeteram negros, amarelos... Pardos, cafuzos, caboclos, e o que mais? Mas afirmo que a luta contra esta pendenga e sofrimento não partiu - jamais - da África, senão da Inglaterra e do Iluminismo Francês. Qual foi a "consciência negra"? Luther King lutou contra o preconceito nos Estados Unidos, mas não ousou questionar as raízes deste flagelo humano na "Mãe África", enquanto incrementava a audiência (e.g.) de seu programa de rádio pregando a "Cura Gay"...
Em 1958, enquanto escrevia uma coluna de conselhos para a 'Ebony Magazine', 'Dr. King' foi interpelado por um leitor que se declarava "gay":
O seu problema não é totalmente incomum. No entanto, ele requer muita atenção. O tipo de sentimento que você tem para com os meninos provavelmente não é uma tendência inata, mas algo que foi culturalmente adquirido. Suas razões para adotar esse hábito já foram conscientemente suprimidas ou inconscientemente reprimidas. Portanto, é necessário lidar com este problema voltando a algumas das experiências e circunstâncias que o levaram a este hábito. A fim de solucionar a questão, eu sugiro que você consulte um bom psiquiatra que possa ajudá-lo a trazer para o primeiro plano da consciência todas essas experiências e circunstâncias que levaram ao hábito. Você já está no caminho certo em direção à uma solução, desde que você honestamente reconheça o PROBLEMA - grifo meu - e tenha o desejo de RESOLVÊ-LO.A filha mais jovem de King declarou durante uma conferência em Auckland, Nova Zelândia:
Eu sei do fundo do meu coração que meu pai não levou um tiro em prol de uniões homossexuais.Ela só faltou agregar "nojentos", ou coisa pior... Mas o 'Fé em Contexto' não perdeu a oportunidade:
Obama em seu pronunciamento gayzista usou as palavras de Jesus para justificar seu apoio ao casamento gay. [...] Mas há uma falha na compreensão do Teólogo-Presidente. Citando o Velho Testamento, Jesus disse: 'Por esta razão, o homem deixará seu pai e mãe e se unirá a sua mulher, e os dois serão uma só carne' (Marcos 10:7-8). Um homem, uma mulher.
Ele esqueceu de dizer que esta mulher poderia ser negociada e comparada a jumentos... Mas todos eles estão certos sobre as convicções de King...
Lato sensu, a realidade e a verdade não pode ser sexista nem racial! E muito me preocupa o recrudescimento deste debate racial repletos de vícios de consentimento, ideologia, e desprezo pela verdade; quando poderíamos estar trabalhando exatamente para superar este triste capítulo da história humana - troppo umana. A escravidão nunca foi um problema racial, sendo a África - ontem e hoje - o continente que mais escraviza e atenta contra os Direitos Humanos, Civis e Individuais. Iguais sim, igualdade não... Somos diferentes, e o direito ao empenho humano nos trouxe até aqui, e com profundas vantagens... diminuindo a mortalidade infantil em 40 vezes, a violência em mais de 100 vezes, e aumentando a expectativa de vida em três vezes - adormecida desde o Homem de CroMagnon, e até o fim da Idade Média, até o inevitável confronto com a Ciência Médica.
A solidariedade deve ser buscada e estimulada, e assim tem sido, e assim seguirá, de forma contingente, convergente e cega! Pois, abramos os olhos para ajudar, servir, e catalizar este processo de melhoramento contínuo. E observe que, em relação à esse assunto, tudo o que você pensava saber estava inescapavelmente equivocado... E o que mais você pode estar perdendo? O que mais estará mal entendendo? Voto em Joaquim, torço que sua dignidade seja maciça, contínua, duradoura... e jamais me importei com o seu filtro solar inato.
A solidariedade deve ser buscada e estimulada, e assim tem sido, e assim seguirá, de forma contingente, convergente e cega! Pois, abramos os olhos para ajudar, servir, e catalizar este processo de melhoramento contínuo. E observe que, em relação à esse assunto, tudo o que você pensava saber estava inescapavelmente equivocado... E o que mais você pode estar perdendo? O que mais estará mal entendendo? Voto em Joaquim, torço que sua dignidade seja maciça, contínua, duradoura... e jamais me importei com o seu filtro solar inato.
Q.E.D.
Carlos Sherman