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quarta-feira, 7 de março de 2012

Epitáfio



Uma amiga, que não vejo a muitos anos, veio participar a morte do seu pai, um querido amigo também, e estas foram as minhas palavras, e esta é a minha forma de encarar a morte, e a morte deste bravo:

Epitáfio


Sinto muito....
Ele viveu uma vida de lutas, construiu uma família, netos, talvez bisnetos... Curtiu a vida como quis... 
E lá vamos todos, para o desfiladeiro da morte... Sem direito a fiança...
Ele viveu 80 anos...
Pense por este lado...
Não teve uma vida medíocre... Muito menos monótona ou morna...
Ele viveu a vida...
O que mais podemos desejar a uma pessoa amada?

Curta as boas lembranças...
Não se alimente da dor...
E nestes casos, no final, terminamos desejando que a pessoa amada descanse, a despeito de nossa vontade de vê-la ao nosso lado...
Nestes casos, ocorre uma adaptação, pouco a pouco.... E vamos morrendo... Vamos nos despedindo...

Em parte a natureza e a fisiologia, nosso destino genético, em parte os hábitos, e a diabetes chega e pode ser furiosa, e muito dura de ser enfrentada...
Mas curta apenas as boas lembranças...
Não digo isso de forma piegas... É que vivo assim mesmo...
Sinto, deixo verter as lágrimas, e trato de redirecionar minha atenção...
Enquanto posso lutar, luto... Com alegria...

Passei 8 meses de minha vida sem trabalhar, sem fazer mais nada além de cuidar de crianças com câncer em estado crítico, nem sempre terminal... 
Abrigávamos estas crianças em uma casa, e vivíamos de doações e alguma apoio da prefeitura....
O contato com a morte era diário...
E este 'convívio' com a morte me ensinou muita coisa sobre os a vida e seus contornos...

Deixe que a morte dele, caminho que todos trilharemos, seja uma oportunidade para você, e para a sua vida.... 
Estou lendo neste momento, entre outros 23 livros, hahaha - juro -, 'Por Um Fio' de Drauzio Varella; sobre a experiência dele com paciente terminais no Hospital do Câncer (AC Camargo)...
Também estive por lá, em um rápido e indisciplinado voluntariado...
Mas não tive o prazer de conhecer Varella...
Tive o prazer de conhecer o seu pai...

Sinto a perda, fico aliviado em saber que ela já não sofre, guardarei com carinho a lembrança do convívio com ele, e aprendei alguma coisa com a sua vida e a sua morte... Aprenda também... E descanse a sua dor, se possível for, nestas mal escritas palavras... Vão com a melhor das intensões...

Carlos Sherman



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