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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A Ilusão do Tempo...



O meu grande e admirado amigo, Carlos Coimbra, PhD, e hoje docente na Universidade da Califórnia, comenta o meu post, ‘My Way’, escrito para a minha amiga Eliana, e respondendo às suas indagações...


Sherman, quando a gente estudava na UnB, eu li aquele conto "A biblioteca de Babel" do Borges – Jorge Luis Borges -, que até hoje é pra mim um dos maiores tratados de sabedoria em tão poucas páginas... Depois disso, aprendi, sem entender *bem* as implicações, sobre a mecânica quântica e o positivismo, e achei durante anos que a MQ nos livrava do determinismo...

Nos últimos anos, com um entendimento muito mais profundo do colapso das funções de onda, cheguei à conclusão de que o Borges entendeu tempo, informação, entropia e determinismo como ninguém... O que nos separa do fatalismo é só a ignorância do emaranhado de possibilidades – em nossa mente [nota minha] -, mas só existe um caminho criado pelo colapso das funções de onda, e esse caminho está pré-determinado – embora seja desconhecido [nota minha] -, somos apenas peões nesse jogo onde a ilusão de tomarmos decisões em sequência, alimenta a ilusão da passagem do tempo. Os árabes é quem estavam certos...





Gostei muito de ‘My Way’, e na verdade foi lendo as perguntas e a insistência – positiva [nota minha] - da sua amiga, em se ter uma resposta final, que eu me lembrei de te escrever sobre MQ e o possível (ou impossível) efeito das funções de onda no universo como um todo, ou em sistemas com muitas partículas (do tamanho de uma célula animal ou vegetal, ou ainda menor), ou no cérebro humano - sobre a impossibilidade do livre arbítrio, e sobre a volta ao determinismo macroscópico, que finalmente explica a falta de simultaneidade relativística, que se observa em escalas cosmológicas. Ou seja, por incrível que pareça, o conceito de Maktub (ou Maktoob) não á tão ridículo assim... A ilusão da passagem do tempo está na nossa consciência, e vem da maneira como processamos inputs...

É como ler um livro... O livro inteiro está escrito, mas não se pode ler o livro inteiro ao mesmo tempo, apenas página por página, sequencialmente... Eu sei que isso parece incrivelmente básico, mas na verdade é o resultado de juntar as evidências de todos os lados... O tempo não passa... Como não passa para fótons, não passa pra ninguém em absoluto, ou seja, todos os tempos estão "presentes" o tempo inteiro, não como universos paralelos, mas como o universo inteiro (o livro)...

Tem uma discussão interessante no novo livro do Brian Greene (que também virou um episodio de NOVA chamado "The Illusion of Time" – A Ilusão do Tempo)... Check it out... Do ponto de vista termodinâmico, o fato de eu estar digitando esta mensagem agora é inevitável...




Nota minha:

Adorei... Vou conferir - hoje mesmo -, Greene e Borges... Entendo os conceitos, e comento apenas que ‘sim, o livro está escrito, mas não podemos lê-lo todo, nem ir direto para o final... O efeito sequencial é o que chamamos de viver a vida... Não conhecer o final, nem o conteúdo completo do livro - apesar do determinismo das funções de onda, e pela termodinâmica – cria um efeito enganoso de ‘liberdade de ação’... Este conceito enganoso, embora de importância prática em nosso dia-a-dia, associado a outros enganos como acreditar que tudo o que vai em nossa cabeça é real, a dificuldade – maior ou menor de cada um – em conviver com eventos aleatórios, a intuição emotiva, além do negócio da crença, cria a ilusão do livre-arbítrio...

O que importa, além de persistir neste raciocínio e neste caminho de reflexão, é desenhar uma conduta moderna, psicossocial, associada a este conhecimento tão impactante... O que faremos? Como a civilização encontrará os seus caminhos... E se o livro está escrito, ‘saber’ não altera o curso das coisas? Ou também, e finalmente está escrito? Me preocupa, excita, sobre o impacto de tais descobertas, em função da distância existente entre o homem comum, e a ciência de ponta... Como atenuar isso... De certa forma, parte importante da civilização, no que tange a questões fundamentais - a origem do Universo, a Origem da Vida, do Homem, e sobre Como Funciona a Mente -, estão engatinhando em algum lugar entre Aristóteles e Torquemada...

Carlos Sherman  



Sensacional Tréplica:

Exato... Mas saber que o livro está escrito realmente não muda nada em termos de resoluções... É como a biblioteca de Babel, de Borges – Jorge Luis Borges... Que tem todas as combinações dos 26 símbolos literários (letras, acentos, pontuação, espaços), e por isso com certeza tem a estória da sua vida escrita em um livro... Mas também tem a estória da sua vida com uma vírgula a mais, e tem a estória da sua vida correta até hoje, mas completamente errada de agora em diante em um número gigantesco de livros... Sobre estar entre Aristoteles e Torquemada, o que é mais triste é que um parêntesis só um pouquinho maior, por exemplo, entre Demócrito e Spinoza, já faria uma ponte sobre toda a merda que veio no meio tempo... Dá uma conferida no "The Beginning of Infinity" do David Deutsch...

Carlos Coimbra, PhD
Professor da Universidade da Califórnia
Campus Merced


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