O meu grande e admirado amigo, Carlos
Coimbra, PhD, e hoje docente na Universidade da Califórnia, comenta o meu post, ‘My Way’, escrito para a minha
amiga Eliana, e respondendo às suas indagações...
Sherman, quando a
gente estudava na UnB, eu li aquele conto "A biblioteca de Babel" do Borges
– Jorge Luis Borges -, que até hoje é pra mim um dos maiores tratados de
sabedoria em tão poucas páginas... Depois disso, aprendi, sem entender *bem* as
implicações, sobre a mecânica quântica e o positivismo, e achei durante anos
que a MQ nos livrava do determinismo...
Nos últimos anos,
com um entendimento muito mais profundo do colapso das funções de onda, cheguei
à conclusão de que o Borges entendeu tempo, informação, entropia e determinismo
como ninguém... O que nos separa do fatalismo é só a ignorância do emaranhado
de possibilidades – em nossa mente [nota minha] -, mas só existe um caminho
criado pelo colapso das funções de onda, e esse caminho está pré-determinado – embora seja desconhecido [nota minha] -,
somos apenas peões nesse jogo onde a ilusão de tomarmos decisões em sequência,
alimenta a ilusão da passagem do tempo. Os árabes é quem estavam certos...
Gostei muito de ‘My
Way’, e na verdade foi lendo as perguntas e a insistência – positiva [nota
minha] - da sua amiga, em se ter uma resposta final, que eu me lembrei de te
escrever sobre MQ e o possível (ou impossível) efeito das funções de onda no
universo como um todo, ou em sistemas com muitas partículas (do tamanho de uma
célula animal ou vegetal, ou ainda menor), ou no cérebro humano - sobre a
impossibilidade do livre arbítrio, e sobre a volta ao determinismo macroscópico,
que finalmente explica a falta de simultaneidade relativística, que se observa
em escalas cosmológicas. Ou seja, por incrível que pareça, o conceito de Maktub
(ou Maktoob) não á tão ridículo assim... A ilusão da passagem do tempo está na
nossa consciência, e vem da maneira como processamos inputs...
É como ler um
livro... O livro inteiro está escrito, mas não se pode ler o livro inteiro ao
mesmo tempo, apenas página por página, sequencialmente... Eu sei que isso
parece incrivelmente básico, mas na verdade é o resultado de juntar as evidências
de todos os lados... O tempo não passa... Como não passa para fótons, não passa
pra ninguém em absoluto, ou seja, todos os tempos estão "presentes" o
tempo inteiro, não como universos paralelos, mas como o universo inteiro (o
livro)...
Tem uma discussão
interessante no novo livro do Brian Greene (que também virou um episodio de
NOVA chamado "The Illusion of Time" – A Ilusão do Tempo)... Check it
out... Do ponto de vista termodinâmico, o fato de eu estar digitando esta
mensagem agora é inevitável...
Nota minha:
Adorei... Vou
conferir - hoje mesmo -, Greene e Borges... Entendo os conceitos, e comento
apenas que ‘sim, o livro está escrito, mas não podemos lê-lo todo, nem ir
direto para o final... O efeito sequencial é o que chamamos de viver a vida...
Não conhecer o final, nem o conteúdo completo do livro - apesar do determinismo
das funções de onda, e pela termodinâmica – cria um efeito enganoso de ‘liberdade
de ação’... Este conceito enganoso, embora de importância prática em nosso
dia-a-dia, associado a outros enganos como acreditar que tudo o que vai em
nossa cabeça é real, a dificuldade – maior ou menor de cada um – em conviver
com eventos aleatórios, a intuição emotiva, além do negócio da crença, cria a
ilusão do livre-arbítrio...
O que importa, além
de persistir neste raciocínio e neste caminho de reflexão, é desenhar uma
conduta moderna, psicossocial, associada a este conhecimento tão impactante...
O que faremos? Como a civilização encontrará os seus caminhos... E se o livro
está escrito, ‘saber’ não altera o curso das coisas? Ou também, e finalmente
está escrito? Me preocupa, excita, sobre o impacto de tais descobertas, em
função da distância existente entre o homem comum, e a ciência de ponta... Como
atenuar isso... De certa forma, parte importante da civilização, no que tange a
questões fundamentais - a origem do Universo, a Origem da Vida, do Homem, e sobre
Como Funciona a Mente -, estão engatinhando em algum lugar entre Aristóteles e Torquemada...
Carlos Sherman
Sensacional Tréplica:
Exato... Mas saber que o livro está escrito realmente não muda nada em termos de resoluções... É como a biblioteca de Babel, de Borges – Jorge Luis Borges... Que tem todas as combinações dos 26 símbolos literários (letras, acentos, pontuação, espaços), e por isso com certeza tem a estória da sua vida escrita em um livro... Mas também tem a estória da sua vida com uma vírgula a mais, e tem a estória da sua vida correta até hoje, mas completamente errada de agora em diante em um número gigantesco de livros... Sobre estar entre Aristoteles e Torquemada, o que é mais triste é que um parêntesis só um pouquinho maior, por exemplo, entre Demócrito e Spinoza, já faria uma ponte sobre toda a merda que veio no meio tempo... Dá uma conferida no "The Beginning of Infinity" do David Deutsch...
Carlos Coimbra, PhD
Professor da Universidade da Califórnia
Campus Merced
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