Galera, o
vestibular 2011 chegou... Confiram este artigo elucidativo de Wolf...
A
recessão global de hoje e a Grande Recessão - Martin
Wolf
17/06/2009
– Valor Econômico
‘A
demanda do setor privado só voltará quando países com altas taxas de poupança
consumirem ou investirem mais’...
Os brotos verdes
estão irrompendo. Pelo menos é o que nos dizem. Mas antes de concluirmos que a
recessão acabará logo, devemos perguntar o que nos diz a história. Ela está
entre os guias de que dispomos para a nossa desagradável situação atual.
Felizmente, e definitivamente, temos as informações.
Infelizmente, a
história que elas contam é triste.
Dois professores
de História da Economia, Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia em
Berkeley, e Kevin O'Rourke, do Trinity College, em Dublin, ofereceram quadros
que valem mais do que mil palavras ("A Tale of Two Depressions"
[Conto de duas depressões], junho de 2009, www.voxeu.org). No artigo,
Eichengreen e O'Rourke situam a data do começo da recessão global atual, em
abril de 2008, e da Grande Recessão, em junho de 1929. Quais são, pois, as suas
conclusões a respeito do ponto em que estamos, com pouco mais de um ano já em
recessão? A má notícia é que essa recessão se equipara plenamente à parte
inicial da Grande Depressão. A boa notícia é que o pior ainda pode ser evitado.
Primeiramente, a
produção industrial global segue a trilha do declínio na produção industrial
durante a Grande Depressão de forma medonhamente semelhante. Dentro da Europa,
o declínio na produção industrial da França e Itália tem sido pior do que
aconteceu na década de 1930, ao passo que o do Reino Unido e da Alemanha é
praticamente a mesma coisa. Os declínios nos EUA e Canadá também estão próximos
dos ocorridos nos anos de 1930. Mas o colapso industrial do Japão tem sido
muito pior do que na década de 1930, apesar de uma recuperação muito recente.
Segundo, o
colapso no volume do comércio mundial tem sido muito pior do que durante o
primeiro ano da Grande Depressão.
De fato, o
declínio no comércio mundial no primeiro ano é igual ao declínio nos dois
primeiros anos da Grande Depressão. Isso não se deve à proteção, mas ao colapso
da demanda por bens manufaturados.
Terceiro, apesar
da recuperação recente, a queda nos mercados acionários mundiais é muito maior
do que no período correspondente da Grande Depressão.
Os dois autores
resumem de forma incisiva: "Globalmente, estamos na esteira ou nos saindo
ainda pior do que na Grande Depressão... Este é um evento do porte de uma
Depressão".
O que conferiu o
nome à Grande Depressão, porém, foi um declínio brutal ao longo de três anos.
Desta vez, o mundo está aplicando as lições aprendidas com aquele evento por
John Maynard Keynes e Milton Friedman, os dois mais influentes economistas do
Século XX. A resposta das políticas públicas sugere que o desastre não será
repetido.
Os professores
Eichengreen e O'Rourke descrevem este contraste. Durante a Grande Depressão, a
média ponderada da taxa de desconto das sete economias mais avançadas jamais
caiu abaixo de 3%. Hoje ela está próxima de zero. Mesmo o Banco Central
Europeu, o mais linha-dura dos grandes bancos centrais, reduziu a sua taxa para
1%. Durante a Grande Depressão a base monetária desmoronou. Desta vez, porém,
ela continuou se expandindo. Realmente, a combinação de forte expansão
monetária com recessão profunda suscita dúvidas sobre a explicação monetarista
dada à Grande Depressão.
Por fim, a
política fiscal tem sido muito mais agressiva desta vez. No começo da década de
1930, a média ponderada do déficit dos 24 países mais desenvolvidos continuava
abaixo de 4% do PIB. Hoje, os déficits fiscais serão muito mais elevados. Nos
EUA, o déficit geral do governo deverá ser de aproximadamente 14% do PIB.
Tudo isso está de
acordo com as conclusões de um já clássico artigo de Carmen Reinhart, da Universidade
de Maryland e Kenneth Rogoff, de Harvard ("The Aftermath of Financial
Crises" [As sequelas das crises financeiras], Documento de Trabalho 14656,
www.nber.org). Crises financeiras causam profundas crises econômicas. O impacto
de uma crise financeira global deve ser particularmente grave. Além disso,
"o valor real da dívida do governo tende a explodir, aumentando 86%, em
média, nos episódios de vulto pós-Segunda Guerra Mundial". O motivo
principal não são os "resgates" de bancos, mas as recessões. Após o
fato, a concessão desenfreada de crédito privado se transforma em gasto público
e em montanhas de dívidas. Governos solventes não aceitarão a alternativa de
uma grande recessão.
A questão é saber
se os incentivos sem precedentes atuais compensarão o efeito do colapso
financeiro e dos acúmulos sem precedentes de dívida do setor privado nos EUA e
demais lugares. Se o primeiro vencer, logo veremos um desvio positivo da trilha
da Grande Depressão. Se o último vencer, isto não acontecerá. Está claro o que
todos esperam. Mas o que nós devemos esperar?
Estamos
testemunhando uma corrida entre a reforma dos balanços patrimoniais privados e
o reequilíbrio global da demanda, por um lado, e a sustentabilidade do
incentivo, do outro.
A demanda robusta
do setor privado só voltará quando os balanços patrimoniais dos domicílios
superendividados, das empresas com excesso de empréstimos e dos setores
financeiros subcapitalizados forem reformados, ou quando países com altas taxas
de poupança consumirem ou investirem mais. Nada disso acontecerá depressa. Na
verdade, é bem mais provável que sejam necessários anos, considerando-se os
extraordinários acúmulos de dívida da década passada. Durante os dois
trimestres passados, por exemplo, os domicílios dos EUA quitaram apenas 3,1% da
sua dívida. A desalavancagem é um processo demorado. Enquanto isso, o governo
federal tornou-se o único tomador de empréstimo importante. Igualmente, o
governo chinês pode expandir o investimento rapidamente. Mas é mais difícil que
políticas públicas elevem os níveis de consumo.
É muito provável
que a economia mundial necessite de políticas fiscais e monetárias agressivas
por muito mais tempo do que se imagina. Isso deverá deixar políticos - e
investidores - nervosos.
Contrapõem-se
dois perigos. Um deles é que o incentivo seja retirado cedo demais, como
aconteceu nos anos de 1930 e no Japão no fim da década de 1990. Em seguida,
haverá uma recaída para a recessão, pois o setor privado ainda é incapaz ou
avesso a gastar. O outro perigo é que o incentivo seja retirado tarde demais.
Isso levaria a uma perda de confiança na estabilidade monetária, agravada por
temores sobre a sustentabilidade da dívida pública, particularmente nos EUA,
país provedor da principal moeda do mundo. No limite, os ascendentes preços em
dólares das commodities e as crescentes taxas de juros de longo prazo dos
títulos do governo poderão colocar os EUA - e as economias do mundo - numa
estagflação nociva. Ao contrário de alguns alarmistas, não vejo nenhum indício
deste tipo de pânico atualmente. Mas ele poderá acontecer.
No ano passado, a
economia mundial caiu numa recessão. A resposta política foi maciça. Mas as
pessoas que estão convencidas de que estamos no começo de uma recuperação
robusta liderada pelo setor privado estão quase certamente enganados.
Provavelmente a corrida rumo à recuperação plena será longa, árdua e incerta.
Martin Wolf é
colunista do "Financial Times".
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