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domingo, 8 de maio de 2011

O Julgamento do Macaco...



5 de Maio, 1925: um jovem professor no liceu de Dayton, Tennessee recebe um mandado de captura. É o início de um dos mais célebres casos de tribunal da história Americana. Na versão canónica, a história que os biólogos contam às suas crianças na hora de ir para a cama: um inocente professor é martirizado pelas forças das trevas somente pelo crime de ensinar ciência. A realidade, como sempre, é mais complexa. O professor, John Thomas Scopes, não chegou a passar nenhuma noite preso, a sua fiança de 1000 dólares foi imediatamente paga pela organização que havia colocado no jornal “Chattanooga Times” um anúncio em busca de alguém disposto a violar a lei. Em jogo no tribunal não estava sua liberdade, apenas uma multa de US$ 100.
Alguns meses antes, um fazendeiro local, John Washington Butler ficou escandalizado com relatos sobre meninas e meninos que supostamente estariam a disputar a veracidade literal da Bíblia, chegando mesmo a responder torto aos pais! A culpa seria da nova e perigosa teoria da Evolução das espécies, parte do currículo de Biologia. Infelizmente além de lavrador, Butler era membro da Assembleia Legislativa do seu estado, e sua indignação encontrou expressão legal. O resultado foi a Lei Estadual # 185, conhecida como Acto Butler, aprovada por larga maioria e ratificado a contragosto pelo Governador:
“UM ACTO proibindo o ensino da Teoria da Evolução em todas as Universidades, Escolas Normais e todas as outras escolas públicas do Tennessee (…)
Secção 1: (…), Que será ilegal que qualquer professor em qualquer das Universidades, Escolas Normais e todas as outras escolas públicas do Estado (…) ensine qualquer teoria que negue a história da Criação Divina do homem ensinada na Bíblia (…)”
A reação foi imediata: a aprovação do Acto Butler foi votada a 21 de Março de 1925, e já a 4 de Maio a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) publica no “Chattanooga Times” um anúncio em que se dispõe a pagar os custos legais de um professor do estado que se voluntariasse a violar a lei. A pequena cidade de Dayton (população em 1925: 1800) passava por tempos difíceis- a principal empresa local, a companhia de minérios Dayton Coal and Iron faliu em 1913, e muitos abandonaram a cidade em busca de oportunidades (população em 1913: 3000). O grupo que se reunia regularmente na Drogaria Robinson viu na controvérsia uma oportunidade de reavivar Dayton atraindo a atenção nacional. John T. Scopes, professor de matemática e treinador da equipa de football americano do Liceu do condado foi convencido a confessar ter violado a lei. A ordem de prisão foi prontamente emitida e o grupo da Drogaria teve mais êxito do que poderia ter sonhado. A acusação foi confiada a William Jennings Bryan. Secretário de Estado (Ministro dos Negócios Estrangeiros) de Woodrow Wilson, candidato três vezes derrotado à Presidência dos Estados Unidos pelo partido Democrata e militante cristão; Bryan via no ensino da Evolução as sementes da decadência moral da nação. Para defender Scopes, a ACLU contratou Clarence Darrow, o mais célebre advogado de defesa do país.
O julgamento foi curto, afinal a culpa de Scopes nunca esteve em questão- ele violara a lei de propósito. No seu momento mais dramático, Clarence Darrow chamou como testemunha o seu oponente Bryan- na qualidade de testemunha especialista sobre a Bíblia. Entre insultos e gracejos mútuos, Darrow obtém de Bryan uma admissão de que ele próprio não considera o Génesis um relato factual da história da terra:
Darrow: Acha que a Terra foi criada em seis dias?
Bryan: Não em seis dias de 24 horas.
Darrow: Já descobriu onde Cain foi buscar a sua mulher?
Bryan: Deixo a sua busca para os agnósticos.
Darrow: Acha que o Sol foi criado no quarto dia?
Bryan: Sim.
Darrow: E tinham noite e manhã sem o Sol?
Bryan: Digo simplesmente que era um período.
Darrow: A Criação pode ter continuado por muito tempo?
Bryan: Pode ter continuado por milhões de anos.
Como era inevitável, Scopes foi condenado a pagar a multa (também paga pela ACLU). A esperança de levar o caso até o Supremo Tribunal para debater a sua constitucionalidade foi entretanto frustrada, quando o Tennessee reverteu a pena, mas apenas por um detalhe técnico. O Acto Butler perdurou como lei até 1967.

Fonte: A Evolução de Darwin


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