Profissão
docente: quem quer ser professor hoje?
Por Glaucia
Melasso (Especialista em Tecnologias Educacionais) e Luiz Claudio Carvalho (Docente
no Instituto Federal de Brasília).
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Responder esta questão é simples: reúna 10 jovens que cursam ensino
médio e pergunte: quem quer ser professor? Sem sombra de dúvida a resposta será
um profundo silêncio e rapidamente surgirão muitas negativas...
Caso a dúvida persista, reúna 10 professores de ensino fundamental ou
médio e pergunte: quem quer continuar a ser professor? Talvez 6 professores
respondam com uma negativa apressada, 3 responderão com outra pergunta – em
quais condições? – e talvez um único solitário afirme, corajosamente, um SIM heróico.
É na perspectiva de discutir com este sujeito solitário que iniciamos
este debate.
Olhadas rápidas na internet, leituras de jornal, conversas de corredor
em escolas, faculdades e universidades apontam os motivos óbvios desta
debandada geral de escolhas profissionais e carreiras: salários baixos,
péssimas condições de trabalho, ausência de perspectiva, violência,
desinteresse dos alunos, das famílias, do poder público, falta de prestígio
social, formação deficiente e pouco atrativa...
Discutir profissão docente hoje no Brasil requer – além de estudos
sociológicos, econômicos e antropológicos – um passeio pelo imaginário popular
sobre a profissão.
Quem se lembra da música “Meus tempos de criança”, de Ataulfo Alves? A
visão romantizada da professora primária, normalista, bonita e dedicada aos
alunos, que remonta à infância feliz... Onde está essa professora? Aliás... Em
quais esquinas de nossa história da educação se perderam a escola normal, os
institutos de educação, depois os institutos superiores de educação... Em qual
UTI se encontram os cursos de pedagogia e licenciatura?
E a cinematografia sobre a carreira? Em geral os professores
retratados estão muito mais próximos de um Dom Quixote alijado de seu Sancho
Pança do que de um profissional real, daqueles que vai dar sua aula todos os
dias e recebe um salário pelos serviços prestados. Exemplos são muitos. Dos
clássicos “Good Bye Mr Chips” e “To Sir with Love” ao apaixonante e recente
“Take the Lead” com Antônio Banderas. Da China temos o belo “Nenhum a menos”...
A produção cinematográfica brasileira deixou poucos registros sobre o
profissional da educação, mas entre estes é possível destacar “Central do
Brasil” e “Anjos do Arrabalde” que, apesar da crueza, confirmam a visão
romântica sobre a missão idealizada do professor.
Há alguns anos surgiu um adesivo desses que se colocam nos vidros
traseiros dos automóveis que dizia: Hei de vencer mesmo sendo professor. O
adesivo - lançado por um sindicato de professores - trazia, à época, uma
mensagem que poderia ter interpretações diversas.
Uma das interpretações era: apesar do salário miserável que recebo,
não pretendo morrer de fome. De certa forma esta interpretação não perdeu a sua
atualidade. Professores de escolas públicas municipais, estaduais e federais de
qualquer nível de ensino eram mal remunerados, alguns de forma aviltante. Esta
condição ainda permanece.
Uma outra interpretação era que apesar do meu trabalho não ter
reconhecimento social, continuarei tentando. Atual ainda!
O adesivo também podia ser interpretado como eu sei que não valho
muita coisa, mas é o que dá para fazer. Uma interpretação assim talvez seja
conseqüência das outras já citadas. Os percalços pelos quais o professor é
obrigado a passar atiraram a sua auto-estima para um lugar desconhecido. É
possível ver naquele adesivo um exemplo de como um grupo de profissionais pode
escrever o seu próprio obituário. Fosse vivo, Sócrates “cicutaria” aquele
adesivo e seus autores. Antes, talvez dialogasse um pouco.
Na esteira deste adesivo, a televisão brasileira disseminou, através
do programa humorístico de Chico Anísio, a “Escolinha do Professor Raimundo”,
caricaturando, de vez, o destino do professor brasileiro, com o bordão “e o
salário, ó!”
E como se não bastasse, num golpe final a nova geração registra on
line a visão sarcástica sobre possíveis reações de professoras a respeito das
políticas de valorização do ensino e do magistério em charges eletrônicas. As
professoras retratadas hoje diferem em muito daquela professorinha do Ataulfo
Alves ou dos filmes americanos.
É possível, ainda, relembrar as tantas denominações que aparecem para
escamotear a profissão docente. Seria a professora uma “tia”? Seria o professor
um “educador”? Seria o professor um “mediador da aprendizagem”?
E nos últimos tempos em que também o papel do professor é colocado em
questão frente aos avanços das tecnologias da comunicação e da informação?
Todas as análises econômicas sobre o Brasil na vanguarda do
desenvolvimento econômico mundial apontam para o gargalo que representa nosso
atraso educacional, fartamente registrado pelas pesquisas internacionais.
Numa correlação simples: o Brasil não oferece uma educação minimamente
razoável porque os professores não são bem formados, não têm condições de
trabalho e de carreira.
E o pior, caminhamos para uma situação em que estes problemas serão
solucionados: não teremos mais professores, pela falta completa e absoluta de
profissionais interessados em ingressar e continuar na carreira.
Ficamos assim?
Belo texto!
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