“Freud
está sendo exumado por Michel Onfray para ter o diploma caçado...
Finalmente...” – Carlos
Sherman
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Freud é conhecidíssimo. Virou lugar-comum o bordão “Freud
explica…”, e todos já
ouviram falar no austríaco esquisitão (deve ser algo na água que faz os
austríacos serem meio birutas). Alguns acham que Freud é um gênio, outros que
nem tanto, que ele foi superado pelos seus discípulos. Só que agora, Michel
Onfray, autor do Tratado de Ateologia, chega chutando o pau da barraca e mete
os dois pés no peito dos adoradores do velhinho do charuto. Para ele, Freud não
passa de um charlatão, mentiroso, fracassado e defensor de regimes
totalitários. Só não chamou de bobo, feio e chato, porque aí era demais (ou
não).
Freud era um médico mediano. Teve a “brilhante” idéia de
ministrar cocaína aos seus pacientes, escrevendo três artigos onde defendia o
uso do referido alcalóide como medicamento. O mais significativo de todos é o
seu breve artigo, publicado em janeiro de 1885, “Uma
contribuição para o conhecimento do efeito da cocaína”. Infelizmente, Freud cometeu um pequenino erro. Um errinho
de nada. Ele apenas prescreveu uma dose de cocaína a uma de suas pacientes. E
isso foi fatal para ela. A paciente morreu e Freud largou de mão de usar
medicamentos, passando a considerar que poderia tratar pacientes sem nenhum
tipo de droga. A bem da verdade, o próprio Freud curtia o uso da cocaína,
também, mas deixemos isso de lado. A partir da morte da paciente, surge a
Psicanálise que, ao meu ver, é tão científica quanto tarot, astrologia ou
jogada de búzios.
Nas palavras de Carl Sagan:
“Podemos rezar pela
vítima de cólera, ou podemos lhe dar quinhentos miligramas de tetraciclina a
cada doze horas. (Ainda existe uma religião, a ciência cristã, que nega a
teoria que atribui as doenças a micróbios; se a oração não produz efeito, o
fiel prefere que os filhos morram a lhes dar antibióticos.) Podemos tentar a
quase inútil terapia psicanalítica pela fala com o paciente esquizofrênico, ou
podemos lhe dar trezentos a quinhentos miligramas de clazepina. Os tratamentos
científicos são centenas ou milhares de vezes mais eficazes do que os
alternativos. (E, mesmo quando os alternativos parecem funcionar, não sabemos
realmente se desempenharam algum papel: melhoras espontâneas, até de cólera e
esquizofrenia, podem ocorrer sem rezas e sem psicanálise.) Renunciar à ciência
significa abandonar muito mais do que o ar-condicionado, o toca-disco CD, os
secadores de cabelo e os carros velozes.”
- Carl Sagan, O Mundo
Assombrado pelos Demônios.
A verdade é que se formos analisar sob a óptica da
epistemologia à lá Popper e Khun, Psicanálise não é, nunca foi, nem nunca será
Ciência. Não há reprodutibilidade, não há comprovação empírica, não há
falseabilidade. Não há nada senão um blábláblá entre paciente e terapeuta. No
livro Le Crepuscule d’une Idole –
L’Affabulation Freudienne (O
Crepúsculo de um Ídolo – A Fábula Freudiana), Onfray argumenta que há validade nos trabalhos de Freud unicamente
no que diz respeito ao próprio Freud, isto é, ali só tem o reflexo de sua vida
atormentada. Só isso, nada mais. Não pode ser empregada para servir de
tratamento para outras pessoas.
As opiniões de Onfray
estão causando um furor nos adeptos do neurótico austríaco. A historiadora e
psicanalista Elisabeth Roudinesco
afirmou em artigo em Le Nouvel Observateur que o novo texto de Onfray está
“cheio de erros” e “rumores”, além de acusar Onfray de ter tirado as coisas do
contexto. Aliás, eu já estou cansado de
ouvir esta ladainha de “texto sem contexto é pretexto, blé!”. Não é à
toa que Onfray comparou a psicanálise com o fenômeno religioso.
Outro que surtou nas tamancas foi o psiquiatra e psicanalista
Serge Hefez. Segundo ele, “o que fazemos todos nós [psicanalistas] em nossos
consultórios, centros de terapia familiar, conjugal, nossos hospitais (…) senão
ajudar o sujeito a se converter em ator de sua própria história?” Uma frase
linda maios vazia por si só. Ainda segundo o bom doutor, “a psicanálise cura, é
um tratamento útil e vivo praticado por milhares de terapeutas conscienciosos
que conhecem fracassos, sucessos parciais e sucessos.”
Vamos ver… Bem, antes de eu fazer um comentário, vejamos o
que foi dito num debate com o filósofo francês e a psicanalista francesa Julia
Kristeva. Segundo ela, a psicanálise é um mecanismo para tratar de problemas
como histeria etc. Coisa que ela não precisava falar, já que esses são títulos
dos livros do Freud. Todos os supracitados “especialistas” partem ara as
falácias de apelo à multidão, apelo ao número e apelo à misericórdia.
Só que o Onfray fuzilou logo, mencionando que a psicanálise não tem resultados efetivos maiores que as terapias tidas como “alternativas”, como magnetismo, radiestesia e até exorcismo, que tudo isso não passa de um simples efeito placebo. E a defesa exacerbada é bem semelhante ao que vemos aqui quando falamos que o Dilúvio é uma grossa mentira, e mesmo assim vem algum tosco argumentando da mesma forma (muitas pessoas viram, a Bíblia mudou a vida das pessoas, não é crendice e coisa e tal.
Só que o Onfray fuzilou logo, mencionando que a psicanálise não tem resultados efetivos maiores que as terapias tidas como “alternativas”, como magnetismo, radiestesia e até exorcismo, que tudo isso não passa de um simples efeito placebo. E a defesa exacerbada é bem semelhante ao que vemos aqui quando falamos que o Dilúvio é uma grossa mentira, e mesmo assim vem algum tosco argumentando da mesma forma (muitas pessoas viram, a Bíblia mudou a vida das pessoas, não é crendice e coisa e tal.
Talvez Onfray exagere no tocante a ligar Freud com ditadores
como Mussolini, mas que a Psicanálise não goza de resultados confiáveis, isso é
claro para uma pessoa que examine de perto a situação. No fundo, podem até
alegar que Psicanálise é reconhecida no meio acadêmico, mas devemos ter em
mente também que aquela palhaçada de beber água pura, chamada de Homeopatia, é
até especialidade médica.
Para terminar, temos um “causo”. Freud estava tratando de uma
mulher que tinha sempre a impressão de estar sentindo cheiro de pudim de
laranja queimado. Acontece que o bom Freud vaticinou que as sensações olfativas
da distinta senhorita eram sintomas de histeria crônica. Misteriosamente, a
paciente deixa de ir no consultório. Tempos depois, Freud a encontra e pergunta
como ela tem passado. Ela diz que muito bem, que descobrira que o cheiro de
pudim queimado era devido à vizinha, que sempre deixava o doce queimar, mas
jogava pela janela para que o marido não visse. (história contada no livro A Assustadora história da Medicina, de
Richard Gordon)
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