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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Freud, exumado, e com o diploma caçado... Finalmente...


“Freud está sendo exumado por Michel Onfray para ter o diploma caçado... Finalmente...” – Carlos Sherman

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Freud é conhecidíssimo. Virou lugar-comum o bordão “Freud explica…”, e todos já ouviram falar no austríaco esquisitão (deve ser algo na água que faz os austríacos serem meio birutas). Alguns acham que Freud é um gênio, outros que nem tanto, que ele foi superado pelos seus discípulos. Só que agora, Michel Onfray, autor do Tratado de Ateologia, chega chutando o pau da barraca e mete os dois pés no peito dos adoradores do velhinho do charuto. Para ele, Freud não passa de um charlatão, mentiroso, fracassado e defensor de regimes totalitários. Só não chamou de bobo, feio e chato, porque aí era demais (ou não).

Freud era um médico mediano. Teve a “brilhante” idéia de ministrar cocaína aos seus pacientes, escrevendo três artigos onde defendia o uso do referido alcalóide como medicamento. O mais significativo de todos é o seu breve artigo, publicado em janeiro de 1885, “Uma contribuição para o conhecimento do efeito da cocaína”. Infelizmente, Freud cometeu um pequenino erro. Um errinho de nada. Ele apenas prescreveu uma dose de cocaína a uma de suas pacientes. E isso foi fatal para ela. A paciente morreu e Freud largou de mão de usar medicamentos, passando a considerar que poderia tratar pacientes sem nenhum tipo de droga. A bem da verdade, o próprio Freud curtia o uso da cocaína, também, mas deixemos isso de lado. A partir da morte da paciente, surge a Psicanálise que, ao meu ver, é tão científica quanto tarot, astrologia ou jogada de búzios.

Nas palavras de Carl Sagan:
Podemos rezar pela vítima de cólera, ou podemos lhe dar quinhentos miligramas de tetraciclina a cada doze horas. (Ainda existe uma religião, a ciência cristã, que nega a teoria que atribui as doenças a micróbios; se a oração não produz efeito, o fiel prefere que os filhos morram a lhes dar antibióticos.) Podemos tentar a quase inútil terapia psicanalítica pela fala com o paciente esquizofrênico, ou podemos lhe dar trezentos a quinhentos miligramas de clazepina. Os tratamentos científicos são centenas ou milhares de vezes mais eficazes do que os alternativos. (E, mesmo quando os alternativos parecem funcionar, não sabemos realmente se desempenharam algum papel: melhoras espontâneas, até de cólera e esquizofrenia, podem ocorrer sem rezas e sem psicanálise.) Renunciar à ciência significa abandonar muito mais do que o ar-condicionado, o toca-disco CD, os secadores de cabelo e os carros velozes.
- Carl Sagan, O Mundo Assombrado pelos Demônios.

A verdade é que se formos analisar sob a óptica da epistemologia à lá Popper e Khun, Psicanálise não é, nunca foi, nem nunca será Ciência. Não há reprodutibilidade, não há comprovação empírica, não há falseabilidade. Não há nada senão um blábláblá entre paciente e terapeuta. No livro Le Crepuscule d’une Idole – L’Affabulation Freudienne (O Crepúsculo de um Ídolo – A Fábula Freudiana), Onfray argumenta que há validade nos trabalhos de Freud unicamente no que diz respeito ao próprio Freud, isto é, ali só tem o reflexo de sua vida atormentada. Só isso, nada mais. Não pode ser empregada para servir de tratamento para outras pessoas.

As opiniões de Onfray estão causando um furor nos adeptos do neurótico austríaco. A historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco afirmou em artigo em Le Nouvel Observateur que o novo texto de Onfray está “cheio de erros” e “rumores”, além de acusar Onfray de ter tirado as coisas do contexto. Aliás, eu já estou cansado de ouvir esta ladainha de “texto sem contexto é pretexto, blé!”. Não é à toa que Onfray comparou a psicanálise com o fenômeno religioso.

Outro que surtou nas tamancas foi o psiquiatra e psicanalista Serge Hefez. Segundo ele, “o que fazemos todos nós [psicanalistas] em nossos consultórios, centros de terapia familiar, conjugal, nossos hospitais (…) senão ajudar o sujeito a se converter em ator de sua própria história?” Uma frase linda maios vazia por si só. Ainda segundo o bom doutor, “a psicanálise cura, é um tratamento útil e vivo praticado por milhares de terapeutas conscienciosos que conhecem fracassos, sucessos parciais e sucessos.”

Vamos ver… Bem, antes de eu fazer um comentário, vejamos o que foi dito num debate com o filósofo francês e a psicanalista francesa Julia Kristeva. Segundo ela, a psicanálise é um mecanismo para tratar de problemas como histeria etc. Coisa que ela não precisava falar, já que esses são títulos dos livros do Freud. Todos os supracitados “especialistas” partem ara as falácias de apelo à multidão, apelo ao número e apelo à misericórdia. 


Só que o Onfray fuzilou logo, mencionando que a psicanálise não tem resultados efetivos maiores que as terapias tidas como “alternativas”, como magnetismo, radiestesia e até exorcismo, que tudo isso não passa de um simples efeito placebo. E a defesa exacerbada é bem semelhante ao que vemos aqui quando falamos que o Dilúvio é uma grossa mentira, e mesmo assim vem algum tosco argumentando da mesma forma (muitas pessoas viram, a Bíblia mudou a vida das pessoas, não é crendice e coisa e tal.

Talvez Onfray exagere no tocante a ligar Freud com ditadores como Mussolini, mas que a Psicanálise não goza de resultados confiáveis, isso é claro para uma pessoa que examine de perto a situação. No fundo, podem até alegar que Psicanálise é reconhecida no meio acadêmico, mas devemos ter em mente também que aquela palhaçada de beber água pura, chamada de Homeopatia, é até especialidade médica.

Para terminar, temos um “causo”. Freud estava tratando de uma mulher que tinha sempre a impressão de estar sentindo cheiro de pudim de laranja queimado. Acontece que o bom Freud vaticinou que as sensações olfativas da distinta senhorita eram sintomas de histeria crônica. Misteriosamente, a paciente deixa de ir no consultório. Tempos depois, Freud a encontra e pergunta como ela tem passado. Ela diz que muito bem, que descobrira que o cheiro de pudim queimado era devido à vizinha, que sempre deixava o doce queimar, mas jogava pela janela para que o marido não visse. (história contada no livro A Assustadora história da Medicina, de Richard Gordon)

Fontes: BBC Brasil/ Pensata



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